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Adeus

Depois de discorrer sobre o ritual de sacrifício que foi gerado no ultimo cenário, coloca-se uma continuação de tal caminho simbólico à representação dessa lírica. O amor que se tem e se perde pode ser considerado passos do processo criativo aqui exposto. A perda, a dor e a busca do todo guiada por Eros fazem com que o processo psíquico tenha essa dinâmica constante de vida-morte-vida. E graças a essa dinâmica criativa, a psique está sempre viva, em movimento e possível desenvolvimento.

Este trabalho teve o caráter e a intenção de introduzir o sandplay no campo do criativo e do artístico, tendo como base estrutural e fundamental a necessidade de Eros como agente de contato e facilitador no processo de transformação simbólica em direção à transcendência, que acontece a seu tempo e apenas com o consentimento espiritual, não pela vontade do ego. Toda transformação envolve dor e morte e, portanto, nosso lado egóico busca escapar de transformações. Assim sendo, não me parece estranho que o processo criativo seja envolvido por uma possessão amorosa, deixando nosso ego a serviço de Eros, sendo seu instrumento, apenas um canal e não seu autor.

Considero que o sandplay – em princípio utilizado com finalidades terapêuticas pela psicologia de base junguiana - traz essa possibilidade artística amorosa de transformação e, com o decorrer do processo de depuração e diferenciação, o estético e o artístico revelam-se mais e mais ao indivíduo que utiliza esse meio de expressão. Falo de uma estética pessoal de reconhecimento do que se vê, e também de um enamoramento do mesmo. Ao se enamorar da imagem damos possibilidade de existência a uma fertilidade simbólica mais diversa e livre, mesmo quando o enamoramento nos mostre coisas que recusamos enfrentar, por nos serem dolorosas.

Jung fala que nossa sociedade atingiu o nível de desenvolvimento anãhata e, assim, o indivíduo passa a perceber e ser mais sensível ao todo. Através da transcendência simbólica criativa, que pode se dar no sandplay assim como em outros processos criativos, podemos chegar a um nível de relacionamento muito mais ético e amoroso.

“Nessa viagem misteriosa através do amor cada um encontra o outro e, por trás do outro, a si mesmo”.122

Aldo Carotenuto

Concluo aqui que a função deste trabalho foi a de lançar um novo olhar ao processo do sandplay, colocando-o como um instrumento criativo e transformador de símbolos. E que quanto mais se coloca à disposição desse impulso criador, mais se aproxima da individuação e, conseqüentemente, do coletivo e do universal. Neste caso, o artista encontra-se apenas no processo criativo, e não na sua abrangência funcional coletiva que a ele é conferida. Minha intenção não é fazer do sandplay uma arte, mas sim exemplificar e ampliar o conhecimento

122 Carotenuto, A. – Op. cit. (1991, p. 27).

do sentimento gerado por tal fazer, assim como a urgência e necessidade estéticas que se estabelecem no processo. Uma alma deve falar a outra alma. Acredito que a alma do artista fala à alma de quem cria, e criamos, artista ou não, a todo momento, graças à nossa experiência amorosa.

“Onde o mundo interior e o mundo exterior se tocam. Aí se encontra o centro da alma”.

REFERÊNCIAS

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ANEXO II

ANEXO III

ANEXO IV

Apresentação da dissertação

Gostaria de agradecer à minha orientadora e co-orientador, Elisabeth Zimmermann e Ernesto Boccara, pela oportunidade que me deram de estar aqui e pelo coração forte aos sobressaltos causados causado por minha maneira etérea de ser. Agradeço aos professores Adilson e Fernando pela presença e pelas palavras libertadoras que me permitiram falar de uma alma conhecida, falar do meu próprio caminho.

Este trabalho tem o caráter e a intenção de introduzir o sandplay no campo do criativo e do artístico, tendo como base estrutural e fundamental a necessidade de Eros como agente de contato e facilitador no processo de transformação simbólica em direção à transcendência, que acontece a seu tempo e apenas com o consentimento espiritual, não pela vontade do ego. Toda transformação envolve dor e morte e, portanto, nosso lado egóico busca escapar de transformações. Assim sendo, não me parece estranho que o processo criativo seja envolvido por uma possessão amorosa, deixando nosso ego a serviço de Eros, sendo seu instrumento, apenas um canal e não seu autor.

Considero que o sandplay – em princípio utilizado com finalidades terapêuticas pela psicologia de base junguiana - traz essa possibilidade artística amorosa de transformação e, com o decorrer do processo de depuração e diferenciação, o estético e o artístico revelam-se mais e mais ao indivíduo que utiliza esse meio de expressão. Falo de uma estética pessoal de reconhecimento do que se vê, e também de um enamoramento do mesmo. Ao se enamorar da imagem damos possibilidade de existência a uma fertilidade simbólica mais diversa e livre, mesmo quando o enamoramento nos mostre coisas que recusamos enfrentar, por nos serem dolorosas.

Jung fala que nossa sociedade atingiu o nível de desenvolvimento anãhata e, assim, o indivíduo passa a perceber e ser mais sensível ao todo. Acredito que através da transcendência simbólica criativa, que pode se dar no sandplay assim como em outros processos criativos, podemos chegar a um nível de relacionamento muito mais ético e amoroso.

Trago aqui que a função deste trabalho é a de lançar um novo olhar ao processo do sandplay, colocando-o como um instrumento criativo e transformador de símbolos. E que

quanto mais se coloca à disposição desse impulso criador, mais se aproxima da individuação e, conseqüentemente, do coletivo e do universal. Neste caso, o artista encontra-se apenas no processo criativo, e não na sua abrangência funcional coletiva que a ele é conferida. Minha intenção não é fazer do sandplay uma arte, mas sim exemplificar e ampliar o conhecimento do sentimento gerado por tal fazer, assim como a urgência e necessidade estéticas que se estabelecem no processo. Uma alma deve falar a outra alma. Acredito que a alma do artista fala à alma de quem cria, e criamos, artista ou não, a todo momento, graças à nossa experiência amorosa.

“Onde o mundo interior e o mundo exterior se tocam. Aí se encontra o centro da alma”.

Novalis

“Nessa viagem misteriosa através do amor cada um encontra o outro e, por trás do outro, a si mesmo”.

Carotenuto

Dei início a este trabalho com música, com imagem e com sandplay, e pretendo terminar da mesma forma, afinal, esta é minha maneira de lidar com o mundo e com o simbólico. O simbólico se enriquece entremeando-se de outros simbólicos, ao tecer o fio musical de uma harmonia que descreve uma vida, ou a vida. Iniciei este trabalho falando de minha memória mais remota, aos cinco anos, quando sentava embaixo do piano enquanto minha mãe dava aulas ou tocava piano. Ouvia a música, sentindo a vibração na madeira e fazendo desenhos ou vendo formas das imagens ali geradas. Hoje estou aqui pronta pra ouvir e sentir o som da música da voz e do piano, mas dessa vez não é uma música furtada e sim generosamente doada para a criação da imagem para este trabalho.

As músicas que serão tocadas foram escolhidas de modo a representarem metaforicamente o processo criativo do sandplay, e para deixar esses passos mais claros gostaria de comentar um pouco do meu olhar metafórico sobre elas. A primeira é a música “Soneto” de Chico Buarque.

Soneto