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CAPÍTULO II PRINCIPAIS ABORDAGENS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO-ECOLÓGICO: FUNDAMENTOS

2.2. O pensamento econômico-ecológico pela abordagem da economia neoclássica

2.2.3. A Economia Ecológica

A Economia Ecológica se propõe a representar um novo campo transdiciplinar, com novas propostas metodológicas e assim fazer uma inter-relação da economia com a ecologia, a física, a química e a biologia moderna; em síntese, entre os ecossistemas e o sistema econômico. Busca ainda fazer uma conciliação de métodos quantitativos, como os formulados dentro da economia ambiental, com uma proposta mais abrangente, que implicaria em ampliar a noção de sustentabilidade atualmente empregada. Neste aspecto utiliza-se, também, do conceito de termodinâmica de entropia, cuja aplicação na análise macroeconômica deve-se aos trabalhos de Nicholas Georgescu-Roegen (1971).

Os contornos básicos dessa concepção apresenta divergências com os modelos tradicionais da economia, que com seus sistemas e análises isoladas, demonstram ser insuficientes para explicar, resolver e indicar soluções sócio-ambientais globais. Busca, assim, estender e integrar o estudo do gerenciamento interdependente que existe entre a ecologia e a economia, considerando a economia como um subsistema do ecossistema global, ao qual se interliga de diversas maneiras - interligações desconsideradas pelos economistas tradicionais que fazem de conta que isso não existe, no entanto, [...] o processo econômico possui uma evolução unidirecional de caráter irrevogável63, possuindo para isso

uma natureza antrópica, cujas mudanças de qualidade nos recursos naturais disponíveis, que acontecem durante o processo de produtivo, tornam-se irreversíveis.

Estas relações estabelecem para a economia ecológica a necessidade de enfrentar os problemas relacionadas com os limites do processo produtivo diante da natureza, de forma interdisciplinar, holística, participativa. Cabe assinalar, neste aspecto, que a economia ecológica poderia atuar enquanto uma “Ecologia Política”64, e neste sentido estudaria os conflitos acerca da distribuição ecológica, em

razão da maior parte da ecologia não estar presente em mercados reais, e nem fictícios. O significado da distribuição ecológica refere-se, sobretudo, às assimetrias ou desigualdades sociais, espaciais e temporais, no uso humano dos recursos e serviços ambientais que significam o esgotamento desses recursos - incluindo a degradação da terra e a perda da biodiversidade, aliado ao excesso da carga de contaminação.

A Economia Ecológica estrutura-se para oferecer uma crítica consistente a economia convencional, buscando formular instrumentos próprios para explicar e avaliar o impacto humano

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ALIER, Joan Martinez (1996) C.f. ALIER: Economia Política sempre foi uma denominação histórica para a economia, porém, hoje em dia é mais usada pelos ramos da economia que estudam os conflitos distributivos. As partes ou ramos da Economia Ecológica (ou Ecologia Humana) que dedicam atenção especial à distribuição ecológica, quiçá, poderiam chamar-se Ecologia Política quiçá, poderiam chamar-se Ecologia Política.

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sobre o meio ambiente. Considera temas sobre intergerações, mas também conflitos de distribuição dentro das gerações atuais. Esta visão está na base dos conflitos entre as compreensões convencionais otimistas da economia agrícola (impulsionada por aditivos químicos) a respeito dos incrementos de produtividade e os prejuízos para a agroecologia, que provocaram diminuição na eficiência energética, na contaminação do da água e erosão dos solos.

A Economia Ecológica focaliza também, em suas análises a questão da “imensurabilidade”, mostrando que a economia, do ponto de vista ecológico, não tem uma medida comum, porque não se sabe como atribuir valores atuais às incertezas econômicas (de mercado), a certas contingências irreversíveis na produção, e também, porque tais valores dependeriam (e dependem) da distribuição dos direitos de propriedade.

Para melhor compreensão da questão acima mencionada, tome-se o consumo de um kwh de energia fóssil - que não é mensurável em termos monetários, e compara-se com um kwh de energia nuclear, onde as externalidades são internalizadas. O problema é que no caso da energia nuclear qual valor monetário atribuir a essas externalidades (?). Isso dependerá do horizonte de tempo e de resultados econômicos como a taxa de desconto, das incertezas sobre o avanço tecnológico no futuro, e também da inserção das comunidades atingidas, que aceitam riscos através de propostas baratas mesmo sob protestos.

Demonstra-se portanto, que a ausência de uma valoração econômica convincente sobre externalidades negativas ou bens ambientais em mercados reais ou fictícios (ou seja, de imensurabilidade econômica), conduz, no mínimo, a um questionamento acerca dos atuais critérios de distribuição de bens considerados escassos.

É oportuno destacar que apesar da Economia Ecológica ter a pretensão de ultrapassar os limites teóricos da economia e ecologia tradicional, suas publicações - livro e revista, Ecological Economics, parecem possuir uma excessiva abertura à abordagem neoclássica do meio ambiente. Mesmo integrando a ecologia em sua análise de sustentabilidade, não incorpora uma abordagem social aos problemas do desenvolvimento, dado que seu foco de análise é a relação homem-natureza, a compatibilidade do crescimento demográfico com a disponibilidade de recursos naturais. Relações sociais não são abordadas através das distintas classes sociais nem pelos conflitos de interesse inter- classe, que em última instância, implicam diferentes soluções para os problemas ambientais. Portanto questões básicas como, nível de emprego, e demais prioridades sociais não são contempladas.

Para visualizar o campo de abrangência da Economia Ecológica - dado um de seus centros de análise ser o “throughput”: minimizar a entropia entre o fluxo de recursos naturais na transformação da

produção e consumo e no seu retorno à natureza sob a forma de lixo e de poluição65; de forma a melhor

compreendê-la, o Quadro II.02 aborda as diferenças centrais entre os diversos setores de abrangência, estabelecendo uma relação entre a economia, a ecologia tradicional e a economia ecológica.

QUADRO II. 02 - Economia e Ecologia Convencionais e Economia Ecológica

Economia Convencional Ecologia Convencional Economia Ecológica Visão básica

do mundo

- Mecanicista, estática, atomística - Gostos e preferências individuais tomados conforme expressas e consideradas como a força dominante

- A base de recursos considerada como sendo essencialmente ilimitada devido ao progresso técnico e à substitubilidade infinita.

- Evolucionária, atomística

- Evolução atuando em nível genético considerada força dominante. A base de recursos é limitada.

- Seres humanos são só mais uma espécie, mas raramente estudada.

- Dinâmica, sistemática, evolucionária - Preferências humanas, compreendendo que a tecnologia e a organização co- evoluem para refletir amplas

oportunidades e limitações ecológicas. - Seres humanos são responsáveis por compreenderem seu papel dentro do sistema maior e por gerenciarem-no para a sustentabilidade.

Quadro temporal - Curto

- 50 anos no máximo, 1- 4 anos em geral

- Escala múltipla

- Dias e eras, mas escalas temporais muitas vezes definem subdisciplinar que não se comunicam

- Escala múltipla

- Dias e eras, síntese em escala múltipla

Quadro espacial - Local a internacional - Estrutura invariante em escala espacial crescente, unidades básicas mudam de indivíduos para firmas e para países

- Local a regional

- Maior parte da pesquisa concentrada em sítios relativamente pequenos dentro de um só ecossistema, mas escalas maiores vêm se tornando mais importantes ultimamente.

- Local a global - Hierarquia das escalas

Quadro de espécies consideradas

- Apenas humana

- Plantas e animais raramente são incluídos para o seu valor de contribuição

- Apenas não humanos

- Tentativa de encontrar ecossistemas “primitivos”, intocados pelos seres humanos

- Todo o ecossistema, inclusive os seres humanos

- considera as interconexões entre os humanos e o resto da natureza Objetivo

Micro principal

- Maximizar lucros (firmas) - Maximizar utilidade (indivíduos) - Todos os agentes seguindo micro objetivo levam à realização do macro objetivo. Custos e benefícios externos são superficialmente reconhecidos mas não são geralmente levados em conta.

- Maximização do sucesso reprodutivo - Todos os agentes seguindo micro objetivo levam à realização do macro objetivo

- Precisa ser ajustado para refletir os objetivos do sistema

- Organização social e instituições culturais em níveis mais elevados da hierarquia espaço-tempo aperfeiçoam os conflitos produzidos pela busca míope de micro objetivos em níveis mais baixos e vice-versa

Pressupostos sobre o progresso técnico

- Muito otimista - Disciplinar - Transdiciplinar

Postura acadêmica

- Disciplinar

- Monística, enfatiza ferramentas matemáticas

- Mais pluralista do que a economia mais ainda focalizando as ferramentas e técnicas. Poucas recompensas por um trabalho abrangente e integrador.

- Pluralística, enfoque em problemas.

Fonte: MAY, P. H. e MOTA, R. S. da. (1994) [c.f. CONSTANZA, Robert. Economia Ecológica: uma agenda de pesquisa]

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