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Duplo olhar do mesmo mundo: como era a prática dos tutores

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

5. Duplo olhar do mesmo mundo: como era a prática dos tutores

Neste capítulo apresentaremos os resultados relativos à descrição do contexto da pesquisa e do perfil dos sujeitos tutores. Descreveremos também, os resultados das sessões de observação da atuação dos tutores, do desempenho de seu papel, funções, atribuições e práticas efetivadas durante as Semanas Presenciais, Encontros Presenciais Mensais, Estágio

Supervisionado e momentos de avaliação somativa e formativa.

Os dados foram organizados de modo a contemplar três eixos de análise. O terceiro deles foi subdividido em sete tópicos que se interrelacionam e traduzem algumas atitudes e práticas dos tutores no desempenho das funções na mediação pedagógica, orientação acadêmica e avaliação da aprendizagem como mostramos a seguir:

1 - O contexto da investigação: AFOR UFU 2 - O perfil dos tutores participantes da pesquisa

3 - A diversidade de papéis, funções e práticas nos encontros presenciais a) Condições de trabalho e apoio administrativo

b) Prática reflexiva, interativa, colaborativa e transformadora c) Uso das TIC

d) Orientação e avaliação das provas e do CAU

e) Orientação e avaliação das atividades de planejamento e estágio supervisionado f) Orientação e avaliação da monografia e do memorial.

Enfatizamos que tais eixos não foram estudados de forma isolada. Na apresentação de cada um, enfatizamos determinados aspectos em relação aos demais elementos que também se explicitam nos recortes das situações observadas. Nos trechos recortados, todos os elementos dos tópicos se entrelaçam e estão imbricados em cada fato, evento, atividade, atitude e ação das tutoras e cursistas. Possibilitam diferentes olhares e são passíveis de diversificadas interpretações e análises. São ao mesmo tempo, causa e conseqüência. Influenciaram-se e foram determinantes das práticas pedagógicas dos tutores naqueles contextos de tutoria presencial do curso Veredas.

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia70, MG, foi criada em 1969, por decreto presidencial, uma Fundação Pública, integrante da Administração Federal Indireta, vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Possui autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, nos termos da lei. Sua organização e funcionamento regem-se pela legislação federal, por seu Estatuto, Regimento Geral e normas complementares.

A estrutura acadêmica da universidade é composta por dez institutos e dezoito faculdades, que desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e extensão, cursos de especialização lato sensu. Possui ao todo, 49 cursos de graduação, 22 programas de mestrado e doze de doutorado, distribuídos nas diferentes áreas do conhecimento. A comunidade acadêmica da UFU é constituída por cerca de 16.000 alunos matriculados nos diferentes cursos de graduação, pós-graduação stricto e lato sensu, educação profissional de nível técnico e ensino fundamental (Escola Básica de Educação - ESEBA). Ao todo são 1.300 docentes e 3.300 funcionários técnico-administrativos, conforme informações do Projeto de

Avaliação Institucional - 2008.

Em sua hierarquia administrativa, a UFU conta com cinco Pró-Reitorias responsáveis por supervisionar e coordenar as respectivas áreas de atuação, a saber: Pró- Reitoria de Graduação; Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação; Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis (PROEX); Pró-Reitoria de Recursos Humanos e Pró-Reitoria de Planejamento e Administração.

A PROEX, sediada no Campus Santa Mônica, acolheu e coordenou o curso

Veredas - Formação Superior de Professores, na UFU, contemplada como Pólo B, Lote 02, a

partir de 15/10/2001, por meio de processo licitatório (BRASIL.UFU. PORTAL PROEX,

2007)71 Em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais (SEE-MG), a

UFU ficou responsável por implementar o Curso Veredas na região do Triângulo Mineiro, abrigando 52 municípios72.

70

Uberlândia, MG, localiza-se no Triângulo Mineiro, tem uma população em torno de 700 mil habitantes. É a principal cidade de uma região que soma cem municípios, com cerca de três milhões de habitantes. Suas principais atividades econômicas estão nos setores de serviços, atacadista e agroindústria.

71

Disponível em <http://www.proex.ufu.br/Direx/projetos/Veredas.asp> Acesso em 05/01/2007. 72

Abadia dos Dourados, Água Comprida, Araguari, Araporã, Araxá, Cachoeira Dourada, Campina Verde, Campo Florido, Campos Altos, Canápolis, Capinópolis, Carneirinho, Cascalho Rico, Centralina, Comendador Gomes, Conceição das Alagoas, Conquista, Coromandel, Cruzeiro da Fortaleza, Delta, Douradoquara, Estrela do Sul, Fronteira, Frutal, Guimarânia, Grupiara, Gurinhatã, Ibiá, Indianópolis, Ipiaçú, Iraí de Minas, Itapagipe, Ituiutaba, Iturama, Limeira do Oeste, Monte Alegre de Minas, Monte Carmelo, Nova Ponte, Patrocínio, Pedrinópolis, Perdizes, Pirajuba, Planura, Prata, Pratinha, Romaria, Sacramento, Santa Juliana, Santa Vitória, São Francisco de Sales, Serra do Salitre, Tapira, Tupaciguara, Uberaba, Uberlândia, União de Minas, Veríssimo

A Pesquisa de campo foi realizada no período de janeiro de 2003 a julho de 2005. A escolha da AFOR UFU e de Uberlândia para desenvolvermos esta pesquisa se deu por motivo de residirmos nesta cidade, o que nos possibilitou fazer as sessões de observação participante e do acompanhamento intensivo do processo formativo, de alguns tutores e suas turmas de cursistas também residentes nesta cidade. As viagens e deslocamentos para outras localidades em que se realizavam os trabalhos e as reuniões do Veredas, certamente dificultariam o desenvolvimento do processo de observações participativas e de acompanhamento intensivo dos trabalhos de tutores e cursistas durante o curso. Tal opção favoreceu a realização das sessões de observação participante e o acompanhamento intensivo de todas as atividades individuais e coletivas realizadas nos encontros presenciais semestrais e mensais entre tutores e cursistas. Também, facilitou a nossa presença e a observação participante das visitas quinzenais às escolas das professoras cursistas, os plantões semanais na AFOR e demais encontros extras para a mediação da aprendizagem e orientações de trabalhos, conteúdos curriculares, exercícios e avaliação da aprendizagem dos cursistas

Em 16/01/2002, foi realizada pelo pró-reitor da PROEX, a primeira reunião com os representantes dos diversos setores, faculdades e institutos da UFU, com vistas a fazer os informes gerais, divulgação e discussão sobre o Projeto Veredas. Nesta reunião discutiu-se também, a formação de equipes de trabalho; a elaboração de cronogramas de atividades; a estruturação do processo seletivo, como o esclarecimento relativo à documentação, período de inscrição e critérios exigidos para os candidatos interessados em atuar no cargo de tutor; procedimentos para o vestibular para a seleção dos professores cursistas, a organização e a efetivação do curso e outros (UFU. PORTAL PROEX, 2003).

O Veredas teve abertura oficial em 18/02/2002, com um dos eventos curriculares do curso - a Semana Presencial. As atividades desta semana se estenderam até o dia 22/02/2002, com a participação de 630 professores cursistas efetivos e em exercício nas redes municipal e estadual, classificados por meio de processo seletivo vestibular promovido pela própria AFOR, por determinação da SEE-MG. Foram contratados para a concretização do projeto, 42 tutores, quatro coordenadores e quatro auxiliares administrativos.

Nota-se pelas datas citadas que a equipe de coordenação do projeto na PROEX teve 34 dias para concretizá-lo, contados a partir da primeira reunião (em 16/01/2002) até o início do programa (em 18/02/2002). Ou seja, num esforço coletivo, a coordenação local, fez acontecer o curso nesse curto período de tempo, fazendo desde a divulgação interna e externa

(SEE-MG. PORTAL VEREDAS. Municípios sob a jurisdição da AFOR UFU. Uberlândia, MG. Disponível em: <http://www.veredas.mg.gov.br>. Acesso em julho/2002).

das diretrizes do projeto, a preparação, a articulação e a estruturação administrativa de todos os setores envolvidos da AFOR UFU. Inclusive, nesse período teve que promover o recrutamento, a seleção, a contratação e a preparação da equipe de coordenadores, tutores e pessoal administrativo para trabalhar no programa.

Tal processo apressado de implementação do curso foi também assim percebido e avaliado pelos tutores, que durante as entrevistas, fizeram comentários tais como:

Ada: Foi uma loucura e pressão total a implementação do Veredas. Não sei como se deu a seleção dos tutores, o que foi considerado e o que não foi... Só sei que tudo foi muito rápido, em torno de um mês, eu acho. Quando se cogitou que teria o Veredas, imediatamente as inscrições foram abertas e com a mesma rapidez foram fechadas. Logo deram o resultado dos selecionados, já marcaram reunião e na semana seguinte começou o curso... Assim, de supetão...

Edu: Para nós, o início do Veredas se deu de repente. Pouco se ouvia comentários sobre o projeto, mas nada oficial. Só sei que foi um processo de muita correria e cheio de atropelos, de aperto, de ansiedade, muita insegurança e estresse total. Pela categoria do Veredas e por ser complexo como é, era pra ser bem diferente o caminho tomado.

Rui: Sempre achamos que o projeto foi pouco e muito mal divulgado para que professores, alunos e funcionários da UFU pudessem optar ou não por participar dele. Acho que nem deu tempo de fazer isso tudo. Poucas pessoas tomaram conhecimento do que se tratava o Veredas. Sem saber da sua existência ou sem conhecê- lo poucos professores tiveram interesse para participarem do mesmo. Um projeto desse naipe não poderia nunca começar assim...

Estes tutores concordam também, que uma proposta ousada e arrojada como a do

Veredas não poderia consistir num processo para se estruturar e acontecer em qualquer IES,

em 34 dias, mesmo diante da "experiência da UFU em outros projetos de capacitação

docente em EaD", como afirma um dos coordenadores. Em particular, no que diz respeito ao

tempo para o estudo, à qualificação, e preparação dos tutores para assumirem o seu papel e suas funções num curso de formação de professores em EaD. Nessa direção, Gatti (1996, p.3) alerta que "não se faz milagres com a formação humana mesmo com toda a tecnologia disponível". Sabe-se que o tempo é necessário e fundamental para amadurecer idéias e ações ao longo de qualquer processo educativo. Nesse sentido, segundo a autora, o tempo pode ser um fator de decisão para o sucesso ou o fracasso de um projeto educacional.

5.2 - Perfil dos tutores participantes da pesquisa

As características dos tutores e as condições de candidatura para a tutoria passaram a ser os pontos de partida e os parâmetros de comparação aqui adotados para identificar e analisar o perfil dos tutores sujeitos deste estudo. Foram consultados e examinados em março de 2003, os documentos oficiais internos - Curriculum Vitae e a Ficha de Classificação do

Tutor - com vistas a verificar as dimensões da formação acadêmica e da experiência

A Ficha de Classificação do Tutor73 foi preenchida a partir de informações contidas no curriculum vitae, pelos que assumiram o processo seletivo e não pelo próprio candidato à tutoria. No formulário, o inscrito poderia atingir um total de 100 pontos, se alcançasse a pontuação máxima em cada um dos aspectos: Titulação Acadêmica (40 pontos);

Cargo Funcional Atual (não pontuada); Experiência Profissional do Candidato: na Docência da Educação Superior (15 pontos), do Ensino fundamental (15 pontos) e na Modalidade de

EaD (10 pontos); Publicação Científica (10 pontos) e Orientação de Trabalho Científico (10

pontos). Não constava nos formulários do processo seletivo qual era a pontuação de corte ou a quantidade mínima de pontos que o candidato precisava alcançar para ser classificado e contratado para a tutoria ou desclassificado.

Os documentos indicaram que a PROEX recebeu 77 inscrições de candidatos à tutoria, sendo que destes, 71 pretendentes eram vinculados à UFU e seis profissionais não tinham vínculo com esta instituição. Do total de inscritos, foram selecionados e contratados 42 profissionais para a tutoria do Veredas na AFOR UFU. Dos 42 contratados selecionamos

dez tutores que foram convidados a participar deste estudo. Como já foi dito, a seleção destes

sujeitos se deu a partir dos elogios dos cursistas relativos à prática pedagógica de cinco tutores - Ada, Edu, Iná, Isa e Mel - considerados os melhores na tutoria, conforme registramos no Quadro 6. Outros cinco tutores - Bel, Gil, Lea, Lia e Rui - foram selecionados por terem a prática avaliada de modo negativo e/ou fragilizado pelos cursistas na tutoria como mostra o referido quadro a seguir.

QUADRO 6 - Delineando o perfil dos tutores observados e entrevistados

Tutor Formação acadêmica Cargo atual e local de trabalho na UFU Tempo de atuação na educação superior Tempo de atuação no ensino fundamental Tempo de atuação na tutoria em EaD 1. Ada

- Doutora História, Universidade de Campinas (UNICAMP), SP 2000

- Mestre em História, UNICAMP, SP, 1994 Æ Graduação: História, UFU, 1990

- Obteve: 80 pontos na Ficha de classificação

Professora universitária, do Instituto de História da UFU

9 anos 1 ano 2 anos no Veredas

2. Edu

- Mestre Metodologia de Ensino PUC Campinas, SP, 1997

- Especialista em Educação Infantil UFU, 1987 Æ Graduação: Pedagogia, UFU,1986; Direito, UFU,

1991.

- Obteve: 90 pontos na Ficha de classificação

Professor universitário, da Faculdade de Pedagogia da UFU

11 anos 20 anos 3 anos: Procap-MG

2 anos no Veredas

73

3. Iná

- Mestre Educação, UFU, 1997

- Especialista em Pesquisa em Educação, UFU, 1992 - Especialista em Didática do Magistério Superior

Universidade de Franca (UNIFRAN) - Franca, SP, 1986

Æ Graduação: Pedagogia, UFU, 1983 - Obteve: 65 pontos na Ficha de classificação

Professora de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, da ESEBA/UFU 0 15 anos 2 anos no Veredas 4. Isa

- Especialista em Didática, Faculdade de Educação Antônio Augusto Reis Neves (FEAARN) - Barretos, SP, 1994

Æ Graduação: Pedagogia, FEAARN - Barretos, SP 1993

- Obteve: 40 pontos na Ficha de classificação

Professora de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, da ESEBA/UFU 0 23 anos 2 anos no Veredas 5. Mel

- Mestre em Educação, UFU, 2002

- Especialista Ética e Filosofia Política, UFU, 1999 Æ Graduação: Direito, Fundação Educacional

Nordeste Mineiro (FENORD), Teófilo Otoni, 1997 e Pedagogia, FENORD, 1991

- Obteve: 50 pontos na Ficha de classificação

Professora universitária, da Faculdade de Pedagogia/UF U

3 anos 4 anos 1 ano no Veredas

6. Bel

- Mestre Educação, UFU, 1999

- Especialista em Filosofia da Educação, UFU, 1981 Æ Graduação: Educação Física, UFU, 1978 Obteve: 55 pontos na Ficha de classificação

Professora de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, da ESEBA/UFU 0 22 anos 2 anos no Veredas 7. Gil

- Especialista Didática do Magistério Superior, Universidade de Franca (UNIFRAN) - Franca, SP, 1987

Æ Graduação: Administração de Empresas, UFU, 1982 e Pedagogia, Ituverava, SP, 1986. - Obteve: 20 pontos na Ficha de classificação

Professora de 1ª a 8ª série do ensino fundamental, da ESEBA/UFU 0 24 anos 2 anos no Veredas 8. Lea

- Doutora Educação, Universidade de Campinas (UNICAMP), SP 1998

- Mestre Educação, UNICAMP, SP, 1990 - Especialista em Antropologia PUC/MG, 1988 Æ Graduação: Ciências Sociais, Universidade do

Vale do Paraíba (UNIVAP), São José dos Campos, SP, 1976.

- Obteve: 80 pontos na Ficha de classificação

Professora universitária, da Faculdade de Ciências Sociais/UFU 19 anos 0 2 anos no Veredas 9. Lia

- Mestranda em Geografia, UFU (em curso) - Especialista em Saúde Coletiva UFU, 1997 - Especialista em Análise de Planejamento

Ambiental, UFU, 1994

Æ Graduação: Geografia curta Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Rondônia, RO, 1990, Geografia Plena UFU, 1998.

Obteve: 35 pontos na Ficha de classificação

Professora de curso profissionaliza nte da ESTES/UFU 0 17 anos 2 anos no Veredas 10. Rui

- Especialista em Geografia Humana, USP,SP, 1981 - Especialista em Planejamento Urbano. Instituto

Brasil de Administração Municipal, RJ,1976. Æ Graduação: Geografia, Universidade Federal

Fluminense (UFF), Niterói, RJ, 1974. - Obteve: 50 pontos na Ficha de classificação

Professor universitário do Instituto de Geografia/UFU 16 anos 0 2 anos no Veredas

FONTE: AFOR UFU. PROEX. Apostila "Processo Seletivo/Classificação dos Tutores. Ficha de Classificação - 2001" e Curriculum Vitae dos tutores contratados. Consulta realizada de 07 a 10 de julho de 2003.

Os tutores tinham idades que variavam entre a mínima de 35 e a máxima de 55 anos. Predomina a figura feminina, com a participação de oito mulheres e dois homens, o que corrobora a tradição de que o magistério continua sendo uma profissão feminina. Segundo Codo (1999, p.61) no Brasil, "estamos em face de um processo gradual de desfeminização da atividade docente". Entretanto, são essenciais as reflexões a respeito da organização social

desigual dos papéis que desempenham homens e mulheres, da divisão e apropriação do trabalho na educação, inclusive no que refere às práticas pedagógicas e à hierarquização nas escolas.

Em relação à formação acadêmica, duas tutoras têm a titulação de doutoras, quatro tutores são mestres e quatro são especialistas. As pós-graduações dos tutores abrangiam as áreas do conhecimento de História, de Educação e de Geografia. Quanto à formação inicial, cinco tutores era graduados em Pedagogia, dois tutores em Geografia, uma em História, uma em Ciências Sociais e uma em Educação Física. Desse grupo, dois tutores tinham também o curso superior de Direito e uma tutora era formada em Administração de Empresas, embora na entrevista, informaram que não exercem essas profissões.

A análise deste tópico indica que no quesito formação acadêmica foi considerada na seleção e contratação dos tutores, a determinação da SEE-MG no Manual da AFOR (2002, p.48), de que "o tutor deverá ser um profissional da educação (pedagogo ou licenciado em disciplinas do ensino fundamental)”. Ressaltamos também, a heterogeneidade da formação acadêmica dos tutores, com graduação e pós-graduação em distintas áreas. Formaram assim, um grupo multidisciplinar com habilitações e licenciaturas que podiam ser importantes para a promoção de um amplo diálogo, a interação, a reflexão e a colaboração entre tutores das diversas áreas de conhecimento, num movimento de ajuda recíproca nas possíveis dificuldades enfrentadas ao longo do curso.

No que diz respeito ao Cargo Funcional Atual, todos os dez tutores eram professores concursados, de diversas unidades acadêmicas da IES UFU. Nove deles eram professores efetivos e em exercício e uma tutora é professora substituta. Dois tutores contratados trabalhavam na Faculdade de Educação/curso de Pedagogia. Dos Institutos de História, de Geografia e da Faculdade de Ciências Sociais, foram contratados três tutores, sendo um tutor de cada um daqueles respectivos cursos. Da Escola de Educação Básica da

UFU (ESEBA), quatro tutoras contratadas eram professoras de 1ª à 8ª séries do Ensino

fundamental. Uma tutora era professora de cursos profissionalizantes da Escola Técnica de Saúde da UFU (ESTES).

A justificativa de um dos coordenadores para a contratação somente de tutores da

IES UFU, foi:

Coordenador: Aqui na UFU, conforme você vê, o grupo de tutores é bastante diferente, embora tenha uma identidade: todos eles são profissionais da UFU. São professores da UFU de 1º, 2º ou 3º grau, que estão atuando ou que já atuaram na UFU [...] por ser da UFU, de certa forma, já passaram por um processo de seleção. Então, são profissionais qualificados, apesar da maioria deles não dominar toda essa complexidade de conteúdo que o Veredas oferece. Mas todos eles, de alguma forma ou de outra, dominam bem alguma área. [...] Eu vejo que nós temos realmente uma equipe de tutores muito boa. Eu acho que a nossa AFOR

foi privilegiada nisso. Nós não trabalhamos com pessoas desconhecidas. Nós trabalhamos com pessoas conhecidas. Porque são profissionais da mesma instituição, até as dificuldades a gente já sabe! É um patrimônio e um recurso humano já capacitado que temos. Então foi mais fácil trabalhar isso assim.

A contratação de profissionais "professores da UFU", "atuando ou que já atuaram" na instituição, que já passaram "por um processo de seleção” na IES, de um lado, pode ser visto como um aspecto positivo e até facilitar a seleção para a tutoria, dependendo dos objetivos a que se aplica. Tudo indica que o conhecimento entre as pessoas da mesma instituição, o investimento naquelas, poderia até favorecer e justificar a indicação de que "são profissionais qualificados", a administração de suas “dificuldades”, a formação de "uma equipe de tutores muito boa", "privilegiada", vinculada “à universidade”, um "patrimônio" e um "recurso humano capacitado". De outro lado, tais características poderiam não ser tão adequadas, se pensarmos que diante de "toda essa complexidade de conteúdo", da proposta pedagógica e curricular do Veredas, tais critérios seletivos poderiam não ser suficientes para atender às necessidades de formação dos cursistas e às próprias demandas da prática pedagógica dos tutores na formação superior de professores em EaD.

Em relação à experiência profissional, dos dez sujeitos, apenas um tutor (Edu) tinha experiência nos três níveis de ensino que abrangem a educação superior (11 anos), o ensino fundamental de 1ª à 4ª (20 anos) e a modalidade de EaD (5 anos). Dos demais contratados, dois tutores (Lea e Rui) tinham experiências docentes só na educação superior (19 e 16 anos) e nenhuma no ensino fundamental. Cinco tutores (Bel, Gil, Iná, Isa e Lia) só tinham experiências na docência no ensino fundamental, que variou de 15 a 24 anos e, nenhuma vivência na educação superior. Duas tutoras (Ada e Mel) tinham algumas vivências tanto na educação superior (de 9 e de 3 anos) como no ensino fundamental (de 1 e de 4 anos), mas alegaram que estavam desatualizados da realidade desse último. Para nove tutores (Ada, Bel, Gil, Iná, Isa, Lea, Lia, Mel e Rui), o Veredas foi a primeira experiência profissional que tiveram na Educação a Distância.

A análise desses dados indica que o requisito experiência profissional foi parcialmente atendido, se considerarmos as determinações do Manual da AFOR (2002, p.48), de que: "[...] o Tutor deverá ser um profissional da educação (pedagogo ou licenciado em disciplinas do ensino fundamental) que tenha experiência de ensino superior e tenha exercido

regência de turma no ensino fundamental, especialmente nos seus anos iniciais" (Grifos