3 A PESQUISA: OS CAMINHOS METODOLÓGICOS
3.4 LOCAL E SUJEITOS DA PESQUISA
O estudo sobre o Programa Bolsa Família e as relações de gênero não foi
uma decisão que ocorreu de maneira aleatória. Este estudo se delineou de um
processo reflexivo sobre a condição da mulher, moradora do município; que precisava
conciliar emprego, família e ainda o acompanhamento das condicionalidades do
programa, principalmente nos aspectos educacionais; fator esse primordial para o
pagamento ou cancelamento da bolsa; condição essa que, por sua vez, exigia dessas
mulheres mais uma responsabilidade de cunho burocrático para acompanhamento e
recebimento de uma política social.
Entender a condição de existência dessa mulher, mãe, trabalhadora, chefe de
família e ainda corresponsável pelo acompanhamento com eficiência desta política
social foi uma das minhas inquietações; desta forma, constituem como sujeitos da
pesquisa, mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família, do município de Lauro
de Freitas, estado da Bahia.
O universo desta pesquisa é composto por uma população de
aproximadamente 13 mil famílias beneficiárias do PBF; desse universo recorreu-se a
uma amostra arbitrária, selecionando do cadastro vinte mulheres responsáveis diretas
pelo recebimento e gestão do recurso, em idade ativa, no exercício ou não do trabalho
produtivo. Não se pretende expansões dos dados conseguidos daí considerarmos a
amostra arbitrária, ou seja, não estatisticamente significativa mais indicadora de
tendências.
Lauro de Freitas é um dos dez municípios que integram a Região
Metropolitana de Salvador (RMS), o município foi criado mediante a Lei de n.º 1753
de 27 de julho de 1962, sancionada pelo então governador do Estado da Bahia, Juracy
Magalhães, em 31 de julho do mesmo ano, data considerada como criação da cidade.
A figura 01 apresenta a localização e extensão territorial do município.
Figura 1: Localização de Lauro de Freitas
Fonte: http://maps.google.com.br
O município apresenta como limites as cidades de Salvador, capital do Estado
da Bahia, Simões Filho, Camaçari e a oeste o Oceano Atlântico. Segundo o IBGE, em
2012 sua população foi estima em 171.042 habitantes espalhados em quase 60 km². A
figura 02 apresenta a sua localização com relação à região Metropolitana de Salvador.
Figura 2: Localização de Lauro de Freitas – RMS
Fonte: http://maps.google.com.br
É importante ressaltar que o município é um dos menores, em extensão
territor ial da Região Metropolitana de Salvador, entretanto seu crescimento
populacional é destacado, pois sua urbanização se manifesta com mais intensidade,
tendo a primazia de ser a área de maior concentração demográfica e de urbanização
acelerada.
O município de Lauro de Freitas, antiga Freguesia de Santo Amaro de
Ipitanga, data a sua fundação em 1608, a partir do nascimento da missão de Santo
Amaro do Ipitanga instalada pelo bispado de D. Constantino Barradas, aqui se
instalando a Paróquia de mesmo nome, já se encontrando nessas terras, índios tupis
e tupinambás.
8Mais tarde, em virtude de sua proximidade com o mar, o que favorecia
o escoamento da produção agrícola, instalou na região engenhos de açúcar, iniciando
assim um processo de utilização de mão-de-obra escrava africana, desenvolvendo-se
ali uma população local composta por índios e negros. Esse é um fato relevante, pois
ainda hoje o município apresenta um número considerável de afrodescendentes ou
negros.
8 Cf: DIAS, Patrícia Chame. “Lauro de Freitas: aspectos gerais da consolidação da função habitacional e da mudança de perfil da população” In: Conjuntura e Planejamento. Salvador: SEI, nº 124, p.29-35, Setembro de 2004. PARANHOS, Emanuel e FREITAS, Gildásio. Cartilha Histórica de Lauro de Freitas Lauro de Freitas, 1993.
Lauro de Freitas é um município marcado por uma grande divisão social. De
um lado, pessoas com alto poder aquisitivo, que trabalham e estudam em Salvador,
ou na Região Metropolitana, e que utilizam a cidade como lugar de descanso nos fins
de semana, por conta de suas belas praias e seus condomínios de luxo. De outro lado,
pessoas com baixo poder aquisitivo, que em sua maioria trabalham como empregadas
domésticas, prestadores de serviços ou no mercado informal, em condição de vida
extremamente precária, no que diz respeito à moradia, trabalho, saúde, educação e
outros equipamentos e serviços.
Atualmente, o município passa por um processo de expansão populacional e
imobiliária intenso, apresentando uma demanda cada vez maior por políticas sociais
ou por atenção mais significativa do poder público.
O lócus da investigação foi o bairro de Itinga, uma vez que é o bairro mais
populoso da cidade, com mais de 70 mil habitantes (Censo Demográfico, 2010), e
com um aspecto social relevante para a investigação, pois, segundo dados da Central
de Gestão da Bolsa Família, esse bairro condensa um número significativo de
beneficiários do programa. No bairro de Itinga, optou-se pelo Conjunto Residencial
D.Lindu, novo empreendimento imobiliário do bairro, o qual tem capacidade para
receber aproximadamente 5 mil pessoas: é dividido em três setores, sendo (A, B e C),
e foi destinado para famílias com renda de zero a três salários mínimos.
O Conjunto Residencial D. Lindu foi construído através do Programa Minha
Casa, Minha Vida, entregue aos moradores no ano de 2011, sendo que muitos dos
moradores contemplados estavam escritos no Cadastro Único, eram beneficiários do
Programa Bolsa Família e não tinham casa própria.
Durante as entrevistas, foi possível observar o contentamento ou a satisfação
dos moradores com relação às novas moradias, pois muitos relatavam que viviam em
casas em situação de risco ou ainda vivendo do bolsa aluguel. Entretanto,
observamos que essas moradias atuais não são arejadas, com cômodos minúsculos
e não apresentam nenhum aparato para o recebimento dos moradores, a exemplo de
creches públicas, escolas, postos de saúde, área de lazer; contudo, por outro lado,
essas moradias são construídas com materiais duráveis e saneamento considerado
adequado, a exemplo de rede geral de água e esgoto e coleta direta de lixo. As figuras
3 e 4 apresentam imagem do Conjunto Residencial.
Figura 3 e 4: Imagens do Conj. Residencial D. Lindu
Fonte: Arquivo da Pesquisa de Campo (2013)
Historicamente a população brasileira pobre não é proprietária das suas
moradias ou geralmente vive em condições de moradia e infraestrutura social
extremamente precárias, sem saneamento básico ou com o mínimo de dignidade,
com isso percebe-se o nível de satisfação dessas mulheres com relação à casa
própria.
No documento
Universidade Católica do Salvador Superintendência de Pesquisa e Pós-Graduação
(páginas 75-79)