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EDUCAÇÃO AMBIENTAL: AUTONOMIA E ÉTICA, SABERES NECESSÁRIOS

Mapa 02 Localização das escolas participantes da pesquisa

3.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: AUTONOMIA E ÉTICA, SABERES NECESSÁRIOS

A EA é uma educação voltada à formação de grupos humanos comprometidos

a estender a consciência da sua responsabilidade ao todo de seu mundo, a toda humanidade, e a toda vida na Terra. A Educação quando fiel a sua natureza é uma prática de máxima inclusão e deve valorizar a vida, cuidar, conservar e preservar o meio ambiente, no presente e para o futuro (BRANDÃO, 2003).

Para Dias (1996), a mais adequada à necessidade da Educação Ambiental é a pedagogia liberal, que defende a predominância dos interesses e liberdades individuais na sociedade, dando lugar a uma tendência pedagógica progressista, crítica e libertadora, preconizada por Paulo Freire (2008, p. 22). Para este autor, “a reflexão crítica sobre a prática torna-se uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática ativismo”.

Na temática ambiental, por exemplo, tudo o que tem sido produzido neste sentido em termos de referencial teórico, tem e deve ser posto em prática para que possamos alcançar a “sustentabilidade”.

A autonomia da prática educativa, proposta por Paulo Freire torna-se um saber necessário, quando analisada dentro da perspectiva da Educação Ambiental, e considerando conceito de ambiente como categoria sociológica, e não apenas direcionada aos aspectos ecológicos/naturais. Dessa forma, seria ela capaz de promover uma Educação Ambiental de qualidade, construindo uma consciência

ambiental através de uma formação feita de maneira progressista com liberdade e criticidade, tanto por docentes como pelos discentes, considerando que, para Freire educar com autonomia não é apenas transferir, mas construir conhecimentos.

Para se pensar quaisquer formas de se fazer Educação, é imprescindível a inclusão da ética, principalmente em se tratando de assuntos relacionados ao meio ambiente. (FREIRE, 2008, p. 34), diz que o educador deve ser modelo, referência, no sentido de garantir a “corporeificação das palavras pelo exemplo”. A ação do professor jamais deve se distanciar do seu discurso, nem trabalhar na perspectiva do “faça o que eu digo e não o que eu faço”.

A ética da prática educativa sugere uma atuação diante dos educandos que demonstre que nossa ação na sociedade implica em resultados, sejam eles, políticos, econômicos, culturais e ambientais. Somos seres histórico-sociais, capazes de “comparar, de ajuizar, de escolher, de decidir, de romper” (FREIRE, 2008 p. 33) e, dessa forma, construir-nos como seres éticos. A ética está imbricada em tudo àquilo que somos, pois “só somos por que estamos sendo. Estar sendo, é a condição, entre nós, para ser” (ibidem, p.33).

A ética que Freire (2008, p.18) chama de, “ética universal do ser humano”trata- se da “marca da natureza humana, enquanto algo absolutamente indispensável à convivência humana”. Não se trata da mesma ética do mercado que se curva aos interesses do lucro, ética esta encontrada no discurso fatalista do neoliberalismo que tem implícita uma “indiscutível vontade imobilizadora” contra a qual devemos lutar como educadores problematizadores, recusando assim a inexorabilidade dessa ideologia da Globalização, que além de tudo, “nos nega e amesquinha como gente”, quando sugere que a saída para a prática educativa seria “adaptar o educando a esta realidade que não pode ser mudada” (FREIRE, 2008 p. 20).

Desde que nos fizemos seres éticos, nos tornamos capazes de transgredir a ética, no entanto a transgressão não pode jamais ser vista como um direito, mas sim uma possibilidade contra a qual devemos lutar, pois é inaceitável que os interesses do mercado se sobreponham aos humanos.

[...] O ser humano se tornou uma presença no mundo, com o mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo a outra presença como um “não-eu” se reconhece como “si própria”. Presença que se pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém, que transforma [...] E é no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade, da ruptura, da opção, que se instaura a necessidade da ética e se

impõe a responsabilidade. A ética se torna inevitável e sua transgressão possível é um desvalor, jamais uma virtude (FREIRE, 2008, p. 18).

Não há como produzir o saber ambiental sem ética, conscientização, produção teórica e pesquisa científica. “Ser ético é pensar certo e implica uma postura exigente, difícil e penosa que temos que assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo e dos fatos, ante nós mesmos”. (FREIRE, 2008, p. 49)

A Educação Ambiental requer o que Freire (2008) chama de “ética universal do

ser humano” porque somente ela pode alcançar o real sentido de quaisquer formas

de Educação, que seria o de promover o desenvolvimento do indivíduo e consequentemente da sociedade, contrapondo-se à ética do mercado, que não encontra limites para alcançar os resultados esperados em nome do desenvolvimento econômico, mesmo que, a degradação seja necessária.

O processo de ensino-aprendizagem, na visão freireana, pressupõe uma inter- -relação entre os sujeitos envolvidos. Dessa forma, é importante que o professor oriente sua prática na perspectiva da criticidade, numa aprendizagem na qual, ele apresente um conhecimento aberto a questionamentos que despertem a curiosidade e possibilite a construção de novos conhecimentos a partir das experiências cognitivas que, tanto ele quanto os alunos trazem para o cotidiano da sala de aula.

A partir do momento em que nos percebemos capazes de intervir no mundo e que a nossa intervenção nos torna sujeitos da História, devemos reconhecer que nossa contribuição pode ser positiva ou não, nesta construção. Isto nos reporta a questão da ética tratada anteriormente; somos éticos e, portanto, podemos transgredir a ética, embora não seja essa a melhor escolha.

Quando Freire (2008, p. 107) diz que “ninguém é sujeito da autonomia de ninguém” ele propõe uma pedagogia da autonomia pautada na construção e troca de saberes, e na troca decorrente das interações sociais, que devem servir de instrumento para a prática pedagógica, pois a realidade do educando, o seu conhecimento prévio e de mundo associados aos conteúdos programáticos, são de extrema relevância dentro e fora da escola.

Estar no mundo sem fazer história, sem por ela ser feito, sem fazer cultura, sem “tratar” sua própria presença no mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar, sem pintar, sem cuidar da terra, das águas, sem usar as mãos, sem esculpir, sem filosofar, sem pontos de vista sobre o mundo, sem fazer ciência, ou tecnologia, sem assombro em

face do mistério, sem aprender, sem ensinar, sem idéias de formação, sem politizar não é possível (FREIRE, 2008 p. 58).

A escola tem a função primordial de garantir o pensar certo, que diz respeito à intervenção do ser no mundo para conhecê-lo, cuidá-lo, assumindo-se como ser histórico. O professor deve estar sempre aberto aos questionamentos, transformando esta prática pedagógica num momento de prazer, no qual os alunos determinem de forma ativa como deve ser conduzido o processo de construção do conhecimento.

Freire (2008, p. 98) diz que, “a Educação é uma forma de intervenção no mundo” e que, portanto, exige comprometimento com a prática docente, sobretudo possibilitando a liberdade do educando de assumir posições e a tomar decisões conscientes, constituindo aos poucos sua autonomia de ser. Nesse sentido, a especificidade humana do ensino, aspira mudanças em todas as áreas de atuação humana, na busca pelo respeito a todos.

[...] a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. Dialética e contraditória, não poderia ser a educação só uma ou só a outra dessas coisas. Nem apenas reprodutora nem apenas desmascaradorada ideologia dominante. (FREIRE, 2008, p.98)

O educador que respeita a autonomia e a identidade do aluno criará nele virtudes. “A prática docente é profundamente formadora, por isso, ética, se não pode esperar de seus agentes que sejam santos ou anjos, pode-se e deve-se deles exigir seriedade e retidão (FREIRE, 2008, p. 65)”.

Desenvolver a pedagogia da autonomia exige do educador a responsabilidade em assumir suas ações e decisões, implica o desenvolvimento da confiança, da generosidade, do respeito e compromisso com o ensino e com o aluno.

Considerando-se a educação uma forma de intervenção no mundo, podemos destacar essa intervenção como expressão de nossa participação ativa no processo histórico.

[...] observar diretamente o meio ambiente, entrar em contato direto com os diferentes grupos sociais que o compõe, observar como as relações sociais permeiam o meio ambiente e o exploram, coletar junto às pessoas informações sobre as relações que mantêm com o meio ambiente em que vivem, enfim, apreender como a sociedade

lida com ele. Agir assim é experimentar comportamentos sociais em relação ao meio ambiente que permitem constatar suas características e as reações dele à nossa atuação. Sabemos que se aprende a participar participando. (PENTEADO, 1994, p. 53)

Os conceitos de Educação Ambiental são complexos e geralmente vêm associados à formação do indivíduo enquanto cidadão, ou seja, o cidadão tem que ter consciência do seu papel na sociedade e, portanto, deve saber da necessidade da preservação e da manutenção do meio ambiente. Assim, a escola seria um local onde docentes e discentes exerceriam sua cidadania e, a partir deste espaço, construiriam sua “consciência ambiental”.

A Educação além de promover o desenvolvimento da capacidade intelectual e moral do indivíduo, deve também desenvolver nele atitudes e habilidades necessárias à preservação do meio ambiente para a melhoria da qualidade de vida, não somente no presente, mas também para as futuras gerações. Esta aprendizagem tende a ser mais proveitosa quando adaptada concretamente às situações da vida real, tanto dos alunos, quanto dos professores, ou seja, do contexto em que se encontraminseridos.

A teoria deve ser transformada em ação, pois de nada adiantaria desenvolver a “consciência ambiental” se esta não for posta em prática por todos os sujeitos envolvidos. A aprendizagem ambiental deve ser um tipo de saber fundado em visões críticas e transformativas sobre a educação e os sujeitos envolvidos neste processo de construção do conhecimento.

As mudanças que estão ocorrendo nos modos de produzir, consumir, interagir e consequentemente na sociedade como um todo, modifica também os horizontes tradicionais das práticas educativas, propondo novas formas de desenvolvê-las. A Educação Ambiental é um produto dos movimentos sociais que surgiram devido a estas mudanças na sociedade, quando estas passaram a ser motivo de preocupação para a qualidade de vida.

Dessa forma, a pedagogia da autonomia proposta por Freire, por se tratar da criação de possibilidades para a produção ou construção de novos conhecimentos através da liberdade e criticidade, propiciaria o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias em prol da preservação do homem e seu meio.

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