• Nenhum resultado encontrado

Douglas North – A Economia Institucional

2.9 OS PENSAMENTOS ATUAIS

2.9.1 Douglas North – A Economia Institucional

Douglass North abre seu livro “Instituições, Mudança Institucional e Desempenho Econômico” com a frase: “Instituições são as regras do jogo em uma sociedade ou, em definição mais formal, as restrições concebidas pelo homem que moldam a interação humana”101. O objetivo de North, ao estudar as instituições, é demonstrar como o crescimento

e o desenvolvimento de uma sociedade podem ser condicionado por elas102. Sendo as

“instituições” as regras do jogo, os jogadores seriam as “organizações”.

Todas as sociedades para se organizarem e definirem a utilização dos seus recursos têm suas regras; portanto, todas as sociedades têm “instituições”. Essas regras/instituições ordenam o que os indivíduos podem ou não podem fazer. A regras/instituições podem ser de 2 formas: formais ou informais103. São formais aquelas criadas por governos ou autoridades

com poder de coerção (de forma ilustrativa, poderíamos indicar que são leis e constituições, por exemplo, as quais são escritas e chanceladas pelas autoridades).

Já as informais são aquelas que fazem parte da cultura, tradição e/ou do costume de uma sociedade104: são as normas de condutas autoimpostas e que, embora não escritas, são

respeitadas por essas sociedades e autoexequíveis105. Ética, moral, honestidade, importância

do trabalho, justiça, são algumas dessas instituições informais. São as instituições, portanto, através de suas regras, quem criam, conformam e delimitam os mercados.

Outra característica das instituições é que elas reduzem as incertezas106. Para tudo

aquilo que já tiver sido institucionalizado, ou seja, regrado, o indivíduo terá mais certeza do que poderá ou não fazer. O grau da certeza dependerá do maior ou menor grau de informação que o indivíduo tiver sobre as regras/instituições que

101 NORTH, Douglass C. Instituições, mudança e desempenho econômico. São Paulo: Três Estrelas, 2018, p.

13.

102 GALA, Paulo. A teoria institucional de Douglass North. Revista de Economia Política, São Paulo, v. 23, nº

2, p.89-105, abril-jun 2003. O interesse de NORTH pelas instituições se consolida depois de apresentar estudo intitulado “Sources of Productivity Chance in Ocean Schipping, 1600-1850” no qual fundamenta que as instituições teriam sido mais importantes para o desenvolvimento da produtividade da indústria naval mercante norte-americano do que a inovações do que as inovações tecnológicas.

103 NORTH, Douglass C. Op.cit.2018, p. 15. 104 GALA, Paulo. Op.cit.2003.

105 NORTH, Douglass C. Op.cit.2018, p. 78. 106 NORTH, Douglass C. Op.cit.2018, p. 14.

precisa/quer obedecer. Para instituições formais, a obediência será tão mais fácil quanto for o acesso à informação que tiver (por exemplo, consulta de uma lei pela internet – de fácil acesso). Já para a obediência às instituições informais – regras não escritas –, a incerteza aumenta.

A partir desses pressupostos, North (2018) indica que, quanto mais informações o indivíduo tiver e quanto mais forem obedecidas as regras, mais eficientes as instituições serão. Traduzindo para o mercado: quanto mais eficiente um mercado (instituição) for, melhor desempenho ele terá.

Ocorre que mercados não são perfeitos, e o cidadão, na realização de suas escolhas, enfrenta problemas com a obtenção e a assimilação de todas as informações necessárias para suas escolhas econômicas. Neste contexto surgem os custos que os indivíduos têm para obedecer e fazer respeitar as regras das instituições. Esses custos são tidos como custos de transação. Estes dependem de três variáveis: quantificação dos bens e serviços a serem adquiridos (transacionados); tamanho do mercado que determina o intercâmbio interpessoal (uma compra e venda entre familiares ou amigos tem custo de transação muito mais baixo de que uma negociação com partes desconhecidas); e custo de cumprimento das obrigações assumidas (a existência de um sistema jurídico confiável tem papel fundamental no desenvolvimento das instituições)107. North aponta que na década de 1970 os custos de

transação na economia norte-americana alcançaram 45% do PNB108.

O papel das instituições é dar estabilidade às transações, o que necessariamente diminuirá os custos de transação. Nesse ponto, North afirma que em mundo complexo, cheio de informações e com muitos agentes envolvidos, para que as transações ocorram com segurança, é necessário que haja um terceiro garantidor que determine informações mais claras e que faça cumprir os acordos e as regras em caso de descumprimento. Esse terceiro garantidor é, na maioria dos casos, o ESTADO109. Caberia então a este o papel de garantidor e

efetivador “enforcement” das instituições. Por isso, o ESTADO é dotado de poderes de coação e de polícia.

107 NORTH, Douglass C. Op.cit.2018, p. 09.

108 NORTH, Douglass C. Custos de transação, instituições e desempenho econômico. Rio de Janeiro: Instituto

Liberal, 1992, p.08.

Mas as instituições/regras não são estanques e perpétuas. Elas mudam. As mudanças são orientadas por suas organizações (os “jogadores” – tidos como empresas, partidos políticos, sindicatos, universidades, etc.). Toda a organização reúne-se em prol objetivos específicos (lucros, salários, ensino, etc.) e buscam maximizar seus interesses, dentro do campo de atuação conformado pelas instituições110. No seu empenho para a maximização dos

seus interesses promoverão mudanças institucionais111.

Para que boas mudanças institucionais formais aconteçam, é importante que as instituições informais baseadas em valores como trabalho, ética, equidade, honestidade, justiça estejam presentes nos modelos mentais e ideológicos dos indivíduos. North diz que, para que aconteça a evolução de uma sociedade, o arcabouço institucional ideal deveria ser baseado num Estado Democrático, com economias de mercado descentralizadas e regimes de direito de propriedade bem definidos e aplicados112.

A comparação do que aconteceu nas colônias da Inglaterra e a Espanha é um exemplo disso. Analisando os dois países (que têm regimes monárquicos), pode-se perceber que na Inglaterra o estabelecimento de uma Constituição, a evolução das garantias e dos direitos de propriedade e a criação do parlamento nos idos de 1689 representaram um bom caminho para o desenvolvimento da democracia política e o crescimento econômico sustentado. Em contrapartida, a Espanha, que tinha o poder concentrado nas mãos da coroa (economia centralizada), não foi bem sucedida na sua política de desenvolvimento.

Os EUA também é outro bom exemplo. As políticas norte-americanas de redistribuição de terras, de garantia dos direitos de propriedade, das políticas governamentais para aumento da produtividade e desenvolvimento científico (ex.: criação das universidades rurais) fizeram com que os EUA se desenvolvessem muito mais que os países da América Latina.

Boas instituições são fatores determinantes – no longo prazo – para o desempenho econômico113. Tanto melhor será o desempenho econômico quanto for o modelo institucional

e sua eficácia (isso serve inclusive para instituições informais;

110 NORTH, Douglass C. Op.cit.1992, p.09.

111 MUNHOZ, Carolina Pancotto Bohrer. Direito, livre concorrência e desenvolvimento. São Paulo:

Aduaneiras, 2006, p. 74.

112 NORTH, Douglass C. Op.cit.2018, p. 18. 113 Idem, p. 179.

afinal, muitas vezes são delas que partem as essências das instituições formais). North refere que a história econômica descreve que os casos de sucesso e de bom desempenho econômico ocorreram quando mudanças institucionais, reduziram custos de transação e, então, permitiram maiores ganhos comerciais, levando à expansão comercial114.