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Juros sobre capital próprio como espécie de receita financeira:

Capítulo 3 Juros sobre o capital próprio

3.1 Histórico

3.3.4 Juros sobre capital próprio como espécie de receita financeira:

O Superior Tribunal de Justiça vem decidindo no sentido de considerar os juros sobre o capital próprio como espécie de receita financeira, decorrente da remuneração do capital do investidor subscrito na sociedade, aproximando-se de parte da doutrina que defende que os juros sobre o capital próprio não tem natureza jurídica de dividendos.

O primeiro julgado sobre esta matéria foi de relatoria do Ministro Francisco Falcão, que entendeu que os juros sobre o capital próprio não tem natureza de lucros ou dividendos, mas de receita financeira:

MANDADO DE SEGURANÇA. JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO DISTRIBUÍDOS AOS SÓCIOS/ACIONISTAS. INCIDÊNCIA DE

PIS/PASEP E COFINS. NATUREZA DE DIVIDENDOS.

IMPOSSIBILIDADE. ISENÇÃO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. ARTIGO 111 DO CTN. OMISSÃO QUANTO A DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO.

I - Incabível a análise de omissão quanto à análise de dispositivo constitucional, em razão da falta de interesse da parte, eis que suficiente a oposição de embargos declaratórios para ensejar o prequestionamento na via do recurso extraordinário. Precedente: AgRg no Ag nº 799.362/RS, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJ de 05/03/07.

II - Discute-se, nos presentes autos, a incidência na base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS dos juros sobre capital próprio (JCP), com base no Decreto nº 5.164/2004, o qual reduziu a zero a alíquota das referidas contribuições, excluindo as receitas decorrentes dos JCP e de operações de hedge.

III - Os juros sobre capital próprio não possuem natureza de lucro ou dividendo, mas de receita financeira.

IV - De acordo com a Lei nº 9.249/95, apresentam-se os juros sobre capital próprio como uma faculdade à pessoa jurídica, que pode fazer valer de seu creditamento sem que ocorra o efetivo pagamento de maneira imediata, aproveitando-se da capitalização durante esse tempo. Além do mais, ao contrário dos dividendos, os JCP dizem respeito ao patrimônio líqüido da empresa, o que permite que sejam creditados de acordo com os lucros e reservas acumulados.

V - As normas instituidoras de isenção (artigo 111 do CTN), por preverem exceções ao exercício de competência tributária, estão sujeitas à regra de hermenêutica que determina a interpretação restritiva, dada à sua natureza. Não prevista, expressamente, a hipótese de exclusão dos juros de capital próprio da base de cálculo do PIS/PASEP e da COFINS, pelas Leis nºs 10.637/2002 e 10.833/2003, incabível fazê-lo por analogia.

(REsp 921269/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ 14/06/2007 p. 272, RDDT vol. 144 p. 119)207

Os principais argumentos utilizados no referido acórdão, para descaracterizar a natureza jurídica dos juros sobre o capital próprio como dividendos foram: 1) os juros sobre o capital próprio teriam natureza jurídica de receita financeira, em razão do quanto disposto no artigo 29 da IN 11/96; 2) os juros sobre o capital próprio tem regramento diverso dos dividendos, tendo em vista que, enquanto estes últimos estão condicionados ao desempenho da empresa no respectivo exercício social, os primeiros dizem respeito ao patrimônio líquido da empresa, permitindo que sejam creditados de acordo com os lucros ou reservas acumulados; 3) as regras instituidoras de isenção (artigo 111 do CTN), por preverem exceções ao exercício de competência tributária, estão sujeitas à regra de hermenêutica que determina a interpretação restritiva, razão pela qual a isenção do PIS/PASEP e da COFINS dada para as receitas decorrentes de lucros ou dividendos não pode ser estendida aos juros sobre o capital próprio; 4) a deliberação CVM n. 297/96 não possui disposições de cunho tributário, razão pela qual não se pode aplicar o entendimento ali esposado, de que os juros sobre o capital próprio recebidos devem ser contabilizados diretamente na conta de investimentos e não de receita financeira.

Estes argumentos, trazidos no acórdão, não convencem. E há quatro motivos que nos levam a questioná-los. Primeiro, porque não se pode utilizar uma instrução normativa como fundamento de validade para caracterizar os juros sobre o capital próprio como uma receita financeira, afinal, tal determinação foi uma inovação não prevista na Lei 9.249/95, que estabeleceu o regime fiscal especial. Segundo, porque tanto o pagamento dos juros sobre o capital próprio, como o pagamento de dividendos estão sujeitos à existência de lucros, seja no exercício, seja na conta de lucros acumulados ou na conta de reserva de lucros. Assim, mesmo que não haja lucros no exercício, é possível ocorrer a distribuição de dividendos. De outro turno, mesmo que não existam lucros acumulados, é possível haver a distribuição de juros sobre o capital próprio.

Além disso, a hipótese de não pagamento do PIS/PASEP e da COFINS sobre os valores pagos a título de juros sobre o capital próprio diz respeito à não-incidência da

207 Neste sentido também os acórdãos proferidos no RESP n. 952.566/SC, RESP n. 1.018.013/SC e AgRg no

regra matriz, e não de isenção. De qualquer forma, ainda que fosse o caso de isenção, não se pode perder de vista que o artigo 4° do CTN estabelece que a natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevante para determiná-lo a denominação e demais características formais adotadas pela lei.

Por fim, o quarto argumento seria que, mesmo sem a existência da Deliberação 207/96 da CVM, os juros sobre o capital próprio têm natureza jurídica de participação no resultado da sociedade empresaria, sendo certo que o seu recebimento não constitui receita financeira sujeita à incidência da regra matriz do PIS/PASEP e da COFINS. Em julgado mais recente, datado de 15 de outubro de 2009, o Superior Tribunal de Justiça voltou a manifestar-se sobre a matéria, tendo o Ministro Mauro Campbell relatado o RESP n. 717.743/PR , em que concluiu terem, os juros sobre o capital próprio, natureza jurídica de resultado distribuível da empresa, sob forma alternativa de remuneração ao pagamento de dividendos:

PROCESSUAL. TRIBUTÁRIO. JUROS SOBRE O CAPITAL PRÓPRIO. INCLUSÃO NA BASE DE CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO - CSLL.

POSSIBILIDADE. ARTIGO 9º, § 10, DA LEI Nº 9.249/95.

1. Se o tribunal local não declara o acórdão, nos casos em que tal declaração não tem lugar, descabe o recurso especial por violação ao artigo 535 do CPC. Incide, na espécie, o enunciado nº 211 da Súmula do STJ, pois "inadmissível recurso especial quanto a questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo tribunal a quo". 2. Os juros sobre o capital próprio caracterizam-se como resultado distribuível da empresa, sob forma alternativa de remuneração ao pagamento de dividendos, não havendo óbice para que componham a base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL.

3. O Imposto de Renda da Pessoa Jurídica - IPRJ e a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido - CSLL não têm a mesma base de cálculo, nem o mesmo fato gerador, eis que exações distintas, com finalidades diversas. 4. A lei pode admitir a dedução dos juros referentes à remuneração do capital próprio para a apuração do Imposto de Renda, sem admiti-la em relação à Contribuição Social, conforme o fez o §10 do artigo 9º da Lei 9.249/95.

5. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não provido. (REsp 717743/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 28/10/2009)

Esta decisão representa uma possível mudança no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, na medida em que deixa de considerar os juros sobre o capital próprio

como receita financeira e passa a considerá-los como resultado distribuível da empresa, uma forma alternativa ao pagamento de dividendos de remuneração do sócio da sociedade empresária.