5. TRANSPORTE HIDROVIÁRIO INTERIOR
5.1. Navegação
O conceito sobre navegação permite entender o trajeto habitual feito por uma "nave", transportando cargas ou passageiros sobre a água. O termo "navegação" engloba toda a técnica do transporte hidroviário, incluindo o aproveitamento, adaptação e construção das vias navegáveis, bem como a construção e condução das embarcações (SILVA, 2006; SANTANA, 2008). O transporte hidroviário compreende a navegação de longo curso, cabotagem e navegação interior.
Habitualmente chamada de transporte marítimo internacional, a navegação de longo curso é a efetuada por navios mercantes entre portos de diferentes países. As vias de navegação marítima são os mares e os oceanos e só haverá problema para a navegação nas áreas de pequena profundidade, próximo à costa.
Cabe destacar a preponderância do transporte marítimo no comércio internacional. De acordo com o Sistema de Análise das Informações de
Comércio Exterior via Internet (ALICEWeb)2, do Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior – MDIC, passam pelo portos brasileiros cerca de 95% da quantidade de mercadorias brasileiras exportadas.
Já o transporte de cabotagem é aquele realizado entre portos de um mesmo país, ou seja, as cargas têm como origem e destino o próprio mercado interno, utilizando a via marítima ou vias navegáveis interiores. O termo cabotagem é derivado do nome de família do navegador veneziano do século XVI Sebastião Caboto. Existe ainda o termo "cabotagem internacional", que é utilizado frequentemente para designar a navegação costeira envolvendo dois ou mais países.
O transporte hidroviário interior é o realizado através de rios, lagos, lagoas, baías, angras, enseadas e canais de um país, que correspondem às possíveis vias da navegação fluvial. Além do conjunto de tipos de vias, o
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ALICE WEB. Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior. Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Disponível em:
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transporte hidroviário interior compreende: embarcações fluviais, terminais, instalações de construção e reparo naval, suporte tecnológico inerente, recursos humanos empregados no setor e organizações envolvidas (FILIPPO, 1999).
5.2. Transporte Hidroviário Interior
Na história da humanidade, o transporte por água pode ser considerado como o mais antigo. Muito antes da descoberta da roda, o homem já se deslocava sobre a água com o emprego de materiais flutuantes.
Durante milhares de anos, os rios e lagos foram estradas naturais por onde as populações, fixadas junto às suas margens, escoaram sua produção, ou mesmo deslocaram-se para penetrar em novas terras, com o intuito de colonizá-las. Assim, os rios sempre se constituíram como vias de “penetração e transporte” e, dessa forma, as cidades se estabeleciam em suas margens, ao longo das quais se desenvolveram as grandes civilizações (FILIPPO, 1999; SILVA, 2004; SANTANA, 2008).
Os principais usos da água dos rios sempre foram o consumo humano, a dessedentação de animais e a irrigação, mas é também da época das primeiras civilizações que se tem notícia dos primeiros transportes de carga e pessoas, com embarcações movidas a remo ou vela (FILIPPO, 1999; SILVA, 2004; SANTANA, 2008).
Existem aproximadamente 450 mil quilômetros de vias navegáveis interiores no mundo, porém, somente 190 mil quilômetros são efetivamente utilizados para o transporte de carga, com destaque para os Estados Unidos, a região da ex-União Soviética e a Europa Ocidental (FILIPPO, 1999). A Figura 5.1 apresenta a extensão dos maiores sistemas de navegação interior no mundo.
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Figura 5.1 - Extensão, em quilômetros (km), dos principais sistemas de navegação (Europa Ocidental, Estados Unidos, China e Rússia), divididos em calados maiores e menores que 2,75m.
Fonte: World Bank, Ports, Maritime & Logistics: Inland Water Transportation (IWT) Development (2000) apud RODRIGUE (2013)
Conforme se verifica na Figura 5.1, a Rússia tem o mais extenso sistema fluvial do mundo, mas o inverno rigoroso impede o uso comercial eficaz da maior parte dos cursos de água. Embora o sistema fluvial chinês seja extenso, apenas uma pequena parte dele, 5.000 quilômetros, tem profundidade adequada para acomodar navios fluviais de mais de 500 toneladas com calado superior a 2,75 metros. Os sistemas de navegação fluvial dos Estados Unidos e da Europa Ocidental são de menor escala, mas capazes de suportar maiores navios fluviais na maioria de seus cursos de água. Cerca de 90% de toda a carga transportada nas vias navegáveis interiores do mundo utiliza o sistema dos Rios Mississipi e Ohio, principalmente por meio de transporte a granel em barcaças. Portanto, não é necessariamente o comprimento do sistema hidroviário que importa, mas as regiões e mercados comerciais que eles
atendem3.
Na Europa e nos Estados Unidos, o modo hidroviário integra a malha de transportes do continente e do país, respectivamente, operando de forma interligada com os demais modos. Nesses locais, a hidrovia é uma das vertentes do aproveitamento múltiplo das águas. Embora as obras fluviais
3 Tradução do texto “Length of the Major Inland Waterway Systems, 2000” – disponível em <http://people.hofstra.edu/geotrans/eng/ch3en/conc3en/lengthwaterways.html>
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tenham como consequência também a navegação, o objetivo principal é o desenvolvimento regional, a ampliação das áreas agriculturáveis, o controle das cheias, a estabilização do leito e a utilização racional e harmoniosa das águas (BRASIL, 2006a).
O documento elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente relaciona alguns pontos referentes à navegação fluvial no mundo para reflexão (BRASIL, 2006a). Esses pontos são replicados a seguir.
• Hidrovias estão integradas a uma vasta malha de transportes, cujas modalidades não competem entre si. A intermodalidade é estimulada pelos organismos governamentais;
• Hidrovias encontram-se relacionadas à utilização múltipla dos recursos hídricos cujo aproveitamento tem por objetivo o desenvolvimento regional;
• Hidrovias congregam polos industriais e agrícolas em suas margens e área de influência direta e visam reduzir custos de exportação e do mercado interno;
• O esforço governamental e privado é no sentido de construir ou reformar hidrovias para admitirem comboios de elevada capacidade de carga e segurança/garantia de transporte;
• Terminais hidroviários operam com elevadas cadências de embarque e desembarque transferindo cargas para as unidades de armazenagem e interface de forma a aliviar as operações portuárias marítimas;
• Algumas bacias hidrográficas estratégicas para o desenvolvimento do país são planejadas por agências voltadas ao desenvolvimento regional, nas quais as hidrovias encontram-se vinculadas;
• As hidrovias americanas encontram-se sob responsabilidade do Exército;
• As maiores rendas per capita do interior americano são encontradas nas cidades marginais aos rios navegáveis;
• Os rios em estado natural sofrem intervenções de contenção de margens e estabilização do curso fluvial no sentido de minorar a degradação ambiental e geomorfológica provocada pela ocupação antrópica e carregamento sólido do rio;
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• Os fundamentos ambientais que norteiam as obras hidroviárias encontram-se vinculados ao desenvolvimento social e econômico das populações da bacia.
• Os conceitos ambientais fundamentam-se na revitalização do curso fluvial adaptando-o ao desenvolvimento sustentado;
• Na Europa e Estados Unidos, a navegação fluvial moderniza-se de forma constante e progressiva visando atender a movimentação de cargas em larga escala. São mais de 2,65 bilhões de toneladas anuais; • Na Europa, os investimentos em hidrovias são amortizados a taxas
anuais de retorno da ordem de 3% visando uma “viabilização social” do empreendimento, como ocorre na Bélgica”.