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5 DOCENTES DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DILEMAS E POSSIBILIDADES

5.1 EDUCAÇÃO DO FUTURO

Enquanto o sistema educacional agoniza, uma das soluções pode estar no professor, que é constantemente convidado a posicionar-se diante de questões delicadas e complexas. MORIN (2006) ressalta que todos os seguimentos se encontram, ou seja, todas as ciências. Porém, é necessário que todos vejam e pensem na educação de forma preocupada e compromissada com os atores envolvidos no contexto educacional.

A necessidade de aplicabilidade do conhecimento ao que realmente importa para o aluno, é para Morin, ponto de partida para a realidade que atenda às necessidades da sociedade. Pensar em atuar primeiramente nos conhecimentos prévios do aluno, ou seja, que se respeitem as suas características culturais, cerebrais, mentais e psíquicas, fatores que interferem no conhecimento e que também contribuem para o erro ou a ilusão.

Pensar globalizado, diz Morin. É a partir desta visão que se pode sedimentar para uma visão parcial e local. Como sugestão, ele traz a contextualidade das disciplinas, estimular o aluno a um comportamento de coletividade. Manter-se de maneira totalitária, no conjunto humano: nos aspectos físicos, biológicos, psíquicos, culturais, sociais e históricos. A idéia é partir desta totalidade que são elementos ligados à natureza humana.

Não importa qual seja a modalidade que o professor atue, seja ele, da modalidade presencial ou à distância, os estudos devem integrá-los para a construção solidificada, coerente e sensata às necessidades da formação do aluno. O professor deve pensar, agir e viver a sala de aula de maneira humana, diz Morin. É preciso unir as ciências da natureza: humana, literária e filosófica, a partir desta união que poderá se obter a indissossiabilidade necessária, a diversidade humana.

A consciência planetária deve ser a base para o educador trabalhar a sua prática docente. Nesse contexto o professor da EaD insere-se com aplicabilidade. Dada a sua grande gama de atendimento a um público bem diversificado em todos os aspectos já aqui citados, além das variações regionais, para colocar em prática essa consciência planetária, pois eles são capazes de fazer com que alunos dos mais diversos lugares, regiões, situações sociais e culturais, percebam-se de maneira planetária.

Observando e ao mesmo tempo sendo observado o aluno da EaD, pode reavaliar-se no mundo. Partindo inicialmente da sua condição humana, avaliando sua participação na sociedade em que está inserido. É possível ao aluno da EaD perceber que mesmo estando em locais e situações diferentes, em nada os diferem da história, que a vida de cada um deles está de certa forma ligada a do outro, e que cada atitude gera e leva a conseqüências às vezes desastrosas ao mundo. Eles são capazes de sentir-se co-autores do sucesso ou fracasso do mundo.

Ainda que os alunos da EaD tenha uma característica própria a essa modalidade de ensino, que é a incerteza da vida, é o professor que os ajudará a entender que as incertezas é um mal necessário e que faz parte da humanidade, esta, que está submergida na competitividade desleal contemporânea. Cabe ao estudante confrontar- se com as determinações sociais pré-estabelecidas e procurar enfrentá-las a base de uma formação de qualidade, e mesmo que esse direito seja negado, deverá transgredir e fazer das oportunidades apresentadas a melhor maneira de desmistificar o determinismo social, o que é mais certo são as incertezas.

Permitir-se compreender ou fazer-se compreender é um caminho que passa antes pela compreensão individual. O professor hoje, segundo Morin, precisa ir mais além de ensinar as suas matérias/disciplinas, pura e unicamente. Há que se entender primeiramente a origem de tantas discrepâncias sociais e culturais. Só depois desses

estudos, análises e reflexões a respeito dessas questões é que certamente se chegará à origem da falta de compreensão na humanidade, e a partir destes elementos poderão ser reformulados comportamentos e atitudes de incompreensão, gerando uma nova formação social.

O homem não é uma ilha, ele é feito de partes que se juntarão a outras partes e se formará, então, um todo. Ele parte de si, vive em comunidade, mas trabalha em torno da sua espécie, dos seus iguais. O professor da EaD deve quebrar a estratégia inicial comumente relacionada a esta modalidade, - isolamento - e criar um cunho de coletividade e parceria. A idéia não é discutir valores, ética, mas fazê-los repensar as suas posições sociais sobre os diversos problemas que fazem parte do seu universo. O fato de não está só, faz com que pense (ou deveria) coletivamente. Daí, a oportunidade de se pensar planetariamente.

A fragmentação formativa é clara. É preciso integrar essa formação em instituições articuladas e voltadas a esse objetivo inicial. A formação de professores não pode ser pensada a partir das ciências e seus diversos campos disciplinares separadamente, mas a partir da função social própria à escolarização: “ensinar às novas gerações o conhecimento acumulado e consolidar valores e práticas coerentes com nossa vida civil.” (GATTI, BARRETTO apud UNESCO, 2009).

Morin (2005) reforça que o erro, a ignorância e a cegueira evoluem junto com o conhecimento adquirido. Segundo ele é preciso uma atitude radical. Morin relata atitudes de consciência radical, que são os convites para uma nova visão de todos os conceitos que se tem sobre erro, ignorância, conhecimento e cegueira.

1. A causa profunda do erro não está no erro de fato (falsa percepção) ou no erro lógico (incoerência), mas no modo de organização de nosso saber num sistema de idéias (teorias, ideologias); 2. Há uma nova ignorância ligada ao desenvolvimento da própria ciência; 3. Há uma nova cegueira ligada ao uso degradado da razão; 4. As ameaças mais graves em que incorre a humanidade estão ligadas ao progresso cego e incontrolado do conhecimento (armas termonucleares, manipulações de todo tipo, desregramento ecológico, etc.). (MORIN, 2005, p. 9).

De forma sistematizada, pode-se observar que organizar os pensamentos é na verdade uma separação, união, hierarquização e centralização, ou seja, com os

princípios “supralógicos”2 ou paradigmas que conduzem e governam a visão do mundo, sem ao menos se dá conta disso.

Essa sistematização do conhecimento ao qual Morin indica, pode ser de grande aproveito na aprendizagem da EaD. O aluno da EaD consegue sistematizar essa ordem sem nem mesmo perceber a sua ação. O fato é que o desenvolvimento pode ser estimulado pelo professor, afinal ele deve buscar nos seus educandos, uma tomada de consciência da natureza e das conseqüências dos paradigmas que mutilam o conhecimento e desfigura o real. O professor da EaD precisa procurar quebrar as disjunções ocorridas ao longo do processo educacional brasileiro, onde esteve separados por habilidades, ciências e humanidade.

Hoje se corre o risco de buscar e propagar uma inteligência cega, onde o indivíduo fecha-se ao seu interesse pessoal, negando-se a outras formas de inteligência. O reducionismo de pensar que estando freqüentando uma graduação ou cursos seqüenciais, esteja garantido o acesso ao conhecimento e a quebra das barreiras do erro e da cegueira é ilusão, segundo Morin as universidades são capazes de atingir os mais diversos pontos do sistema educacional, até mesmo uma formação de cretinos universitários.

Enquanto que os mídias produzem a baixa cretinização, a Universidade produz a alta cretinização. A metodologia dominante produz um obscurantismo acrescido, já que não há mais associação entre os elementos disjuntos do saber, não há possibilidade de registrá-los e de refleti-los. (MORIN, 2005, p. 12).

Em um sistema de educação proposto pela modalidade da EaD, é necessário a apropriação de vários conhecimentos, um trabalho em conjunto com a teoria dos sistemas e a cibernética, para que a segunda não passe a emergir de tal forma que sobreponha a primeira. E que transforme a sistêmica em apoio, onde na verdade isso deve ocorrer de forma inversa.

O sistema tem para começar os mesmo aspectos fecundos que a cibernética (esta, referindo-se ao conceito de máquina, mantém na abstração alguma coisa de sua origem concreta e empírica). A virtude sistêmica é: a) ter posto no centro da teoria, com a noção de sistema, não uma unidade elementar discreta, mas uma unidade complexa, “todo” que se reduz à “soma” de suas partes construtivas; b) não ter concebido a noção de sistema como uma noção “real”, nem como uma noção puramente formal, mas como uma noção ambígua ou fantástica; c) situar-se a um nível transdisciplinar, que permite ao mesmo tempo

conceber a unidade da ciência e a diferenciação das ciências, não apenas segundo a natureza material de objeto, mas também segundo os tipos e as complexidades dos fenômenos de associação/organização. Neste último sentido, o campo da teoria dos sistemas é não apenas mais amplo que o da cibernética, mas de uma amplitude que se estende a todo o conhecimento. (MORIN, 2005, p. 20).

A EaD compreende e comporta uma organização do conhecimento, seja esta cibernética, de sistemas ou da informação. Ainda que uma das principais características da EaD seja a virtualidade, o docente amplia a sua visão além as imagens, textos, vídeos e toda linguagem que são significativas na EaD. Atendendo os sete saberes da indicação de Morin, o professor estabelece uma relação direta com o aluno.

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