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Elementos de desenvolvimento sustentável como alternativa neoextrativista na Amazônia

CAPÍTULO II PRINCIPAIS ABORDAGENS SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO-ECOLÓGICO: FUNDAMENTOS

2.4. Elementos de desenvolvimento sustentável como alternativa neoextrativista na Amazônia

Assegurar que existe uma concepção teórica exclusiva nas abordagens de reorganização do sistema agroextrativo na Amazônia não seria prudente; pois quando a análise teórica possui algum traço de adequação, faltam ou são insuficientes os instrumentos práticos sugeridos para intervenção sócio-econômica, mesmo tecnológica. Mesmo dado essas restrições analíticas, o que parece adequado e pertinente na observação e abordagem da problemática de industrialização da Castanha-do-Brasil, é aquela identificada: por um lado com políticas baseadas no desenvolvimento sustentável (recuperando elementos biofísicos da economia; dado as sugestões do neoxtrativismo), assim como, àquelas com interface no ecodesenvolvimento (pluralismo e tecnologias apropriadas).

Portanto, na análise da transformação eco-industrial da Castanha-do-Brasil, as aplicações conceituais estarão permeadas por definições dessas duas vertentes de pensamento [fundamentando-se em políticas práticas sustentabilidade], pela condução de suas proposições práticas, que no caso da Castanha-do-Brasil, quanto a agregação de valor desse recurso da biodiversidade, que busca utilizar-se de métodos e técnicas para atingir sustentabilidade social e ambiental, no longo prazo.

A construção de alternativas manutenção econômica baseada na coleta e simples venda de Castanha-do-Brasil, reafirmando à práticas baseadas no escambo e no aviamento, apesar de ainda persistirem em algumas regiões da Amazônia, estão superados historicamente. Na dimensão econômica do neoextrativismo73, ocorre a incorporação de progresso técnico, e envolve novas alternativas de

exploração de recursos, associadas ao cultivo, criação e beneficiamento da produção. Na dimensão política e social, devem-se estabelecer algumas condições, como: respeitar e considerar as aspirações da comunidade; sua cultura; a expressão de novas relações de forças sociais; abrangências de todos os

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MAIMON, "Ibidem"

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REGO, José Fernandes do (1999). O neoextrativismo é um conceito ligado à totalidade social, a todas as instâncias da vida social: a econômica, a política e a cultural. Na dimensão econômica, é um novo tipo de extrativismo, que promove um salto de qualidade pela incorporação de progresso técnico e envolve novas alternativas de extração de recursos associadas com cultivo, criação e beneficiamento da produção

usos de recursos naturais não conflitantes com o modo de vida e da cultura comunitária local, ou seja, é a combinação de práticas extrativas: criação de pequenos animais, artesanato, agroindústria, com práticas e cultivos agrícolas de caráter econômico.

As duas condições anteriores, estão entre as diferenças basilares da contraposição do neoextrativismo à do 'extrativismo puro', pois este busca explicar-se através da teoria econômica neoclássica, compreendendo o extrativismo apenas como uma atividade de simples coleta de recursos, não admitindo práticas de cultivo e de beneficiamento, pois seria inevitável a extinção dessa atividade, dado que a economia extrativa [...] começa pela descoberta do recurso natural que apresenta possibilidade econômica ou útil. A seqüência natural é o início do extrativismo como atividade econômica. Em geral, o crescimento do mercado e o processo tecnológico fazem com que seja iniciada a domesticação desses recursos extrativos (...) e com que sejam descobertos substitutos sintéticos74.

As possibilidades presentes na abordagem revelam, que no contexto do neoextrativismo, torna- se necessário repensar a economia florestal em áreas de conservação da região, principalmente no caso da Amazônia Ocidental.Em razão da ação política do movimento ambientalista internacional e as lutas de seringueiros e índios em defesa de seu modo de vida e sua cultura, o Estado brasileiro 'divide' a Amazônia em duas: a Amazônia Ocidental é vista como área preferencial de preservação, por ter alta biodiversidade (em especial no Acre e no sul do Amazonas). Já a Oriental destina- se a grandes empreendimentos de mineração e metalurgia, sem prejuízo da continuação discreta de projetos agropecuários e agroindustriais.

Ainda considerando as restrições possíveis da extrativismo tradicional, uma concepção um pouco fatalista sob a inviabilidade da atividade extrativa no longo prazo, tende a apresentar (Figura abaixo) que o crescimento do mercado e o desenvolvimento tecnológico fazem com que sejam descobertos produtos sintéticos, ocorrendo inclusive, ultrapassagem de uma das fases apresentadas, como foi o extrativismo do pau-rosa, que passou diretamente do extrativismo para a fabricação de sintético.

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HOMMA, Alfredo Kingo Oyama (1993). O extrativismo por aniquilamento ou depredação ocorre quando a obtenção do recurso econômico implica a extinção dessa fonte, ou quando a velocidade de regeneração for inferior à velocidade de exploração nativa. Exemplos: extração da madeira, do pau-rosa ou do palmito, caça e pesca predatória.

FIGURA II. 03 - Formas de utilização do recurso natural e transformação em recurso econômico

A Figura II. 03 revela que mesmo admitindo o progresso da biotecnologia e da engenharia genética existe possibilidade do recurso natural com utilidade, passe a ser domesticado ou sintetizado diretamente, sem passar pela fase extrativa ou domesticada, por exemplo, atendendo a uma exigência. do mercado: propriedades do produto e tamanho da escala de produção). Na Amazônia os processos extrativos podem ser classificados em dois grandes grupos quanto a sua forma de exploração: a) extrativismo por aniquilamento ou depredação; b) extrativismo de coleta: baseia-se na coleta de produtos extrativos produzidos por determinadas plantas ou animais. Nesse caso, é comum forçar a obtenção de uma produtividade imediata que leva ao seu aniquilamento a médio e a longo prazo. Exemplos: a seringueira, a castanha-do-pará, etc. No caso em que a velocidade de extração for igual à velocidade de recuperação, o extrativismo permanecerá em equilíbrio75.

O autor da análise mencionada, não considera a incorporação de inovação tecnológica e a 'domesticação' - que seria a prática de silvicultura de espécies nativas - como estando no campo de um extrativismo modernizado, pois ...'a fase final do extrativismo pode ser interpretada como decorrência do esgotamento dos recursos naturais ou da rigidez da oferta [...] e no caso do extrativismo de coleta seria atingindo um ponto em que a oferta passaria a ser inelástica, e os preços atingiriam níveis tão elevados que seriam estimuladas as formas racionais de cultivo ou de criação, levando ao abandono ou à substituição por outras atividades. Este foi um caso típico da busca por produtividade imediata em que os seringueiros danificaram as árvores, como ocorreu no passado'.

Outros autores seguem uma linha parecida com a representada acima, pois, a modernização do setor extrativo quando ocorre, por exemplo, na pesca e na exploração madeireira na região Amazônica, isso ocorre independentemente do extrativismo tradicional. Para alguns produtos extrativos cuja atividade se realiza em caráter simbiótico pelo extrator, como é o caso da castanha-do-pará e da seringueira (pressionada para seu plantio racional), no longo prazo esta modernização influenciará na

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HOMMA, op. cit., p. 134. O extrativismo por aniquilamento ou depredação ocorre quando a obtenção do recurso econômico implica a extinção dessa fonte, ou quando a velocidade de regeneração for inferior à velocidade de exploração nativa. Exemplos: extração da madeira, do pau-rosa ou do palmito, caça e pesca predatória.

Fonte: adaptado de HOMMA, Alfredo Kingo Oyama (1993)

adaptação da exploração extrativa da castanha-do-pará com outras atividades, como ocorre na região de Marabá, onde é associada com a lavoura ou a pecuária76. Nesta linha de análise, no Capítulo 3, será

feita uma breve exposição dos principais fatores que conduziram a desestruturação da economia da castanha na região do chamado 'Polígono dos Castanhais' no sudeste Paraense.

É exatamente na baixa incorporação de tecnologia para industrialização de produtos e subprodutos da Castanha-do-Brasil, e na manutenção quase que patronal - sistema de intermediação - que ainda vigora no financiamento das safras de castanha em diversos estados, que se encontra a empresa Benedito Mutran & Cia Ltda, monopolista há 36 anos do mercado de Castanha-do-Brasil na Amazônia brasileira. Essa empresa exportou cerca de 2,5 mil toneladas de pimenta-do-reino (atividade iniciada em três anos) e em 2001, exportou em torno de 7 mil toneladas de Castanha-do-Brasil, sendo o faturamento bruto da empresa em 2000, de US$ 11 milhões. Nos últimos anos, a empresa vem se dedicando a ocupar o mercado interno, buscando ocupar as grandes redes de varejo e atacado, com a venda de amêndoas descascadas e embaladas no mesmo padrão de qualidade do produto exportado.

Até meados dos anos 1970, existiam em torno de setenta usinas de beneficiamento e exportação de castanha, sendo que nos últimos anos, restam em torno de seis em todo Estado. Mesmo assentado em uma estrutura de monopólio de mercado, através do controle de preços estabelecidos nos períodos de safra da Castanha-do-Brasil, realizada por uma rede de extrativistas [atravessadores] em todos os estados da Amazônia, e de assegurar empenho e pressão institucional por meio de campanhas em defesa da castanheira, dado que os castanhais nativos estão sendo destruídos por desmatamento indiscriminados. É um caso da típico da ocupação para formação de pastos destinados à pecuária (!).

A situação concreta do extrativismo na Amazônia recomenda a construção de um conceito mais específico. Restringir a extração apenas à coleta de estoques vegetais naturais, assemelha-se por exemplo, ao extrativismo mineral, ou seja, apropriação do meio físico do ecossistema natural (recursos, por natureza, não-renováveis). Portanto, a economia florestal não-madeireira em áreas de conservação através do extrativismo das populações tradicionais, praticado como uma intervenção sobre a biota dos ecossistemas naturais, objetiva produzir biomassa útil, sendo regulada por sistemas de manejo imediato, associados à introdução e exploração de plantas e animais em níveis pouco intensos, que não alterem substancialmente a comunidade biótica do ecossistema. Os dois quadros ilustram as análises apresentadas:

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FIGURA II. 04 - Modelo biofísico da economia (economia como um organismo vivo)

FIGURA II. 05 - Proposição para interação entre economia tradicional e neo-extrativa Energia solar População ECONOMIA Produção de bens e serviços Matéria Calor Matéria Energia ECOSSISTEMA Energia Processo econômico Matéria e Energia (alta entropia) Matéria e Energia (baixa entropia) Recursos naturais Produção consumo Progresso técnico e Econômico Comportamento dos agentes

de produção e de consumo