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Diversificação das estratégias didáticas

P: Eu vou entregar as reportagens que vocês produziram: os textos Quem não está com a sua por causa da troca na segunda-feira vai analisar a reportagem, observando todos os

5.4.9. Diversificação das estratégias didáticas

No princípio diversificação de estratégias didáticas, percebemos uma diferença entre as duas professoras. A professora 1 desenvolveu este princípio em todas as aulas, já a professora 2 em sete aulas. A professora 1 inseriu 10 momentos diversificados durante as treze aulas, acrescentando alguns que foram planejados, já a professora 2 acrescentou apenas um momento. As inserções das atividades pela professora 1 fizeram com que em cada módulo, os objetivos pretendidos foram abordados em diferentes momentos da aula por meio de diferentes estratégias. A professora 2, além de não fazer os acréscimos, ainda deixava de fazer algumas atividades planejadas. Assim, ressaltamos que embora a própria sequência já garantisse ao longo da aulas, em um mesmo módulo, a diversificação pela professora foi bem melhor. Em relação à não realização das atividades planejadas, percebemos que a docente 1 não desenvolveu duas atividades durante as treze aulas. A professora 2 não realizou 4 atividades.

Uma das hipóteses levantadas por nós para que tais evidências sejam constatadas é a participação da docente 1 desde o início do planejamento e estudo sobre o gênero no grupo de pesquisa. A presença dela nas reuniões pode ter assegurado mais autonomia em desenvolver a sequência. A professora 2, por não ter vivenciado esses momentos, pode ter seguido o planejamento mais ao pé da letra, embora tenha retirado algumas atividades, talvez por questões de tempo ou insegurança sobre como conduzi-las.

Abaixo segue um extrato da professora 1, em que é utilizado o dicionário como recurso para auxiliar a compreensão do texto (situação inicial, aula 1):

P: Ok, e o que será colecionar? A: É guardar.

P: Alguém trouxe o dicionário hoje? AS: Eu, eu, eu.

A: Tia, colecionar é ajuntar.

P: Colecionar é juntar? Tá no dicionário isso? Ok. Iago acha que colecionar é juntar. Quem achou? Vê aí Mateus.

A: Reunião de objetos de mesma natureza ou que tem qualquer relação. A: Achei tia.

P: Vamos ver o de Pedro.

A: Colecionar, fazer coleção, reunir, coligir, colecionador. P: Reunir o que?

A: Reunir, coligir.

P: Alguém sabe o que é coligir? Vê se a palavra que apareceu é essa. A: É assim, Pedro?

Alguns alunos procuram a palavra no dicionário. A: Coligir, achei.

P: Vamos ouvir? Ele encontrou o que é coligir.

A: Reunir em coleção, massa ou... ajuntar o que tá...espaço.

P: ok. Então a gente já sabe o que é colecionar, é fazer o que mesmo? O que é mesmo colecionar?

A: Juntar.

P: Juntar qualquer coisa? Juntar o que? AS: objetos da mesma natureza. P e AS: objetos da mesma natureza.

Ressaltamos que durante a sequência este recurso não estava mencionado para utilização em nenhum momento. O trabalho com a utilização do dicionário aconteceu em duas aulas da professora 1, na produção inicial e no módulo 4. Percebemos que foi um momento bastante enriquecedor, tendo em vista que os alunos estavam com dificuldades de compreensão, principalmente no módulo 4, e o auxílio ao dicionário permitiu que as discussões ficassem mais claras.

Uma boa estratégia realizada pela docente 2 foi solicitar aos alunos que entrevistassem algumas pessoas da escola para que inserissem depois, nas produções das reportagens (Produção final, aula 10):

P: (...) Agora nós aprendemos também, nesse processo de trabalhar reportagem que pra... reportagem precisa ter inserção de vozes, ou deve ter e deve ser feito entrevista. E a entrevista vai ser colocada totalmente na reportagem? Vai ser colocada a opinião da pessoa entrevistada. E eu preciso saber quem é a pessoa entrevistada. Qual a função dela, qual a profissão e a idade dela ok? Como aqui na escola a gente tem algumas pessoas que não estão trabalhando conosco aqui na sala... Posso falar? Essas pessoas aqui (lista no quadro), são conhecidas de todo mundo, né?

(...)

P: pode ser nessa folha mesmo, ta ótima essa. Trabalhar em dupla é como um casamento:tem que ser bem tranqüilo com relação a isso. Não precisa as duas pessoas ir fazer a entrevista, não. Só uma pessoa vai fazer a entrevista. Escolhe par ou impar quem vai. Copiou as perguntas?

P: Pegue o lápis e vá lá. Diga: Bom dia, eu sou Bianca eu sou Carolina. Pergunte o nome dela, a idade, profissão. Vocês precisam ter anotado no papel, na cabeça, o seguinte: primeira coisa: a entrevista será com quem?

A: Luciene.

P: Nome, profissão, idade. Por quê? Chegando na sala da pessoa, pede licença, se identifiquem: somos da 4° serie, é um trabalho que estamos fazendo com uma entrevista com vocês. São 4 perguntas, além da identificação. Perguntem pausadamente. Perguntem se a pessoa tiver dúvida. A reportagem que você vai fazer é sobre? Cartas! O hábito de escrever e receber cartas. Num é sobre isso que estamos trabalhando? A primeira pergunta: quando você quer ou precisa comunicar-se com alguém que está distante, o que você faz? Você escreve uma carta, telefona ou manda e-mail? Aí a pessoa vai dizer: normalmente, eu faço isso. Aí você escreve a resposta. Ok? Depois, você costuma escrever cartas? Ela vai dizer sim ou não. Ai você pergunta: para quem? No caso de sim. Pergunta a sua pessoa. (...)

P: No papel você vai ler a pergunta e escrever a resposta da pessoa. Porque o que você vai escrever na reportagem é o que a pessoa disse. Posso continuar? Depois. Você costuma receber cartas? De quem? A pessoa que você vai perguntar, Camila, é você, mas os outros é a senhora. Dona Margarida, a senhora costuma receber cartas? Ela diz: ah costumo. Ah, de quem? De minha irmã que mora não sei onde.

A: É pra gente botar, é tia?

P: É, a resposta que ela der. E por último, a pergunta mais interessante. Vocês vão ter bem cuidado em responder. Em escrever exatamente o que a pessoa disser. Na entrevista não vai a opinião da gente, vai a opinião da pessoa. A resposta que ela der. No passado você recebia e escrevia mais cartas do que hoje? Ela vai dizer sim ou não, e por que. Né verdade? Por que? No passado a gente não tinha muito computador. Telefone pouca gente tinha. Então a maioria das pessoas se comunicava por cartas. Aí cada uma delas vai dizer como era. Alguém tem dúvida?

Percebemos que neste momento a professora possibilitou que os alunos vivenciassem uma situação real de interação para que as produções fossem as mais autênticas possíveis. Esse momento foi bastante rico. As crianças aprenderam as características de outro gênero, a entrevista, e interagiram com várias pessoas da escola. Destacamos ainda que as professoras adotaram estratégias diversificadas de acordo com as necessidades de aprendizagem das crianças, atendendo assim à abordagem socionteracionista de ensino.

5.4.10. Progressão

Por fim, o princípio da progressão pode ser encontrado durante a sequência entre as aulas e entre as atividades desenvolvidas no mesmo dia. Cada etapa visa uma progressão das atividades, com continuidade, facilitando assim a apropriação do gênero, que enfocou de modo mais aprofundado, um determinado tipo de atividade.

Selecionamos dois extratos em que as professoras retomaram as discussões sobre as características do gênero reportagem com os alunos. Percebe-se que as duas compreenderam o modelo de sequência proposto, em que o ensino está organizado em espiral (Dolz, Noverraz e Schneuwly, 2004), ou seja, há uma revisitar aspectos trabalhados em diferentes momentos.

O extrato abaixo foi retirado do módulo 8 (aula 10), professora 1:

P: Alisson, eu amei de coração aquela pesquisa que vocês fizeram sobre saneamento básico. Então vem a calhar com as características que estão aqui com as reportagens que produziram frente ao assunto. O assunto pesquisado tinha sido saneamento básico, o assunto da reportagem foi saneamento básico. Uma vez que vocês haviam pesquisado, estudado sobre, comentado sobre. O que aconteceu? A reportagem vai revelar. Vocês começaram a reportagem como reportagem. A maioria. Vou ler todas e vamos identificar. E aí, alguém ainda fez manchete e olho bem semelhante. Boa parte fez manchete e olho.

A: A senhora vai ler?

P: Vou ler pra todo mundo. Não sei se por conta do tempo, mas teve gente que fez rabiscos nas ilustrações e ainda tem gente pegando a pergunta na reportagem. Cabe o relato do que foi entrevistado, o ponto de vista de alguém sobre saneamento básico que é o assunto da reportagem. Ainda aconteceu.

P: Alguém disse: saneamento básico é bom, sem justificar. Essa palavra é outra, temos que dizer porque é bom. Explicar. Teve uma equipe que eu amei. Colocaram a

identificação do jornal no final. A: Quem foi?

P: Eu vou ler para vocês. Ainda existem reportagens pobres, mas tem umas assim... (Momento de Leitura e análise das reportagens produzidas). Saneamento Básico é um conjunto de medidas visando o meio ambiente. Na estação de tratamento vai passar por um processo de purificação de impurezas. Depois de tratada a água, limpas, são

despejadas nos mares ou rios.... O início é ótimo. O texto é ótimo. Mas cadê os relatos? Cadê os argumentos? Disseram que não deu tempo passar. Chegam 11h30min e você diz que não deu tempo. Pois é, é algo para se refletir, né?

P: A finalização dessas reportagens eu percebo que está dando uma melhorada.

Através do relato acima percebemos que a professora fez um bom trabalho de sistematização dos saberes e retomada do que tinha sido feito. Desenvolveu um trabalho em que os alunos na aula anterior realizaram a pesquisa e produção sobre saneamento, e na aula referente, retomaram as discussões, favorecendo cada vez mais sua apropriação, neste caso, em relação ao tema trabalhado e às características do gênero no momento da revisão textual, realizada na aula seguinte.

A professora 2 também desenvolveu durante as aulas o princípio da progressão, como podemos constatar no extrato abaixo, também da situação final (aula 10):

P: Vejam só: o que foi que a gente aprendeu sobre o gênero reportagem? Quando a gente vê uma reportagem, a gente vai saber que é reportagem. Por que? O que foi que a gente aprendeu?

A: A gente aprendeu que tem o olho. P: O que mais?

A: A manchete.

A: Tem que tá escrito em coluna. A: Colunas.

A: Tem que ter inserção de vozes e o olho é uma dica. P: Uma dica. E a gente sabe...

A: Tema e assunto.

P: Tema e assunto. E o assunto ou esse tema pode ser de uma cabeça só? A: Não.

A: Pode.

P: Ela só pode escrever o que ela acha? A: Não.

P: Ou pode escrever o outro lado da historia. Que mais a gente aprendeu? A gente viu várias reportagens. Então sobre o gênero a gente aprendeu o que? Vamos ver aqui? A primeira reportagem que a gente aprendeu foi essa. Uma cortina colorida que não sai do lugar. O tamanho da letra, a cor, é igual ao resto da reportagem?

A: Não.

A: Ali tá pequeno. Não dá pra entender nada.

P: Quando você ler, você vai entender. Só você olhar o tamanho da letra e a cor é igual? A: Não.

P: Então a manchete é uma coisa que chama sua atenção, ela precisa ter uma frase. Por ex. de quantas palavras?

A: Oito a dez palavras.

A professora 2 também desenvolveu um momento de sistematização antes dos alunos produzirem seus textos, o que foi bastante importante para que os alunos retomem o que já foi discutido e o que precisam para realizar a atividade, em que a cada nova discussão há um maior envolvimento dos alunos com as características do gênero, podendo utilizá-las de forma mais autônoma por ter sido realizado em trabalho voltado à progressão das aprendizagens, como defendem os autores Leal e Mendonça (2005) e Dolz e Schneuwly (2004).

Neste capítulo, de modo geral, buscamos analisar a condução das duas professoras durante o desenvolvimento da sequência didática. Através dos 10 princípios que elencados anteriormente, percebemos que as duas docentes tiveram uma boa atuação em todas as aulas, trabalhando as temáticas abordadas e as características do gênero de forma enriquecedora.

Diante das discussões aqui expostas nos questionamos se tais princípios também são reconhecidos pelos estudantes na prática docente e se são valorizados. Para isso

analisaremos a seguir as entrevistas realizadas com as crianças do ano 5 de duas turmas de escola pública em que as mesmas docentes eram responsáveis.

6. OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DAS CRIANÇAS RELACIONADOS ÀS