• Nenhum resultado encontrado

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 PERCEPÇÃO DAS MULHERES BENEFICIÁRIAS DO PBF SOBRE

4.1.5 Divisão sexual do trabalho doméstico

Os estudos realizados sobre a divisão sexual do trabalho apontam que apesar

das modificações /transformações ocorridas no mundo do trabalho e da tendência

crescente à participação da mulher na esfera pública, essas questões não são

determinantes para alterar significativamente as características da divisão do sexual

do trabalho doméstico.

Segundo Araujo e Scalon (2005), a reprodução da vida e como ela se efetua

varia historicamente e entre as culturas, de acordo com os contextos nos quais os

indivíduos estão inseridos, e envolvem recursos tecnológicos, condições econômicas

e organizacionais.

Com base nessas modificações/ transformações ocorridas na sociedade, mas

que entretanto, não chegam a modificar a as relações de gênero principalmente nas

esferas reprodutivas é que elegemos esse bloco de questões

12

como pistas para o

debate sobre a divisão sexual do trabalho doméstico. A Tabela 15 a seguir demonstra

os dados encontrados.

Tabela 15 – Distribuição das frequências absolutas e relativas sobre a divisão do trabalho doméstico das mulheres beneficiárias do PBF, do Conjunto Residencial D.

Lindu, Lauro de Freitas-Ba, 2013.

DIVISÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO FREQUÊNCIA (N) PERCENTUAL (%) Não há divisão do trabalho doméstico

Divisão do trabalho doméstico entre a entrevistada e filhos.

Divisão do trabalho doméstico entre entrevistada e companheiro 9 8 3 45 40 15 TOTAL 20 100,00

Fonte: Pesquisa de campo.

As atividades domésticas ou as atividades relacionadas à reprodução, as

quais envolvem um conjunto de ações necessárias à organização e o funcionamento

dos domicílios, o cuidado com as crianças e com os adultos idosos e ainda o uso do

tempo livre são determinados pelo modelo de sociedade e moldados historicamente

pelas mudanças e transformações socioculturais.

Com relação à divisão do trabalho doméstico, 9 (45%) das mulheres

entrevistadas informam que geralmente, nas suas casas não há divisão do trabalho

doméstico, 8 (40%) das entrevistadas informam que a divisão das tarefas domésticas

são realizadas entre elas (entrevistadas) e seus filhos menores. Apenas 3 (15%) das

mulheres informam que há a divisão do trabalho doméstico entre essas e os seus

companheiros.

As entrevistadas informam que estando desempregadas ou empregadas são

elas que realizam as atividades domésticas, essa situação é relatada pela maioria das

12 Questão: Como se dá a divisão do trabalho doméstico? Quais as atividades que você realiza no espaço doméstico? Você acha que há desigualdade na relação homem e mulher? Como você divide e organiza os tempos sociais? Fonte: Roteiro da entrevista. Pesquisa de campo realizada pela autora (2013).

mulheres, as quais são as responsáveis por todo trabalho relacionado à esfera da

reprodução da vida familiar:

[...] sou eu que faço todo trabalho doméstico de cuidar da casa a ir pagar as contas, ele dá o dinheiro mais eu que fico com toda a responsabilidade. [...] Com certeza, quando eu estiver trabalhando quando chegar em casa terei que cuidar da minha filha, ajudar na tarefa da escola e cuidar da casa, isso é certeza! (E. 1).

A partir dos depoimentos, observa-se que as relações nas famílias ainda se

baseiam em relações desiguais com uma forte tendência a divisão sexual do trabalho,

onde os homens são responsáveis pelo trabalho produtivo e da esfera pública,

enquanto as mulheres, mesmo sendo inseridas no trabalho produtivo são

responsáveis diretas pelo trabalho de reprodução da família.

Segundo Araujo e Scalon (2005), os dados levantados na pesquisa “Gênero,

trabalho e família em perspectiva comparada” apontam que aqueles referentes à

divisão do trabalho doméstico no Brasil confirmam o que vem sendo constatado por

vários estudos, ou seja, que a divisão sexual do trabalho ainda continua sendo

amplamente dominada pelo padrão tradicional, contudo percebe-se algumas

mudanças em relação às décadas anteriores.

A partir da pesquisa de campo, constata-se que essas mudanças são tímidas,

principalmente nas classes populares, onde as atividades do cotidiano são marcadas

por padrões tradicionais, e as atividades de reprodução social ainda são

responsabilidades exclusivas das mulheres, mesmo estas também estando inseridas

no mercado de trabalho; sendo assim, nota-se que não há divisão do trabalho

doméstico. Se as mulheres não forem inserindo os filhos menores na realização das

tarefas domésticas estas logo seriam realizadas unicamente pelas mesmas;

percebe-se que as mulheres realizam geralmente todas as atividades domésticas,

principalmente as atividades do ritmo do cotidiano ou as atividades diárias.

Constata-se ainda que as atividades de cunho mais domésticos ou

tradicionalmente do universo feminino parecem permanecer como práticas não

realizadas pelos homens, indicando assim quão tradicionais continuam sendo

algumas práticas.

Dessa forma, percebe-se que há uma forte resistência a mudanças nas

relações de gênero principalmente nas atribuições conferidas a partir dos papéis

sexuais socialmente estabelecidos. Nota-se que o trabalho relacionado com a

reprodução social permanece como algo fundamentalmente da esfera doméstica e de

responsabilidade da mulher.

Com relação às três mulheres que informam que compartilham a divisão do

trabalho doméstico com os seus companheiros, duas delas destacam que os mesmos

estão desempregados, portanto, consideram justo que eles (companheiros) realizem

algumas atividades domésticas, porém é enfatizando que essas práticas são

realizadas por conta do desemprego dos mesmos. Segundo uma entrevistada, “a

divisão do trabalho doméstico aqui é justa, meu marido faz as coisas, pois eu estou

trabalhando e ele está desempregado” (E. 7), entretanto, apenas uma das

entrevistadas informa que o companheiro a ajuda independente de estar empregado

ou desempregado.

Autoras como Fraser (2009), Mota (2010), e Duque-Arrazola (2004) vão

enfatizar que a cultura política do capitalismo organizado pelo Estado, já que não

valoriza ou dá importância social ao trabalho não remunerado de atenção e cuidado à

família, ou seja ao trabalho de reprodução social da vida, institucionaliza

compreensões androcêntricas de família e de trabalho, com isso naturaliza injustiças

de gênero e as removem das contestações políticas, percepções essas constatadas

na pesquisa.