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Capítulo 2 – Dividendos

2.5 Aspectos tributários

2.5.1 Dos regimes fiscais

2.5.1.1 Das pessoas jurídicas

As pessoas jurídicas (in casu sociedades empresárias) estão sujeitas a quatro tipos de regimes fiscais: 1) regime do lucro real; 2) regime do lucro presumido; 3) regime do lucro arbitrado; e 4) regime das microempresas e empresas de pequeno porte. Os regimes são assim classificados em razão da forma como a legislação tributária irá incidir sobre as pessoas jurídicas que a eles estejam sujeitas.

Logo, o regime do lucro real é aquele segundo o qual o lucro obtido pela pessoa jurídica será apurado de acordo com as adições, exclusões e compensações prescritas e autorizadas pela legislação tributária (SILVÉRIO DAS NEVES, 2004, p. 3). Isto é, trata-se do regime fiscal que visa apurar exatamente o valor do lucro obtido pela sociedade empresária num determinado período, de acordo com as orientações da legislação tributária, o qual servirá de base de cálculo para a apuração dos tributos devidos158. Conforme ANDRADE FILHO (2008, p. 26), o lucro real será obtido pela soma algébrica das seguintes parcelas: (a) lucro líquido do período de apuração; (b) mais parcelas de adição indicadas na lei como não dedutíveis; e (c) menos as parcelas relativas a exclusões prescritas ou autorizadas em lei, e compensações de prejuízos anteriores.

O regime do lucro presumido é aquele segundo o qual há presunção da existência do lucro, independentemente de efetivamente ter havido lucro real no período. Nesse regime, o legislador estabelece percentuais159 do valor das receitas de vendas que

158 Conforme artigo 247 do RIR/99 “Lucro real é o lucro líquido do período de apuração ajustado pelas

adições, exclusões ou compensações prescritas ou autorizadas por este Decreto. § 1º A determinação do lucro real será precedida da apuração do lucro líquido de cada período de apuração com observância das disposições das leis comerciais.; § 2º Os valores que, por competirem a outro período de apuração, forem, para efeito de determinação do lucro real, adicionados ao lucro líquido do período de apuração, ou dele excluídos, serão, na determinação do lucro real do período de apuração competente, excluídos do lucro líquido ou a ele adicionados, respectivamente, observado o disposto no parágrafo seguinte. § 3º Os valores controlados na parte "B" do Livro de Apuração do Lucro Real - LALUR, existentes em 31 de dezembro de 1995, somente serão atualizados monetariamente até essa data, observada a legislação então vigente, ainda que venham a ser adicionados, excluídos ou compensados em períodos de apuração posteriores”.

159 Esses percentuais variam de acordo com a atividade da sociedade empresária, variando de 1,6% até 32%,

servirão como base de cálculo do tributo. Aqui não são admitidas nem inclusões nem exclusões na base de cálculo do imposto, como ocorre no lucro real. Vale destacar que o lucro presumido não é idêntico ao lucro real, sendo certo que esse acontecimento na prática é fruto de mera coincidência160.

ANDRADE FILHO (2008, p. 501) critica o regime do lucro presumido, por nem sempre representar um acréscimo patrimonial, única hipótese possível de incidência da legislação tributária de imposto de renda, conforme estabelecem a CF/88 e o CTN. Assim, se a sociedade sujeita ao regime do lucro presumido possuir receitas iguais ou inferiores às receitas dedutíveis, ela não terá acréscimo patrimonial e, portanto, não deverá estar sujeita à incidência da regra-matriz tributária. O próprio autor, ressalva, contudo, que essas cogitações não estão em acordo com a lei. Pela legislação tributária vigente, mesmo nessa hipótese - de prejuízo da sociedade empresária sujeita ao regime do lucro presumido -, haverá incidência da regra-matriz do tributo.

Nem todas as pessoas jurídicas podem se submeter ao regime do lucro presumido. A Lei estabelece que as pessoas jurídicas que não estejam obrigadas ao regime do lucro real podem optar pelo regime do lucro presumido. Assim, em razão da atividade que determinadas pessoas jurídicas exercem ou do tamanho da receita que auferem anualmente, a legislação veda seu acesso ao sistema do lucro presumido161.

(541 e 542), em cada trimestre, será determinada mediante a aplicação do percentual de oito por cento sobre a receita bruta auferida no período de apuração, observado o que dispõe o § 7o do art. 240 e demais disposições

deste Subtítulo. Art. 519. Para efeitos do disposto no artigo anterior, considera-se receita bruta a definida no art. 224 e seu parágrafo único.§ 1º Nas seguintes atividades, o percentual de que trata este artigo será de (Lei no 9.249, de 1995, art. 15, § 1o):I - um inteiro e seis décimos por cento, para atividade de revenda, para consumo, de combustível derivado de petróleo, álcool etílico carburante e gás natural; II - dezesseis por cento para a atividade de prestação de serviço de transporte, exceto o de carga, para o qual se aplicará o percentual previsto no caput; III - trinta e dois por cento, para as atividades de: a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares; b) intermediação de negócios; c) administração, locação ou cessão de bens, imóveis, móveis e direitos de qualquer natureza”.

160 O regime do lucro presumido foi introduzido no Brasil pelo Decreto Lei n. 5.844 de 23 de setembro de 1943.

161Conforme artigo 14 da Lei 9.718/1998, “Estão obrigadas à apuração do lucro real as pessoas jurídicas: I -

cuja receita total, no ano-calendário anterior seja superior ao limite de R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais), ou proporcional ao número de meses do período, quando inferior a 12 (doze) meses; II - cujas atividades sejam de bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos de desenvolvimento, caixas econômicas, sociedades de crédito, financiamento e investimento, sociedades de crédito imobiliário, sociedades corretoras de títulos, valores mobiliários e câmbio, distribuidoras de títulos e valores mobiliários, empresas de arrendamento mercantil, cooperativas de crédito, empresas de seguros privados e de capitalização e entidades de previdência privada aberta; III - que tiverem lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior; IV - que, autorizadas pela legislação tributária, usufruam de benefícios fiscais relativos à isenção ou redução do imposto; V - que, no decorrer do ano-calendário, tenham efetuado pagamento mensal pelo regime de estimativa, na forma do art. 2° da Lei n° 9.430, de 1996; VI - que explorem as atividades de prestação cumulativa e contínua de serviços de assessoria creditícia, mercadológica, gestão de crédito, seleção e riscos, administração

O regime de lucro arbitrado ocorre basicamente em razão de alguma desídia em relação às obrigações acessórias do sujeito passivo da obrigação tributária que impeça o fisco de conferir o valor do tributo recolhido. Assim, sempre que a pessoa jurídica sujeita ao regime de lucro real não mantiver as escriturações comerciais ou fiscais ou deixar de elaborar as demonstrações financeiras exigidas, poderá o sujeito ativo da obrigação tributária determinar a apuração do tributo pelo arbitramento. SILVÉRIO DAS NEVES (2004, p. 20) alerta que não se trata de uma modalidade optativa ou favorecida de tributação; representa, sim, uma determinação coercitiva do lucro em razão da falta cometida pelo contribuinte.

Quanto às microempresas e às empresas de pequeno porte, seu regime tributário, conhecido como SIMPLES, é diferenciado. Determinadas sociedades empresárias - elegíveis em razão da atividade que exercem e do seu faturamento anual – podem optar pela adoção desse regime. Nele, há recolhimento unificado e centralizado de todos os impostos e contribuições federais, além do ICMS e do ISS, mediante aplicação de uma única alíquota a incidir sobre a receita bruta auferida162. Há, ainda, a dispensa da obrigatoriedade de escrituração comercial para fins fiscais. As pessoas jurídicas optantes desse regime estão dispensadas do pagamento de contribuições instituídas pela União, destinadas, por exemplo, ao SESI, SESC, SENAI (ANDRADE FILHO, 2008, p. 559)163.

2.5.1.2 Das pessoas físicas

As pessoas físicas estão sujeitas a um regime fiscal geral, pelo qual as pessoas físicas deverão anualmente elaborar uma declaração de rendimentos para que seja apurado o acréscimo patrimonial que tiveram num determinado ano-base. Nessa declaração faz-se um acerto de contas entre o contribuinte e o fisco, apurando-se todo o ganho164 obtido pela

de contas a pagar e a receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação de serviços (factoring). VII - que explorem as atividades de securitização de créditos imobiliários, financeiros e do agronegócio”.

162 Segundo HIGUCHI (2007, p. 85), “a pessoa jurídica optante pelo SIMPLES Nacional terá que recolher

mensalmente, em documento único de arrecadação os seguintes impostos e contribuições (Art. 13 da LC n. 123, de 2006): I) IRPJ; II) IPI; III) CSLL; IV) COFINS; V) PIS/PASEP; VI) INSS patronal (tem exceção em alguns tipos de serviços); VII) ICMS; VIII) ISS”.

163 Esse regime de tributação foi regido pela Lei 9.317/96 até 01.07.2007, que tratava do SIMPLES Federal

muito semelhante ao SIMPLES Nacional, à exceção também do pagamento dos impostos estaduais e municipais. Atualmente, esse regime de tributação é regido pela LC 123 de 14.12.2006.

164 O acréscimo patrimonial no regime de tributação das pessoas físicas é regido pelo regime de caixa, enquanto

pessoa física e deduzindo-se desse ganho as despesas que possam ser abatidas de acordo com a Lei. Após a dedução das despesas cabíveis, chega-se à base de cálculo do imposto de renda e aplica-se a alíquota de acordo com as faixas de ganho previstas na legislação. Por fim, abate-se do imposto devido aquele que tenha sido retido na fonte pagadora ou pago voluntariamente pelo próprio contribuinte (carnê-leão)165.

Contudo, nem todo acréscimo patrimonial da pessoa física será tributado dessa forma. Há situações em que o acréscimo patrimonial da pessoa física poderá não ser tributado - hipótese de imunidade, isenção ou não incidência. É o exemplo dos rendimentos auferidos em caderneta de poupança166. Há outras hipóteses em que o acréscimo patrimonial obtido é tributado exclusivamente na fonte ou de forma definitiva. Nesses casos, o imposto pago sobre aquele acréscimo patrimonial não entrará na declaração anual de rendimentos da pessoa física. São os exemplos respectivamente dos impostos incidentes sobre o décimo terceiro salário167 e sobre o ganho de capital obtido na alienação de bens ou direitos de qualquer natureza168.