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Dos efeitos da alteração do regime de bens na sociedade conjugal e perante terceiros

3 ALTERAÇÃO JUDICIAL DO REGIME DE BENS E VIABILIDADE

3.3 Dos efeitos da alteração do regime de bens na sociedade conjugal e perante terceiros

Atendidos os requisitos necessários à propositura da ação de alteração do regime de bens, bem como analisadas e julgadas relevantes as razões que justificam tal solicitação e respeitados os direitos de terceiros, tendo competência para o ato, que será processado sob o rito do procedimento especial de jurisdição voluntária previsto a partir do artigo 1.103 do Código Civil, o juiz deferirá, fundamentadamente e depois de verificada sua plausibilidade, o pedido de modificação.

A decisão que julgar procedente o pedido de alteração do regime de bens produzirá efeitos jurídicos que refletirão, tanto na sociedade conjugal, quanto perante terceiros que porventura estejam economicamente envolvidos com o casal. Assim, “a alteração do regime de bens passa a valer a partir do trânsito em julgado da sentença, mas a eficácia contra terceiros interessados depende de registro imobiliário.” (DIAS, 2005, p. 219, grifo do autor).

Acrescentando, a Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ao regulamentar o procedimento de alteração do regime de bens, através do Provimento 24/03, dentre outras regras, estabeleceu no artigo terceiro que, após o trânsito em julgado da decisão favorável à modificação, deverá ser expedido mandado de averbação para

os registros civil e de imóveis competentes, bem como para o registro de empresas mercantis, caso qualquer dos cônjuges seja empresário. (SANTOS, 2004).

Ainda, oportuno destacar que não há previsão legal de tempo mínimo de casamento para que tal pedido possa ser feito.

Para Gonçalves (2008, p. 395, grifo do autor),

O legislador não impôs um tempo mínimo de casamento nem especificou as situações fáticas que justificam o pedido. Exigiu apenas que seja este motivado e formulado por ambos os cônjuges, cabendo à autoridade judicial deferi-lo por sentença, depois de apurada, segundo o seu arbitrium boni viri, a procedência das razões invocadas. A decisão não é simplesmente homologatória, pois a lei exige que seja fundamentada.

No mesmo sentido, Silvio Rodrigues (apud GONÇALVES, 2008, p. 395) alude que,

[...] cabe ao juiz verificar se a pretensão, embora conjunta, ‘atende aos interesses da família, pois, se em prejuízo de qualquer dos cônjuges ou dos filhos, deve ser rejeitada. E por prejuízo entenda-se impor a um deles situação de miséria, ou extrema desvantagem patrimonial, e não apenas redução de vantagens ou privilégios. Assim, o fato de, pela mudança do regime, o cônjuge vir a ser privado de uma herança futura é insuficiente à objeção, até porque só existiria expectativa de um direito’.

Retomando, os efeitos jurídicos gerados pela sentença que defere o pedido de alteração devem constar expressamente do corpo da mencionada peça processual, portanto, o juiz, fundamentará dizendo se eles retroagirão à data da celebração do casamento, caso em que o efeito será denominado ex tunc, ou se terão eficácia somente a partir do trânsito em julgado da referida decisão, quando, então, traduzir-se-ão em efeitos ex nunc, ou seja, não retrocedem à data do casamento e apenas produzem resultados para o futuro.

“A possibilidade de retroação da mudança do regime não está contemplada na lei, o que faz necessário admiti-la. O que não é proibido é permitido.” (DIAS, 2005, p. 219, grifo do autor).

Registre-se que, no próprio texto legislativo permissivo da modificação do regime de bens entre os consortes, contemplou-se a ressalva acerca dos direitos de terceiro, advertência esta que somente se justifica se verificada a plausibilidade de ocorrer retroação dos efeitos da

sentença alteradora do regimento patrimonial. Ainda, se o próprio texto legal resguardou tais direitos de terceiro, quanto a estes é evidente que os efeitos serão ex nunc, ou seja, não os atingirão, salvo se, o novo regime adotado for mais abrangente e beneficiar terceiro credor.

Exemplificativamente, pode-se mencionar o pedido de mudança para o regime da comunhão universal. Logicamente que o efeito será ex tunc, pois para ser universal é necessária a comunicação de todos os bens do casal, abrangendo tanto os anteriores, quanto os posteriores à modificação. “Impossível seria pensar em comunhão universal que acarretasse comunicação apenas dos bens adquiridos a partir da modificação. Outro, por certo, seria o regime em vigor daí em diante [...]” (SANTOS, 2004, p. 219).

Outro exemplo é o da mutabilidade do regime para o da separação convencional ou absoluta de bens. Aplica-se, também, o mesmo entendimento da necessidade lógica da retroação, pois separação absoluta não será, se os efeitos da decisão forem produzidos somente após o trânsito em julgado da mesma.

Na hipótese acima e, sempre que a mudança ocorrer de um regime mais abrangente para um mais restrito, como é o caso da migração para o da separação convencional ou absoluta de bens, há necessidade, decorrente de imposição legal prevista no artigo 1.671 do diploma civil, de se fazer a partilha do conjunto de bens do casal, adquiridos até então.

Na concepção de Santos (2004, p. 218),

[...] sempre que o novo regime adotado determinar uma comunicação mais restrita que o estatuído até então, em relação aos bens integrantes do acervo patrimonial, imperiosa será a divisão do ativo e do passivo, uma vez que, a partir daí, cessa a responsabilidade de cada cônjuge em relação aos credores do outro (art. 1.671, CC). Novos credores, frise-se, pois, com relação aos anteriores, seus direitos estão expressamente ressalvados.

Referida partilha de bens, não prejudicará os direitos de terceiro, pois como já dito, a ressalva quanto a estes está prevista legalmente no parágrafo segundo do artigo 1.639, do Código Civil, não podendo ser meramente desconsiderada.

Entretanto, o estatuto civilista privilegiando a ampla liberdade de escolha dos nubentes, facultou-lhes, através do princípio da livre estipulação e da autonomia de vontades, a possibilidade de escolherem, ou uma das modalidades dos regimes de bens já previstas no

Código, ou de criarem uma forma mista, combinando regras de um e de outro regime. Neste último caso, a alteração do regime poderá operar-se segundo a vontade do casal.

“Quanto aos demais regimes, em face da ampla liberdade de estipulação, as alterações terão o efeito escolhido pelo casal, nada impedindo que sejam estabelecidas datas diversas e efeitos diversificados.” (DIAS, 2005, p. 219).

Concluindo, na sentença, o juiz determinará quais serão os efeitos gerados na sociedade conjugal, em virtude da alteração do regime de bens, ficando, portanto, sempre protegidos os direitos de terceiros que eventualmente estejam envolvidos economicamente com o casal, pois tal ressalva, não decorre da decisão do magistrado, mas sim de dispositivo legal.