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Edith Eleura Tilton: vida contribuição e influência 55

3.5 Teoria do crescimento da firma 54

3.5.1 Edith Eleura Tilton: vida contribuição e influência 55

Edith Eleura Tilton, nasceu em 15 de novembro de 1914, em Los Angeles. Estudou Economia na Universidade da Califórnia, em Berkeley, onde graduou-se em 1936. Edith se torna assistente de E. F. Penrose, (Pen) um professor de Economia em Berkeley com quem se casa em 1945. Após um período na Suíça e no Canadá, trabalhando para Escritório da Internacional do Trabalho (ILO). Pen assume a cadeira de Geografia Humana na Johns Hopkins e Edith começa os seus estudos de mestrado e doutorado, que completa em 1951. Edith se torna professora e pesquisadora associada na Johns Hopkins, sob a supervisão de Fritz Machlup, que era codiretor de um projeto de pesquisa sobre o crescimento da firma. Seu trabalho de campo foi desenvolvido na Companhia de Pólvora Hercules, e este foi o início de sua pesquisa que conduziu para A Teoria do Crescimento da Firma, publicado em 1959. Somente após a sua aposentadoria o seu trabalho ganha reconhecimento passando a receber honrarias de universidades estadunidenses, britânicas e européias. Em outubro de 1996 Edith Penrose falece de falência cardíaca, durante o sono, um pouco antes de completar 82 anos.

3.5.2 Contribuição.

A contribuição de Edith Penrose para a Economia tem um amplo espectro, do controle de alimentos através do sistema de patentes à teoria do crescimento da firma, o empreendimento multinacional, a teoria da organização da indústria, a indústria internacional do petróleo, a economia dos países árabes, as relações econômicas internacionais entre outros. Dentro deste contexto, ela propôs teorias sobre competição, inovação, fusões e aquisições, políticas de competição de formação de redes de pequenas firmas, etc. O principal trabalho pelo qual ela é lembrada é A teoria do crescimento da firma, publicado em 1959. O resultado do seu trabalho na Companhia de Pólvora Hércules foi concluído em 1956 e publicado em 1960 e não foi incluído na trabalho de 1959 para mantê-lo num tamanho menor. Entretanto, os dois trabalhos fazem parte de um mesmo todo integrado.

Em várias ocasiões Edith Penrose descreveu a sua busca por uma base teórica para a questão do seu interesse, o crescimento da firma. Segundo ela, na teoria neoclássica da firma não era possível encontrar a firma! Ela afirmava que, para os teóricos econômicos, a firma nada mais era do que um arranjo de funções de oferta e demanda e um dos pilares desta teoria era dirigido, quase que exclusivamente, para a análise econômica da determinação dos preços e da alocação de recursos e o equilíbrio da firma, sob este ponto de vista, era o equilíbrio da produção de um determinado produto. Nesta teoria o crescimento da firma nada mais é que o aumento da produção de determinados produtos, e o tamanho ótimo é o ponto mais baixo da curva de custo médio destes produtos. Penrose conclui que esta teoria não é capaz de explicar o crescimento e a inovação das organizações reais que os homens de negócio chamam de firmas.

3.5.4 A firma Penreosiana e o mercado.

Para Penrose a firma é uma coleção de recursos humanos e não humanos, coordenados administrativamente para a produção de bens e serviços, a serem vendidos no mercado com o objetivo de obter lucro. A coordenação administrativa e a “comunicação de autoridade” definem as fronteiras da firma. No seu trabalho de 1959, Penrose esclarece que:

A “comunicação de autoridade” pode consistir em um de seus extremos, na transmissão real de informações detalhadas através de uma hierarquia de funcionários, e no outro, na mera existência, concentrada em algumas pessoas, de políticas obedecidas e aceitas, de objetivos e procedimentos administrativos estabelecidos em algum momento do passado. (Penrose, 2006, p. 56).

A diferença entre as atividades econômicas dentro e fora da firma é que as primeiras ocorrem dentro de uma organização administrativa. Dos recursos internos da firma, dois são os mais importantes: os recursos humanos e os recursos gerenciais. Qualquer expansão requer planejamento que pode ser realizado pelo gerenciamento próprio que é específico da firma, e não está disponível no mercado.

Há dois tipos de causas para o crescimento das firmas: as causas internas e as causas externas. Penrose sugere que as causas externas, tais como aumento de capital, e condições de demanda, não podem ser completamente compreendidas sem uma análise da natureza da firma propriamente dita. O problema que ela foca são os incentivos e limites internos ao crescimento da firma e não o crescimento decorrente de eventos externos fortuitos.

Para Penrose há duas razões básicas para explicar porque a firma tem incentivos endógenos para expandir. A primeira é a afirmação que a execução de um plano requer recursos além dos estritamente necessários para a sua execução. A segunda é que, quando o plano é finalizado, recursos gerenciais são liberados e se tornam disponíveis. Principalmente, os serviços que a firma é capaz de prestar vão aumentar no período entre a elaboração do plano e o momento em que a sua execução é completada.

Numa condição idealizada, poderíamos imaginar que os recursos adquiridos ou gerados pela firma pudessem ser utilizados plenamente numa condição de equilíbrio produtivo ótimo, no qual não haveria um estímulo endógeno de crescimento. No entanto, essa condição de utilização é muito difícil de ser alcançada por vários motivos. O primeiro deles é que muito destes recursos são indivisíveis. O outro motivo é o fato de haver inúmeras formas de utilizar um recurso em diferentes circunstâncias. E por último que o desenvolvimento de um novo processo produtivo gera novos serviços. Penrose, (2006, p. 121)

Para ilustrar estas afirmações de Penrose, podemos tomar o caso da necessidade de implantação de uma unidade de terapia intensiva, (UTI) num hospital cirúrgico especializado em ortopedia. A maioria dos pacientes são adultos e um parte deles necessita de ficar na UTI por um período curto de tempo, digamos 2 a 3 dias. No entanto, uma parte menor dos pacientes são crianças e destas algumas também vão demandar realizar o pós-operatório numa unidade de cuidados intensivos com capacidade de cuidar de crianças, ou seja, uma unidade de terapia intensiva pediátrica. Vamos imaginar que este hospital necessitasse de três leitos de UTI pediátrica. Ocorre que as unidades de terapia intensiva são equipamentos muito caros e concentradores de recursos especializados e de alta tecnologia. É conhecido que no dimensionamento da equipe médica para uma UTI geral, adulto ou infantil, considera-se que um médico intensivista, plantonista dá conta do cuidado de dez leitos, ou dez pacientes. Montar uma unidade de três leitos para atender a

necessidade presente do hospital vai significar “desperdiçar” equipe médica para sete leitos. Montar a unidade com dez leitos, vai significar utilizar espaço físico, adquirir equipamentos e recursos, para uma oferta de serviços para qual a demanda não é suficiente para utilizá-la plenamente. O hospital terá que decidir o que fazer. Pode parar de realizar cirurgia em crianças, ou pode, ao contrário tentar aumentar este tipo de cirurgia para usar plenamente a UTI pediátrica. Ou então, oferecer este serviço a outros hospitais que encaminhariam estas crianças, mas isso levaria a desenvolver outros recursos, como o de enfermagem especializada, serviço de transportes, (unidade móvel de terapia inetensiva) etc.

Em relação ao tamanho ótimo da estrutura produtiva, Penrose lembra da aplicação do princípio do “mínimo múltiplo comum”.

Se um conjunto de recursos produtivos indivisíveis tiver que ser plenamente usado, o nível mínimo que uma firma deva alcançar corresponde ao mínimo múltiplo comum dos produtos obteníveis da menor unidade de aquisição de cada tipo de recurso. Esse princípio tem sido usualmente aplicado a máquinas e, mesmo nesse caso, tem sido ressaltada a necessidade de planejar a produção numa escala muito mais ampla para poder usar todas as máquinas disponíveis em seus mais eficientes níveis operacionais. (Penrose, 2006, p 122).

Os serviços gerenciais são muito importantes neste contexto porque eles existem em quantidades limitadas nas firmas. Quando há execução dos planos, estes recursos se tornam disponíveis, na medida em que todo o pessoal envolvido na execução do plano se tornou mais experiente, mais eficiente e capaz de produzir serviços especializados. Este é um recurso único da firma na medida em que nem todo conhecimento é passível de ser transmitido, uma vez que ele é obtido através da experiência.

Para Penrose o crescimento é governado pela interação dinâmica e criativa entre os recursos da firma e as oportunidades de mercado. Os recursos disponíveis limitam o crescimento da firma, enquanto que os recursos não utilizados estimulam e determinam o crescimento da expansão.

Pitelis apresenta alguns pontos com as principais idéias de Penrose, alertando que tal empreitada reducionista não é fácil.

• Firmas são agrupamentos de recursos, sob direção interna, para o uso de bem e serviços vendidos no mercado com o objetivo de

lucro. As fronteiras da firma são definidas pela área sob coordenação e de comunicação de autoridade.

• As firmas se diferenciam dos mercados porque nestes as transações não ocorrem sob coordenação administrativa.

• Recursos geram múltiplos serviços. A heterogeneidade dos serviços é que vai definir o caráter único de cada firma. O uso efetivo dos recursos ocorre quando eles são combinados com outros recursos.

• Os recursos humanos e os gerenciais são essenciais porque expansão requer planejamento e gerenciamento. Estes recursos são específicos da firma e não podem ser adquiridos no mercado. • A estrutura integrada da firma ajuda a criar conhecimento, que

pode ser objetivo, portanto, transmissível ou, pode ser experiência que é difícil de transmitir. Experiência gera recursos gerenciais específicos da firma.

• Recursos não utilizados sempre existem e são liberados sempre que um processo de expansão é concluído. Estes recursos são criados através da experiência e do novo conhecimento. Os recursos não utilizados vão estimular o crescimento e a inovação e influenciarão a direção do crescimento.

• As firmas não são definidas em termos de produtos, mas em termos de recursos e a diversificação é o tema da expansão.

• Existem economias de crescimento, muito diferentes de economias de tamanho.

• Existem limites de crescimento, mas não de tamanho e eles são determinados pela capacidade da equipe gerencial experiente de elaborar os planos e implementá-los.

• O ambiente externo é uma imagem na mente do empreendedor. As atividades da firma são governadas pela oportunidade produtiva, ou seja, todas as possibilidades produtivas que o empreendedor pode enxergar e obter e vantagem.

• Empreendedores buscam o lucro. As firmas desejam aumentar o lucro total no longo prazo em seu próprio beneficio e para obter mais lucro através da expansão.

• Existe uma interação dinâmica entre o ambiente externo e interno, que cria oportunidades de diversificação.

• Especializações dentro da firma conduzem a múltiplos comuns mais altos, portanto maior especialização.

3.5.5 Do crescimento da firma à organização da indústria e política de competição.

Para Penrose, as firmas realizam integração vertical porque são capazes de produzir mais barato para suas próprias necessidades. No entanto, isto deve levar em consideração o desvio de recursos que poderiam estar sendo utilizados em atividades mais lucrativas.

Fusões e aquisições podem ocorrer em parte pela necessidade de se adquirir serviços produtivos. Concentração em uma economia em crescimento ocorre quando as firmas grandes crescem mais rapidamente que a economia como um todo. As firmas grandes e mais antigas têm vantagem competitiva sobre as firmas menores e mais novas. Entretanto, em uma economia em crescimento, dificilmente estas firmas irão conseguir aproveitar todas as oportunidades, o que permite a firmas menores também aproveitar algumas oportunidades lucrativas. Os limites na taxa de crescimento das firmas grandes e a competição em grandes negócios tendem a conduzir a um declínio na concentração das grandes firmas, mas não no seu tamanho. A competição induz inovação e o desenvolvimento de novos produtos e tecnologias. Mas também é ao mesmo tempo o “bem” e o “mal”, na medida em que a nova estrutura consequente do crescimento da firma passa a limitar este mesmo crescimento Este ficou conhecido como “efeito Penrose”.