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SEGURANÇA DO TRABALHO E A RELAÇÃO COM O

3 QUESTÕES RELEVANTES AO PROCESSO INDENIZATÓRIO

3.3 SEGURANÇA DO TRABALHO E A RELAÇÃO COM O

Importante também é observar as obrigações do empregador e dos empregados no que se refere à proteção do trabalhador, bem como do ambiente de trabalho, a fim de que se

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BRASIL. Código Civil de 1916. Art. 177. As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20 (vinte) anos, as reais em 10 (dez), entre presentes, e entre ausentes, em 15 (quinze), contados da data em que poderiam ter sido propostas. (Redação dada pela Lei nº 2.437, de 7.3.1955). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L3071.htm>. Acesso em: 02 maio 2009.

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MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador. São Paulo: LTr, 2004, p. 463.

129

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho CLT. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> acesso em 22 mar. 2009.

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OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 361.

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busque evitar o acidente laboral.

Tal tema tem importância substancial para empregado e empregador, pois “Prevenir o dano é mais importante do que repará-lo”,131 já que os custos para o patrão serão menores e o empregado se manterá saudável.

“Segundo informações da OIT132, acidentes do trabalho e doenças profissionais matam cerca de cem mil trabalhadores por ano, enquanto um milhão e meio ficam incapacitados por toda a vida.”133

Apesar da exigência legal de adoção, pelo empregador, de normas de higiene e segurança no trabalho, e da imposição de indenização por danos causados, em casos de conduta comissiva ou omissiva do empregador, o número de acidentados é absurdo. O aspecto da prevenção, em regra, é relegado a segundo plano pelas empresas, sendo a razão de tais números.134

A segurança do trabalho não visa exterminar o risco de acidentes ou doenças adquiridas no ambiente de trabalho, pois “[...] não existe fórmula capaz de eliminar, radicalmente, os riscos de acidentes no trabalho [...]. O que a sociedade pode e deve fazer é adotar medidas de higiene e segurança que resguardem, o mais possível, a vida e a saúde do trabalhador”.135

Sobre o assunto é bom saber que “A segurança e medicina do trabalho é a denominação que trata a proteção física e mental do homem, com ênfase especial para as modificações que lhe possam advir do seu trabalho profissional”.136 Seu principal objetivo diz respeito às doenças profissionais e aos acidentes do trabalho.137

Pode-se dizer que a segurança do trabalho “[...] tem caráter eminentemente técnico e visa ao estabelecimento de uma série de providências destinadas a evitar danos à

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ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Responsabilidade civil do empregador e acidente de trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 14.

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A Organização Internacional do Trabalho é um organismo internacional criado pelo Tratado de Versailles (1919), com sede em Genebra, ao qual podem filiar-se todos os países membros da Organização das Nações Unidas – ONU. [...] Destina-se à realização da justiça social entre os povos, condição básica para a manutenção da paz internacional. NASCIMENTO, Mascaro Nascimento. Iniciação ao direito do trabalho. 33. ed. São Paulo: LTr, 2007. P. 137.

133

GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de direito do trabalho. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 531.

134

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Curso elementar de direito previdenciário: conforme a legislação em vigor até abril 2005. São Paulo: LTr, 2005, p. 247.

135

GONÇALES, Odonel Urabno. Manual de direito previdenciário. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 180.

136

CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 172.

137

CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 33. ed. atual. por Eduardo Carrion. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 172.

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saúde do trabalhador [...] objetivando exatamente à prevenção de acidentes-tipo, ou seja, originados de causa violenta”.138

A CLT trata do tema no Capítulo V denominado “Da segurança e medicina do trabalho” que compreende os arts. 154 a 201.

O artigo 157 da CLT disserta sobre o assunto da seguinte maneira:

Cabe às empresas: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

I - cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

III - adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo órgão regional competente; (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

IV - facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente. (Incluído pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)139

Observando o artigo pode-se dizer que ele:

Dá às empresas uma dupla obrigação assim interpretada:

- cumprir as obrigações que lhes cabem conforme as normas de segurança e medicina do trabalho;

- fazer com que os empregados, cada um no seu cargo ou função, cumpram as suas.140

Isto quer dizer que “[...] em tais termos, garante-se ao trabalhador o meio ambiente do trabalho saudável, gerando-se a obrigação do empregador em proporcioná-lo, através da obediência às normas de saúde, higiene e segurança”.141

É importante então listar algumas das medidas específicas que devem ser tomadas pelas empresas que, por exemplo, “[...] são obrigadas a fornecer aos seus empregados, gratuitamente, equipamentos de proteção individual (EPIs), como forma de prevenir acidentes e proteger o trabalhador contra danos à saúde.”142 Porém, o dever do empregador não se restringe a isso, como se pode ver:

138

CUNHA, Maria Inês Moura S. A. da. Direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 218.

139

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> acesso em 22 mar. 2009.

140

ZOCCHIO, Álvaro. Segurança e saúde do trabalho: como entender e cumprir as obrigações pertinentes. São Paulo: LTr, 2001, p. 34.

141

PEREIRA, Alexandre Demtrius. Tratado de segurança e saúde ocupacional: aspectos técnicos e jurídicos, volume I: NR-1 a NR-6. São Paulo: LTr, 2005, p. 28.

142

MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral trabalhista: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2007, p. 115.

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Cabe à empresa também cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; instruir seus empregados, por meio de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelo Ministério do Trabalho, por meio do órgão regional competente; facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente (art. 157 da CLT).143

Torna-se então importante ressaltar que “[...] não basta fornecer o equipamento de proteção, porquanto isso por si só não isenta o empregador do dever indenizatório na eventual ocorrência de acidente”.144

Outro dever do empregador é:

[...] de constituir uma comissão interna de prevenção de acidentes (Cipa), de acordo com as instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais da obra, de acordo com o art. 163145 da CLT, bastando ter mais de 20 empregados em cada estabelecimento.146

As formas de prevenção e a constituição de clínicas podem ter sua função bem esclarecida da seguinte forma:

A ação preventiva, através de medidas de higiene industrial, deve dirigir-se para o lado material da vida fabril e levar em conta os aspectos físico e psíquico da atividade do trabalhador. Já a instalação de clínicas do trabalho visa à educação do operário e à restauração do seu organismo pela reeducação e readaptação.147

Caso as normas de segurança não sejam respeitadas “[...] estará o empregador sujeito a eventual responsabilização em ação de reparação de danos materiais e morais em ação de cunho acidentária”.148

143

MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 404-405.

144

MELO, Nehemias Domingos de. Dano moral trabalhista: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2007. p. 115.

145

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Art. 163 - Será obrigatória a constituição de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), de conformidade com instruções expedidas pelo Ministério do Trabalho, nos estabelecimentos ou locais de obra nelas especificadas. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> Acesso em 19 abril 2009.

146

MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 404.

147

GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de direito do trabalho. 18. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p. 530.

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Além desta eventual responsabilização o empregador poderá responder ações relativas à segurança do trabalho.

O Supremo Tribunal Federal em sua Súmula 736149 firmou entendimento de que compete à Justiça do Trabalho julgar ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores. Assim, está legitimado o Ministério Público do Trabalho, em se tratando de interesses individuais homogêneos e interesses coletivos, para essas sanções.150

Importante salientar que:

A efetividade no cumprimento das normas de segurança e saúde do trabalho, dependem da fiscalização do Ministério do Trabalho, o qual dispõe de um corpo de fiscais, com competência administrativa para fiscalizar, impor multas e até mesmo interditar estabelecimentos, cujos níveis de insalubridade ou periculosidade do ambiente estejam acima dos níveis tolerados.151

Nunca é demais lembrar que as obrigações não se restringem ao empregador, pois:

O empregado, por sua vez, deve: observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções expedidas pela empresa quanto às precauções sobre acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos sobre segurança e medicina do trabalho.152

O fundamento legal de tais obrigações do empregado é encontrado nos incisos do artigo 158 da CLT que dizem:

Art. 158 - Cabe aos empregados: (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) I - observar as normas de segurança e medicina do trabalho, inclusive as instruções de que trata o item II do artigo anterior153; (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 736. Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos

trabalhadores. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_701_800> Acesso em: 19 abril 2009.

150

CUNHA, Maria Inês Moura S. A. da. Direito do trabalho. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 225.

151

SANTOS, Marco Fridolin Sommer. Acidente do trabalho entre a seguridade social e a responsabilidade

civil: elementos para uma teoria do bem-estar e da justiça social. São Paulo: LTr, 2005, p. 92.

152

MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 23. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 405.

153

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.II - instruir os empregados, através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho ou doenças ocupacionais; Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> acesso em 28 mar. 2009.

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Il - colaborar com a empresa na aplicação dos dispositivos deste Capítulo. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977)154

Por não ser responsabilidade exclusiva do empregador, “Pratica falta o empregado que não obedece às normas de segurança e higiene do trabalho, inclusive quanto ao uso de equipamentos”.155

Além da caracterização de faltas ao empregado que descumpre as exigências de segurança do trabalho, tanto as previstas em lei, como as determinadas pelo empregador, é importante lembrar que “[...] o trabalhador descuidado coloca em risco sua própria integridade física e a de seus companheiros, de sorte que a responsabilidade pela segurança do ambiente de trabalho não é apenas do empregador, mas de cada trabalhador”.156

Então, por ser obrigação tanto do patrão como do funcionário “[...] observa-se que a prevenção de infortúnios no trabalho encerra valor jurídico muito maior que a mera reparação do dano, vez que o respeito à dignidade do trabalhador pressupõe a preservação de sua saúde física”.157

Assim, ficam demonstradas as principais obrigações tanto de empregado quanto de empregador na prevenção dos acidentes do trabalho, medidas estas que visam primordialmente a manutenção da saúde do trabalhador, direito fundamental de cada cidadão.

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