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SUMÁRIO AULA 01 - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES. 2 AULA 02 INQUÉRITO POLICIAL. 7 AULA 03 CARACTERÍSTICAS INQUÉRITO POLICIAL. 27 AULA 11 PRISÃO PREVENTIVA.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL DIREITO PENAL

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SUMÁRIO

AULA 01 - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES ... 2

AULA 02 – INQUÉRITO POLICIAL ... 7

AULA 03 – CARACTERÍSTICAS INQUÉRITO POLICIAL ... 8

AULA 04 – CARACTÉRISTICAS INQUÉRITO POLICIAL ... 10

AULA 05 – VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL ... 12

AULA 06 – NOTITIA CRIMINIS E DELATIOS CRIMINIS ... 15

AULA 07 – PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO ... 18

AULA 08 – DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL ... 22

AULA 09 – GARANTIAS DO INVESTIGADO ... 24

AULA 10 – ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO ... 27

AULA 11 – PRISÃO PREVENTIVA ... 27

AULA 12 – PRISÃO PREVENTIVA ... 30

AULA 13 – PRISÃO TEMPORÁRIA ... 32

AULA 14 – PRISÃO TEMPORÁRIA ... 34

AULA 15 – AÇÃO PENAL ... 37

AULA 16 – AÇÃO PENAL ... 40

AULA 17 – AÇÃO PENAL ... 44

AULA 18 – AÇÃO PENAL ... 46

AULA 19 – HABEAS CORPUS ... 51

AULA 20 – HABEAS CORPUS ... 55

AULA 21 - DISPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL ... 61

AULA 22 - DISPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL ... 64

AULA 23 - DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS

PÚBLICOS ... 68

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AULA 01 - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

1. Aplicação da Lei Processual no espaço

PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

Significa que se aplica a lei processual penal brasileira a todo delito ocorrido em território nacional, da mesma forma que o mesmo princípio é utilizado em Direito Penal (art. 5.º, CP). É regra que assegura a soberania nacional, tendo em vista que não teria sentido aplicar normas proce- dimentais estrangeiras para apurar e punir um delito ocor- rido dentro do território brasileiro.

1. Aplicação da Lei Processual no espaço

PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

• O Princípio da Territorialidade está inserido no art. 1º do CPP:

• “O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código (...)

• Assim, aplica-se a lei processual brasileira aos atos referentes às relações jurisdicionais com autoridades estrangeiras que devam ser praticados em nosso país, como homologação de sentença estrangeira (CPP, arts. 787 e seguintes), procedimento de extradição (Lei nº 13.445), etc.

• Na mesma linha, se um ato processual tiver de ser praticado no exterior, como por exemplo,

carta rogatória para oitiva de testemunha, a lei processual penal a ser aplicada é a do país

onde o ato venha a ser realizado.

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ATENÇÃO

Territorialidade absoluta: O CPP adota o princípio da territorialidade absoluta (locus regit actum), no sentido de que, no Brasil, não se admite a aplicação de direito processual estran- geiro (de outro país), apesar de admitir a aplicação de regras de direito internacional.

Territorialidade estrita: O CPP adota, também, o princípio da territorialidade estrita, signifi- cando que a lei processual penal brasileira, ao contrário do que ocorre com a lei penal, não tem extraterritorialidade.

ATENÇÃO: Não quer dizer que não haja hipótese do CPP ser aplicado a crimes cometidos fora do território nacional, pois, se este crime for julgado em nosso país, a lei processual brasileira será aplicada. Ex.: crimes contra a vida e a liberdade do Presidente da República.

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

• Nos cinco incisos do art. 1º do CPP foram elencadas hipóteses em que este não terá aplica- ção, ainda que o fato tenha ocorrido no território nacional.

I - Tratados, convenções e regras de direito internacional

• Tratado significa um acordo internacional realizado entre Estados em forma escrita e regu- lado pelo Direito Internacional, de forma solene, sobre determinado assunto, por exemplo, tratado de paz.

• Convenção, semelhantemente, é uma espécie de tratado criando normas de natureza geral, como ocorre com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos do Mar (UNCLOS).

• As regras de direito internacional também podem ter aplicação excepcional em território bra- sileiro, como os princípios gerais de direito internacional, aceitos pela maioria das nações na aplicação do seu direito interno e as decisões tomadas pelas organizações internacionais (ONU, OMC, OMS).

NÍVEIS HIERÁRQUICOS DOS TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

1

Os que versam sobre direitos humanos, aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, são equivalentes às emendas constitucionais (CF, art. 5º, § 3º). Atualmente, há apenas a Convenção sobre os direitos de pessoas com deficiência.

2

Os que versam sobre direitos humanos, mas foram aprovados pelo procedimento ordinário – que são aprovados por maioria simples (CF, art. 47), possuem status supralegal, situando-se entre as leis e a Constituição. Ex. Pacto de São José da Costa Rica.

2

Os que não versam sobre direitos humanos ingressam no ordenamento jurídico brasileiro

com força de lei ordinária. O STF não admite que Tratado Internacional trate de matéria re-

servada à Lei Complementar.

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CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS

• A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, aprovada pelo Decreto Legislativo 103/1964, e promulgada pelo Decreto nº 56.435, de 08/06/1965, estabelece que Chefes de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas, em- baixadores e suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e suas família, assim como funcionários de organizações internacionais em serviço (ONU, OEA, etc.) gozam de imunidade diplomática, que consiste na prerrogativa de responder no seu país de origem pelo delito praticado no Brasil.

• Como se percebe, por conta de tratados ou convenções que o Brasil haja firmado, ou mesmo em virtude de regras de Direito Internacional, a lei processual penal deixa de ser aplicada aos crimes praticados por tais agentes no território nacional, criando-se, assim, verdadeiro obs- táculo processual à aplicação da lei processual penal brasileira.

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

II - As prerrogativas constitucionais do Presidente da República e outras autoridades.

• O julgamento de algumas autoridades ocorre perante o Legislativo (Senado Federal), não seguindo o rito do CPP. É o que ocorre nos julgamentos, perante o Senado Federal, do Pre- sidente e Vice-presidente da República, por crime de responsabilidade, bem como de minis- tros de Estado e comandantes das Forças Armadas, nos crimes de mesma natureza e cone- xos com aqueles (art. 52, I, CF).

• Da mesma forma o julgamento dos crimes de responsabilidade praticados por ministro do STF, membro do Conselho Nacional de Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público, o procurador-geral da República e o advogado geral da União (art. 52, II, CF).

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE

III - Processos da competência da Justiça Militar

• De acordo com o art. 124 da CF, à Justiça Militar da União compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Também dispõe o art. 125, § 4º, da CF, que compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares defi- nidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

• Nesses casos, aplica-se o Código Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.001/69) e o Código de Processo Penal Militar (Decreto-Lei nº 1.002/69).

IV - Processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, nº 17).

• O CPP (art. 1º, IV) faz menção aos processos da competência do tribunal especial. Entre-

tanto, os artigos citados referem-se à Constituição de 1937, sendo que esse tribunal especial

a que faz menção o inciso IV é o antigo Tribunal de Segurança Nacional, que já não existe

mais, visto que foi extinto pela Constituição de 1946.

(6)

• O art. 122, nº 17 da Carta de 1937 previa que “os crimes que atentarem contra a existência, a segurança e a integridade do Estado, a guarda e o emprego da economia popular serão submetidos a processo e julgamento perante tribunal especial, na forma que a lei instituir”.

V - Crimes de imprensa

• Outra ressalva constante do art. 1º do CPP diz res- peito aos processos penais por crimes de im- prensa previstos na Lei nº 5.250/67.

• Ocorre que a referida lei, no julgamento da Argui- ção de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 130, o Supremo Tribunal Federal julgou proce- dente o pedido ali formulado para o efeito de de- clarar como não recepcionado pela Constituição Federal todo o conjunto de dispositivos da Lei 5.250/67.

2. Lei Processual no tempo

• De acordo com o art. 2º do CPP, que consagra o denominado Princípio da Aplicabilidade Imediata, “a lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”.

• Como se vê, por força do art. 2º do CPP, incide no processo penal o princípio tempus regit actum, no sentido de que a norma processual aplica-se tão logo entre em vigor, mas vali- dando os atos já praticados anteriormente. Derivam do princípio, dois efeitos:

• a) os atos processuais praticados sob a vigência da lei anterior são considerados válidos;

• b) as normas processuais têm aplicação imediata, regulando o desenrolar restante do pro- cesso.

Lei mista (ou híbrida)

• Lei mista (ou híbrida) é a norma que contém aspectos tanto de direito penal (material) como de direito processual penal. Nesta situação, deve prevalecer o aspecto penal, valendo a regra da retroatividade benéfica para o réu.

• Nesse caso, cabe ao intérprete centrar-se na análise do aspecto penal, e duas soluções se apresentam:

• 1) Se for benéfico, retroagirá, e a parte processual da lei terá aplicação a partir da sua vigên- cia, já que os atos processuais eventualmente já praticados reputam-se válidos.

• 2) Sendo maléfico, não há retroação e parte processual da lei só é aplicada aos crimes ocor-

ridos após a sua entrada em vigor, ou seja, nenhum aspecto da norma é aplicado aos delitos

que lhe são anteriores.

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3. Interpretação da lei processual penal

INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA E APLICAÇÃO ANALÓGICA

• Estabelece o art. 3º do CPP: “A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e apli- cação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito”.

• A interpretação extensiva dá-se quando o texto legal diz menos do que pretendia o legisla- dor, de modo que o intérprete estende o alcance do dispositivo a esta hipótese não mencio- nada expressamente.

• Ex.: o art. 260 do CPP diz que, se o acusado não atender à notificação para o interrogatório, a autoridade poderá determinar a sua condução coercitiva. Embora a lei se refira apenas ao acusado, admite-se, por interpretação extensiva, que seja também determinada a condução coercitiva do indiciado durante o inquérito policial.

• A aplicação analógica a que se refere o art. 3º do CPP pode ser definida como uma forma de autointegração da norma, consistente em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição legal relativa a um caso semelhante.

• Ex.: o art. 80 do CPP menciona que o juiz pode determinar a separação de processos quando as infrações forem cometidas em tempo e local diversos, para não prolongar a prisão de um dos acusados, pelo excessivo número de réus ou por outro motivo relevante. Esta parte final do dispositivo permite ao juiz a interpretação analógica.

Princípios gerais do direito

• Princípios gerais de direito são postulados que procuram fundamentar todo o sistema jurídico, não tendo necessariamente uma correspondência em uma lei formalmente escrita equiva- lente.

• Alguns dos princípios gerais do processo penal foram erigidos à condição de norma consti-

tucional, como o princípio do estado de inocência, do contraditório e da ampla defesa, en-

quanto outros continuam não escritos, mas unanimemente aceitos, como o princípio da ver-

dade real, do in dubio pro reo, etc.

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AULA 02 – INQUÉRITO POLICIAL

HISTÓRICO DO INQUÉRITO POLICIAL

Historicamente, o fato criminoso atrai a presença do Estado para as relações interpessoais. Assim, para o exercício pleno do jus puniendi, se fez necessária a criação de um instrumento que assegu- rasse a devida averiguação do delito.

Grécia: A origem do Inquérito Policial se deu na Grécia antiga, onde havia a necessidade de inves- tigar o comportamento profissional e familiar dos candidatos à carreira de policial.

Roma: Em Roma, o instituto denominado “inquisitio” consagrava a possibilidade de o magistrado delegar poderes à vítima para a realização de diligências a fim de encontrar o culpado pela infração.

Tal instituto também conferia ao acusado o direito de buscar provas de sua inocência, isto é, a ele era conferido o direito à ampla defesa e ao contraditório.

Brasil Colônia: Posteriormente, houve uma transformação do instituto, tendo o Estado reivindicado para si a investigação e o jus puniendi, sendo esta a fase da denominada vingança pública. Neste contexto, o procedimento investigativo introduzido no Brasil Colônia se deu através das Ordenações Filipinas, instituídas por Portugal.

Brasil Império: Já no Brasil Império, acompanhando a linha evolutiva encontramos os dispositivos do Código de Processo Penal Brasileiro de 1832 que, ao tratarem do procedimento informativo, delinearam algumas características do atual Inquérito Policial, como a separação da Polícia e do Poder Judiciário.

Primeiro conceito de inquérito: Somente através da Lei nº 2.033, de 20 de setembro de 1871, regulamentada pelo Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, é que o Inquérito Policial pro- priamente dito surgiu em nosso ordenamento jurídico, sendo assim definido pelo artigo 42 da refe- rida norma:

"O Inquérito Policial consiste em todas as diligências necessárias para o desenvolvimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e de seus autores e cúmplices, devendo ser reduzido a instru- mento escrito”.

Previsão atual do inquérito: Por fim, em 1941, o atual Código de Processo Penal dedicou-se ao Inquérito Policial em seu Título II, especificamente dos artigos 4º ao 23.

NATUREZA DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial. É um procedimento, isto é, uma sequência de atos voltados a uma finalidade.

Não é um processo administrativo e sim um procedimento, não resultando nenhuma sanção ao seu final.

É administrativo e não judicial, pois não é realizado no âmbito do Poder Judiciário e sim da adminis-

tração pública, presidido por autoridade administrativa.

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Persecutório porque persegue a satisfação do direito de punir do Estado (jus puniendi).

 Persecução criminal (persecutio criminis): é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se inicia, oficialmente, com a instauração do inquérito policial, também conhecido como informatio delicti, na fase pré-processual (informativa, preliminar e inquisitiva). Em seguida, ocorre a fase processual, que é o momento da persecução criminal em juízo, por meio da a ação penal.

Por inquérito policial compreende-se o conjunto de diligências realizadas pela autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, bem como as circunstâncias, permitindo ao Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime, respectivamente.

Legitimidade para conduzir o inquérito: O inquérito policial é atividade específica da polícia de- nominada judiciária, isto é, a Polícia Civil, no âmbito da Justiça Estadual, e a Polícia Federal, no caso da Justiça Federal.

NÃO EXCLUSIVIDADE DA INVESTIGAÇÃO

A atribuição para apuração das infrações penais não é exclusiva da Polícia Judiciária, podendo a lei autorizar outras autoridades administrativas para a função investigativa:

Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI’s) Polícia Militar (IPM)

Polícia da Câmara e do Senado (Súmula nº 397 do STF) Ministério Público.

FINALIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL

Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a apuração da existência de infração penal (materialidade) e indicar a respectiva autoria, bem como as circunstân- cias da ação criminosa, a fim de fornecer ao titular da ação penal elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo, contribuindo para formação de seu convencimento (opinio delicti).

 O titular da ação penal, em regra é o Ministério Público (Ação Penal Pública) e excepcionalmente, o ofendido ou querelante (Ação Penal Privada).

A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato criminoso. Apurar a autoria consiste na autoridade policial desenvolver a necessária atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal, ao menos de forma indiciária.

AULA 03 – CARACTERÍSTICAS INQUÉRITO POLICIAL

CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL

I) Procedimento escrito/formal: O inquérito policial é um procedimento escrito, já que destinado a fornecer elementos ao titular da ação penal, que adota também a forma escrita. Dispõe o artigo 9°

do CPP que "todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade".

 Não há impedimento que o registro dos depoimentos seja realizado por outros meios, como a

gravação magnética, digital ou meio audiovisual.

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II) Procedimento sigiloso: Essa qualidade é importante para que possa a autoridade policial pro- videnciar as diligências necessárias ao esclarecimento do fato criminoso sem que se lhe oponham, no caminho, empecilhos para impedir ou dificultar a colheita de informações com ocultação ou des- truição de provas, influência sobre testemunhas, etc. Por isso dispõe a lei que "a autoridade asse- gurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade"

(art. 20 do CPP).

Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencio- nar quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra os requerentes (art. 20, pará- grafo único, CPP).

 O sigilo não se estende ao Ministério Público, que pode acompanhar os atos investigatórios, nem ao Poder Judiciário.

ATENÇÃO! Advogado - Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do represen- tado, ter acesso amplo aos elementos de prova que já documentados em procedimento investiga- tório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do di- reito de defesa.

III) Discricionariedade: O delegado conduz as investigações de acordo com a conveniência e a oportunidade, sempre buscando a eficiência na elucidação dos fatos investigados. Por esta razão, o inquérito não possui um rigoroso rito procedimental previsto em lei. Compete ao delegado, em cada caso concreto, estabelecer o rito de suas atividades.

Além disso, o ofendido, seu representante legal e o indiciado podem requerer diligências, mas estas serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade policial (art. 14, CPP).

Exceções à discricionariedade do inquérito policial:

a) requisições do MP e do juiz: neste caso, o delegado estará obrigado a atender, salvo impossi- bilidade de fazê-lo;

b) realização do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígio: este exame pode ser direto ou indireto, a teor do art. 158, CPP. No exame direto, os peritos dispõem de vestígio para análise; no indireto, os peritos se valem de elementos acessórios, como fotografias e prontuários médicos.

IV) Procedimento inquisitivo: No inquérito policial, todo o poder de direção se concentra nas mãos da autoridade policial, não sendo aplicados os princípios do contraditório e da ampla defesa. À vista disto, o ofendido, seu representante legal e o indiciado podem requerer diligências, mas estas serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade policial dirigente (art. 14, CPP).

 Exceções:

a) Admite contraditório o inquérito instaurado pela Polícia Federal, por determinação do Ministro da Justiça, para expulsão de estrangeiro (art. 70, Lei nº 6.815/1980);

b) A defesa técnica nos procedimentos investigativos contra servidores vinculados às instituições

dispostas no art. 144 da Constituição Federa (Art. 14-A do CPP, introduzido pela Lei nº 13.964/2019

– Pacote Anticrime).

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V) Indisponibilidade: Uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado pela autori- dade policial (artigo 17 do CPP). O arquivamento depende de manifestação judicial, após pedido do titular da ação penal. Logo, uma vez instaurado o inquérito policial, mesmo que a autoridade policial conclua pela atipicidade da conduta investigada, não poderá determinar o arquivamento do inquérito policial.

Verificação de Procedência de Informação (VPI): A jurisprudência tem reconhecido a validade de investigações preliminares realizadas antes da instauração do inquérito policial, a partir de denúncia anônima, por meio de procedimento alcunhado de VPI, que pode ser arquivado pelo delegado de polícia, caso não se confirmem os fatos criminosos preliminarmente apurados.

AULA 04 – CARACTÉRISTICAS INQUÉRITO POLICIAL

VI) Dispensável: O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase obriga- tória da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou o ofendido (no caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a ação penal.

Assim, caso o titular da ação penal já disponha elementos suficientes de prova da materialidade e indícios de autoria, não há necessidade de se recorrer ao inquérito, cabendo-lhe, oferecer a ação penal. Além disto, os referidos elementos de informação podem ser obtidos por meio de outros instrumentos de investigação criminal, como os inquéritos parlamentares, inquéritos civis públicos, investigações do próprio MP, etc.

 TCO: Nas infrações penais de menor potencial ofensivo (contravenções e crimes com pena de até 2 anos não haverá inquérito policial, que será substituído pelo Termo Circunstanciado de Ocor- rência.

VII) Procedimento oficial: o inquérito policial é atividade investigatória realizada exclusivamente por órgãos oficiais do Estado, no âmbito da administração pública, não podendo ficar a cargo de particular, mesmo no caso de ação penal privada, em que a titularidade da ação é atribuída à pessoa ofendida.

VIII) Procedimento oficioso: ao tomar conhecimento de notícia de crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício, independentemente de provocação da vítima e/ou qualquer outra pessoa. Deve, pois, instaurar o inquérito policial de ofício, nos exatos termos do art. 5º, I, do CPP, procedendo, então, às diligências investigatórias no sentido de obter elementos de informação quanto à infração penal e sua autoria.

Nos caso de crimes de ação penal pública condicionada à representação e de ação penal de inici-

ativa privada, a instauração do inquérito policial está condicionada à manifestação da vítima ou de

seu representante legal.

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Porém, uma vez demonstrado o interesse do ofendido na persecução penal, a autoridade policial é obrigada a agir de ofício, determinando as diligências necessárias à apuração do delito.

IX) Procedimento unilateral: A direção dos trabalhos investigativos levados a efeito no inquérito cabe à Polícia Judiciária, na pessoa da autoridade policial, sem a participação da defesa, embora possa atender requerimento dos interessados.

X) Procedimento unidirecional: Significa dizer que o inquérito tem uma única finalidade, qual seja a de apuração dos fatos, não cabendo ao Delegado de Polícia emitir nenhum juízo de valor na apuração dos fatos.

XI) Autoritariedade - Trata-se de uma exigência expressa do Texto Constitucional a qual dispõe que o inquérito deverá ser presidido por uma autoridade pública, no caso, a autoridade policial, ou seja, o delegado de polícia de carreira, conforme preceito expresso no art. 144 da Constituição da República Federativa do Brasil.

XII) Procedimento temporário - Diz o Código de Processo Penal, em seu art. 10, § 3º, que, quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade policial poderá requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

Diante da inserção do direito à razoável duração do processo na Constituição Federal (art. 5º, LXXVIII), o inquérito policial não pode ter seu prazo de conclusão prorrogado indefinidamente.

Em situações mais complexas, envolvendo vários acusados, o prazo para a conclusão das investigações deverá ser sucessivamente prorrogado. Porém, uma vez verificada a impossibilidade de colheita de elementos que autorizem o oferecimento de denúncia, deve o Promotor de Justiça requerer o arquivamento dos autos.

FUNDAMENTO LEGAL DO INQUÉRITO POLICIAL

Na Constituição Federal, encontra-se previsto, como atividade privativa da polícia judiciária, nos §§

1.º e 4.º do art. 144:

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:"

(...)

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

(...)

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

No CPP os arts. 4º a 23 são as principais normas que fundamentam e disciplinam o inquérito policial.

Também a Lei nº 12.830, de 20/06/2013, que dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo

Delegado de Polícia traz previsão de regras para o inquérito policial:

(13)

Art. 1º (...)

§ 1

o

Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.

TITULARIDADE DO INQUÉRITO POLICIAL

A presidência do Inquérito Policial cabe à autoridade policial, o delegado de polícia de carreira, embora as diligências realizadas possam ser acompanhadas pelo representante do Ministério Pú- blico, que detém o controle externo da polícia.

GRAU DE COGNIÇÃO

Grau de cognição do Inquérito Policial:

a) Para iniciar o procedimento: Juízo de possibilidade – para dar início ao inquérito policial, o plano de cognição deverá ser sumário, em juízo de possibilidade, limitando-se a atividade mínima de comprovação e averiguação dos fatos e da autoria, para justificar o processo ou o não processo.

b) Para indiciamento: Juízo de probabilidade - já para o indiciamento, realizadas diligências in- vestigativas, será exigido juízo de probabilidade, estando comprovada a materialidade do delito e colhidos suficientes indícios de autoria.

Anote-se que, para o juiz e para o Ministério Público, o juízo de cognição é diverso:

Juiz e Ministério Público: Para o julgamento, o juiz deve chegar a um juízo de certeza, sendo necessário esgotar toda a matéria probatória, através de uma cognição plena, o que justificaria uma sentença condenatória.

Já para o Ministério Público dar início de uma ação penal, é necessário tão somente um juízo de probabilidade, que seria o predomínio das razões positivas que afirmam a existência do delito e sua autoria.

AULA 05 – VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

VALOR PROBATÓRIO DO INQUÉRITO POLICIAL

O inquérito policial tem valor probante relativo, considerando a ausência das garantias constitucio-

nais da ampla defesa e contraditório, ficando sua utilização como instrumento de convicção do juiz

condicionada a que as provas nele produzidas sejam renovadas ou ao menos confirmadas pelas

provas judicialmente realizadas sob o manto do devido processo legal e dos demais princípios in-

formadores do processo. Tem, portanto, conteúdo apenas informativo, que visa fornecer elementos

necessários para a propositura da ação penal.

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ATENÇÃO: Exatamente porque o inquérito não está precedido de contraditório, as provas colhidas não têm valor absoluto, razão pela qual, o juiz, embora possa formar sua convicção pela livre apre- ciação da prova produzida, não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos in- formativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipa- das.

Elementos migratórios: são assim chamadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas porque migram do IP para o processo, podendo servir de base para eventual decisão condenatória.

As provas cautelares são aquelas em que há risco de perecimento do objeto de prova e o contra- ditório é diferido. Exemplo: interceptação telefônica.

As provas antecipadas são as produzidas perante o juiz, em uma fase que não seria, em regra, a adequada. Pode ocorrer até mesmo antes de instaurado o processo, em razão da urgência. Exem- plo: Depoimento de testemunha - artigo 225 do CPP.

As provas não repetíveis são as produzidas na fase de inquérito. Todavia, descabe sua reprodu- ção em juízo. Exemplo: Exame de corpo de delito em alguém que sofreu lesões corporais leves.

 O STF já se manifestou admitindo, de um modo geral, a utilização subsidiária, no sentido de que os elementos do inquérito podem influir na formação do livre convencimento do juiz para a decisão da causa quando complementam outros indícios e provas que passam pelo contraditório em juízo.

FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

1) CRIMES DE AÇÃO PÚBLICA INCONDICIONADA Pode ser instaurado das seguintes formas:

a) de ofício: por força do princípio da obrigatoriedade, que também se estende à fase investigatória, caso a autoridade policial tome conhecimento imediato e direto do fato, por meio de delação verbal ou por escrito, feito por qualquer pessoa do povo (delatio criminis simples), por meio de sua atividade rotineira (cognição imediata), ou no caso de prisão em flagrante, deve instaurar o inquérito policial de ofício, ou seja, independentemente da provocação de qualquer pessoa (CPP, art. 5º, I).

ATENÇÃO: a denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de inquérito policial, mas, a partir dela, pode a Polícia proceder a Verificação de Procedência da Informação (VPI), que se constitui de diligências preliminares para apurar a veracidade das informações obtidas anonimamente e, então, instaurar o procedimento investigatório propriamente dito, caso restem fun- dadas suspeitas de ocorrência de delito.

 Com exceção da prisão em flagrante, cujo Auto de Prisão inicia o inquérito policial, nos demais casos a peça inaugural do inquérito será uma portaria, que deve ser subscrita pelo Delegado de Polícia e conter o objeto da investigação, as circunstâncias já conhecidas quanto ao fato delituoso, assim como as diligências iniciais a serem cumpridas.

b) requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: diz o art. 5º, inciso II, do CPP,

que o inquérito será iniciado, nos crimes de ação pública, mediante requisição da autoridade judici-

ária ou do Ministério Público. Diante de requisição, a autoridade policial está obrigada a instaurar o

(15)

inquérito policial, não por força de hierarquia, mas em obediência ao princípio da obrigatoriedade, que impõe às autoridades policiais o dever de agir diante da notícia da prática de infração penal.

ATENÇÃO: O STJ já decidiu que a “recusa no cumprimento das diligências não consubstancia, sequer em tese, o crime de desobediência, repercutindo apenas no âmbito administrativo-discipli- nar” (RHC 6511, Rel. Min. Vicente Leal, DJ 27.10.1997).

c) requerimento do ofendido ou de seu representante legal: também é possível a instauração de inquérito policial a partir de requerimento do ofendido ou de quem tenha qualidade para repre- sentá-lo.

Esse requerimento conterá, sempre que possível:

I) a narração do fato, com todas as suas circunstâncias;

II) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de fazê-lo;

III) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência (CPP, art. 5º, § 1º).

ATENÇÃO:

Convencendo-se que a notitia criminis é totalmente descabida, sem respaldo jurídico ou material, deve a autoridade policial indeferir o requerimento do ofendido para instauração de inquérito policial, cabendo recurso inominado ao chefe de Polícia da decisão de indeferimento.

d) notícia oferecida por qualquer do povo: de acordo com o art. 5º, § 3º, do CPP, qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito. Cuida-se da chamada delatio criminis simples, comu- mente realizada através de uma ocorrência policial. Mais uma vez, verificada a procedência e vera- cidade das informações, deve o delegado determinar a instauração do inquérito policial.

ATENÇÃO!

O cidadão, a princípio, não tem o dever de noticiar a prática de infração penal, tratando-se de mera faculdade.

Já as autoridades públicas, notadamente aquelas envolvidas na persecução penal, por força do

princípio da obrigatoriedade, têm o dever de noticiar fatos possivelmente criminosos, sob pena de

responderem administrativamente e de incorrerem no delito de prevaricação, caso comprovado que

a inércia se deu para satisfazer interesse ou sentimento pessoal (CP, art. 319).

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2) CRIMES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA

a) Representação do ofendido: Por representação, também denominada de delatio criminis pos- tulatória, entende-se a manifestação da vítima ou de seu representante legal no sentido de que possuem interesse na persecução penal, não havendo necessidade de qualquer formalismo.

Por exemplo, no crime de ameaça, capitulado no art. 147 do Código Penal, em que, após a descrição do tipo penal e da cominação da pena, estabelece o parágrafo único do citado dispositivo: “somente se procede mediante representação”. Ou seja, a instauração do inquérito policial estará na depen- dência da manifestação da vítima ou de seu representante legal, de onde se possa concluir que têm intenção de ver apurada a responsabilidade penal do autor da infração.

b) Requisição do Ministro da Justiça: Nas hipóteses em que a ação penal pública for condicio- nada à requisição do Ministro da Justiça, esta será encaminhada ao chefe do Ministério Público para que, desde logo, ofereça denúncia ou requisite diligências à Polícia.

 A exigência de requisição ocorre em determinados casos elencados no Código Penal: nos crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro (art.145, § único, primeira parte), nos delitos praticados por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art.7º, §3º).

3) CRIMES DE AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PRIVADA

Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa privada, o Estado fica condicionado ao reque- rimento do ofendido ou de seu representante legal. Nessa linha, dispõe o art. 5º, § 5º, do CPP, que a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito nos crimes de ação privada a requeri- mento de quem tenha qualidade para intentá-la.

 No caso de morte ou ausência do ofendido, o requerimento poderá ser formulado por seu côn- juge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 31). Como se vê, esse requerimento é condição de procedibilidade do próprio inquérito policial, sem o qual a investigação sequer poderá ter início.

AULA 06 – NOTITIA CRIMINIS E DELATIOS CRIMINIS

ATENÇÃO:

O inquérito policial também pode começar mediante Auto de Prisão em Flagrante, além da ação penal pública incondicionada, também nos casos de ação penal pública condicionada e ação penal privada, sendo que, nestes dois últimos casos, o ofendido deverá ratificar o flagrante até a entrega da nota de culpa (24h), sob pena de tornar sem efeito a prisão em flagrante.

“NOTITIA CRIMINIS” (Notícia do crime)

a) Conceito: É o conhecimento pela autoridade policial, de forma espontânea ou provocada, de um

fato aparentemente delituoso. A ciência da infração penal pode ocorrer de diversas maneiras, e esta

comunicação, provocada ou por força própria, é chamada de notícia do crime.

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b) Espécies:

I) “Notitia Criminis” espontânea (de cognição direta, imediata, ou inqualificada): ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal por meio de suas ativida- des rotineiras de investigação. Exemplo: imprensa, encontro do corpo de delito ou até pela denúncia anônima, esta última somente se precedida de diligências policiais preliminares que confirmem a veracidade dos fatos noticiados.

II) “Notitia Criminis” provocada (de cognição indireta, mediata, ou qualificada): ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de algum ato jurídico de comunicação formal, como a requisição do juiz ou do ministério público, requerimento da vítima, representação do ofendido.

III) “Notitia Criminis” coercitiva: ocorre quando a notícia do crime se dá juntamente com a apre- sentação do infrator preso em flagrante, pela Polícia ou por particular.

Observações:

A denúncia anônima, por si só, não pode ensejar a instauração de inquérito policial.

Se o crime for de ação pública condicionada ou de iniciativa privada, o auto de prisão em flagrante somente poderá ser lavrado se forem antes observados os requisitos legais, ou seja, representação do ofendido (ação pública condicionada) ou requerimento da vítima (ação de iniciativa privada), na forma dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do CPP.

DELATIO CRIMINIS

a) Conceito: Delatio criminis é a comunicação feita verbalmente ou por escrito, por qualquer pessoa do povo à autoridade policial, acerca da ocorrência de infração penal em que caiba ação penal pública incondicionada. Caso a autoridade policial verifique a procedência da informação, mandará instaurar inquérito para apurar oficialmente os fatos delatados. Ex.: se alguém presenciar um homi- cídio pode comparecer ao distrito policial, comunicando o acontecimento.

É chamada de delatio criminis simples quando o delator se limitar a comunicar o crime, não reque- rendo providências, nos casos de crime de ação pública incondicionada, que impõe o dever de atuação do Estado.

A delatio criminis também pode ser dirigida ao Ministério Público, titular da ação penal, que poderá apresentar denúncia ao Poder Judiciário de logo, caso o delator envie documentos suficientes para instruir a propositura da ação penal, ou requisitar a instauração de inquérito policial.

Delatio criminis postulatória – é aquela em que a vítima comunica a infração penal à autoridade policial e pede a instauração do inquérito para apuração. Também se refere à comunicação da ví- tima, nos mesmos termos, fornecendo a representação para que o Ministério Público possa agir nos crimes de ação pública condicionada.

PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS

O Código de Processo Penal traz, em seu arts. 6º e 7º, um rol exemplificativo de diligências

investigatórias que poderão ser adotadas pela autoridade policial ao tomar conhecimento de um fato

delituoso.

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Algumas são de caráter obrigatório, como, por exemplo, a realização de exame pericial quando a infração deixar vestígios; outras, no entanto, têm sua realização condicionada à discricionariedade da autoridade policial, que deve determinar sua realização de acordo com as peculiaridades do caso concreto (v.g., reconstituição do fato delituoso).

Vejamos, então, quais são essas diligências:

PROCEDIMENTOS INVESTIGATIVOS

1º) Dirigir-se ao local do crime providenciando para que não se alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais (CPP, art. 6º, I)

Preservação do local do crime - tem um objetivo precípuo preservar os vestígios deixados pela infração penal (corpo de delito), a fim de não prejudicar o trabalho a ser desenvolvido pelos peritos criminais.

Um dos requisitos básicos para que os peritos criminais possam realizar um exame pericial satisfa- tório é que o local esteja adequadamente isolado e preservado, a fim de que não se perca qualquer vestígio que tenha sido produzido pelos sujeitos ativos na cena do crime.

2º) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais (CPP, art. 6º, III)

Apreensão de objetos – O dever de apreensão dos objetos relacionados ao fato delituoso, após liberados pelos peritos criminais, tem os seguintes objetivos:

a) futura exibição do instrumento utilizado para a prática do delito, como, por exemplo, durante o plenário do Tribunal do Júri;

b) necessidade de contraprova;

c) eventual perda em favor da União como efeito da condenação (confisco).

 É possível a apreensão de quaisquer objetos que guardem relação com o fato delituoso, pouco importando sua origem lícita ou ilícita. Ao final, os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem à prova, devem acompanhar os autos do inquérito (art. 11).

Os instrumentos empregados para a prática da infração serão submetidos a exame a fim de se lhes verificar a natureza e eficiência (art. 175). Decreta-se, aliás, a perda em favor da União, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé, dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção constitua fato ilícito (art. 91, II, a, do CP).

3º) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias (CPP, art. 6º, III)

Confirmando a discricionariedade dispensada ao trabalho investigatório da autoridade policial no curso do inquérito policial, podem ser apreendidos todos aqueles objetos que sejam úteis à busca da verdade real, podendo tratar-se de armas, mas também de coisas totalmente inofensivas e de uso comum, que, no caso concreto, podem contribuir para a formação da convicção dos peritos.

4º) Ouvir o ofendido (CPP, art. 6º, IV)

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Deve a autoridade policial proceder à oitiva do ofendido, se possível. Conquanto o depoimento do ofendido deva ser colhido com certa reserva, haja vista seu envolvimento emocional com o fato delituoso e consequente interesse no deslinde da investigação, as informações por ele prestadas poderão ser muito úteis na busca de fontes de provas, contribuindo para o êxito das investigações.

Com efeito, o próprio sucesso da investigação e, consequentemente, o bom resultado final do pro- cesso dependem muito do interesse da vítima em colaborar. É ela quase sempre quem comunica o crime e indica as principais testemunhas. O seu retorno para prestar ou fornecer novos esclareci- mentos é de máxima importância. A sua participação é necessária para a realização de diligências relevantes, tais como os reconhecimentos de pessoas e coisas e a elaboração do exame de corpo de delito.

ATENÇÃO: De acordo com o art. 201, § 1º, do CPP, se, intimado para esse fim, o ofendido deixar de comparecer, é possível que a autoridade policial determine sua condução coercitiva.

AULA 07 – PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO

5º) Ouvir o Indiciado (CPP, art. 6º, V)

A autoridade policial deverá ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, os mesmos preceitos do interrogatório judicial, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que lhe tenham ouvido a leitura.

ATENÇÃO: O advogado pode acompanhar o interrogatório policial, porém não pode interferir nas perguntas e nas respostas.

 Por força do princípio do nemo tenetur se detegere (direito de não autoincriminação), há de se lembrar que o suspeito, investigado, indiciado ou acusado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo.

Portanto, deve o investigado ser formalmente advertido pela autoridade policial que tem direito ao silêncio, e que do exercício desse direito não poderá decorrer qualquer prejuízo a sua pessoa.

6º) Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações (CPP, art. 6º, VI)

O reconhecimento de pessoa é meio de prova e ocorrerá quando uma pessoa, (vítima ou testemu- nha) reconhecer a pessoa que de alguma forma interesse ao fato, admitindo e afirmando como certa a identidade de alguém.

O reconhecimento de coisas é ato ligado à identificação dos instrumentos empregados na prática delituosa (faca, revólver, etc.), dos objetos utilizados para auxiliar no delito (v.g., uma motocicleta usada em um crime de roubo) e dos objetos que constituem o produto do crime (automóvel subtra- ído, celular roubado, etc.).

 Por força do princípio da busca da verdade e da liberdade das provas, tem-se admitido a utiliza- ção do reconhecimento fotográfico, observando-se, por analogia, o procedimento previsto no CPP para o reconhecimento pessoal.

A acareação será admitida entre investigados, entre investigado e testemunha, entre testemunhas,

entre investigado ou testemunha e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que

divergirem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes. Os acareados serão

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reperguntados, para que expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato de aca- reação.

7º) Determinar, se for o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias (CPP, art. 6º, VII)

 Impende destacar que, por força do disposto no art. 158 do CPP, quando a infração deixar vestí- gios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a con- fissão do acusado.

Exame de corpo de delito: é a verificação da prova da existência do crime, feita por peritos, dire- tamente, ou indiretamente, por intermédio de outras evidências (como prova testemunhal), quando os vestígios, ainda que materiais, desapareceram.

 O corpo de delito é a materialidade do crime, isto é, a prova da sua existência.

8º) Ordenar a identificação do indiciado pelo processo dactiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes (CPP, art. 6º, VIII)

O processo moderno de identificação é o dactiloscópico (comparação de impressões digitais), fundado na certeza de que não existem em duas pessoas saliências papilares idênticas e que permite, por meio de letras e números, a classificação das impressões em arquivos para a comparação com as colhidas de qualquer pessoa.

ATENÇÃO: A primeira parte desse preceito do CPP, que entrou em vigor antes da Constituição Federal, deve ser lida em cotejo com o art. 5º, LVIII, da Carta Magna, que prevê que o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei.

A folha de antecedentes é a ficha que contém a vida pregressa criminal do investigado, de onde constam dados como a relação dos inquéritos policiais já instaurados contra sua pessoa e sua respectiva destinação.

Atente-se, neste ponto, à nova redação conferida ao art. 20, parágrafo único, do CPP, pela Lei nº 12.681/12: “nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes”.

 A identificação criminal compreende a datiloscópica (impressões digitais) e a fotográfica.

9º) Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua

condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quais-

quer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter (CPP,

art. 6º, IV)

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O levantamento deve ser feito de maneira objetiva, tendo em conta que os dados sobre a persona- lidade de criminosos, poderão ter influência na aplicação das penas (art. 42, do Código Penal), na imposição e execução das penas de multa (arts. 37, 38 e 43 do CPP no arbitramento de fianças (§

único do art. 325 e arts. 326 e 350, do CPP) e, ainda, poderão dar margem à aplicação de medidas de segurança.

10) Averiguar a situação dos filhos menores das pessoas presas, colhendo informações sobre a sua existência, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa (CPP, art. 6º, X).

 Constatando o Delegado de Polícia que os filhos menores da pessoa presa estão em situação de risco, deverá encaminhar a criança ou o adolescente para programa de acolhimento familiar ou institucional.

Outras atribuições da autoridade policial

I - Fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos: Como auxiliar do Poder Judiciário, cabe à autoridade policial fornecer as informações que lhe forem requisitadas e que possam elucidar os fatos, mesmo após a conclusão das investiga- ções.

II - Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público: Mesmo não havendo subordinação hierárquica, a autoridade policial tem o dever de cumprir as diligências requisitadas pelo MP e pela autoridade judicial. Havendo recusa, pode incorrer em prevaricação (caso haja a pretensão de satisfazer interesse ou sentimento pessoal), salvo se a ordem for manifestamente ilegal.

III - Cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias: Os mandados prisio- nais, sejam de medidas cautelares ou em razão do trânsito em julgado de sentença condenatória que imprima pena privativa de liberdade, serão cumpridos nos moldes dos artigos 282 a 300 do CPP.

IV - Representar acerca da prisão preventiva: a autoridade policial pode representar pela decretação da prisão preventiva, desde que existam indícios de autoria e prova da materialidade, além da cons- tatação de ao menos uma das hipóteses de decretação: garantia da ordem pública ou da ordem econômica; conveniência da instrução criminal e garantia da aplicação da lei penal (arts. 312 e 313, CPP). Poderá ainda representar pela decretação da prisão temporária, uma vez presentes os requi- sitos do art. 1° da Lei nº 7.960/1989.

REQUISIÇÃO DE DADOS

Requisição direta de dados cadastrais na investigação policial preliminar (art. 13-A): o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da vítima ou de suspeitos.

Crimes que admitem a requisição direta: Sequestro e cárcere privado (art. 148, CP); Redução a

condição análoga à de escravo (art. 149, CP); Tráfico de Pessoas (art. 149-A, CP);

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Extorsão mediante restrição da liberdade da vítima ou sequestro-relâmpago (art. 158, § 3º, CP);

Extorsão mediante sequestro (art. 159, CP); Tráfico internacional de criança ou adolescente (art.

239, ECA).

Prazo e conteúdo da requisição: a requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, conterá:

I - o nome da autoridade requisitante;

II - o número do inquérito policial; e

III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.

Requisição de sinal telefônico de localização, nos crimes relacionados ao tráfico de pessoas (art. 13-B): Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que disponibili- zem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que per- mitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso.

Conceito de sinal: para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cober- tura, setorização e intensidade de radiofrequência.

Regras para utilização do sinal:

I - não permitirá acesso ao conteúdo da comunicação de qualquer natureza, que dependerá de autorização judicial, conforme disposto em lei;

II - deverá ser fornecido pela prestadora de telefonia móvel celular por período não superior a 30 (trinta) dias, renovável por uma única vez, por igual período;

III - para períodos superiores a 30 dias, será necessária a apresentação de ordem judicial.

Instauração do inquérito no crime de tráfico de pessoas: o inquérito policial deverá ser instau- rado no prazo máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência policial.

ATENÇÃO: Não havendo manifestação judicial no prazo de 12 (doze) horas, a autoridade compe-

tente requisitará às empresas prestadoras de serviço de telecomunicações e/ou telemática que dis-

ponibilizem imediatamente os meios técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que

permitam a localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso, com imediata comunicação

ao juiz.

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AULA 08 – DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL

DIREITO DE APRESENTAR DEFENSOR NO IP (ART. 14-A DO CPP)

Quem tem direito: Poderão constituir defensor os indiciados que figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais que sejam servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144 da Constituição Federal, ou seja:

I - Polícia Federal;

II - Polícia Rodoviária Federal;

III - Polícia Ferroviária Federal;

IV - Polícias Civis;

V - Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares.

VI - Polícias Penais Federal, Estaduais e Distrital.

Requisitos: Para o investigado fazer jus à defesa no IP, é necessário que:

a) O objeto do procedimento seja a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal e b) Que os fatos sejam praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada.

ATENÇÃO: O referido direito inclui, ainda, as situações envolvendo as excludentes de ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal e exercícios regular de direito).

Citação do investigado: O investigado deverá ser citado da instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.

Intimação da instituição: Esgotado o prazo de 48 horas com ausência de nomeação de defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado.

Militares das Forças Armadas – direito de defesa: O direito de constituir defensor no IP se aplica aos servidores militares vinculados à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica, desde que os fatos investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.

REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS

Além de todas as diligências e providências previstas no art. 6.º do CPP, prevê o art. 7.º que a autoridade policial poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, a fim de verificar a possibili- dade de haver a infração sido praticada de determinado modo, desde que não contrarie a morali- dade ou a ordem pública (por exemplo, crime contra a dignidade sexual).

ATENÇÃO: Por força do direito de não produzir prova contra si mesmo, não é lícita a condução

coercitiva do investigado para cooperar na reconstituição do crime.

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Trata-se da reconstituição do crime, feita, se possível, com a colaboração do réu, da vítima e de eventuais testemunhas, cujo objetivo é constatar a plausibilidade das versões trazidas aos autos, identificando-se a forma provável de como o crime foi praticado.

Esta diligência é uma importante fonte de prova, sobretudo no caso de crimes com violência à pes- soa, podendo ser realizada no curso do inquérito policial a partir da própria iniciativa do delegado de polícia, ou por meio de requisição do juiz e do Ministério Público ou ainda a requerimento dos interessados (investigado e ofendido).

INDICIAMENTO

Embora o Código de Processo Penal não faça referência expressa ao ato de indiciar, o art. 2.º, § 6.º, da Lei 12.830/2013 consolidou o indiciamento como o ato privativo do delegado de polícia, por meio do qual, por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias, atribui a alguém a condição de autor ou partícipe de uma infração penal (fato típico).

 O ato de indiciamento é atribuição exclusiva da autoridade policial, não existindo fundamento jurídico que autorize o juiz ou o Ministério Público requisitar ao Delegado de Polícia o indicia- mento de determinada pessoa. Também não poderão essas próprias autoridades procederem indi- ciamento de suspeitos.

O art. 2.º, § 6.º, da Lei 12.830/2013 deixa claro que o indiciamento ocorre apenas ao final do inquérito (na prática policial, costuma ocorrer no relatório, sob a forma de conclusão, após a menção às dili- gências realizadas), quando a este já incorporados os elementos que permitam ao delegado, apre- ciando o conjunto das providências adotadas, decidir se indicia ou não o indivíduo. Logo, no curso do inquérito policial existe simplesmente a figura do investigado.

IMPORTANTE: O indiciamento não exige a comprovação do envolvimento do indivíduo na prática criminosa, o que será objeto de apuração no curso da instrução criminal, após o oferecimento da denúncia ou da queixa-crime. Para o indiciamento é exercitado um juízo de probabilidade, e não de certeza de autoria.

O indiciamento, realizado ou não pela autoridade policial, não vincula o Ministério Público ou o ofen- dido em relação ao oferecimento da denúncia ou da queixa, resultando que, ainda que tenha o delegado deixado de indiciar o investigado, poderá ser ajuizada ação penal contra ele.

Da mesma forma, nada impede que, indiciado o indivíduo pela conduta prevista em determinado tipo penal, receba a infração, na denúncia do Ministério Público ou na queixa do ofendido, capitula- ção jurídica diversa.

Indiciamento direto x indireto: o indiciamento pode ser direto (quando o agente está presente) ou indireto (quando o agente está ausente, a exemplo da situação de foragido ou em lugar incerto).

DESINDICIAMENTO: Embora não seja comum, pode ocorrer o “desindiciamento”, que é o cance-

lamento do indiciamento, por deliberação do Delegado de Polícia presidente da investigação crimi-

nal, até o final do inquérito policial, mediante decisão fundamentada, explicitando os motivos da

alteração de convencimento.

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 Poderá o desindiciamento ocorrer, também, por decisão judicial, em casos de evidente 0cons- trangimento ilegal por parte da autoridade policial.

INCOMUNICABILIDADE

O art. 21, parágrafo único, do CPP prevê a possibilidade de o juiz decretar a incomunicabilidade do indiciado por prazo não superior a 3 dias, visando com isso evitar que ele prejudique o andamento das investigações.

Tal dispositivo, entretanto, apesar de não ter sido revogado expressamente, tornou-se inaplicável em razão do disposto no art. 136, § 3º, IV, da Constituição Federal, que veda a incomunicabilidade, até mesmo quando decretado o estado de defesa.

AULA 09 – GARANTIAS DO INVESTIGADO

GARANTIAS DO INVESTIGADO

a) Obediência ao Princípio da Legalidade: A respeito da garantia transcrita pelo princípio da le- galidade, têm-se o direito do investigado ser submetido apenas às diligências policiais previstas, sendo que qualquer outro método não descrito na norma, não será admitido. Após análise da lega- lidade, parte-se para o estudo da garantia constitucional inerente ao investigado trazida pelo princí- pio da verdade real.

b) Busca da verdade real: A autoridade policial não deve se portar como mero espectador das provas e notícias de crimes que lhe aparecem. Pelo contrário, deve apurá-las, a fim de investigar a fundo a realidade dos fatos que lhe é apresentada, com o intuito de descobrir como estes efetiva- mente ocorreram, não se limitando às provas já trazidas aos autos.

c) Presunção de inocência ou de não-culpabilidade: O princípio da presunção de inocência ou de não-culpabilidade está previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal, que assim des- creve a garantia constitucional de que: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”.

 Ademais, ressaltar que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, também denominado de Pacto São José da Costa Rica, também tratou da matéria no seu art. 8º, nº 2, assegurando o direito fundamental de que "toda a pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”.

d) Princípio do in dubio pro reo: A garantia fundamental de que o investigado será mantido no

“estado de inocência” até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória implica consequências ao seu tratamento, nesta linha surgindo o princípio do in dubio pro reo. Este princípio refere em que na imprecisão, compreende-se em favor do acusado. Assim, não conseguindo o Estado angariar provas suficientes da materialidade e autoria do crime, o juiz deverá absolver o acusado.

 No caso do inquérito policial, em observância ao princípio do in dubio pro reo, após o recebimento

de uma notitia criminis e até mesmo após a autuação em flagrante delito, cabe à autoridade de

polícia judiciária em primeiro lugar verificar a veracidade dos fatos apresentados, e se encontram

pontos de convergência com outros elementos trazidos, para que em seu relatório descreva se a

conduta praticada pelo investigado constitui ou não crime.

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e) Princípio da não autoincriminação (Nemo tenetur se detegere): É garantido ao investigado, durante a instrução policial, “o direito de permanecer em silêncio e a não incriminação”. O direito ao silêncio defluiu do art. 5°, LXIII, da CF: “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.

 Por esse princípio não só se permite aos investigados, em geral, que permaneçam em silêncio durante toda a investigação, mas sim isto impede que seja ele compelido a produzir ou contribuir com a formação da prova contrária ao seu interesse.

CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL

De acordo com o Código de Processo Penal (art. 10, § 1º), o inquérito policial deverá ser concluído com a elaboração, pela autoridade policial, de minucioso relatório do que tiver sido apurado, fazendo um esboço das principais diligências levadas a efeito na fase investigatória e indicando a classifica- ção jurídica do fato, com posterior remessa dos autos ao juiz competente.

IMPORTANTE: Deve a autoridade policial abster-se de fazer qualquer juízo de valor no relatório, não devendo emitir opiniões ou julgamentos, mas apenas prestar todas as informações colhidas durante as investigações e as diligências realizadas.

 No relatório a autoridade policial poderá indicar testemunhas que não tiverem sido ouvidas, men- cionando o lugar onde possam ser encontradas (art. 10, § 2°).

ATENÇÃO: A classificação jurídica do fato feita pela autoridade policial não vincula o Ministério Público.

Devolução do IP pelo Ministério Público: O MP somente poderá requerer a devolução do inqué- rito à autoridade policial para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

PRAZOS DO INQUÉRITO POLICIAL

INDICIADO PRESO - Se o indiciado estiver preso (em flagrante ou preventivamente), o inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias corridos, do dia em que se executar a ordem de prisão.

 Nesse caso, não se admitirá qualquer prorrogação.

No caso de ser decretada a prisão temporária, o tempo de prisão será acrescido ao prazo de encer- ramento do inquérito (Lei n. 7.960/90).

INDICIADO SOLTO – O inquérito policial deve ser encerrado no prazo de 30 dias, contados a partir da instauração (recebimento da notitia criminis), se o indiciado estiver solto, seja mediante fiança ou não.

ATENÇÃO: É possível a prorrogação do prazo de conclusão do inquérito policial, quando o fato for

de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, mediante requerimento da autoridade policial ao

juiz, com a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado

pelo juiz (art. 10, § 3º, do CPP).

Referências

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