Ensino centrado na interação em pares

O terceiro princípio, ensino centrado na interação em pares também foi contemplado pelas duas docentes em todas as aulas. Os alunos desenvolveram as atividades em duplas e em grupos. Destacamos que essas formas de organização dos alunos permitem maior troca entre eles, desenvolvendo habilidades atitudinais, construção e socialização dos saberes.

Percebemos no extrato abaixo que a professora 1 mobiliza os alunos para fazerem as atividades em grupo e informa como eles devem agir para que todos aprendam e realizem a atividade (módulo 5, aula 6):

P: Quarta série, depois que vocês devolverem o jornal, o texto dessa reportagem vai ser lido pra toda equipe e vocês vão produzir uma manchete, de repente cada um produz uma manchete e vocês elegem qual vai ser a manchete ou então vocês combinam qual vai ser a manchete, qual a manchete mais adequada, agora, pra isso, todos tem que ter tido acesso à reportagem, então há necessidade que todos tenham lido. Quarta série! Licença! Licença, quarta série! A chuva tá produzindo ruído, então o que a gente vai ter que fazer? Vai ter que ler, no cochicho, de uma forma que garanta que todos da equipe escutem, e que todas as equipes possam ler cada uma a sua reportagem.

(...)

P: Qual foi o comando que eu dei? Leia a manchete, produzir... leia a reportagem e produzir a manchete, estou dando 15 minutos pra tudo isso. (...)

P: Faltam 5 minutos. (...)

P: Eu dei 10 minutos pra ler a reportagem, 5 minutos pra produzir a manchete. Alguma dúvida? (...)

P: Quarta série, o tempo acabou, certo? Agora eu vou pedir a cada equipe que leia a manchete que escolheu, que elegeu. Licença! Todo mundo ouvindo atentamente. Márcia, algum problema? Não, ótimo. O comando foi fazer a leitura de uma reportagem e dessa leitura ser retirada uma manchete, vocês leram a reportagem?

A: Sim.

P: Depois que leram a reportagem, a equipe tem que produzir uma manchete para essa reportagem que foi lida, fizeram isso?

A: Sim.

P: Agora vocês vão socializar. Vocês vão dizer pra turma qual foi a manchete que vocês acharam adequada, que iria atrair o leitor para ler essa reportagem produzida por vocês. Depois, eu vou ler pra vocês qual foi a manchete original que estava lá no jornal.

Um aspecto a ser destacado na professora 1 é que ela desenvolveu três momentos que não estavam planejados na sequência de modo que favorecesse a interação em pares. Nos módulos 4 (aula 5) e 9 (aula12) a professora solicitou que os alunos discutissem em duplas as aprendizagens adquiridas sobre as características do gênero e sobre as pesquisas realizadas sobre a temática do preconceito, respectivamente.

Os alunos discutiram o que tinham aprendido e as formas como realizaram suas pesquisas, tornando, assim, as aulas centradas na interação de forma diversificada e incentivando a explicitação verbal dos conhecimentos. Outra estratégia adotada pela docente 1 foi no momento em que as crianças revisaram suas produções em dupla, como aconteceu na aula 10, módulo 8. Nessas atividades os alunos são capazes de expor suas estratégias de aprendizagem, argumentar, justificar suas escolhas, elaborar hipóteses, aprender a escutar, ampliando assim seus conhecimentos e novas atitudes.

A professora 2 destacou em uma das aulas que os alunos deveriam respeitar os colegas durante os trabalhos propostos (Produção final, aula 10).

P: Agora vejam, todos sentados. Eu sei que tá todo mundo ansioso porque viu ali no quadro algumas coisas escritas. Eu gostaria de conversar com vocês, a primeira coisa: eu vou explicar. Vou retomar uma fala do começo da aula. Quando Juliana começou a trabalhar conosco, esse projeto desse trabalho dela, ela fez, ela trouxe uma proposta de trabalhar em dupla um texto. Esse texto ela tirou uma cópia. Esse texto que a gente vai fazer agora, que é o último texto desse trabalho que ela tá fazendo conosco, também vão ser as mesmas duplas. Por isso que eu coloquei já os nomes, as duplas que fizeram naquele primeiro momento vão fazer agora. Acontece que ... Uma pessoa que tinha feito o trabalho inicial faltou. Caio e Kelinton faltaram. Os dois, anulou a dupla. E Fernanda que tinham feito com Bia, ela não veio. Em compensação, chegou Cássio, que tinha feito só e Lucas e Mariane não tinha vindo nesse dia. Cássio vai receber alguém e Bia que perdeu Fernanda, vai receber alguém. Se eu quiser, eu posso fazer Bia com Lucas, Bia com Mariane ou Bia com Cássio. Nós fizemos a opção de Bia com quem?

A: Mariane.

P: Por causa da afinidade. Cássio tinha feito sozinho, agora faz com Lucas. A: Oxe, tia.

P: Eu não estou. Imagina, tá? Ana Rita no começo do ano: ah você eu quero, você eu não quero, não, você é peste, você é ruim. Não é assim. Venha de onde vier, ficam matriculados e a gente trabalha muito bem. É verdade ou não?

A: É. (...)

P: São quatro perguntas. Quero fazer a simulação. Cada um vai fazer a pergunta pra mim. Eu sou a entrevistada. Meu nome é Ana Rita, 42 anos, sou professora. Vamos lá. A: Quando você quer ou precisa comunicar-se com alguém que está distante, o que você faz? Você escreve uma carta, telefona ou manda e-mail?

P: Normalmente eu telefono. Às vezes quando tenho acesso ao computador eu mando e- mail. Carta menos, mas uso também. Segunda pergunta, Marília, faça a mim. (...) Pronto. Adorei, Milena. Enquanto a pessoa faz a pergunta, um escreve (dupla).

P: Pronto. Agora podem ir. Educadas pelo amor de Deus. Quem tiver pronto pode ir. Gente, bom dia, com licença, tudo direitinho. No final agradeçam. Pode ir meu amor. P: Lucas e Cássio vão aí fora.

(Tempo para as crianças entrevistarem os funcionários da escola)

Salientamos que existem diferentes formas de organizar os alunos e propor atividades de modo que a interação seja contemplada nas aulas. As interações, sejam de forma coletiva ou em pares, desenvolvem habilidades específicas e proporcionam novas aprendizagens. Assim, percebemos que as duas docentes desenvolveram o trabalho, permitindo que os alunos fossem sujeitos ativos do conhecimento, proporcionando momentos diversificados de interação. Assim, corroboram com as ideias de Soares (1998, p. 59), de que o sujeito “constroi suas habilidades e conhecimentos da linguagem oral e escrita em interação com os outros e com a própria língua”.