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Educação e desenvolvimento regional

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CAPÍTULO 2 – EDUCAÇÃO SUPERIOR E SUAS EXTERNALIDADES

2.3 Os impactos das atividades das IES sobre as regiões

2.3.1 Educação e desenvolvimento regional

Souza et al. (2014, p. 76) afirmam que existe uma relação direta entre o nível educacional da população e o desenvolvimento socioeconômico, e que diversos autores têm demonstrado “[...] que o potencial educacional dos indivíduos tem reflexos positivos no nível de inovação, crescimento e desenvolvimento tecnológico/econômico de um país”. Os autores afirmam que, quanto maior o nível de escolaridade, maiores são as possibilidades de os indivíduos se inserirem no mercado de trabalho e, consequentemente, gerarem maiores níveis de renda e desenvolvimento regional.

Alguns dos principais benefícios alcançados com o desenvolvimento econômico e social de uma região, e, consequentemente, ao se elevar a

escolaridade de uma nação são citados por Barros e Mendonça (1997): crescimento econômico por meio da elevação da renda per capita; redução do crescimento populacional, o que acarreta a melhoria da qualidade de vida por meio da redução da pobreza; diminuição dos índices de mortalidade infantil; aumento do nível de longevidade da população; e desempenho educacional, que gera o aumento da produtividade das empresas, devido à maior qualificação dos empregados.

O aumento do nível educacional também pode reduzir, segundo Nascimento e Andrade (2011), as desigualdades sociais e econômicas, promover mobilidade social, preservar e valorizar a identidade da região, e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida da população. Conforme os autores, ao disseminarem conhecimento, as universidades contribuem para o processo de desenvolvimento local.

Cruz, Teixeira e Braga (2010, p. 184), em estudo sobre a relação entre crescimento e redução da pobreza, concluíram que

[...] o acréscimo de 1% nos gastos com educação e cultura permite redução do número de pessoas pobres em 1,25%, enquanto a variação de 1% deste tipo de dispêndio permite aumento de 0,47% no índice de produtividade e de 0,27% da renda per capita. [...] Essas conclusões indicam que a composição dos gastos públicos deve priorizar, sobretudo, os gastos em educação e cultura e em saúde e saneamento.

Assim, o investimento em educação é considerado por Lemos et al. (2009, p. 359) como “[...] estratégico para impulsionar a ascensão social dos indivíduos e potencializar o crescimento econômico da sociedade”. Anteriormente a esses autores, Lucci (2000, p. 4) já assinalava que o processo de desenvolvimento do mundo contemporâneo tem por base os serviços, a criatividade e o capital físico, que é a variável-chave do crescimento econômico, traduzido como o aumento do Produto Interno Bruto (PIB):

Para acompanhar este novo processo de desenvolvimento do mundo onde os serviços e a criatividade dão o tom, o capital físico, que era a variável- chave do crescimento econômico, perde lugar hoje para o capital humano34, representado pelo conjunto de capacitações que as pessoas adquirem através da educação, de programas de treinamento e da própria experiência para desenvolver seu trabalho com competência, bem como pelo desenvolvimento de várias competências do ponto de vista profissional. [...] [Segundo a Teoria do Capital Humano] poderíamos dizer de forma resumida que o progresso de um país é alavancado pelo investimento em pessoas. (Grifos do autor)

34 A Teoria do Capital Humano foi desenvolvida na década de 60, por dois economistas que mais tarde receberiam o Prêmio Nobel (Theodore Schultz e Gary Becker) (LUCCI, 2000, p. 4).

Souza et al. (2014), apresenta alguns dos principais indicadores socioeconômicos internacionais, como o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de GINI (instrumento para medir a desigualdade na concentração de renda) e o Programme for International Student Assessment (PISA), de alguns países desenvolvidos com os do Brasil, conforme apresentado na Tabela 12 a seguir, como ilustração para perceber-se que o aumento e o uso eficiente de investimentos direcionados à educação são meios estratégicos para potencializar o desenvolvimento local.

Tabela 12 - Comparação de indicadores brasileiros com indicadores de países desenvolvidos Países PIB per capita

(2010)1 (US$) IDH (2011) 1 GINI2 PISA (2009)3 EUA 46.546 0,910 0,463 (2007) 496 Japão 43.141 0,901 0,376 (2008) 529 Alemanha 39.857 0,905 0,270 (2006) 510 França 39.546 0,884 0,327 (2008) 497 Reino Unido 36.327 0,863 0,410 (2008) 500 Brasil 10.716 0,718 0,519 (2012) 401 Fonte: SOUZA et al (2014).

Notas: 1 - Dados disponíveis em: <http://www.ibge.gov.br/paisesat>. Acesso em: 31 jan. 2013. 2 - Dados disponíveis em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2172 .html>. Acesso em: 31 jan. 2013.

3 - Dados disponíveis em: <http://www.oecd.org/pisa/46643496.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2013. 4 - PIB: produto interno bruto; IDH: Índice de Desenvolvimento Humano; PISA: Programme for International Student Assessment.

Nesse sentido, Moraes (2010, p. 549) afirmou que os países mais bem colocados “[...] na chamada Nova Economia, baseada intensivamente em conhecimento, são justamente os que proporcionam maior acesso à educação – e onde esta atividade é desenvolvida de maneira mais qualificada”. Lucci (2000), por sua vez, pontua que, na sociedade que estava se formando e que teve por base o capital humano ou intelectual, a Sociedade do Conhecimento, estavam sendo criados em várias partes do mundo os think thanks, que são grupos ou centros de pensamento para a discussão de ideias. “Esses centros têm por objetivo a construção de um mundo, de uma sociedade mais saudável do ponto de vista econômico e social, que possa desfrutar de uma melhor qualidade de vida” (LUCCI, 2000, p. 4).

Percebe-se assim a relação entre o acesso à educação e o desenvolvimento socioeconômico na citada sociedade, a chamada “Nova Economia” ou “Sociedade

do Conhecimento”, que surgiu no fim do século XX. Neste contexto, Dziekaniak e Rover (2011) consideram que a informação é a unidade de entrada básica para o desenvolvimento do conhecimento, ou seja, ela não é sinônimo desse. “O conhecimento vem a ser o valor agregado à informação, é o ‘o que se faz com ela’; o diferencial que culminará nas decisões acertadas, no saber fazer” (DZIEKANIAK; ROVER, p. 3, grifos dos autores).

Por outro lado, Lévy (1998, p. 19) pontua que

A prosperidade das nações, das regiões, das empresas e dos indivíduos depende de sua capacidade de navegar no espaço do saber. A força é conferida de agora em diante pela gestão ótima dos conhecimentos, sejam eles técnicos, científicos, da ordem da comunicação ou derivem da relação ‘ética’ com o outro. Quanto melhor os grupos humanos conseguem se constituir em coletivos inteligentes, em sujeitos cognitivos, abertos, capazes de iniciativas, de imaginação e de reação rápidas, melhor asseguram seu sucesso no ambiente altamente competitivo que é o nosso.

Corroborando com esse pensamento, Amaral (2006) afirma que na Sociedade do Conhecimento a educação ocupa um lugar central, e as novas tecnologias apoiam a sua disseminação. Já Dziekaniak e Rover (2011) enfatizam que a Sociedade do Conhecimento é o modelo ideal, mas ressaltam que ela não abrange a realidade vivenciada pelos países de economia periférica.

Sociedades em que há fortes diferenças sociais, econômicas e culturais, não podem ser denominadas de Sociedade do Conhecimento, haja vista haja vista que o conhecimento deve perpassar, inclusive, pela esfera da moral e da ética. Por enquanto tem-se visto o “conhecimento” como força propulsora principalmente de desigualdades sociais. Não fazendo parte do ideal de Sociedade do Conhecimento com o qual esta e muitos outros pesquisadores se identificam. (DZIEKANIAK E ROVER, 2011, p. 8, grifos dos autores)

De acordo com os autores, a Sociedade da Informação e a Sociedade do Conhecimento, se não chegam a ser antagônicas, ao menos são modelos de sociedades com ideologias diferentes. Contudo, para eles, não é a Sociedade da Informação que se deseja, e sim a Sociedade do Conhecimento de que fala Habermas (1982), que tem “[...] o conhecimento como essência reflexiva para o desenvolvimento e crescimento do sujeito que conhece” (HABERMAS, 1982 apud DZIEKANIAK E ROVER, 2011, p. 9).

No intuito de clarear essas afirmações, apresentam-se no Quadro 2, de forma reduzida, as características relacionadas à Sociedade da Informação (existente) e à Sociedade do Conhecimento (idealizada).

Quadro 2 - Características da Sociedade da Informação e da Sociedade do Conhecimento. Item Sociedade da Informação (sociedade existente) Sociedade do Conhecimento

(sociedade desejada) Termo Mercadológico e econômico Social e acadêmico

Destaque Informação e tecnologias que a efetivam e não no termo Sociedade.

Sociedade muito mais do que o termo Informação ou Conhecimento. Autonomia de pensamentos, liberdade de expressão, valorização da democracia e da e-citizen (cidadão).

Criação do termo na década de 1990

Para representar o crescimento econômico unilateral de algumas nações (Globalização). No bojo do desenvolvimento da Internet e das TICs.

Como alternativa à visão de mercado adotada pelos organismos econômicos mundiais.

Portadores do Conhecimento

Os membros das classes dominantes.

A sociedade como um todo: “saber compartilhado”.

Tecnologia e Informação

Forma de garantir hegemonia e manutenção dos lucros.

As TIs a serviço da sociedade, como forma de potencializar a melhora na qualidade de vida e na geração de autonomia.

Fator de produção

Predominância do Setor de Serviços, principalmente os baseados em conhecimento, em detrimento do Setor Industrial.

Conhecimento: recurso de produção, prosperidade, bem estar social.

Investimento no humano e social. O pensar e saber fazer.

Foco

Na tecnologia, na transmissão de dados e nos espaços de

armazenamento.

Na ideologia de uma sociedade mais igualitária e justa. Centrada nas pessoas e no reuso do conhecimento.

Fonte: Elaborado pela autora, com dados de Dziekaniak e Rover (2011).

Nessa visão de sociedade desejada, há consequentemente a busca pelo

desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento, que ocorre paralelamente ao incessante crescimento econômico dos países capitalistas. Ao que parece, esse é o melhor caminho para o desenvolvimento de uma sociedade para todos, ou seja, para uma

[...] sociedade mais igualitária, baseada dentre outras perspectivas, nas possibilidades tecnológicas, [que] devem permear toda e qualquer trajetória de desenvolvimento de uma sociedade que se diz justa e que busca munir seu povo de conhecimento e cultura para empoderá-lo de conhecimento para que sejam capazes de tomar decisões sábias e proveitosas, para

serem aplicadas novamente na sociedade em que vivem. (Dziekaniak e

Rover, 2011, p. 9, grifos dos autores).

Assim, o Estado apresenta-se como o “maestro” dessa orquestra e, de posse da “batuta”, deve conduzir a sociedade com as políticas públicas, reconhecendo que “[...] quanto mais uma nação se desenvolve moralmente, intelectualmente, socialmente e equanimemente, mais rapidamente consegue atingir os degraus que levam à Sociedade do Conhecimento – uma sociedade para todos” (DZIEKANIAK; ROVER, 2011, p. 11).

Sabendo que essa Sociedade, até o momento, está muito longe de se constituir, principalmente nos países periféricos, nos quais a desigualdade social é a realidade vivenciada, como é o caso do Brasil, o papel do Estado torna-se mais relevante e imprescindível para que ocorram as mudanças desejadas. É preciso focar no desenvolvimento humano, o que já é uma realidade nos países ditos centrais, conforme visto na Tabela 12, permitindo que o desenvolvimento social e econômico aconteça para todos.

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