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DIVERSIDADE CULTURAL, GLOBALIZAÇÃO E HOMOGENEIZAÇÃO CULTURAL

2 A DIVERSIDADE CULTURAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E SUA INTRÍNSECA RELAÇÃO COM OS DIREITOS HUMANOS

2.3 DIVERSIDADE CULTURAL, GLOBALIZAÇÃO E HOMOGENEIZAÇÃO CULTURAL

Se na Modernidade houve a possibilidade de identificação do indivíduo numa cultura por meio dos símbolos, costumes, tradição e de localização num tempo e espaço determinados, na contemporaneidade já não há mais essa possibilidade, ao menos não de maneira tão clara e precisa como o mundo moderno possibilitava.

Na pós-Modernidade, o mundo e a vida humana têm sido moldados pelas tendências em conflito da globalização e da identidade, isso porque a revolução das tecnologias de informação e a reestruturação do capitalismo introduziram a sociedade em rede caracterizada pela globalidade (CASTELLS, 2003). Nesse cenário, “torna-se cada vez mais difícil definir os

limites de cada povo e de cada cultura e aqueles entendimentos lastreados em conceitos como “os de fora” e “os de dentro”, estrangeiro e nacional, tendem a ser substancialmente relativizados” (LUCAS, 2013, p. 167). Ao que parece, as fronteiras entre “os de dentro” e “os de fora” não pode mais ser estabelecida e muito menos mantida (BAUMAN, 2003).

O advento da Modernidade arranca o espaço do tempo fomentando relações entre outros ausentes, localmente distantes de qualquer situação dada ou interação face a face. Na Modernidade o lugar se torna cada vez mais fantasmagórico, isto é, os locais são completamente penetrados e moldados em termos de influências sociais (GIDDENS, 1991). A Modernidade, “é uma forma altamente reflexiva de vida” (HALL, 2011, p. 15), isso porque mundos culturais diferentes são postos em interconexão.

Diante dessa interconexão, é preciso “voltar a olhar as tendências que hoje ganham especial atenção sob a palavra-chave globalização” (HABERMAS, 2007, p. 143). A “globalização, obviamente, não é um fenômeno novo” (HALL, 2003, p. 35) e, nesse sentido, “pode não ser um fenômeno revolucionário da sociedade contemporânea, mas é especialmente desafiadora das formas tradicionais de produzir pertença e identidade” (LUCAS, 2013, p. 16). Isso por que num mundo globalizante, todos estão regularmente em contato com outros que pensam e vivem de maneira diferente de si (GIDDENS, 2007).

A globalização não é um fenômeno recente, mas se acelerou a partir da segunda metade do século XX, envolvendo a ideia crescente do mundo sem fronteiras. Globalização é a palavra mais usada, abusada, nebulosa e mal compreendida e a menos definida dos últimos e dos próximos anos (BECK, 1999), podendo ser considerada “nossa irreversível dependência mútua” (BAUMAN, 2005, p. 96), já que “os seres humanos não vivem sozinhos, e suas condições de vida dependem das condições de vida dos outros” (TOURAINE, 2009, p. 191).

De modo geral, o conceito de globalização é melhor compreendido como expressando aspectos fundamentais do distanciamento entre tempo e espaço, diz respeito à interseção entre presença e ausência, ao entrelaçamento de eventos e relações sociais "à distância" com contextualidades locais (GIDDENS, 2002). É possível “entendê-la como algo que expressa um contexto de maximização das interconexões, as quais se estabelecem não mais no interior de espaços ou temas restritos, mas, ao contrário, projetam-se ao infinito” (MORAIS, 2010, p. 134), ou seja, é o adensamento, em todo o mundo, de relações que têm por consequência efeitos recíprocos desencadeados por acontecimentos tanto locais quanto muito distantes (GIDDENS, 1991).

A globalização significa “os processos cujo andamento os Estados nacionais veem a sua soberania, sua identidade, suas redes de comunicação, suas chances de poder e suas

orientações sofrerem a interferência cruzada de atores transnacionais” (BECK, 1999, p. 30). Ela tem a ver também com a tese de que agora vivem todos num mesmo mundo (GIDDENS, 2007).

Globalização também “significa que o Estado não tem mais o poder ou o desejo de manter uma união sólida e inabalável com a nação” (BAUMAN, 2005, p. 34). Ela traz uma nova e complexa relação entre o geral e o particular, o universal e o singular, isso por que “o fechamento dos Estados em torno de si mesmos é, para a globalização, uma realidade tão intensa e necessária quanto a sua capacidade de se abrir às relações exteriores” (LUCAS, 2013, p. 167).

O “Estado é um conceito definido juridicamente: do ponto de vista objetivo, refere-se a um poder estatal soberano, tanto interna quanto externamente; quanto ao espaço, refere-se a uma área claramente delimitada, o território do Estado” (HABERMAS, 2007, p. 130). Muito embora, os Estados-nação sob alguns aspectos tenham territórios claramente definidos, estas sociedades são também entrelaçadas com conexões que perpassam o sistema sociopolítico do Estado e a ordem cultural da nação (GIDDENS, 1991).

O Estado nacional é um estado territorial, isto é, seu poder está baseado no vínculo com um determinado espaço, tendo sob seu controle as associações, a determinação das leis vigentes, a defesa das fronteiras, entre outras. Por outro lado, a sociedade mundial tomou uma nova forma no curso da globalização relativizando e interferindo na atuação do Estado nacional, já que os Estados estão ilimitadamente conectados entre si, cruzam fronteiras territoriais, estabelecem novos círculos sociais, redes de comunicação, relações de mercado e formas de convivência (BECK, 1999).

Na contemporaneidade, “o crescente desafio à soberania dos Estados em todo o mundo parece advir da incapacidade do Estado-nação moderno em navegar, por águas tempestuosas e desconhecidas, entre o poder das redes globais e o desafio das identidades singulares” (CASTELLS, 2003, p. 294). O que gera a incapacidade cada vez mais acentuada do Estado-nação em responder a essa ampla gama de exigências.

Por esse motivo, “a era da globalização é também a era do surgimento do nacionalismo, manifestado tanto pelo desafio que impõe a Estados-nação estabelecidos como pela ampla (re) construção da identidade com base na nacionalidade invariavelmente definida por oposição ao estrangeiro” (CASTELLS, 2003, p. 29-30). Ou seja, é um processo dialético que produz as conexões e os espaços transnacionais e sociais que revalorizam culturas locais e põem em cena terceiras culturas (BECK, 1999).

É possível “perceber o fenômeno globalização como não restrito às estratégias do capitalismo financeiro” (MORAIS, 2010, p. 134). Ele não deve ser pensado exclusivamente como um fenômeno econômico ou financeiro, mas como uma mistura complexa de processos contraditórios, produtores de conflitos que interpelam fortemente subjetividades e tradições, exigindo maior reflexividade na ação diante da complexidade e da incerteza das mudanças nos contextos locais.

A globalização vai dissolvendo as barreiras da distância, também pela “extraterritorialização virtual” (BAUMAN, 2005, p. 104). O conceito de globalização dado por Giddens (2000) refere-se à intensificação das relações sociais em escala mundial e às conexões entre as diferentes regiões do globo por meio das quais os acontecimentos locais sofrem a influência dos acontecimentos que ocorrem a muitas milhas de distância e vice- versa. Para o autor, a globalização pode ser política, tecnológica e cultural, além de econômica, e acima de tudo um fenômeno cada vez mais descentralizado.

Bauman, acerca da globalização e da realidade do mundo contemporâneo, traz o exemplo de uma cartaz espalhado pelas ruas de Berlin em 1994 que anunciava que “Seu Cristo é Judeu. Seu carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro” (2005, p. 33). Isso demonstra que as identidades estão sendo deslocadas pelos processos de globalização (HALL, 2011, p. 50), já que existe a possibilidade de se fazer viagens a longas distâncias sem sequer sair do lugar, pela rede mundial de computadores, por exemplo. Ocorre que, juntamente com as novas formas de identidade, novas formas de alteridade também são produzidas.

Assim, “o mundo pós-moderno está-se preparando para a vida sob uma condição de incerteza que é permanente e irredutível” (BAUMAN, 1998, p. 19). O sentimento de insegurança, de instabilidade e de desordem faz com que a comunidade se torne atualmente um atrativo às culturas temerosas de serem absorvidas pela homogeneização cultural decorrente da globalização e perderem a sua identidade. Ou seja, nas comunidades está-se depositando a confiança e a esperança de cumprimento das promessas não cumpridas pelo Estado-nação.

Nesse cenário, em nome da identidade visa-se restaurar um mundo idealizado de simplicidade de vida, durabilidade, proximidade e confiabilidade das relações interpessoais contradizendo as tendências desestabilizadoras e incertas da contemporaneidade. Muito embora a ideia de comunidade remete à segurança e à estabilidade, sempre há um custo. Para Bauman (2003), o preço é pago em forma de liberdade, autonomia, direito à autoafirmação e à

identidade. Ou seja, por trás das sensações acolhedoras, o comunitarismo abrange processos de exclusão daqueles que não compõem a comunidade.

Na medida em que o indivíduo se define por seu pertencimento a uma comunidade julga o outro diferente como bárbaro, o que só pode se transformar numa guerra cultural ou uma completa segregação (TOURAINE, 1998a). Ou seja, na medida em que se busca refúgio na identidade ou na comunidade homogênea acaba-se por inevitavelmente rejeitar o outro, cuja diferença aparece como uma ameaça, trazendo consigo o apelo à homogeneização, à unidade reduzindo sua relação com o resto da sociedade (TOURAINE, 1998b).

Para Bauman (2003) a comunidade realmente existente exigirá olhos atentos vinte e quatro horas por dia para manter os estranhos fora dos muros e para caçar os vira-casacas em seu próprio meio. Desse modo, demonstra-se cada vez mais visível, que as escolhas de estilo de vida no contexto das inter-relações local-global fazem surgir questões morais que não podem ser simplesmente postas de lado (GIDDENS, 2002). Frente à globalização, a problemática instituída “não é de como “desfazer” a unificação do planeta, mas como domar e controlar os processos, até agora selvagens, da globalização – e como transformá-los de uma ameaça em oportunidade para a humanidade” (BAUMAN, 2005, p. 94).

Muito embora seja bem verdade que se vive um pouco junto em todo o planeta, ao mesmo tempo em que fusionados e separados, é igualmente verdadeiro que por toda parte se reforçam e se multiplicam os grupos de identidade, as associações baseadas na pertença comum, parecendo que as sociedades voltaram a ser comunidades, reunindo-se estreitamente num mesmo território. Essa volta traz consigo o apelo à homogeneidade, à pureza e à unidade (TOURAINE, 1998b).

Mas ocorre que na pós-Modernidade as comunidades não têm como manter instransponíveis as fronteiras que separam o “dentro” e o “fora”. Para Bauman (2003), essa se transformou na “comunidade do entendimento comum” que, mesmo se alcançada, permanecerá frágil e vulnerável, necessitando de constante vigilância. Nessa comunidade, toda homogeneidade, toda unidade precisa ser construída e estar sempre sujeita à contestação, à discussão e à reflexão.

Os processos de globalização fazem surgir uma nova articulação entre o global e o local, produzindo, simultaneamente, novas identificações globais e locais (HALL, 2011). Assim, “em vez de as diferenças desaparecem no meio da homogeneidade cultural perpetrada pela globalização, que influencia a um só tempo todas as realidades particulares do planeta, novas formas identitárias passam a conviver com as identidades nacionais em declínio, ou até mesmo assumem o seu lugar” (LUCAS, 2013, p. 172).

A homogeneização cultural pode ser considerada “o grito angustiado daqueles/as que estão convencidos/as de que a globalização ameaça solapar as identidades e a unidade das culturas nacionais” (HALL, 2011, p. 77), isso por que nada está mais distante do multiculturalismo do que a fragmentação do mundo em espaços culturais, nacionais ou regionais estranhos uns aos outros, obsidiados por um ideal de homogeneidade e de pureza que os sufoca (TOURAINE, 1999).

O desenvolvimento incessante das tecnologias de transporte e comunicação liga cada vez mais o local ao global. A maior interdependência global leva a um colapso das identidades tradicionais, ligadas ao local, e produz uma diversidade cada vez maior de estilos e identidades (HALL, 2011). Isso por que, como outros processos globalizantes, a globalização cultural é desterritorializante em seus efeitos, suas compreensões espaço- temporais, impulsionadas pelas novas tecnologias, afrouxam os laços entre a cultura e o lugar (HALL, 2003, p. 36). Assim, ocorre também “uma globalização das biografias, uma reinvenção do global e do local que afeta diretamente a individualidade de cada um” (LUCAS, 2013, p. 168).

A globalização está tendo efeitos em toda a parte, um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades, tornando as identidades mais posicionais, mais políticas, mais plurais e diversas, menos fixas e unificadas (HALL, 2011). Nesse sentido, “no curso do processo de globalização, local e global se interpenetram fazendo com que novas identidades surjam, outras se fortaleçam, algumas enfraqueçam e outras se hibridizem” (LUCAS, 2013, p. 172).

É possível estar razoavelmente seguro de que as forças globais tendem a “elevar as nossas identidades ao nível mundial – ao nível da humanidade” (BAUMAN, 2005, p. 96), sinalizando para um senso comum planetário, já que as identidades flutuam livremente e se pode verificar uma certa homogeneização cultural nesse sentido (HALL, 2011).

Vive-se num mundo de transformações que afetam praticamente todos os aspectos da vida dos indivíduos, para o bem ou para o mal. Todos estão sendo impelidos rumo a uma ordem global que ninguém compreende plenamente, mas cujos efeitos se fazem sentir sobre todos (GIDDENS, 2007). Todavia, “as forças globais descontroladas, e seus efeitos cegos e dolorosos, devem ser postas sob o controle popular democrático e forçadas a respeitar e observar os princípios éticos da coabitação humana e da justiça social” (BAUMAN, 2005, p. 95).

Com a globalização, o mundo contemporâneo tem promovido uma sociabilidade que não se deixa aprisionar, parece se abrir e se fechar ao mesmo tempo (LUCAS, 2013) e, diante

disso, o paradoxo que se vislumbra reside no fato de que a abertura para novas possibilidades de acesso e trocas não significa que se conseguiu formar uma aliança harmônica e solidária em projetos comuns.

Para Hall (2011), o futuro depende da faculdade que o homem terá para transcender os limites das culturas individuais. É necessário que a resposta apropriada diante desse contexto inclua esforços conjuntos para tornar a globalização menos destrutiva, isso por que, no caso da cultura as tradições perdidas podem fazer muita falta, a extinção de antigos modos de vida pode causar angústia e um profundo senso de perda (SEN, 2000).

A cultura contemporânea tem dimensões de grandiosidade universal pelas redes da globalização da comunicação, com possibilidades que extrapolaram o imaginário dos visionários de alguns séculos atrás, instaurando-se uma nova complexidade cultural em virtude de o ser humano viver uma experiência ímpar de diáspora cultural e subjetividade. Isto é, de poder estar aqui e, de certa maneira, psicologicamente lá ao mesmo tempo (SIDEKUM, 2003).

O que se deve ter em mente é que, diante da ameaça às culturas no mundo globalizante, em grande medida inescapável, a solução que não está disponível é a de deter a globalização do comércio e das economias, visto que é difícil resistir às forças do intercâmbio econômico e da divisão do trabalho em um mundo competitivo, impulsionado pela grande revolução tecnológica (SEN, 2000).

O processo de globalização que tem vindo a condicionar o mundo e está a ser contestado e será transformado a partir de uma multiplicidade de fatores, de acordo com diferentes culturas, histórias e geografias (CASTELLS, 2003). Referem-se àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e experiência, mais interconectado (Hall, 2011).

Quanto mais a vida social se torna mediada pelos processos de globalização mais as identidades se tornam desvinculadas, desalojadas, e parecem flutuar livremente uma gama de diferentes identidades, mas que ficam reduzidas e traduzidas a uma espécie de língua franca internacional, fenômeno conhecido como homogeneização cultural (HALL, 2011). E a diversidade é percebida, frequentemente, como disparidade, pluralidade, ao contrário da uniformidade e da homogeneidade.

A globalização pode ser considerada uma ameaça fundamental detectada em todas as sociedades, que dissolve a autonomia das instituições, organizações e sistemas de comunicação nos locais onde vivem as pessoas (CASTELLS, 2003). Por outro lado, com a

globalização “multiplicam-se os referenciais identitários que amparam o surgimento de forças locais em busca de reconhecimento de suas demandas particulares, atreladas não mais à ideia primordial de nacionalidade, mas as reivindicações de cunho cultural, político, de gênero, entre outras” (LUCAS, 2013, p. 169). Ela também se faz acompanhar por uma potencialização da demanda por singularidade e espaço para a diferença.

Nesse mesmo sentido, juntamente com as tendências homogeneizantes da globalização, há a proliferação das diferenças, tratando-se de um paradoxo da globalização, já que culturalmente as coisas parecem mais ou menos semelhantes entre si e concomitante ocorre a proliferação das diferenças (HALL, 2003). O reconhecimento das diferenças tornou- se condição indispensável à participação social das minorias, dos excluídos, ao fim das desigualdades, à não-discriminação e à não-submissão de uns aos outros.

As sociedades da Modernidade tardia são sociedades de mudança constante, rápida e permanente. Não são um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade, muito pelo contrário, são caracterizadas pela diferença, por diferentes divisões e antagonismos sociais, produzindo uma variedade de diferentes posições de sujeito, isto é, diferentes identidades para os indivíduos (HALL, 2011).

Assim, o efeito da globalização sobre a identidade cultural não é unívoco, ou seja, global e local não se excluem, mas encerram uma relação dialética na transformação das identidades, já que, por um lado, “as identidades são enfraquecidas pela convivência com interesses de natureza global e, paradoxalmente, por outro, vem reforçada sua tarefa simbólica de produzir pertença, resultado de uma reação às indeterminações e os esvaziamentos provocados pela globalização” (LUCAS, 2013).

Diante disso, um questionamento que não se pode evitar é o de como se manter a identidade cultural diante da globalização, já que esta, dentre outros fatores, eliminou as fronteiras geográficas pelo avanço da tecnologia. Para Giddens (2000), os cenários da globalização não remetem à homogeneização das diferenças culturais, muito pelo contrário, a globalização criou um protecionismo a elas, uma espécie de barreira contra o que a grande indústria cultural tenderia homogeneizar.

Diante disso, a luta pelo reconhecimento da diferença se impõe na sociedade globalizada como uma realidade concreta, um processo humano e social que os homens empregam em suas práticas cotidianas e que, por isso, se encontra inserida no processo histórico. É importante lembrar que a construção da identidade que respeita as diferenças é um processo bastante complexo, principalmente se considerado que a tendência da maioria

dos grupos sociais é a de colonizar o outro, buscando criar uma monocultura (ANGELIN, 2010).

A globalização tornou-se uma forma de interligar o mundo. Também diz respeito à forma como os países interagem e se aproximam, uma forma de transgressão de fronteiras. Desse modo, o multiculturalismo é um dado da realidade que acompanha o processo de globalização. Conforme Sousa Santos, “a globalização é o processo pelo qual determinada condição ou entidade local estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de considerar como sendo local outra condição social ou entidade rival” (2003a, p. 433).

A globalização está reestruturando o modo como se está vivendo. Entretanto, não é um acidente; é uma mudança das próprias circunstâncias da vida; é o modo como se vive (GIDDENS, 2007). Neste mundo contemporâneo globalizado surge o intenso debate acerca do multiculturalismo e dos direitos humanos entre as teorias universalistas e relativistas, haja vista que desponta como necessário o reconhecimento da diversidade cultural, da necessidade de aprender a conviver com as diferenças, com as diferentes culturas, mas de forma que não se mitigue o reconhecimento de proteção da própria condição humana, da humanidade, que é inerente ao homem.

2.4 DEBATE NECESSÁRIO: UNIVERSALIDADE VERSUS RELATIVISMO CULTURAL