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Gustavo Zen de Figueiredo Neves1 Thiago Rocha2

Valdir Specian3

Zilda de Fátima Mariano4 (in memoriam)

Introdução

Os estudos em climatologia têm crescido de maneira expo-nencial nos aspectos qualitativos e quantitativos (ZAVATTINI, 2003). No Brasil, um dos elementos climatológicos mais estuda-dos diz respeito à precipitação pluviométrica por apresentar séries temporais superiores a três décadas com razoabilidade quantida-de e qualidaquantida-de quantida-de registros diários.

É particularmente atraente, o estudo da chuva, devido à de-pendência que as sociedades humanas possuem desse fenômeno, sendo um dos elementos da climatologia mais relevantes, pois re-fere-se à sobrevivência humana (CONTI, 1975).

1 Universidade de São Paulo - gustavozen@usp.br

2 Universidade Federal de Jataí - thiagorocha1@hotmail.com 3 Universidade Estadual de Goiás; - vspecian@gmail.com 4 Universidade Federal de Jataí

Em Goiás, têm-se alguns estudos pioneiros relacionados à dinâmica climática e variabilidade das chuvas, como apresen-tados por Monteiro (1951, 2015); Nimer (1989); Assad (1990);

e outros mais recentes como em Barros (2003); Alves e Vecchia (2011); Cardoso et al. (2014); Nascimento (2016) e Neves et al.

(2017).

O objetivo principal deste trabalho foi apresentar uma ca-racterização do regime climático em dois postos pluviométricos situados na região do Oeste Goiano, em uma série temporal de 41 anos, entre os anos de 1975 até 2015.

Materiais e métodos

Caracterização da área de estudo

Os postos pluviométricos utilizados na presente pesquisa situam-se na mesorregião oeste do Estado de Goiás, nas proximi-dades dos municípios de Piranhas e Caiapônia. Possuem 87 quilô-metros de distância entre si e estão localizados na compartimen-tação topográfica da Serra do Caiapó (NASCIMENTO, 1991), conforme ilustra a Figura 1 e Tabela 1.

Tabela 1 - Informações dos postos pluviométricos estudados.

Infor-mação Código Nome

Respon-sável Lat Long Altitu-de P1 1651003 São

Fer-reira ANA -16,31 -51,47 361

P2 1651000

Caiapô-nia ANA -16,95 -51,80 713

Fonte: Agência Nacional de Águas (2015).

De acordo com Alves et al. (2011), a caracterização climáti-ca da região, segundo a classificlimáti-cação de Köppen (1948), é do tipo

AW (clima quente e úmido) com duas estações bem definidas, ve-rão chuvoso (outubro a março) e inverno seco (abril a setembro).

A precipitação média anual é 1.500 mm e a temperatura média anual 25,6°C. No período de outubro a março, ocorrem as maio-res precipitações pluviométricas e as primeiras chuvas ocorrem no mês de setembro.

Figura 1 - Localização da área de estudo

Fonte: SIEG (2012). Organização: Autores (2018).

Obtenção dos dados e série temporal

A série histórica utilizada para a análise climatológica foi escolhida a partir da disponibilidade de dados pluviométricos no Sistema Nacional de Informações de Recursos Hídricos (SNIRH/

HidroWeb), plataforma eletrônica da Agência Nacional de Aguas

– ANA. O presente estudo foi definido em uma série histórica plu-viométrica entre 1 de janeiro de 1975 e 31 de dezembro de 2015, totalizando 41 anos.

O arranjo, verificação dos dados diários de chuvas, a análise e seleção da série histórica e o tratamento estatístico dos dados de chuva referentes à série temporal definida para esta pesquisa foram realizados no software Excel 2007, por meio de planilhas minuciosamente elaboradas, além da confecção dos gráficos, ta-belas e planilhas, todos muito úteis para a síntese e interpretação dos resultados.

Estatística descritiva

Foram analisados alguns elementos fundamentais para a compreensão do regime pluviométrico, levando em consideração as estações do ano e sua variabilidade, de acordo com os seguintes parâmetros estatísticos:

Após o tratamento estatístico, elaborou-se a técnica de anos-padrão. A mesma foi definida a partir da observação dos totais anuais da precipitação e suas variabilidades temporais, classificada trimestralmente como ano padrão habitual, seco ou chuvoso. Mais detalhes em Monteiro (1973) e Sant’Anna Neto (1990).

Para representar as características do regime mensal das chuvas no oeste goiano, buscou-se seguir o referencial de Schrö-der (1956), que fornece as bases para a elaboração de pluviogra-mas. Estes são quadros que apresentam os percentuais de preci-pitação pluviométrica mensal, permitindo visualizar as situações habituais e excepcionais em relação ao regime da série temporal estudada.

Resultados e discussões

Os resultados do desvio padrão apontaram uma ampla variabilidade pluviométrica nos períodos de primavera, verão, outono e inverno. Notou-se que o período de primavera apre-sentou uma maior homogeneidade quando comparado com o período de verão, com valores excepcionais negativos no ano de 1977.

Logo, a estação de verão as irregularidades foram mais notórias, com maiores desvios percentuais nos anos de 1975, 1978, 1987 e 1990 com valores de superiores a -40% de preci-pitação. Por outro lado, os desvios de precipitação no período outono-inverno apresentaram valores percentuais menos pro-nunciados, variando entre 15% e -10% de precipitação. Desta-cam-se os anos de 1979, 1987 com valores positivos de preci-pitação (Figura 2).

Figura 2 - Desvios padronizados de precipitação trimestral para o posto São Ferreira (P1).

Fonte: ANA (2015).

O posto pluviométrico de Caiapônia revelou alguns des-vios percentuais de precipitação expressivos no período de pri-mavera-verão. Notou-se que nos últimos cinco anos da série tem-poral, entre 2011 e 2015, o percentual pluviométrico foi negativo, com destaque para o ano de 2013 que superou em -100% da média na primavera, e -130% no verão, respectivamente. Os outros anos da serie temporal apresentaram irregularidades que variaram en-tre 30% e -35% da média do período chuvoso. Todavia, o período de outono-inverno também se mostrou irregular para o ano de 2013, com valores de -27% de precipitação no outono, e -15% no inverno, respectivamente. Em síntese, o semestre mais seco reve-lou um percentual de desvio de chuva entre 18%, no inverno, e valores negativos na ordem de 10%, no outono, conforme ilustra a Figura 3.

Figura 3 - Desvios padronizados de precipitação trimestral para o posto Caiapônia (P2).

Fonte: ANA (2015).

Para uma observação mais acurada sobre a dinâmica plu-viométrica adotou-se a metodologia de “anos padrão”, que clas-sifica os coeficientes de variação pluviométrica em três classes principais: seco, chuvoso e habitual (SANT’ANNA NETO, 1990).

No presente trabalho as classes foram subdivididas em outras 14 subclasses a fim de obter um panorama específico da variabilida-de pluviométrica trimestral, entre os postos analisados.

De maneira mais expressa do quadro pluviométrico, para o posto de São Ferreira (P1), o período de verão apresentou irre-gularidades mais acentuadas que a primavera, com coeficientes de variação superiores a -50% nos anos de 1975 e 1978, e -35% e 32% nos anos de 1993 e 2001, classificados como “extremamente secos”.

No posto pluviométrico de Caiapônia (P2), observou-se que os desvios pluviométricos de primavera-verão foram

irre-gulares ao ponto de apresentar coeficientes na classe de “extre-mamente chuvosos” em 1980, 1982 e 2003, acima de 30,01%

de precipitação em relação à média de 41 anos analisados. To-davia, para o mesmo período chuvoso, houve anos “extrema-mente secos”, com destaque para o ano de 2007, 2012, 2013 e 2014, sendo que no semestre de 2013 o coeficiente de varia-ção pluviométrico apresentou valores inferiores a -130%, com extrema irregularidade na série histórica em quatro décadas (Figura 4).

Na perspectiva do regime pluviométrico, elaborou-se um quadro mensal da porcentagem de precipitação ocorrida na série temporal analisada, chamado de pluviograma (SCHRÖ-DER, 1956). Notou-se, no pluviograma de São Ferreira, que o regime de chuvas é marcado entre os meses de outubro a abril.

Por outro lado, o período seco apresenta-se entre os meses de maio a setembro. A predominância das porcentagens mensais pluviométricas superiores a 25,1% concentra-se nos meses de novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março. No acumu-lado mensal pluviométrico, notou-se que nos verões de 1977, 1978, 1980, 1985, 1986, 1994, 1997 e 2003, nos meses de de-zembro ou janeiro, apresentaram percentuais acima de 30% do volume de chuvas anuais.

O período seco também é provido de episódios pluviomé-tricos significativos com percentuais de 10,4% e 10,7% nos meses de agosto e setembro, respectivamente em 1986 e 1993. No perío-do de inverno, observou-se acumulaperío-dos percentuais em toperío-dos os meses para os anos de 1985 e 1989, indicando a atuação de siste-mas frontais na gênese das chuvas de inverno para o oeste goiano (Figura 5).

Figura 4 - Intervalos de coeficiente de variação trimestral de “anos-pa-drão” entre 1975-2015.

Fonte: ANA (2015).

Figura 5 - Porcentagem mensal de precipitação para o posto São Ferrei-ra (1975-2015).

Fonte: ANA (2015).

O pluviograma elaborado para o posto de Caiapônia reve-lou aspectos importantes sobre a porcentagem mensal das chuvas.

Observou-se que o regime da estação seca não é tão bem definido quando comparado com o pluviograma de São Ferreira. Nos anos de 1989, 1990, 1994 revelou percentuais pluviométricos em todos os meses. Em outros anos o período de inverno apresentou epi-sódios úmidos com percentuais notáveis de 9,7% para o mês de junho de 1997, e 6,6% em julho de 2014. O predomínio do mês mais seco para o posto pluviométrico de Caiapônia é julho, com 23 anos secos, seguido de agosto com 20 meses secos.

O quantitativo pluviométrico nos meses de primavera-ve-rão revelou percentuais excepcionais para fevereiro de 1995, com valores acima de 35% de chuva, e para o mês de março de 2011 com percentual mensal de 40%. A Figura 6 ilustra a porcentagem mensal de precipitação em Caiapônia em sete classes. O quadro à direita da figura revela o total pluviométrico anual para a série histórica de 1975 a 2015.

Figura 6 - Porcentagem mensal de precipitação para o posto Caiapônia (1975-2015).

Fonte: ANA (2015).

Considerações

Os períodos de primavera-verão apresentaram irregulari-dades mais acentuadas de precipitação em comparação ao perío-do de outono-inverno, preperío-dominantemente mais regular e com valores percentuais de precipitação habituais.

Recomenda-se a relação de dados de precipitação de outras estações de superfície no oeste de Goiás, e eventos de macroescala (Oscilação Decadal do Pacífico; El Niño; La Niña; e outros), a fim de compreender a relação positiva e negativa dos sinais apresenta-dos pela variabilidade das chuvas.

O curso anual das chuvas e suas irregularidades ficaram pa-tentes nos pluviogramas, demonstrando diferenças significativas na distribuição mensal das chuvas para os postos pluviométricos situados a menos de 100km de distância entre si, ressaltando a possibilidade de interferência da Serra do Caiapó na concentração e dispersão dos acumulados pluviométricos mensais, sazonais e anuais.

Agradecimentos

À Profa. Dra. Zilda de Fátima Mariano (in memoriam), pe-las contribuições, apontamentos do presente trabalho e a orienta-ção de mestrado do segundo autor.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo auxílio financeiro.

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O ÍNDICE DE ANOMALIA DE CHUVA