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3 QUESTÕES RELEVANTES AO PROCESSO INDENIZATÓRIO

3.4 DUPLA INDENIZAÇÃO

Questão interessante a ser abordada é se existe possibilidade de ser cumulada indenização por dano moral com benefício/auxílio previdenciário158, nos casos em que o trabalhador tiver direito a este. É o que se passa a observar a seguir.

154

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> acesso em 28 mar. 2009.

155

CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 172.

156

CUNHA, Maria Inês Moura S. A. da. Direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 219.

157

DALLEGRAVE NETTO, José Affonso. Responsabilidade civil no direito do trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 202.

158

Os beneficiários do Regime Geral da Previdência Social (RGPS) são as pessoas que se encontram cobertas pelo seu sistema de cobertura, isto é, as pessoas que podem receber uma prestação previdenciária. Os beneficiários são os segurados e dependentes. SAVARIS, José Antonio. Direito processual previdenciário. Curitiba: Juruá, 2008, p. 325.

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Primeiro é fundamental dizer que “Com o intuito de proteger o trabalhador, tem o empregador a obrigação constitucional de contratar seguro contra acidente do trabalho, nas formas do art. 7º, inciso XXVIII159, da Constituição do Brasil”.160

Sobre a cumulação das indenizações previdenciária e civil o STF já tem entendimento firmado, como se pode ver: “Súmula 229 Indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador”.161

Tendo como base a súmula supracitada nota-se o seguinte entendimento:

Embora a indenização não tenha o caráter de reparação integral do dano, seu pagamento exonera o empregador da obrigação de pagar outra indenização relativa ao acidente, salvo se o provocou intencionalmente. A Súmula nº 229 do STF estabelece que a indenização acidentária não exclui a do Direito comum, ocorrendo dolo ou culpa grave do empregador.162

Porém, deve-se levar em conta que a referida súmula é anterior à Constituição Federal de 1988, atualmente vigente, sendo que através desta:

[...] já não subsiste a restrição constante da Súmula 229 do STF (“A indenização acidentária não exclui a do direito comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador”), porquanto da parte final do art. 7º, XXVIII, da Constituição Federal resulta que a responsabilidade do empregador pode ser conhecida ainda que sua culpa tenha sido leve ou mesmo levíssima.163 (destaque no original)

159

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando

incorrer em dolo ou culpa. Disponível em: <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 14 mar. 2009.

160

SILVA, José Antônio Ribeiro de Oliveira. A saúde do trabalhador como um direito humano: conteúdo essencial da dignidade humana. São Paulo: LTr, 2008. p. 212.

161

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_201_300> acesso em 26 mar. 2009.

162

GOMES, Orlando; Élson Gottschalk. Curso de direito do trabalho. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.528.

163

ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Responsabilidade civil do empregador e acidente de trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 53.

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O inciso XXVIII do art. 7º da CF diz que é direito do trabalhador “[...] seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”.164

Conforme visto no dispositivo constitucional supra “O seguro é obrigatório, é pago pelo empregador sob a forma de uma contribuição compulsória prevista pela legislação de seguridade social165, recolhida mensalmente para a previdência social, com alíquotas variáveis de acordo com o grau de risco da atividade da empresa”.166

É importante salientar que “[...] para cobrir as demais reparações por danos emergentes, lucros cessantes, danos morais, materiais, estéticos, despesas com tratamentos médico não cobertos pelo SUS, próteses, etc., responde o empregador civilmente, de forma independente”.167

Como exemplo, podemos dizer que “[...] em caso de soterramento de obreiro por culpa do empregador, é devida a indenização a quem sofreu a perda, independentemente do benefício previdenciário”.168

Outro caso em que:

[...] viável será a soma da indenização securitária com a civil, quando a lesão ao empregado foi causada por terceiro, estranho à relação empregatícia, no decurso do expediente normal. Na hipótese, o seguro previdenciário foi satisfeito pelo empregado, mediante descontos em folha. As causas de indenização diferem, pois uma é vínculo trabalhista com desconto em folha, e outra é o ato ilícito gerador da responsabilidade, fundada no art. 186 da lei civil. Inocorre bis in idem no particular, inexistindo razão a justificar a impunidade do causador do dano.169

Quando do acidente resultar a morte do trabalhador é:

164

BRASIL. Constituição Federal 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> acesso em 28 mar de 2009.

165

BRASIL. Lei orgânica da seguridade social. Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de:

II – para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 1998).

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8212cons.htm> Acesso em: 25 abril 2009.

166

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 33. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 572- 573.

167

MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. São Paulo: LTr, 2004, p. 384.

168

BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de responsabilidade trabalhista: danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2008, p. 73.

169

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Importante consignar também que a pensão que a previdência irá pagar à viúva e aos filhos do falecido, derivada da contribuição deste, não se deve confundir com aquela decorrente da responsabilidade civil, assim, independentemente da pensão previdenciária, o empregador que seja reconhecido culpado pelo infortúnio que atingiu o empregado poderá ser condenado a reparar a família do acidentado/falecido, por dano material e moral.170

Como última importante consideração a respeito do tema é primordial ter em mente que:

A reparação infortunística a cargo da previdência, proveniente do seguro obrigatório, decorre da teoria do risco integral171, de natureza objetiva, sendo devida mesmo nos casos de culpa da vítima, mas tal reparação independe da responsabilidade do empregador pelos danos, na interpretação literal da lei (art. 7º, XXVIII, da Constituição da República). Independe, porque o seguro é pago em virtude dos riscos normais do trabalho, enquanto a indenização patronal decorre de direitos provocados pelo empregador.172

Desta forma, tem-se firmado o entendimento majoritário sobre o presente tópico, o qual é de fundamental importância para o acidentado, já que para ele é necessário ter conhecimento sobre o tema para que não deixe de pleitear algum dos direitos que lhe é cabível.

170

MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral trabalhista: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2007, p. 38.

171

A teoria do risco integral defende que para haver dever de indenizar, basta a verificação do dano decorrente do exercício de certas atividades, tornando desnecessária até mesmo a existência de nexo de causalidade, subsistindo a reparação mesmo nas hipóteses de culpa exclusiva da vítima, fato de terceiro, caso fortuito, força maior. BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de responsabilidade trabalhista: danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2008, p. 43.

172

BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de responsabilidade trabalhista: danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2008, p. 73.

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4 A RESPONSABILIDADE CIVIL E A RESPONSABILIZAÇÃO DO EMPREGADOR NOS CASOS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS SOFRIDOS PELO EMPREGADO DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO

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