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Responsabilidade subjetiva do empregador

3 QUESTÕES RELEVANTES AO PROCESSO INDENIZATÓRIO

4.2 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA

4.2.2 Responsabilidade subjetiva do empregador

Visto o que é o instituto da responsabilidade civil subjetiva e quando ela se caracteriza, nos cabe agora observar se ela é aplicada na relação de trabalho e principalmente nos casos em que o empregado sofre danos morais decorrentes de acidente do trabalho.

Com a teoria da socialização dos riscos, uma das bases da responsabilidade objetiva, que será mais bem abordada no tópico 4.3 do presente trabalho, a responsabilidade dos empresários (empregadores) pelos danos relativos à exploração da atividade empresarial

204

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm> Acesso em: 26 abril 2009.

205

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm> Acesso em: 26 abril 2009.

206

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho, ou doença ocupacional. 4. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 150.

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é, em regra, objetiva. Porém nos casos de acidente de trabalho eles respondem apenas quando tiverem culpa ou dolo na adoção das medidas de segurança do trabalho.207

Apesar de os empregadores, na maioria das vezes, terem condição financeira boa o suficiente para se encaixar na teoria da socialização dos riscos, um dos pilares da objetivação da responsabilidade civil:

Querer responsabilizar objetivamente o empregador por qualquer acidente sofrido pelo empregado é fadar a relação de trabalho ao insucesso, tornando-a inviável. A ele cabe a responsabilidade pela falha na prevenção, pelo excesso de jornada imposto, pela inobservância das regras de ergonomia, segurança e outras, que comprometam a normalidade do ambiente do trabalho ou das condições inseguras para o trabalhador.208

Tal entendimento surge pela interpretação do art. 7º, XXVIII, que diz serem direitos do empregado “[...] seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa”.209

Então “Para os adeptos da teoria subjetiva, o empregador somente responde pelos danos que dolosa ou culposamente causar ao trabalhador”210, sendo a prova da culpa à cargo do empregado.211

Observando o inciso constitucional supra “[...] se conclui que, se esse Estatuto Maior estabeleceu, como princípio, a indenização devida pelo empregador ao empregado, com base no direito comum, apenas quando aquele obrar com dolo ou culpa, não se pode prescindir desse elemento subjetivo com fundamento no art. 927, parágrafo único, do CC”.212

Então, pode-se entender que:

Não fosse o texto constitucional citado condicionar a obrigação de indenizar aos casos de culpa ou dolo do empregador, estaríamos diante de uma hipótese de responsabilidade objetiva (CC, art. 927, parágrafo único) sempre que a atividade exercida pelo empregador expusesse o empregado a um risco de se acidentar.

207

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, v.2, p. 352.

208

DAL COL, Helder Martinez. Responsabilidade civil do empregador: acidentes do trabalho. Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 195.

209

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 25 abril 2009.

210

ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Responsabilidade civil do empregador e acidente de trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 39.

211

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional. 3. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 95.

212

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 177.

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Todavia, a lei constitucional é específica, caso em que inaplicável é a subsidiariedade do direito comum.213

Está corrente vem sendo adotada majoritariamente pelo Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, inclusive em alguns casos adotando a teoria da culpa presumida do empregador, sendo invertido o ônus da prova214 ao empregador, que terá de demonstrar não ter contribuído para a ocorrência do evento danoso. Tal teoria será vista a seguir.

Desta forma, puderam ser vistos os principais argumentos dos defensores da responsabilidade civil subjetiva por parte do empregador nos casos de dano moral decorrente de acidente do trabalho.

4.2.2.1 Teoria da culpa presumida

Observada a aplicação da responsabilidade civil subjetiva ao empregador nos casos de dano moral decorrente de acidente do trabalho, nos cabe agora entender do que se trata a teoria da culpa presumida com inversão do ônus da prova.

Esta teoria:

Trata-se de uma espécie de solução transacional ou escala intermediária, em que se considera não perder a culpa a condição de suporte da responsabilidade civil, embora aí já se deparem indícios de sua degradação como elemento etiológico fundamental da reparação e aflorem fatores de consideração da vítima como centro da estrutura ressarcitória para atentar diretamente para as condições do lesado e a necessidade de ser indenizado.215

Desta forma, “Quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação não precisa provar a ação e omissão e o dano resultante da conduta do réu, porque sua culpa já é presumida”.216

Para esclarecer a hipótese é bom lembrar que:

213

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 33. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 573.

214

[...] prova é o meio com que as partes procuram firmar a convicção do juiz. [...] Objetiva convencer o julgador da existência de um direito ou da veracidade de um fato. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático

de processo do trabalho. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 234-235.

215

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 155.

216

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, v. IV.

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Dentro da teoria clássica da culpa, a vítima tem de demonstrar a existência dos elementos fundamentais de sua pretensão, sobressaindo o comportamento culposo do demandado. Ao se encaminhar para a especialização da culpa presumida, ocorre uma inversão do onus probandi. Em certas circunstâncias, presume-se o comportamento culposo do causador do dano, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa, para se eximir do dever de indenizar.217

A teoria ora em enfoque diz respeito “[...] à atribuição do encargo probatório. Trata-se de problema atinente ao ônus da prova, invertido em determinadas hipóteses de responsabilidade subjetiva, em que a vítima teria extrema dificuldade em demonstrar não ter agido com culpa”.218

Fundamento importante para a aplicação deste entendimento é de que “[...] em juízo, a prova da culpa do empregador carreada ao empregado é extremamente onerosa, tendo o empregador maior aptidão à prova”.219

Bom lembrar “[...] que a inversão do ônus da prova com base na responsabilidade contratual já vigora nas demais relações civis e comerciais, inclusive no Direito do Trabalho, não podendo ser diferente nos acidentes de trabalho, nos quais encontram-se os mais justificados fundamentos dessa inversão, como é óbvio”.220

Detalhadamente podemos dizer que:

A inversão do ônus da prova constitui uma exceção à regra trazida pelo CPC que de forma expressa distribui o ônus da prova (art. 333221), e pela CLT (art. 818222), e poderá haver a inversão sempre que presentes os requisitos do art. 6º do CDC223. A regra do CDC que permite a inversão do ônus da prova é compatível com o Processo do Trabalho, onde a condição de hipossuficiente do trabalhador, em sentido

217

STOCO, Rui. Tratado de responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 156.

218

BELMONTE, Alexandre Agra. Curso de responsabilidade trabalhista: danos morais e patrimoniais nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2008, p. 45.

219

SCHIAVI, Mauro. Ações de reparação por danos morais decorrentes da relação de trabalho: os novos desafios da justiça do trabalho após o Código Civil de 2002 e a Emenda Constitucional 45/2004. São Paulo: LTr, 2007, p. 32.

220

MELO, Raimundo Simão de. Responsabilidade objetiva e inversão do ônus da prova nos acidentes de trabalho. Revista Nacional de Direito do Trabalho. Ribeirão Preto: Nacional de Direito Livraria Editora Ltda. v. 100, ano 9, ago. 2006, p. 54.

221

BRASIL. Código de Processo Civil. Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5869.htm> Acesso em 25 maio 2009.

222

BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. Art. 818 - A prova das alegações incumbe à parte que as fizer. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm> Acesso em 25 maio 2009.

223

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8078.htm> Acesso em: 25 maio 2009.

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econômico, é presumida, pois necessita do emprego e do ganho que ele proporciona para sua sobrevivência e de sua família. Além disso, é hipossuficiente em sentido técnico, pois desconhece o sistema de organização e gestão empresarial.224

Inverter o ônus da prova ao empregador é importante “[...], pois cabe a este tomar todas as medidas necessárias para evitar os acidentes de trabalho e lesões ao trabalhador, e ainda manter um meio ambiente salubre de trabalho [...]”225 desta maneira, sendo mais fácil para ele provar que tomou as medidas que lhe eram devidas do que o empregado fazer prova negativa.226

Deve-se ter em mente que o fato de o ônus da prova ser do patrão:

[...] não significa dizer que o empregador irá fazer prova contra si mesmo, apenas terá que comprovar em juízo que observou todas as normas de segurança do trabalho e que também o meio ambiente do trabalho estava equilibrado quando do sinistro. Caso o empregador faça essa prova, o ônus da prova de demonstrar a culpa transfere-se ao empregado.227

A teoria, ora em questão tem importância aumentada se observada da seguinte maneira:

O princípio da inversão do ônus da prova, bastante impulsionado pelo Código do Consumidor, tende a ganhar mais acolhida nas ações indenizatórias decorrentes dos acidentes do trabalho. A presunção da culpa do empregador poderá representar um ponto de consenso possível ou de trégua entre os defensores da teoria do risco e os adeptos da responsabilidade subjetiva.228

Ainda cabe dizer que “Ao analisar a prova ou decidir sobre sua pertinência, poderá o juiz aplicar um princípio em vez da lei expressa [...]”.229

224

SAKO, Emília Simeão Albino. A prova no processo do trabalho: os meios de prova e o ônus da prova nas relações de emprego e trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 31.

225

SCHIAVI, Mauro. Ações de reparação por danos morais decorrentes da relação de trabalho: os novos desafios da justiça do trabalho após o Código Civil de 2002 e a Emenda Constitucional 45/2004. São Paulo: LTr, 2007, p. 31.

226

SAKO, Emília Simeão Albino. A prova no processo do trabalho: os meios de prova e o ônus da prova nas relações de emprego e trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008, p.31.

227

SCHIAVI, Mauro. Ações de reparação por danos morais decorrentes da relação de trabalho: os novos desafios da justiça do trabalho após o Código Civil de 2002 e a Emenda Constitucional 45/2004. São Paulo: LTr, 2007, p. 33.

228

OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente do trabalho, ou doença ocupacional. 4. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 191.

229

SAKO, Emília Simeão Albino. A prova no processo do trabalho: os meios de prova e o ônus da prova nas relações de emprego e trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 32.

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Observado o entendimento da teoria da culpa presumida, que vem sendo adotada em alguns casos pelo TRT12 e também pelo TST, pode-se dizer que é uma interpretação intermediária entre a responsabilidade subjetiva tradicional e a responsabilidade objetiva.

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