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3. ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA EMPÍRICA

3.5. Do Pacto Coletivo

Para ilustrar a atuação do MTE em conjunto com sindicatos de categorias econômicas e profissionais, decidiu-se trazer um modelo de Pacto Coletivo, no caso, um breve relato acerca do Seminário Sindusfarma sobre os Resultados do Primeiro Pacto

Coletivo de Inclusão de Pessoas com Deficiência, do ramo farmacêutico, realizado dia

12/05/08 na Câmara Municipal de São Paulo202.

Os representantes que compuseram a mesa da abertura oficial são: Lauro Moretto, vice-presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma); Sérgio Leite, secretário geral da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), ligada à Força Sindical; Edílson de Paula Oliveira, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de São Paulo; Marcelo Oliveira de Melo, da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (SERT)/SP; Lucíola Rodrigues Jaime, presidente da SRTE/SP; Francisco Chagas, Vereador em São Paulo (do segmento químico).

O representante do Sindusfarma iniciou tratando das atividades de produção, controle e administração, que são as mais exercidas, pelas pessoas com deficiência, no ramo farmacêutico. Essas atividades são ensinadas por meio de convênio com o SENAI. Ressaltou ele que o seminário em tela teve por objetivo analisar dados e discutir tendências, tendo em vista os 2 anos de vigência da CCT. Além disso, destacou que o Sindusfarma também prevê, em CCT, a redução da jornada de trabalho para os seus funcionários, de 44 para 42 horas semanais atualmente, e quer diminuí-la ainda mais, para 40 horas semanais. A redução da jornada é tão importante quanto o programa de inclusão. Também há um programa educacional, que inclui oficinas, cursos e vários livros editados, para a qualificação de seus funcionários. Terminou recitando um provérbio francês: “Nada é demasiado bom para o homem que sofre”.

O representante da CUT fez críticas à falta de efetividade da Lei de Cotas. Afirmou que aqui (referindo-se ao Legislativo, no caso, à Câmara Municipal) se faz a lei, mas às vezes ela fica só no papel, não vai para a sociedade. A lei pode virar resultado prático por meio do esforço conjunto de profissionais que se organizem para efetivá-la. Ainda, afirmou que a lei é importante, mas a forma de cumpri-la merece atenção pela

202 Ver dados e informações completos do pacto realizado pelo setor farmacêutico disponíveis em: <http://www.sindusfarma.org.br/eventos080512.shtml>. Acesso: 10.07.08.

sociedade. Teceu elogios à seriedade da CCT. Terminou ressaltando que a luta pelo salário é importante, mas uma cláusula que beneficia a saúde do trabalhador é um avanço às vezes muito maior do que a conquista de um aumento salarial.

O representante da Fequimfar teceu grandes elogios à Dra. Lucíola, dizendo que a iniciativa de fiscalizar a Lei de Cotas foi dela, lá em Osasco, anos atrás. Destacou a determinação, a coragem e a inteligência da doutora. E afirmou que se não houvesse a colaboração do setor público, do interesse empresarial e do movimento sindical, não haveria efetividade da lei, como no caso do ramo farmacêutico. Assegurou que as preocupações maiores atualmente estão girando em torno da acessibilidade, do conteúdo da qualificação profissional e da receptividade da pessoa com deficiência dentro das empresas, questões essas que merecem discussão aprofundada por ocasião da prorrogação da CCT. Ressaltou que o processo de inclusão é um processo de construção e não apenas coercitivo (referindo-se aqui às multas aplicadas pelos auditores fiscais).

O representante da SERT falou do PADEF. É um programa de inclusão da referida Secretaria, que tem por objetivo proporcionar à pessoa com deficiência a obtenção e a manutenção do emprego, sua qualificação profissional, bem como atuar no desenvolvimento de uma consciência que permita a empregabilidade e o pleno desenvolvimento da cidadania.

A representante da SRTE, Dra. Lucíola, iniciou falando de seu trabalho como auditora fiscal do trabalho em Osasco, no ano de 2001. Disse que nessa época a Lei de Cotas era letra morta e ela gostaria que fosse feita Justiça, que a referida lei fosse cumprida para que as pessoas com deficiência pudessem sair de suas casas, para que os pais de família pudessem trabalhar e comprar presentes para seus filhos, ou seja, que as pessoas com deficiência pudessem ter uma vida como a das demais pessoas sem deficiência. Então começou a questionar seu trabalho como auditora fiscal, repensando o poder que detinha enquanto fiscal da lei. Em suas palavras: “se eu posso multar, eu posso mudar” (inclusive, mudar a mentalidade e a atitude das pessoas). No início de sua carreira, ela disse que fazia exceção, isto é, às vezes não multava a empresa que não estava cumprindo as cotas porque acatava os argumentos de falta de qualificação profissional das pessoas com deficiência, dentre outros. Entretanto, com o passar do tempo, ela percebeu que poderia ser feito mais, que a lei poderia sim ser efetivada, mas isso mereceria um pacto entre os entes sindicais, com apoio do governo. Foi então que surgiu a ideia da feitura de uma CCT para inclusão das pessoas com deficiência, chamada de Pacto Coletivo por conta da colaboração do MTE. A Dra. Lucíola afirmou que antes acreditava que as empresas só

queriam o lucro, não queriam contratar pessoas com deficiência. Mas ela mudou de ideia porque encontrou empresas sérias, aprendendo a respeitá-las. Resolveu não mais abrir exceção, principalmente para o ramo farmacêutico, pois afirmou que é um ramo que tem muito dinheiro. Passou a orientar as empresas no seguinte sentido: “primeiro contratem; na medida em que forem surgindo os problemas, daí vamos resolvendo”. Finalizou expressando sua preocupação atual com a qualidade da inclusão.

O Vereador falou sobre a importância do diálogo, da efetiva comunicação entre os atores sociais, para a produção de cidadania. Afirmou que o setor empresarial tem a sua parcela de responsabilidade no cumprimento da Lei de Cotas.

Quanto aos resultados da CCT, o saldo foi bastante positivo. A CCT teve vigência de 2006 a 2008. De um total inicial de 1.098 pessoas com deficiência, contratadas, houve um aumento para 1.304 ao final dos dois anos da CCT (1º, 175; 2º, 549; 3º, 948. 1º ano, 1.209; 2º ano, 1.304).

Em relação à visão das empresas sobre o Pacto, a pesquisa teve acesso a uma apresentação, pelo gerente das relações sindicais e trabalhistas do Sindusfarma, que apontou, primeiramente, algumas dificuldades: peculiaridades do negócio (a indústria farmacêutica necessita de alta qualificação de seus funcionários); falta de experiência de inclusão (só havia ações pontuais, não coordenadas); falta de informação; necessidade de flexibilização das vagas; falta de acessibilidade. Em segundo lugar, apontou ações adotadas pelas empresas: de capacitação (buscar conhecimento, escolher parceiros, definir grade educacional, estruturar o programa); de comunicação (sensibilização das pessoas que iriam conviver com pessoas com deficiência); de treinamento (treinar líderes e gestores). Em terceiro, apontou benefícios para as empresas: humanização, produtividade, aumento dos consumidores (pessoas com deficiência passam a trabalhar e, consequentemente, a consumir), imagem, elogios à empresa. Empresários passam a ver a diversidade como estratégia de negócios. Em quarto, apontou benefícios para as pessoas com deficiência: autoestima, autonomia, orgulho de possuir salário e poder contribuir com os gastos da família, possibilidade de estudar. E, por fim, em quinto lugar, apontou fatores críticos: falta de projetos governamentais, infraestrutura empresarial, tempo versus pressão do MTE, LOAS (pessoa com deficiência não quer trabalhar pois não quer perder o benefício com medo de um possível desemprego futuro).

Apresentando a visão dos trabalhadores sobre o Pacto, falou o representante do Comitê de Inclusão do Sindicato dos Químicos de Guarulhos, afirmando que apenas

30% das empresas conseguiram cumprir 100% das cotas. Algumas ultrapassaram 100%. Entretanto, no Pacto todas as empresas comprometeram-se a cumprir 100%.

A título de críticas e sugestões, foram feitos os seguintes apontamentos: falta de banco de dados para as empresas poderem buscar trabalhadores com deficiência, qualificados e disponíveis para o trabalho; a qualificação é um compromisso das empresas, de acordo com a CCT; apelo dos trabalhadores para os outros segmentos, zelando assim pela competitividade; desinteresse por conta do LOAS; é necessário que a sociedade adapte-se e não o contrário (não é a pessoa com deficiência que deve se moldar); não há controle sobre tipo de deficiência (há nítida preferência pelas deficiências mais leves).

Os sindicalistas presentes afirmaram que as normas negociadas pelo ramo farmacêutico formalizaram-se em uma CCT e não apenas num pacto, reforçando-se, com isso, o dever de cumprimento dessas normas pelas partes contratantes. Além disso, referindo-se à Lei de Cotas, disseram os sindicalistas que se é lei, a empresa deveria cumprir e pronto. Esse era o pensamento inicial dos sindicalistas. Eles achavam que as entidades sindicais não teriam nada a ver com a questão do cumprimento da Lei de Cotas. Entretanto, perceberam que as pessoas com deficiência estavam sendo contratadas de forma inadequada e então começaram a refletir sobre a responsabilidade dos entes sindicais na questão da verificação da qualidade da inclusão (se havia respeito com o trabalho da pessoa com deficiência, se havia discriminação). Afirmaram que a inclusão da pessoa com deficiência, na empresa, deve objetivar a obtenção de lucro, como nos demais casos de contratação de pessoas sem deficiência, e não apenas ocorrer para preencher as cotas legais. Os sindicalistas afirmaram também a importância de se fazer um escalonamento das empresas para a continuidade da CCT: empresas que não cumpriram as cotas, empresas que cumpriram alguma percentagem das cotas, empresas que cumpriram 100% das cotas, empresas que cumpriram até mais de 100% das cotas.

O Dr. José Carlos do Carmo apresentou algumas reflexões, dizendo que a SRTE está convencida da correção da Lei de Cotas. As cotas são medidas artificiais, porém necessárias quando em situações de injustiças históricas. A evolução natural das coisas, no sentido da efetivação da inclusão, demoraria muito mais. O Dr. José Carlos asseverou as dificuldades enfrentadas para efetivar a inclusão, dizendo que a lei não é flexível e por isso são necessários pactos. Foi ressaltada a importância de se fazerem cumprir as cotas sob o ponto de vista qualitativo e não apenas quantitativo. Ainda, a renovação do pacto deve ser feita com base na análise crítica daquilo que já foi feito até agora. O Dr. José Carlos mencionou a relevância da educação básica para a inclusão social. A educação é

responsabilidade primeira do governo, que deve dar atenção para as escolas inclusivas. Outro ponto a ser destacado foi o da falta de comunicação entre as empresas e as pessoas com deficiência, isto é, entre as vagas existentes nas empresas e onde encontrar e/ou procurar pessoas com deficiência, qualificadas. Nesse aspecto, foi mencionada a intenção de se fazer um banco de dados que poderia ser acessado por meio do portal (site) do próprio MTE.