DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS O Código de Processo Penal definiu nos artigos 513 a 518 um rito especial para a apuração dos crimes praticados por funcionários públicos contra a administração pública. O diferencial desse rito dos crimes funcionais é a existência da fase da defesa preliminar anterior ao recebimento da denúncia (art. 514 do CPP), que não existe no procedimento ordinário. Art. 513. Os crimes de responsabilidade dos funcionários públicos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. Crimes de responsabilidade - A lei processual penal ao mencionar os crimes de responsa-bilidade dos funcionários públicos está se referindo aos delitos funcionais próprios e impróprios pre-vistos sob o título “Crimes praticados pelos funcionários públicos contra a Administração em Geral” - artigos 312 a 326 do Código Penal. CRIMES FUNCIONAIS Os crimes funcionais são aqueles cometidos pelo funcionário público no exercício das suas funções contra a administração pública. Dentre estes estão os crimes funcionais próprios e os impróprios: a) Crimes funcionais próprios: só podem ser praticados por funcionários públicos, ou seja, a au-sência da condição de funcionário público leva à atipicidade da conduta. Exemplo: se a conduta do delito de prevaricação (art. 319, CP) é praticado por empregado de empresa privada, essa conduta não se caracteriza como crime. b) Crimes funcionais impróprios: são aqueles em que a conduta pode ser praticada também por particulares, ocorrendo tão somente uma nova tipificação. A inexistência da condição de funcionário público leva à desclassificação para outra infração. Exemplo: o funcionário público que se apropria de um bem do órgão que ele tenha a posse, comete o crime de peculato (art. 312, CP). Porém, se o mesmo ato é praticado por empregado de empresa privada, o tipo penal da conduta é o crime comum de apropriação indébita (art. 168, CP). ATENÇÃO: Tanto os crimes funcionais próprios como os impróprios submetem-se ao procedimento especial. Crime funcional x Crime comum: O procedimento com defesa preliminar previsto nos arts. 513 e seguintes do CPP reservam-se aos casos em que são imputados ao réu apenas crimes funcio-nais, decorrendo que, se o funcionário responder por crime funcional juntamente com crime comum, este último não seguirá o rito especial. Funcionário público - O conceito de funcionário público é bastante amplo, como estabelece o ar-tigo 327 do Código Penal, devendo incluir-se como crimes funcionais os praticados pela pessoa que, embora, de forma transitória, e sem remuneração, exerça cargo público, emprego ou função pública, equiparado aquele que o exerça em entidade paraestatal, § 1º, do Código Penal. Funcionários públicos em foro especial - Não se aplica o procedimento especial em análise e nem o rito ordinário aos funcionários públicos que gozam de foro especial (promotores de justiça, juízes, prefeitos, governadores, deputados, senadores, presidente da república etc.). Para estes o rito especial é aquele descrito nos arts. 1º a 12 da Lei n. 8.038/90. Coautoria com particular - Se houver corréu que não exerça função pública, acusado de coautoria ou participação no mesmo delito, desnecessária a formalidade da defesa preliminar em relação a este. Oferecimento da denúncia ou queixa: a queixa ou a denúncia será instruída com documentos ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com declaração fundamentada da impos-sibilidade de apresentação de qualquer dessas provas. Nota-se que não é imprescindível que a denúncia ou queixa seja acompanhada de documentos ou justificação da existência do delito, po-dendo ser substituída por declaração de impossibilidade de fazê-lo. Ação Penal: Importante ressaltar que todos os crimes funcionais são de ação pública, logo a queixa a que se refere o rito especial é entendida como a queixa substitutiva da denúncia, na ação penal privada subsidiária da pública. Art. 514. Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo de quinze dias. Art. 5º, XLII da Constituição Federal: São inafiançáveis os crimes de racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo, ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático, bem como os crimes hediondos e equiparados (Lei nº 8.072/90). Portanto, não há crimes inafiançáveis praticados por funcionários públicos contra a administração. Recebimento da denúncia ou queixa: oferecida a denúncia ou queixa, o primeiro ato do juiz é analisar se as referidas peças estão em devida forma, isto é, se não é o caso de rejeição preliminar, quando for manifestamente inepta, quando faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal, ou ainda quando faltar justa causa para o exercício da ação penal (art. 395, CPP). Não sendo o caso de rejeição liminar, o juiz, antes de recebê-la, determinará não só a sua autuação mas também mandará notificar o agente para apresentar a sua defesa preliminar no prazo de quinze dias. Nomeação de defensor – se o acusado não tiver residência conhecida ou estiver fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomeado defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar em 15 dias. ATENÇÃO:A oferta da defesa preliminar não é obrigatória, desde que tenha sido o réu notificado. Ressalte-se que o próprio acusado pode apresentar a defesa preliminar, mesmo não sendo ad-vogado. IMPORTANTE: A falta de notificação para a defesa preliminar acarreta nulidade relativa, segundo entendimento do STF. Dispensa da fase preliminar – Entende o STJ, mediante edição da Súmula 330, que: “É desnecessária a resposta preliminar de que trata o artigo 514 do Código de Processo Penal, na ação penal instruída por inquérito policial”. Art. 515. No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório, onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor. Parágrafo único. A resposta poderá ser instruída com documentos e justificações. Ampla defesa - Está assegurado ao funcionário público processado a ampla defesa e o contraditório, podendo pessoalmente ter acesso aos autos do processo ou nomear advogado para fazê-lo em seu nome, podendo apresentar qualquer matéria de defesa admitida em Direito, como juntada de documentos e outras provas de suas alegações. Art. 516. O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se convencido, pela Art. 517. Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado citado, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I. Art. 518. Na instrução criminal e nos demais termos do processo, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Livro. Por expressa disposição legal, ultrapassada a fase inicial de notificação, defesa preliminar e recebi-mento da inicial, o procedirecebi-mento a ser adotado para a fase de instrução criminal será o comum ordinário. Já se tem anulado processo porque, descumpridos os artigos 513 a 518, deu se ao feito o rito su-mário ao invés do ordinário. Não se deve permitir a substituição de formas ao menos quando o procedimento a ser observado contém regras mais amplas para a defesa do réu. FL U X O G R A M A No documento SUMÁRIO AULA 01 - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES. 2 AULA 02 INQUÉRITO POLICIAL. 7 AULA 03 CARACTERÍSTICAS INQUÉRITO POLICIAL. 27 AULA 11 PRISÃO PREVENTIVA. (páginas 69-72)