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O governo Rodrigues Alves: entre a ortodoxia e a intervenção

CAPÍTULO 3 O GOVERNO RODRIGUES ALVES, O ACIRRAMENTO DA CRISE

3.2 O governo Rodrigues Alves: entre a ortodoxia e a intervenção

Conforme Faoro (2001, p. 18-24), no prefácio da obra de Afonso Arinos de Melo Franco intitulada Rodrigues Alves: apogeu e declínio do presidencialismo, no fim do governo Prudente, a presidência ainda não estava institucionalizada, dependendo muito, ainda, do

poder pessoal e das articulações do presidente. Além disso, era uma instituição fechada, dependente da escolha dos “chefes” e da “boa vontade do estamento”.

Do mesmo modo, o governo de Campos Sales, ao seu final, contava com uma severa oposição, liderada por Pinheiro Machado, em articulação com as oligarquias dos estados do Norte e Nordeste. A força do Rio Grande do Sul, legada em grande parte por Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros, foi “a mais eficiente força desestabilizadora do sistema”.

Faoro (2001, p. 52-53) também ressalta a postura conservadora de Rodrigues Alves, que vinha desde o Império, como uma “inclinação natural” e não mera conveniência política ou partidária. Este conservadorismo, de acordo com o autor, era o mesmo do paradigma burkeano, cético em relação à possibilidade de se construir a política a partir da razão, e guiado pelo tempo, como processo de maturação, sem cair, porém, no imobilismo. Segundo o autor, o conservadorismo de Rodrigues Alves não era “teórico” ou “doutrinário”, mas levava em conta a política como “obra da experiência e não uma ciência abstrata”.

Sobre a atuação de Rodrigues Alves enquanto senador, Afonso Arinos de Melo Franco (2001a, p. 192-204) aponta que esta se deu muito em função do posto ocupado pelo paulista na Comissão de Finanças, tratando de assuntos como tributos, concessões de estradas de ferro, críticas a privilégios fiscais de empresas privadas e pelo entusiasmo ao tratar dos progressos da cafeicultura e da indústria paulistas. Segundo o autor, Alves “era o representante da nova burguesia em ascensão”, que viria a “colocar o Brasil no século XX”.

Enquanto Ministro da Fazenda no governo Prudente de Morais (posto que também ocupou no governo Floriano), Rodrigues Alves teve que lidar com a presença do capital estrangeiro no Brasil, através dos bancos e das empresas exportadoras, cujos interesses, segundo Arinos, nem sempre coincidiam com os objetivos do país.

Além disso, o ministro se ocupou com “os áridos e complexos problemas que lhe foram entregues”, referentes ao sistema bancário e monetário e à dívida pública. Destes, o mais complicado era em relação às exigências dos bancos emissores, que faziam grande pressão sobre o poder público, com grande exagero. Os bancos, porém, consideravam excessiva a severidade do ministro. Ressalta Arinos que, à época, a República não conseguia se desvencilhar do “círculo vicioso” financeiro legado pelo Império, com déficits orçamentários, endividamentos a serem honrados e novos contraídos.

Em 1900, Rodrigues Alves assume o governo de São Paulo. Àquela altura, a crise pela queda dos preços internacionais do café já estava deflagrada e preocupava particularmente o estado, com a enorme expansão dos cafezais e a consequentemente superprodução, que afetou também os outros países produtores como Sumatra, Java, América Central e México,

queixosos da política de produção cafeeira do Brasil. Ao mesmo tempo, Alves preocupava-se com a baixa de divisas, que prejudicavam as importações e com os problemas de arrecadação interna do estado.

Da mesma forma, Rodrigues Alves entendia o problema do café não somente relacionado aos preços internacionais, mas também dependente de fatores referentes à produção, cujos custos deveriam ser mitigados, a fim de expandir seu consumo. Apesar disso, conseguiu fazer uma administração superavitária, com saldo orçamentário de mais de 30% da receita e, “homem da lavoura”, amparou os produtores introduzindo técnicas de conservação agrícola.

Arinos aponta que, desde 1900, “[...] com a precocidade prejudicial que nunca pode ser evitada, colocou-se o problema da sucessão” presidencial. O presidente Campos Sales, diante das pressões pelo novo candidato oficial ser um “republicano histórico”, preferia um administrador que continuasse sua obra. Além disso, articulou-se a aliança com Minas Gerais, que deveria fazer o vice-presidente, inaugurando a aliança entre os dois estados, em nível de presidência da República (A. A. M. FRANCO, 2001a, p. 259-263).

Rodrigues Alves, apesar de aceitar manter o legado de Campos Sales, frisava que governaria com certas especificidades. No campo econômico, cuja experiência não faltava ao candidato, se comprometeu com a política de defesa da moeda, primordial na questão financeira, com vistas até mesmo à conversão metálica. As finanças, porém, não resolveriam o problema por si, uma vez que sem a produção seria impossível haver boa gestão (A. A. M. FRANCO, 2001a, p. 279).

Com a eleição mais do que previsível, em 1902, o desafio era a formação do ministério, com o agravante do clima de insatisfação política do fim do governo Campos Sales. Naturalmente, a decisão mais esperada e mais difícil era sobre a pasta da Fazenda, que foi assumida por Leopoldo Bulhões, então senador por Goiás. Inicialmente, o convidado relutou, alegando seus estudos sobre finanças não serem “sistemáticos” e limitados aos problemas econômicos submetidos ao Congresso. Porém, Bulhões tinha “pena de deixar o seu posto praticamente vitalício no Senado” por uma “tormentosa pasta”, mas acabou aceitando o convite do presidente e amigo (A. A. M. FRANCO, 2001a, p. 322).

A decisão de Rodrigues Alves seguia as recomendações de Campos Sales e objetivava uma política financeira “[...] fundada em princípios e desligada dos interesses imediatos de São Paulo”. Assim como Murtinho, Bulhões não era paulista e, acreditava-se, tinha uma visão menos limitada aos problemas do café. O esperado era que, assim como o antecessor e como

o próprio Rodrigues Alves quando ocupou a pasta, o novo ministro fosse partidário da “orientação clássica”, com orçamento equilibrado, moeda estável e câmbio em “taxa natural”. Bulhões, desde o Império, já se interessava pelas finanças, inicialmente escrevendo sobre um tema para um jornal local de Goiás. Deputado desde 1882, considerava a política financeira da época tão ruinosa quanto a escravidão. Da mesma forma, quando foi deputado constituinte em 1890, teceu críticas a Rui Barbosa, considerando sua política pior que a do Império. Em 1892, passou a integrar a Comissão de Orçamento da Câmara, se posicionando, como Rodrigues Alves, contra a pluralidade dos bancos emissores e contra a encampação da emissão de moeda pelo Tesouro Nacional.

Apesar da sintonia histórica entre o presidente e seu ministro da Fazenda, as condições políticas e a situação econômica e financeira eram outras. O governo Campos Sales havia melhorado as finanças e, talvez até em função disso, sofreu com grande oposição por parte dos cafeicultores. Caberia então a Bulhões garantir as bases fiscais, creditícias e orçamentárias pretendidas por Rodrigues Alves, sem queda do câmbio e sem inflação.

No governo Rodrigues Alves aumentaram, porém, as pressões para valorização do café, com protagonismo de Jorge Tibiriçá, então presidente de São Paulo, que culminaria com o Convênio de Taubaté e a Caixa de Conversão, que preconizavam emissões de papel e câmbio baixo. Tais propostas chocavam-se ao programa pretendido por Rodrigues Alves, o que lhe rendeu forte oposição em seu estado natal, “habilmente explorada por adversários pessoais, como Pinheiro Machado” (A. A, M, FRANCO, 2001b, p. 23).

Em 13 de outubro de 1905, Joaquim Murtinho discursou em nome da coligação para a candidatura de Afonso Pena e Nilo Peçanha, cerimônia presidida por Pinheiro Machado. No início de sua fala, o ex-ministro ressaltou a importância da Constituição como expressão da liberdade na República e questionou a ideia de que o presidente deveria escolher seu sucessor, numa clara menção a Rodrigues Alves.

Também salientou que a rapidez do desenvolvimento do país acarretava a instabilidade social e que a ação de um governo forte seria essencial para a manutenção da ordem. Ainda, proferiu críticas à monarquia e seu sistema parlamentar, que apenas fazia cumprir a vontade do Imperador. Em seguida, colocou que o presidente era tão representante do povo quanto o Congresso, em resposta aos que afirmavam que as crises políticas deveriam ser resolvidas pelo legislativo. Além disso, ressaltou a importância do federalismo, mas sem deixar de observar a autoridade da União.

Sobre a questão econômica, afirmou: “a coligação não é papelista”, pois tinha como objetivo a “fixidez de nossa moeda”. Como em seus vários posicionamentos enquanto

ministro, ressaltou que a solução do problema econômico demandaria primeiramente a solução da questão financeira e que o problema não era o câmbio alto, mas o valor incerto da moeda. Ainda, colocou que o “livre câmbio”, ou seja, o livre comércio, representava uma “aspiração universal”, mas que não poderia ser realizado sem “o consenso unânime das nações”. Dessa forma, caberia “[...] preparar e organizar a defesa da nossa indústria contra os ataques protecionistas de outros povos”.

No entanto, chamou a atenção para o fato de que “a cultura do espírito nacional” estaria “profundamente viciada” e de que o Estado teria que ser feito à imagem da sociedade e não o contrário, como estaria acontecendo até então (MURTINHO, 1980, p. 295-306).

Murtinho manteve sua posição, de maneira geral, sobre as questões financeiras, o que significava que a candidatura que estava apoiando não romperia com as bases forjadas desde o governo Campos Sales. No entanto, adotou uma postura mais conciliadora em relação à economia. A justificativa repousava não numa convicção acerca do protecionismo, mas numa reação a práticas semelhantes, que seriam empreendidas por outros países de qualquer forma. Assim, a intervenção é colocada como uma inevitabilidade, um “mal necessário”. Ao mesmo tempo, as referências negativas à monarquia e o enaltecimento da República, simbolizada pela Constituição e pela união do sistema federativo, representavam a necessidade de legitimar um governo que se colocava como “novo”, como um passo a mais em direção à consolidação e à “perfectibilidade” da República.

Conforme Afonso Arinos de Melo Franco (2001b, p. 24-29), a postura de Rodrigues Alves “[...] era a do financista prático, crente no êxito das experiências consagradas, sem interesses pessoais nem preconceitos de escola”. Ao mesmo tempo, o presidente não era um “livre-cambista” como Bernardino de Campos nem “um inexorável deflacionista tributário” como Campos Sales. Da mesma forma, por ser paulista e cafeeiro, conhecia aqueles problemas específicos. Ainda, “de acordo com as crenças da época”, o presidente procurava manter a circulação da moeda tendente à conversibilidade metálica. Porém, muitas vezes os planos financeiros de Rodrigues Alves esbarravam na influência externa, segundo o autor, com forças “maiores que as do Brasil”.

Em relação ao Banco da República, ligado ao governo, Arinos aponta que a “súbita deflação” promovida por Campos Sales veio a prejudicar a instituição. Para Bulhões, os meios que o banco dispunha eram “[...] insuficientes para imprimir ao movimento econômico do país o impulso que fora para desejar”. Dessa forma, seria necessária uma reorganização do banco, que conforme o ministro deveria fazer as funções de um Banco Central, para redescontar papéis de outros bancos, para adiantar a eles e ampará-los em situações de crise.

Em agosto de 1904, os acionistas concordaram com as modificações e em setembro Rodrigues Alves remeteu ao Congresso o anteprojeto da reforma dos estatutos do banco, que viria se chamar Banco do Brasil, tendo tramitado a lei no Senado em dezembro.

Entre as novas atribuições da instituição destacavam-se: o recebimento de saldos do Tesouro e adiantamentos por antecipação de receita a este; a possibilidade de contratar com a União e os estados, servindo de intermediário financeiro no mercado nacional e estrangeiro; compra e venda de títulos da dívida pública; operações de câmbio além das operações comerciais normais. Ainda, o presidente e o diretor de câmbio do banco seriam nomeados pelo governo. Além das funções de banco central, auxiliando a administração pública e a política econômico-financeira, a instituição tinha como função primordial o controle do câmbio, evitando oscilações bruscas.

Diante do novo redimensionamento da instituição bancária, abriu-se a possibilidade de uma ação mais proativa em auxílio à lavoura, ou seja, uma flexibilização em relação à política austera e saneadora. Esse fato, combinado com os esforços do governo para a manutenção do principal banco do país, serviria de suporte para as propostas de intervenção que viriam a seguir.

Rodrigues Alves, de acordo com Viscardi (2001, p. 80-86), tinha o estigma de, durante o Império, ter feito parte do Partido Conservador, não ter sido um republicano histórico e de ter sido contrário à abolição. No entanto, posicionava-se como um elemento conciliador, no contexto da dissidência paulista, entre gliceristas e prudentistas. Além disso, era considerado um estudioso das questões financeiras, por ter sido ministro da Fazenda em dois governos republicanos anteriores. Embora ligado às ideias de ortodoxia econômica e financeira, atendia indiretamente aos interesses cafeeiros.

Além das pressões dos cafeicultores paulistas, Rodrigues Alves, como já salientado, tinha que lidar com um Congresso cada vez mais em conflito e com o problema sempre presente das sucessões presidenciais.

O gaúcho Pinheiro Machado se destacou na articulação das sucessões presidenciais de Campos Sales e Rodrigues Alves. O então senador havia lutado na Guerra do Paraguai e era um republicano histórico. Apesar de ter tentando emplacar Júlio de Castilhos como sucessor de Sales, após a derrota, aderiu ao governo e se tornou seu maior articulador político. Como vice-presidente do Senado, controlava o acesso ao poder dos pequenos estados e os assuntos da Câmara Alta que, pela maior paridade na representação entre os estados, era mais fácil de ser controlada do que a Câmara dos Deputados. Com isso, conseguia a sujeição dos governadores, que perderiam o apoio de suas bancadas, caso se opusessem aos interesses de

Pinheiro. O senador também articulava contra os estados da Bahia e de Pernambuco, que também disputavam o posto de “segundo escalão” na arena política nacional, fomentando disputas oligárquicas. Em relação a São Paulo, embora se colocasse como aliado político, o gaúcho nunca foi um “cliente incondicional”, sendo que, em fins do governo Rodrigues Alves, sua independência possuía ares de oposição.

Love (1997, p. 99-114) considera que na República Velha, o Rio Grande do Sul, política e economicamente, foi uma “anomalia”, já que não se baseava na exportação e não era um estado dominante, como São Paulo e Minas, mas também não um mero “satélite”. Estas peculiaridades propiciaram aos gaúchos uma participação importante nas decisões políticas do período.

Os republicanos históricos gaúchos, principalmente Júlio de Castilhos, aderiram de uma forma fervorosa ao positivismo comteano, principalmente em relação à ideia de ditadura republicana e aos aspectos progressistas da doutrina, constituindo uma visão “paternalista e altamente racionalista do liberalismo do século XIX”, diferentemente dos demais republicanos, que usavam o positivismo como uma espécie de “vitrina ideológica”. Além disso, no Rio Grande a importância da posição social e da família, politicamente, era esmaecida, dando lugar a uma centralização maior no governo do estado e menos poderes aos coronéis, que por serem mais ligados ao partido e ao poder político e mais submissos às decisões de seus superiores, forjou-se no estado a figura do “coronel burocrata”. Ainda, o estado guardava relações sólidas com um segmento significativo do Exército, sendo Castilhos, no início da República, considerado por muitos membros das forças armadas como “herdeiro legítimo” de Floriano. Parte desta relação estreita era justificada pela defesa intransigente das verbas militares pelos gaúchos no Congresso, mas também pelo fato de que o Exército via nos republicanos rio-grandenses os únicos aliados possíveis para fazerem frente aos mineiros e paulistas.

Velez Rodriguez (2010, p. 8-12) coloca que o castilhismo não é uma mera transposição mecânica da doutrina positivista de Comte, mas que Castilhos via no poder político um instrumento para transformar a sociedade, no sentido de exercer diretamente a tutela sobre ela. Diferentemente do pensamento liberal, em que o bem público é baseado na propriedade privada e na liberdade civil, o castilhismo vê o bem público como a construção de uma sociedade moralizadora, através de um Estado forte que impõe o desinteresse individual com vistas ao bem-estar coletivo. O autor considera esta doutrina “a variante mais expressiva do autoritarismo doutrinário” que influenciou a República Velha, a despeito de o liberalismo ter sido a doutrina política oficial e também ter sido tentado na esfera econômica.

Em linhas gerais, o castilhismo pode ser caracterizado pelo seguinte conjunto de princípios: a “pureza das intenções”, pré-requisito moral de todo governante; o bem público interpretado como “reino da virtude”; o exercício da tutela moralizadora do Estado sobre a sociedade.

O autor ressalta que, para Pinheiro Machado, cuja atuação política ampliou o castilhismo para nível nacional, a ideia de “bem público” é representada pelo apelo aos “supremos interesses da nação”, ou seja, a defesa da República enquanto regime, compreendido como “o reino da virtude”, visto como “sagrado”, com caráter misterioso e quase divino, centro de um culto de inspiração religiosa: o culto republicano (VELEZ RODRIGUEZ, 2010, p. 158-160).

Ainda, Pinheiro Machado, de acordo com o autor, possuía uma personalidade autoritária e “[...] tinha plenamente consciência de que nasceu para exercer uma liderança absoluta”, apesar de também contar com uma “índole cordial” que fazia com que conseguisse persuadir seus interlocutores, o que lhe conferia grande vantagem, por se tratar, essencialmente, de um político de bastidores. O senador gaúcho também tinha pretensões de que os diversos partidos republicanos fossem mais coesos e disciplinados, em benefício do Brasil e da República, ultrapassando as questões estaduais (VELEZ RODRIGUEZ, 2010, p. 192-193).

Um exemplo de discurso positivista pode ser visto na sessão de 3 de novembro de 1905, quando o deputado paulista Francisco Malta apresentou um projeto que determinava a cobrança integral dos direitos de importação em ouro a fim de assegurar o desenvolvimento da produção agrícola e industrial. Durante o discurso de apresentação da proposta, o deputado fez críticas ao laissez faire e observou que “[...] um movimento extraordinário se produz na Alemanha, Itália, Inglaterra, América e quase toda parte, em favor de uma ação mais vigorosa do Estado na defesa da produção”. Em sua condenação do “livre câmbio”, o deputado citou Comte, “[...] em sua Phil. Posit., vol. 4, pag. 202, [...] „Esta vã e irracional disposição, a não admitir que esta gradação de ordem se estabeleça, de si mesma, equivale evidentemente, na prática social, a uma sorte de abdicação solene dada por essa pretensa ciência no que concerne a cada dificuldade um pouco grave que o desenvolvimento industrial faz surgir‟” (POLÍTICA..., 1915, p. 192-193).

Em defesa de seu projeto, o deputado coloca que cobrança integral dos direitos de importação em ouro “[...] já foi parte integrante do nosso sistema fiscal, sob a responsabilidade do preclaro brasileiro Dr. Rui Barbosa”. Além disso, o sistema estaria em vigor também na Rússia, Itália e EUA (POLÍTICA..., 1915, p. 193).

Sobre a questão cafeeira, observou Malta: “[...] é o café o produto que mais contribui para a conservação do nosso convívio entre as nações cultas do mundo. É ele o termômetro que denuncia a nossa existência como sociedade política”, e que a estabilidade de seu preço era essencial para “o equilíbrio do nosso organismo social” (POLÍTICA..., 1915, p. 194).

Citando exemplos de protecionismo na Inglaterra e nos EUA, o deputado colocou que “[...] a política deve ter o cunho nacional, refletir as necessidades e os interesses nacionais, que não são idênticos entre os povos, que habitam o planeta”. Em seguida, ressalta: “[...] é por isso que vai triunfando, fazendo o seu caminho rápido, a escola que os economistas, como C. Gide, P. Cawes e outros denominam de – escola política, nacional, positiva”. E conclui: “é o método positivo aplicado à relatividade do meio social” (POLÍTICA..., 1915, p. 197-198).

Diferente da maioria dos projetos e discursos observados até agora, o de Francisco Malta se coloca como de cunho abertamente doutrinário e positivista, contrastando com a postura também doutrinária, mas liberal, dos que se opunham à valorização do café, bem como com as justificativas mais “intuitivas” de seus defensores.

Na sessão da Câmara dos Deputados, em 3 de maio de 1906, foi exposta a mensagem do presidente Rodrigues Alves ao Congresso.

Inicialmente, o presidente tratou das obras de saneamento feitas na capital federal e também da construção “[...] abundante de casas confortáveis e de baixo preço, que se destinam à habitação dos operários e da população menos abastada”. Em seguida, Alves fala da construção de estradas de ferro, regularização das tarifas e melhoria dos portos, a fim de melhorar o desenvolvimento das forças produtivas (POLÍTICA..., 1915, p. 203-204).

Entrando na questão cafeeira, o presidente alude ao convênio feito pelos presidentes dos estados se São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, como uma oportuna iniciativa, mas