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4. NOVO RITMO DA REDAÇÃO

4.3 A Editoria Rio em novo horário

Na Editoria Rio, os mais afetados pela mudança foram os editores, que passaram a chegar mais cedo. A escala dos repórteres e da equipe do site pouco se alterou, já que esta é uma editoria cujo trabalho sempre teve início nas primeiras horas da manhã, por conta da própria dinâmica da cidade, diferentemente do que acontecia até então com editorias como Esporte e Mundo, por exemplo. Um ano e meio após a implantação do chamado novo ritmo, a rotina da Rio oferece algumas pistas a respeito de aspectos relevantes de uma redação convergente, entre eles a persistência do pessoal do “site” e do “papel”.

Dois jornalistas entram às 7h: o responsável pelo monitoramento do dia a dia da cidade e um repórter do site. Uma hora depois, chegam o editor do site e mais um repórter. O editor do site, o editor-chefe e a chefe de reportagem se reúnem para discutir os assuntos que serão levados para a reunião principal, com todos os demais editores, por volta de 8h30m. No total, cinco profissionais trabalham exclusivamente para o site dentro da Editoria Rio. São eles:

7h - Repórter e Editora

9h – Repórter

12h – Coordenadora

16/17h – Repórter

Um deles é a jornalista C.B. – que entra às 7h – responsável por organizar a página da Editoria Rio no site. Iniciou sua carreira como repórter em uma rádio popular e entrou para O Globo em 2010, quando as redações já estavam integradas. Apesar da denominação oficial de repórter, na prática, a rotina de C.B. e dos demais que compõem a equipe do site consiste basicamente em um trabalho de edição e redação. A jornalista explica que “raramente” faz alguma matéria, pois não sobra tempo para isso, o que também a desestimula a sugerir alguma pauta por saber que isso acarretaria ainda mais trabalho.

Descrevendo sua rotina diária, C.B explica que, quando chega à redação, as matérias “do papel” já estão todas publicadas no sistema, tarefa que fica a cargo do

jornalista que encerra o dia anterior. Quem chega pela manhã deve destacá-las ou “chamá- las” na home da editoria, no jargão de quem trabalha com internet. Outra tarefa é atualizar os artigos de todos os colunistas, nos destaques de cada um que ficam dispostos no eixo central da página. Um trabalho basicamente de edição.

Quando chego, as matérias do papel já estão publicadas. Porém, é preciso organizá-las na home de Rio. Chamo todas na home e também troco o material de todos os colunistas. Tento ler tudo, menos as que vêm do papel porque pressuponho que se vieram do jornal é porque alguém já leu. Mas fora isso procuro ler tudo. O que vem da gente, o que vem da rua, obrigatoriamente tem que ler (C.B., 2015)94

A menção ao que “vem da rua” refere-se aos flashes e matérias enviadas pelos repórteres que estão em campo, fora da redação. Preferencialmente, cabe à equipe do site pegar o chamado “retorno”, o que implica redigir, titular, legendar e complementar o texto quando necessário. “E tem que fazer isso tudo muito rápido, de preferência antes do G1”, explica C.B.

A referência ao G1, portal que concentra a produção jornalística dos veículos do Grupo Globo, diz respeito a um processo de concorrência entre as empresas controladas pelo mesmo grupo em busca de maior audiência. A necessidade de publicar rápido visa alcançar um destaque no Globo.com, portal e provedor que reproduz todo o conteúdo das diversas empresas do grupo, não apenas de jornalismo, mas também de entretenimento, além de oferecer serviços diversos, atingindo assim uma audiência bastante superior aos números isolados do site do Globo.

Conseguir que uma matéria tenha destaque no Globo.com – antes do G1 – significa potencializar o número de acessos e, portanto, a audiência para o site do jornal. Quando isso acontece, os editores do site comemoram efusivamente “e chegam a bater palmas”, relata uma das repórteres entrevistadas.

Esse controle é feito através do Google Analytics: os números oscilam como as ações da Bolsa. De acordo com depoimentos, uma matéria que está sendo lida por, digamos, 200 pessoas, passa a ser lida por 1.500, 3 mil, 10 mil quando entra na globo.com. Essa situação acaba pautando os repórteres, interferindo nos apelos que eles precisam utilizar no próprio texto para tornar a sua matéria atraente para o portal (MORETZSOHN, 2014, p.73)

A respeito de como se dá a produção para o site e para o impresso na Rio, C.B. confirma a permanência de equipes distintas e explica que a convergência ainda não se desenvolveu plenamente por ser uma editoria “mais complicada”.

Em Economia e Mundo, a convergência está funcionando mais plenamente. Aqui na Rio ainda há a equipe do papel e do online, é uma editoria mais complicada. Todos publicam, mas nem todos podem editar a home de Rio. Até porque isso não dá muito certo, tem que estar concentrado em um grupo específico se não vira confusão (C.B, 2015)

Analisando a convergência do ponto de vista dos editores, o depoimento de Angelina Nunes também confirma a permanência de uma distinção entre as equipes.

O editor do online trabalhava ao meu lado também como editor. No dia a dia, a decisão final ficava com o editor do papel, já que nas reuniões ele é quem levava para a discussão principal o que seria a matéria mais importante do papel. Na prática, o editor do impresso teve que passar a entender mais do ambiente online (NUNES, 2015)

Os depoimentos indicam que a proposta de convergência total e o conceito de edição contínua parecem esbarrar em impossibilidades diversas, sejam elas de natureza técnica/operacional ou mesmo cultural. A despeito da ostensiva reestruturação promovida pela direção, os relatos também mostram a prevalência do prestígio do impresso sobre as demais plataformas, aspecto que se revela na resistência e ceticismo de muitos jornalistas quanto aos novos rumos que o comando comercial e editorial impôs ao jornal.