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Mapa 02 Localização das escolas participantes da pesquisa

3.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E TRANSVERSALIDADE

A Educação Ambiental definida no artigo 1º da Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999, como “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999), é percebida além de sua dimensão ecológica e natural, ou seja, ela traz consigo aspectos sociais, políticos e econômicos.

Os problemas ambientais que enfrentamos não se limitam somente à proteção da vida, da fauna e flora, ou seja, hoje se pensa cada vez mais em sustentabilidade através da conciliação entre desenvolvimento econômico preservação ambiental e melhoria da qualidade de vida. Nesse sentido, acreditamos ser possível através de uma educação que ofereça condições para que o educando compreenda os fatos naturais e humanos, bem comoatravésdo desenvolvimento de atitudes que permitam uma relação homem/homem e homem/meio harmoniosa que se torne real o alcance de uma sociedade justa e sustentável.

Vimos que dentro de uma perspectiva geográfica o homem tem modificado o meio ambiente através do seu trabalho, como forma de produzir o que considera necessário para sua sobrevivência, e que com o advento do sistema capitalista de produção que prioriza o consumismo e o lucro, esta modificação no meio tem cada vez mais sido intensificada, de modo que estamos diante de mudanças no ambiente que vêm comprometendo a nossa qualidade de vida, o que requer uma abordagem deste tema por parte da escola, uma vez que esta tem papel primordial no processo de formação do indivíduo.

Os PCN‟s distribuídos aos professores, desde o segundo semestre de 1997, trazem a proposta dos temas transversais, nos quais, o Meio Ambiente integra este conjunto por tratar-se de um tema que está sendo intensamente discutido pela sociedade.

A transversalidade surge como um conceito fundamental para a educação, pois de modo geral representa um meio de se refletir sobre a realidade, tendo como orientação os PCN‟s dedicados aos temas transversais que dizem:

A transversalidade diz respeito à possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação (aprender na realidade e da realidade). E uma forma de sistematizar na organização curricular, garantindo sua continuidade e aprofundamento ao longo da escolaridade.(...) os temas transversais portanto, dão sentido social a procedimentos e conceitos próprios das áreas convencionais, superando assim o aprender apenas pela necessidade escolar de “passar de ano” (BRASIL, 2001, p.30)

Nesse sentido, quando o aluno aprende sobre aquilo que está vivenciando, percebe-se pertencente àquela realidade e a necessidade de sua atuação de modo a intervir de maneira positiva para a prática de ações que resultem em soluções para os problemas que deixam de ser “dos outros” para se tornarem seus problemas, uma vez que ele se vê como um dos sujeitos do processo.

De acordo com Callai (1997), a proposição dos PCN‟s (temas transversais) parte da idéia de que as disciplinas tradicionais não dariam conta do tratamento da problemática que cada um desses temas sugere, merecendo, portanto, uma atenção especial no cotidiano escolar.

Este documento propõe formas de encaminhamento, bem como orientações para a prática pedagógica, porém, é o professor quem define de que maneira irá trabalhar os temas transversais na sala de aula, e neste caso, estes temas seriam uma espécie de elo entre o ensino escolar e a prática social, sem esquecer que a formação da cidadania se faz pelo seu exercício (CALLAI, 1997).

É sempre importante lembrar a diferença entre transversalidade e interdisciplinaridade. De acordo com os PCN‟s “a interdisciplinaridade refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos do conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito principalmente a dimensão da didática” (BRASIL, 2001, p.29).

A transversalidade, portanto, relaciona-se a temas que perpassam diferentes campos do conhecimento sem necessariamente construir novos campos disciplinares. Enquanto que a interdisciplinaridade refere-se a uma relação entre as disciplinas, ou seja, busca integrar as diferentes disciplinas através da abordagem de temas comuns em todas elas, possibilitando a criação de novos conhecimentos (BRASIL, 2001).

Dentro dessa perspectiva, o meio ambiente está considerado entre os temas transversais, a serem incluídos nos currículos do ensino fundamental ao lado de

outros tais como, a ética, a pluralidade cultural, a saúde, orientação sexual e trabalho e consumo. Os temas transversais de acordo com os PCN‟s tratam de processos a respeito de questões sociais que estão sendo intensamente vividos pela sociedade.

São questões urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo construída e que demandam as transformações macrossociais e também de atitudes pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas duas dimensões. (BRASIL, 2001, p. 26)

Estes temas foram definidos a partir de alguns critérios relevantes ao processo de construção da cidadania e da democracia, quais sejam:

a) Urgência Social –considera questões graves que afrontam a dignidade das pessoas e deterioram a qualidade da vida humana;

b) Abrangência Nacional – considera temas relevantes á realidade do país, bem como as especificidades estadual, municipal e das próprias escolas;

c) Possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental –são temas que estão ao alcance da aprendizagem neste nível de ensino;

d) Favorecer a compreensão da realidade e a participação social – estes temas devem possibilitar aos alunos sua inserção no mundo através da educação através do desenvolvimento da capacidade de se posicionar diante das questões referentes à vida social, superando a indiferença e intervir de forma responsável, assim como uma visão ampla e consistente da realidade brasileira (BRASIL, 2001, p. 30).

Nesse documento, a transversalidade é definida como “possibilidade de se estabelecer na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos sistematizados e as questões da vida real e de suas transformações” (ibidem, p. 30). E dessa forma, o meio ambiente como tema transversal, objetiva formar cidadãos conscientes e comprometidos na tarefa de preservar o meio ambiente, a fim de garantir o bem-estar social.

Os PCN‟s referentes aos temas transversais dizem também que o tema meio ambiente tem como função principal “[...] contribuir para a formação de cidadãos plenos, capazes de decidirem e atuarem sobre a realidade de modo ético e comprometido com a vida, com a sociedade local e global” (BRASIL, 2001, p. 187).

Para tanto, é necessária a participação de todos os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem: educadores, educandos, família, enfim, a sociedade como um todo. Assim, como se fazem relevantes, valores como a ética e conhecimentos a respeito de saúde, trabalho e consumo, pluralidade cultural somam- -se para o alcance dos objetivos da Educação.

No entanto, para Luzzi(2003), a EA como tema transversal representa uma espécie de reducionismo, visto que, ela apresenta princípios, objetivos e metodologias próprias, isto é, ela acaba por ser resumida a um “receituário preparado para a inserção através dos temas transversais e dos projetos interdisciplinares”. E defende ainda a ideia de que a EA está além de um tema transversal, pois é um produto em construção da complexa dinâmica história da educação e do “diálogo permanente entre concepções sobre o conhecimento, a aprendizagem, o ensino, a sociedade, o ambiente” (LUZZI, 2003, p. 179)

Nesse sentido, considera que o binômio educação/ambiental deverá desaparecer com o tempo e que toda educação é ambiental ou não é educação (BIANCHINE,1995, apud LUZZI, 2003), ou seja, toda educação é ambiental, pois se a mesma não vier acompanhada da dimensão ambiental ela “perde a sua essência e pouco pode contribuir para a continuidade da vida humana” (CARVALHO, 2002, p. 36).

Toda prática educativa requer experiências reflexivas e transformativas a partir do desenvolvimento de novas formas de investigação sobre aprendizagem ambiental e a implementação de metodologias que englobem os demais temas transversais. A escola como uma microssociedade possui as mais variadas formas culturais, econômicas, políticas religiosas e raciais, e a partir de toda esta diversidade surgem necessidades pedagógicas individuais e sociais diferenciadas, em contextos diferenciados e, portanto, demandam processos de ensino/aprendizagem também diferenciados.

Dessa forma, um modelo único dificilmente contemplaria toda esta demanda; daí a necessidade de uma educação inovadora que permita aos educadores e educandos, de maneira autônoma, crítica e criativa, construirem novos conhecimentos a partir de práticas alternativas adaptáveis as mais diversas realidades.

4 O ENSINO DA GEOGRAFIA APLICADO À TEMÁTICA AMBIENTAL: DESDOBRAMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, primeiramente procuramos contextualizar o universo no qual foi realizada a pesquisa, através de uma breve descrição do município de Cajazeiras e das escolas que percorremos para a obtenção de dados. Optamos por fazer esta descrição, uma vez que, desde o começo nosso trabalho se comprometeu a estudar o “espaço” de forma a compará-lo com o ambiente em que vivemos e, portanto, conhecê-lo faz-se necessário. Em seguida, mostramos os caminhos e instrumentos metodológicos utilizados e, finalmente, apresentamos a análise dos dados e resultados obtidos.

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