• Nenhum resultado encontrado

Diversidade e radicalização nas propostas para a economia cafeeira

CAPÍTULO 3 O GOVERNO RODRIGUES ALVES, O ACIRRAMENTO DA CRISE

3.1 Diversidade e radicalização nas propostas para a economia cafeeira

A partir de 1903, com a posse de Rodrigues Alves, o terceiro presidente paulista consecutivo, e diante do fato da crise cafeeira não ter sido mitigada, apesar das reformas financeiras empreendidas por Campos Sales, as propostas de intervenção para a “defesa e valorização” do café passam a se intensificar. Da mesma forma, as reações contra os projetos valorizadores se acirram no âmbito legislativo. Neste cenário, São Paulo assume um papel de protagonista, não só no Congresso, mas na articulação com os governos dos outros estados cafeeiros, bem como na sucessão presidencial.

Em São Paulo e o Estado nacional, Schwartzman (1975, p. 15-20) sustenta a tese de que há um desenvolvimento contraditório no processo histórico brasileiro, de forma em que existe uma tendência ao fortalecimento do poder central, em moldes burocráticos- patrimonialistas e, ao mesmo tempo, crescentes demandas de representação e autoridade por parte da “sociedade civil”.

Para o autor, não existem no Brasil “grupos politicamente estruturados”, e a ideia de que grupos políticos devem representar interesses é vista como imprópria pela elite brasileira. Prevalece a noção de que partidos e políticos devem se colocar “acima dos interesses”,

constituindo uma espécie de “ideologia do interesse geral”, que gera uma diferença substancial entre os níveis manifesto e efetivo da vida política, fazendo que seja difícil estabelecer conexões precisas entre governos e decisões governamentais, e classes e grupos de interesse.

Da mesma forma, Schwartzman considera que a habilidade de lutar por uma maior parte da riqueza nacional é superior à velocidade do crescimento desta, culminando em instabilidade política e centralização, de modo que a reduzida capacidade de articulação e representação de interesses faz com que se concentre poder no Estado. Assim, quando isso acontece, embora se tente aumentar e articular a representação de interesses na sociedade, logo estas ações são suprimidas ou cooptadas, fazendo com que os grupos sociais articulados fiquem dependentes do centro político.

Conforme o autor, no patrimonialismo, existe uma confusão, que esmaece diferenças entre as esferas econômica e política, de forma que o aparelho estatal antecede, historicamente, o surgimento de grupos de interesses autônomos e articulados. Assim, a busca pelo poder político não visa fazer prevalecer uma determinada política, mas objetiva a posse do patrimônio e o conseqüente controle direito sobre uma fonte de riqueza.

Além disso, para o autor, a organização estatal é uma unidade de análise tão válida – e necessária – quanto os latifundiários, o capital financeiro etc., por levar em conta o tipo de atividade que o Estado cumpre dentro do sistema produtivo social. Desse modo, a ideia da divisão entre Estado e sociedade civil, em que as atividades produtivas estão do lado da última, se evidencia apenas em eventos históricos específicos e não pode ser generalizada para fins de análise.

Outro elemento do patrimonialismo, que caracteriza a especificidade da obra de Schwartzman, ao aplicar o conceito, é a cooptação política. Enquanto a sociedade patrimonial é uma estrutura, a cooptação é própria do nível político e a relação entre os dois é representada pela expressão “patrimonialismo político”. Conforme o autor, porém, esta “relação genérica” varia e se entrecruza com outras formas de ação política, influenciando o processo de mudança social e política. Ainda, a cooptação política refere-se “[...] a um sistema de participação política débil, dependente e controlada hierarquicamente, de cima para baixo”, de modo que se cria um vínculo de dependência entre os detentores do poder e as lideranças politicamente emergentes, fazendo com que, em lugar de ser um direito, a participação política constituía um “benefício outorgado e, em princípio, revogável” (SCHWARTZMAN, 1975, p. 21).

Apesar de ocorrer em todos os sistemas políticos abertos, a cooptação política costuma predominar em sociedades em que estruturas governamentais fortes são historicamente antecedentes às tentativas de articulação política dos grupos sociais. Consequentemente, a administração pública tende a ser vista como um bem em si mesmo e as posições ocupadas passam a ser mais importantes que as funções, conduzindo a um inchaço do setor público.

Importante ponto frisado pelo autor é que a política considerada corriqueiramente como “tradicional” no Brasil não é rural, mas urbana, “moderna”, e praticada “[...] por uma elite com refinamento e habilidade necessários para controlar um aparelho estatal bastante complexo” (SCHWARTZMAN, 1975, p. 23).

Para Viscardi (2001, p. 13-15), a lógica do federalismo na República Velha foi marcada pela incerteza referente à sucessão presidencial. A cada processo sucessório, a hegemonia tinha que ser recomposta, através de “maquinações políticas feitas em circuito fechado”, buscando atrair aliados e afastar competidores, de modo que “[...] a instabilidade era condição para o relativo equilíbrio do jogo das oligarquias”. Atrelados a isso, estavam os interesses dos estados produtores de café em manter o controle do governo federal que, no entanto, para isso, necessitavam de alianças com estados não cafeeiros, como o Rio Grande do Sul.

Conforme a autora, que leva em conta as diferenças entre as elites de Minas e São Paulo ao longo de sua obra, o “teatro das oligarquias” não era “um jogo de cartas marcadas”, mas a política é considerada como uma arena de “opções, de estratégias, de preferências dos atores”, procurando elucidar o que havia de “aberto” naquele conjunto de relações.

A tese central de Viscardi é a contestação da ideia da política do café com leite e da aliança mineiro-paulista e, para isso, parte de dois pressupostos fundamentais. Um deles é que Minas Gerais padecia de disputas internas entre as elites, o que afetou em sua projeção nacional, de forma que seu peso político se deveu ao seu poder econômico e ao fato de ter o maior contingente eleitoral do país. O outro se refere à relação simbiótica entre o Estado republicano e a cafeicultura, no sentido de que a dependência da exportação de café e de seus preços internacionais tornava o setor “[...] refém das políticas cambial, fiscal e monetária estabelecidas nacionalmente”. Dessa forma, a esfera política era fundamental para os interesses cafeeiros. No entanto, a necessidade de alianças a nível nacional, com estados não cafeicultores, limitava a ação das oligarquias na defesa exclusiva de suas demandas, garantindo relativa autonomia ao Estado em relação ao universo do café (VISCARDI, 2001, p. 22).

A autora coloca que Topik também considerava fictícia e sem base empírica a chamada aliança café com leite, porém, apenas sugeriu a hipótese que, por não fazer parte de seu objeto de estudo, não foi aprofundada. Para o autor, a relação coordenada e harmônica entre São Paulo e Minas não passava de uma idealização de um processo caótico e conflituoso (VISCARDI, 2001, p. 45; TOPIK, 1987, p. 28).

Para Viscardi, os “teóricos patrimonialistas”, como Faoro e Schwartzman, deram muito enfoque ao papel do Estado na relação com a sociedade, “subestimando o seu caráter classista” e pretendiam se contrapor à ideia de que o Estado, na República, era condicionado pelas pretensões das oligarquias cafeeiras. Para a autora, estes teóricos não teriam percebido os diferentes setores que compunham o Estado nacional e nem os diversos interesses que ali se inseriam, bem como consideravam o poder regional como algo de “segunda grandeza”.

A autora também lista um grupo de autores, cujas pesquisas se iniciaram a partir da década de 80, como Topik e Perissinotto, que focam na relativa autonomia do Estado em relação aos interesses hegemônicos, mas sem deixar de levar em conta a importância de tais setores na definição e redefinição dos rumos políticos. Estes trabalhos colocam que a hegemonia no período foi construída de maneira conflituosa e não monolítica, tendo necessidade de abrir espaço para outros interesses de diferentes grupos, ao mesmo tempo em que o Estado era um ator na arena política, com interesses específicos e nem sempre semelhantes às pretensões econômicas das principais oligarquias. Ainda, esta abordagem coloca que o Estado atendeu majoritariamente às pressões das oligarquias, apesar de manter certa autonomia e que outras oligarquias, que não a paulista e cafeeira, tidas anteriormente como “minoritárias e desimportantes” foram consideradas na articulação dos rumos políticos (VISCARDI, 2001, p. 47-49).

Segundo a autora, existiam renovações parciais entre os atores políticos, numa rejeição às tentativas de monopolização, o que se dava a cada processo de sucessão presidencial, em que cargos e distribuição de poder eram realocados, tornando as alianças pragmáticas e difusas, e conferindo ao regime “um grau de competitividade muito baixo”. Ainda, três prerrogativas eram indispensáveis para pleitear o poder federal: ser uma liderança, ter sido republicano histórico e ter origem em um dos grandes estados da federação. No entanto, alguns políticos considerados “suspeitos” ou “não confiáveis”, ainda que fizessem parte dos atores políticos hegemônicos, eram excluídos da possibilidade de chegar a presidir a República. Como exemplo, pode-se citar Nilo Peçanha, considerado de pouca confiança no cumprimento de seus compromissos; Rui Barbosa, por ser muito arraigado às teses liberais, acima dos compromissos políticos; Pinheiro Machado, por razão semelhante a Nilo Peçanha,

bem como pelo fato de ser “caudilho”; e David Campista, pelas peculiares críticas às práticas dos coronéis mineiros. Políticos desse perfil eram “considerados disfuncionais à ordem do regime”, ainda que participassem e tivessem importância dentro dele (VISCARDI, 2001, p. 61-63).

Apesar de Viscardi fazer contestações aos autores que tratam do patrimonialismo, não vemos, ao conduzirmos nossas reflexões na presente pesquisa, uma oposição diametral entre as considerações. Se, por um lado, como ressaltou a autora, a República tinha espaços em aberto, de escolha e de possibilidades de combinações entre os interesses e os atores políticos, a mesma estava inserida numa sociedade com determinadas regularidades, que podem ser classificadas como patrimonialistas, uma vez que se trata de um recurso interpretativo que tem como função explicar fenômenos sociais diferentes e de longa duração, mas que possuem semelhanças, notadas nas relações entre Estado e sociedade. Além disso, a constante necessidade de reforçar alianças no período republicano em questão demonstra um dos aspectos da cooptação política, abordada por Schwartzman, em que não são nítidos os interesses dos grupos, mas é indispensável a necessidade de se aliar com outros, muitas vezes com interesses aparentemente distintos, e de fazer concessões em torno de um mesmo projeto.

De posse destas considerações, é possível analisar mais especificamente o comportamento dos atores políticos, com foco especial em São Paulo que, apesar de, e justamente por ter tido que fazer concessões e se aliar a outras oligarquias, exerceu posição de protagonismo na articulação política da “defesa do café”.

Para a análise da dinâmica regional e das relações entre as regiões e o poder central, exporemos algumas considerações de Joseph Love (1982, p. 3-12). O autor se insere na linha dos “brasilianistas” norte-americanos, que se interessaram particularmente pelo período republicano. O autor, em sua obra A Locomotiva: São Paulo na federação brasileira, parte da geografia, para através da economia, sociedade e cultura, chegar à política, considerando os “ritmos”, lentos e fugazes, e evitando determinismos e demarcações rígidas. Ainda, leva em conta a dinâmica regional do federalismo brasileiro e organiza seu trabalho de maneira temática e não cronológica, apesar de considerar as diversas “gerações políticas” dos atores republicanos. Para Love, o “regionalismo” é definido como uma postura política caracterizada pelo reconhecimento de uma unidade política mais abrangente, porém marcada pela busca do favoritismo e da autonomia, ainda que se isso implique no risco da legitimidade do sistema político vigente, a partir das interações entre regiões e União, significando que o regionalismo não é necessariamente incompatível com um governo federal forte. Sendo assim, as relações entre estados e governo central não é antagônica, mas parte de uma continuidade.

Love (1982, p. 251-252) sustenta que, para fazer valer suas demandas, especificamente econômicas, São Paulo não necessitava de “dominar” diretamente a presidência da República, mas procurou, em todo o período da Primeira República, influenciar as políticas federais relativas a câmbio, moeda, empréstimos, recursos orçamentários, entre outros. No entanto, o estado se restringia a buscar essa influência principalmente nos casos em que o governo estadual, por si só, não tinha força suficiente para executar o que demandava. De qualquer forma, no início da República, São Paulo considerava suas demandas satisfeitas, sendo as principais a constituição da federação e a autonomia dos estados que, financeiramente, se deu pela garantia dos impostos de exportação, que, na prática, beneficiou apenas os paulistas, os únicos capazes de gerar renda suficiente para manter a autonomia orçamentária do estado.

Esta relação entre os estados, especificamente São Paulo, e o governo central revela umas das mais notáveis características do patrimonialismo em que se tenta, por algum artifício institucional, como o federalismo, fugir da “ordem de cima”, mas justamente em função do Estado condicionar a sociedade e a economia, essa autonomia acaba por ser muito frágil e não consegue ser permanente. A partir disso, podemos ver como esta dinâmica se apresentou na forma de propostas de leis para a resolução do problema do café.

No ano de 1903, os vários projetos enviados para a Comissão de Agricultura e Indústrias Conexas da Câmara dos Deputados foram classificados em três categorias: 1) projetos de caráter transitório, que objetivavam o equilíbrio entre oferta e procura de café; 2) projetos focados na fundação de institutos de crédito agrícola, pela iniciativa privada, mas com “[...] auxílio pecuniário do Estado, consistindo este no empréstimo direto do Tesouro aos institutos ou no fornecimento de capital, por conta de uma carteira agrícola especial do Banco da República”; 3) projetos que visavam instituir normas legais para a instituição de cooperativas agrícolas, que tratariam de crédito, consumo, produção e seguros. O objetivo era facilitar “[...] a defesa dos interesses agrícolas pelos próprios profissionais da agricultura e indústrias rurais”, e fornecer “[...] aos associados o capital de movimento, destinado ao custeio das propriedades rurais” (PAHCECO, 1979, p. 522).

Ellis, desde o início, não colocava a superprodução como principal causa da crise, mas os “oligopsônios comerciais e os fretes ferroviários”, e era a favor de uma política de crédito que permitisse aos cafeicultores resistirem às pressões dos compradores estrangeiros e do fim das tarifas ferroviárias móveis, que beneficiavam as estradas de ferro em detrimento dos produtores empobrecidos (PERISSINOTTO, 1997, p. 312).

Em sessão do Senado, no dia 1 de julho de 1903, Alfredo Ellis reiterou críticas em relação aos outros estados produtores de café e à falta de “unidade de vistas” e “unidade de ação” entre São Paulo e os outros estados e também às estradas de ferro e suas tarifas, afirmando que “neste país mais vale a pena ser carregador do que produtor!”.

Observou, ainda, que São Paulo adotou medidas de limitação da produção de café e de impostos proibitivos sobre os cafés de qualidades mais baixas, a fim de melhorar o produto e, ao mesmo tempo, diminuir o volume das exportações, mas que tais ações não surtiriam efeito caso também não fossem praticadas pelos outros estados produtores, ressaltando que o café era um “monopólio natural” do Brasil e de interesse não só dos produtores, mas de toda a União, como havia feito em outros discursos (POLÍTICA..., 1915, p. 97-98).

Novamente, comparou o café com outros produtos agrícolas de exportação, alegando que o café “[...] é um produto especial que, assim como a borracha, deve ser considerado monopólio nosso”. Também pontuou, como em outros discursos, que os preços de consumo do café não caíram como os preços de venda, e questionou: “Qual o alçapão por onde se somem os milhões de esterlinos que deixamos de receber e que, não obstante, os consumidores continuam a pagar”. Responde: “Para os torradores americanos”, “[...] com a cumplicidade dos mercados do Havre e de Hamburgo”. Colocou ainda que a principal causa da desvalorização do café seria “nossa fraqueza, a nossa impotência para defendê-lo!”, e que os exportadores americanos se aproveitavam do “vício da nossa organização agrícola” (POLÍTICA..., 1915, p. 99-100).

Ellis também ressaltou que a questão do café “não pode ser indiferente ao honrado Presidente da República” e queixou-se dos governos anteriores “[...] que nada fizeram para evitar que chegássemos à posição misérrima e triste em que estamos, ao passo que tudo sacrificaram para salvar o Banco da República” (POLÍTICA..., 1915, p. 101).

Ao fim do discurso, o senador apresentou um pequeno projeto que autorizaria o governo “[...] a promover, de acordo com os estados produtores, com capitais nacionais ou estrangeiros, os meios de defender e valorizar o café”, e “[...] a fazer as operações de crédito necessárias para a execução da presente lei” (POLÍTICA..., 1915, p. 102).

O Parecer da Comissão de Finanças, de 7 de agosto de 1903, foi crítico em relação à proposta, afirmando que o crédito solicitado era indeterminado e que “defesa e valorização” do café foram apresentadas de modo vago, bem como que um acordo entre os estados produtores não seria de competência da União por meio de uma lei especial.

A Comissão alegou que o projeto carecia “[...] dos requisitos essenciais de uma lei – clareza, precisão, definição positiva e expressa do pensamento do legislador”. Da mesma

forma, colocou que os capitais solicitados envolveriam o Tesouro Nacional “[...] em uma guerra comercial, cujo fim é aumentar ficticiamente os preços da procura de uma mercadoria que, por ser produzida em excesso, dá naturalmente lugar às especulações para a baixa”, constituindo assim “uma inovação perigosa” (POLÍTICA..., 1915, p. 103).

Por sua vez, Ellis se mostrou não surpreendido com o parecer da Comissão de Finanças. Alegou que a amplitude do projeto era prova de confiança no Presidente da República e que o assunto era desconhecido no Senado, por ser a primeira vez que a lavoura pedia auxílio (POLÍTICA..., 1915, p. 106).

O senador rebateu a alegação de falta de recursos citando novamente a questão do salvamento dos bancos “arruinados e mal administrados”, dizendo que o faltava era “[...] diga-se a verdade, coragem para enfrentar a situação e combater com energia a crise” e que o parecer demonstrava o desconhecimento “de quase a totalidade dos representantes da Nação” acerca da crise do café (POLÍTICA..., 1915, p. 109).

Sobre a necessidade do governo federal em promover uma solução para a crise, Ellis alegou que “[...] o café que São Paulo produz, é produto nacional. São Paulo pertence à federação, se não me engano. Só conheço uma pátria! Os nossos sofrimentos, bem como as nossas alegrias, devem ser partilhados como os de qualquer outro estado do Brasil” (POLÍTICA..., 1915, p. 114).

O deputado gaúcho Ramiro Barcelos respondeu que Ellis não disse nada de novo sobre o café e que, por ser um conhecedor do assunto, deveria ter apresentado um projeto mais específico. Ainda, ressaltou que a lavoura se esgotou por excesso de produção. Ao final dos discursos, o requerimento foi adiado e consta nos anais que na sessão de 12 de agosto, “[...] é aprovado o requerimento de adiamento da discussão do projeto até que chega ao Senado a resolução que a Câmara dos Deputados se digne adotar” (POLÍTICA..., 1915, p. 125-130).

A posição de Ellis, no Senado, mostra a intransigência do parlamentar em relação à consideração do café como “produto especial” e “monopólio natural” do Brasil, bem como sua insistência no uso dos termos “defesa e valorização” do café, agora tratados de forma única, como uma relação necessária e inexorável. A despeito do parecer da Comissão de Finanças, o senador coloca como legítimo o uso dos termos em seu projeto, argumentando que seria necessário para o Senado conhecer o problema do café e se colocando como seu porta-voz. Da mesma forma, deposita no poder central, ao mencionar o Presidente da República, a solução.

Tanto o parecer quanto a fala repreensiva de Ramiro Barcelos têm razão quanto ao projeto do senador paulista ter sido vago, no entanto, Ellis conseguiu o objetivo de colocar a discussão em torno da ideia de “defesa e valorização” do café no Senado.

Em sessão de 28 de agosto de 1903, o deputado paulista Cândido Rodrigues, grande opositor do governo, expôs um projeto muito semelhante ao de Ellis no Senado. Na proposta, destacam-se a estipulação de um preço mínimo para o café, por prazo indeterminado; a propaganda do café nos mercados consumidores; o crédito agrícola; o estudo dos mercados consumidores e produtores; a tributação de novas plantações; operações de crédito feitas dentro e fora do país pelo governo e a obrigação dos estados produtores de fundar estabelecimentos de crédito; a criação, se o governo julgasse conveniente, de uma bolsa do