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7. ATIVIDADES E EMPREENDIMENTOS HIDROVIÁRIOS

7.5. Descrição das Intervenções Hidroviárias

7.5.5. Dragagem

Entende-se por dragagem a retirada, transporte e disposição final de sedimentos do canal de navegação ou do leito dos rios. A dragagem é um método relativamente simples e direto para se melhorar um curso d’água para fins navegação e consiste na retirada de material sólido que é transportado por arraste, mais precisamente na retirada dos bancos ou baixios formados no leito do canal navegável.

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Utiliza-se a dragagem tanto na implantação como na manutenção de canais navegáveis. Esses conceitos de dragagem de implantação e dragagem de manutenção são utilizados principalmente para dragagem portuária. A dragagem de implantação, ou dragagem inicial, é aquela por meio da qual é formado o canal artificial com a retirada de material virgem. Já a dragagem de manutenção, consiste na retirada de material sedimentar depositado recentemente, com a finalidade de manter a profundidade do canal.

Torres (2000) apud Santana (2008) ainda apresenta um terceiro tipo de dragagem, que é a dragagem ambiental, em que sítios contaminados por outras atividades, tais como sedimentos orgânicos e inorgânicos oriundos de atividades diversas, como mineração, agricultura e industriais, são dragados e dispostos adequadamente.

A dragagem apresenta como uma de suas maiores desvantagens o fato de mudar a configuração do fundo do rio sem, ao mesmo tempo, mudar as forças que produziram tal configuração, que dependem da disposição geral do fluxo d’água e do transporte de matéria sólida. Isso significa dizer que a dragagem por si só, não elimina as más condições de navegabilidade de um curso d’água, pois não atua sobre as causas e sim sobre os efeitos (PRADO E COSTA, 1998).

O perfil batimétrico de um rio de fundo móvel toma o aspecto de uma sucessão de longos trechos com boas profundidades, separados por curtos trechos de baixa profundidade, denominados de baixios, que limitam o calado das embarcações. Esses baixios podem se recompor em cada enchente, de modo que a dragagem pode ter que ser feita após cada ciclo de enchente.

Uma das soluções para este problema pode ser o estreitamento simultâneo do leito, o que irá aumentar a capacidade de erosão do curso d’água impedindo, dessa forma, novas formações dos baixios e provocando uma autodragagem. Neste caso os materiais trazidos pela correnteza estarão propensos a se depositar a jusante, numa região que não foi estreitada, e ali formar novos baixios.

Na dragagem deve-se sempre que possível buscar a consonância entre o alinhamento do canal dragado e a corrente, pois em caso contrário, as forças de sedimentação só tenderão a aumentar (PRADO E COSTA, 1998).

Os níveis de referência dos projetos de dragagem nos mares, em sua maioria, podem ser deterministicamente definidos, pois são fenômenos astronômicos, enquanto que nos rios, a formação das superfícies líquidas apresenta

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caráter probabilístico, em virtude de dependerem de fenômenos de natureza meteorológica. Assim devidos a estas incertezas e à aleatoriedade pluviométrica, as quantidades a serem dragadas variam de ano a ano nos rios, em função dos níveis d’água esperados (PRADO E COSTA, 1998).

O período de realização das dragagens para retirada dos baixios deve iniciar- se após a passagem da enchente, ou seja, no início da descarga decrescente após o período de enchente. No Brasil, normalmente as dragagens fluviais ocorrem, quando necessárias, num período relativamente curto, de cerca de três meses, conforme exemplo da Figura 7.2.

Figura 7.2 - Fluviograma do posto limnimétrico de São Félix do Araguaia, no Rio Araguaia, ano de 1983, apresentando o provável período de execução da dragagem.

Fonte: Prado e Costa (1998)

De acordo com Santana (2008), a operação de dragagem tem três instantes distintos, a saber, a retirada do material, o manejo (transporte) do material dragado e por fim o despejo (a disposição final) do material dragado.

O despejo do material dragado é um dos pontos principais a ser considerado, pois em função do local de deposição deste, podem ocorrer complicações futuras que tornarão a dragagem bastante cara, ineficiente e prejudicial ao meio ambiente.

Com relação aos métodos de dragagem, existem basicamente dois tipos principais: o de sucção hidráulica e o mecânico.

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Os tipos mais usuais de dragas são as de sucção e recalque. Esse tipo de draga hidráulica trabalha de uma forma geral recolhendo material do fundo através de tubulações de sucção, sendo a mistura descarregada através de bombeamento, em um batelão ou por uma tubulação até a área de despejo desejada. Essas dragas removem o substrato do fundo retirando inclusive os organismos bentônicos, invertebrados e peixes, porém são menos impactantes do que as dragas mecânicas, pois não provocam grandes alterações das propriedades físicas e químicas das águas. Algumas dragas de sucção podem possuir também desagregadores de material de fundo (“cutter suction dredge”).

Existem também as dragas autotransportadoras de arrasto (“hopper dredge”), que são empregadas normalmente nos casos de não existirem áreas disponíveis para despejo. Essas dragas são geralmente de grande porte devido à existência de cisternas em seu interior para receber o material dragado que é lançado em alguma região possível de despejo. As dragas autotransportadoras são empregadas principalmente para trabalhos em regiões estuarinas e litorâneas.

Outro tipo de dragagem existente é a mecânica, que retira o material do fundo através de dispositivos mecânicos. As dragas mecânicas podem ser classificadas, de acordo com os tipos em: dragas de caçamba de mandíbulas (“clamshell”), escavadeira frontal (“dipper”), retroescavadeira (“hoe”), de pá-de- arrasto (“drag-line”) e de alcatruzes (“endless chain bucket”) (OTTONI, 1986). A dragagem mecânica transfere uma grande quantidade de sedimentos para outra área, receptora, que poderá ser afetada e provocar alterações nas propriedades físicas e químicas de toda a coluna d’água e interferindo na ictiofauna e nas comunidades bentônicas. Normalmente provocam mais alterações ambientais que as de sucção. O Quadro 7.10 apresenta os principais tipos de dragas.

Quadro 7.10 – Principais tipos de dragas.

Categoria Tipo

Mecânica

Dragas de alcatruzes (bucket dredge) Dragas de caçambas (grab dredge) Dragas escavadeiras (dipper dredge) Hidráulica

Dragas de sucção (suction dredge)

Dragas de sucção com desagregadores (cutter suction dredge) Dragas autotransportadoras (trailing hopper dredge) Fonte: ALAD/CBD (1972) apud Santana (2008)

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Para se determinar o tipo de draga a ser utilizado, devem ser analisados alguns aspectos como: profundidade da dragagem, quantidade e característica do material a ser removido, grau de poluição a ser gerado no ecossistema aquático, volume de trafego de embarcações na via e distância entre o local de despejo de material (OTTONI, 1986).