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Educação em ciências e integração de atividades e aprendizagens desenvolvidas em

Capítulo 2. Pilares teóricos de suporte à sequência didática “O peixe é fish: do mar ao prato”

2.5. Educação em ciências e integração de atividades e aprendizagens desenvolvidas em

A educação em ciências não acontece apenas na escola nem no horário letivo, acontece também nas atividades diárias e em qualquer horário. Pode acontecer em museus, centros de ciências, jardins zoológicos, na Internet, na televisão (Falk, 2008). Citando Ceccon (2010), “a educação acontece em todos os espaços e pode ser intencionalmente praticada por todos os setores da sociedade” (p. 9).

A educação pode efetivar-se em 3 vertentes: educação formal, não formal e informal. A educação formal encontra-se estritamente veiculada ao sistema educativo, desde o pré-escolar à universidade (Rodrigues, 2011; Trilla-Bernet, 1986). É bastante estruturada, desenvolvendo-se em instituições específicas (universidades, escolas), tendo um programa pré-determinado com conteúdos sistematizados para todas as crianças (Chagas, 1993; Gohn, 2006).

A educação não formal abrange o que não é de carácter formal do sistema educativo, está organizada de forma formal, é algo sistematizado, programado e com objetivos, visando uma intervenção pedagógica consciente e intencional, incluindo programas e eventos de instituições educativas (Rodrigues, 2011; Trilla-Bernet, 1986). Esta educação processa-se fora da escola, em museus, escolas de línguas onde existem cursos livres, encontros (Chagas, 1993), cursos de universidades à distância, no ensino por correspondência, nas instituições que fornecem cursos que não estão veiculados ao currículo nem a níveis de ensino (Trilla- Bernet, 1986). Assim, é um processo educativo que se realiza à margem do sistema educativo, com características identitárias próprias (Sallán, 2004), onde o processo de ensino e de aprendizagem se desenvolve num clima especialmente agradável e de acordo com os desejos das crianças (Chagas, 1993).

A educação informal esta subjacente nos efeitos formativos com os quais qualquer ser humano aprende, através das relações com outras pessoas, do contacto com a realidade, com o meio, com a família, com as situações (Gohn, 2006). Esta educação não é sistemática, metódica, estruturada, consciente e intencional, não havendo, portanto, um objetivo pedagógico definido à priori (Trilla-Bernet, 1986). É uma educação que dura a vida toda e promove o desenvolvimento de conhecimentos, capacidades, atitudes e valores.

Depreende-se que uma característica comum à educação formal e não formal é a intencionalidade em ensinar algo, no caso da educação formal são os conteúdos ligados ao currículo definido e inerente ao sistema educativo; no caso da não formal, pretende-se veicular algo que não está necessariamente relacionado com o currículo nem com os programas nacionais oficiais, ocorre, por isso, fora do que é tradicional, fora do “reino” escolar (Dierking, Falk, Rennie, Anderson & Ellenbogen, 2003).

Uma das grandes vantagens da educação não formal e informal é permitir às crianças aprenderem de acordo com os seus interesses e motivações, de forma mais flexível, controlando e gerindo a própria aprendizagem e envolvendo-se nelas de forma ativa, embora é de realçar que isto não invalida que na educação formal não se deva fazer o mesmo, aliás, isso é o que se pretende (Falk, 2008). Tal como refere Falk (2008) na educação não formal as crianças podem escolher o que aprendem, à maneira delas (free-choice learning), sendo este aspeto de extrema importância na educação em ciências ao longo da vida.

Dos espaços de educação não formal que podem ser aproveitados para a articulação com atividades formais, de entre outros, destaca-se o museu. Os museus são elementos sociais e culturais que, através dos objetos que expõe, contam uma história, permitindo compreender como é que as pessoas viviam, eram e pensavam (Homs, 1992). Nessa medida, pode criar experiências de aprendizagem muito ricas (Wood, Crosslin, Schilten & Deads, 2008). Em Portugal, os museus foram reestruturados, ficando mais interativos na divulgação da atividade científica e tecnológica, aspeto este que tem vindo a suscitar um maior interesse por parte dos jovens (Chagas, 1993).

Atualmente os museus dispõem de pessoal especializado que planifica e concretiza atividades (Homs, 1992), oferecendo aos seus visitantes formas de aprenderem à sua maneira (free-choice learning), para irem ao encontro do IBSE/EPP/Q, partilhando com os professores maneiras da sua operacionalização em contexto de sala de aula (Wood et al., 2008).

Os museus oferecem inúmeras possibilidades educativas e permitem que os professores possam encontrar recursos diferentes e interessantes, pois têm potencial para selecionar o que é importante na educação e estimular o desejo de aprender (Homs, 1992). Estas instituições para além de terem capacidades imaginativas e criadoras, podem divulgar informação relacionada com as vivências da comunidade, de forma atrativa (Homs, 1992).

A educação formal, não formal e informal devem andar lado a lado, entrelaçando-se sempre possível e contribuindo para a formação de cidadãos cientificamente literatos (Falk, 2008). Esta articulação permite que as crianças estabeleçam relações entre o que aprendem na escola e a realidade, possibilitando, assim uma aprendizagem holística (Dierking et al., 2003).

Os espaços de educação não formal são instituições inter, multi e transdisciplinares, onde professores juntamente com monitores podem proporcionar às crianças experiências essenciais e significativas (Homs, 1992). Assim, nos museus e em outros contextos de educação não formal, as visitas devem ser convenientemente planificadas, estruturando-se em três fases distintas: pré-visita (antes da visita), durante a visita e após a visita (Falk & Dierking, 1997; Rodrigues, 2011).

Na pré-visita é importante que o professor combine com as crianças o que é pretendido com a mesma, expetativas e interesses das crianças (Morentin & Guisasola, 2008). Assim, o professor deve contextualizar a visita a realizar, dialogando sobre os temas a trabalhar, as razões pelas quais se realiza a visita, a sua importância, facultando também informações sobre o local. As crianças devem ainda ser envolvidas na planificação da visita (fazendo pesquisa sobre o local a visitar, as atividades que podem ser realizadas, selecionando as atividades, delineando o percurso a efetuar, construindo um guião da visita…) (Rodrigues, 2011). Ainda na fase da pré-visita, deve-se identificar as ideias prévias das crianças sobre os assuntos a abordar, partindo delas para definir as aprendizagens a desenvolver e construir a lista de perguntas, formas de registo e recursos necessários, durante a visita (Monteiro, 2002). O professor deve também efetuar uma pré-visita ao local, planificando-a juntamente com o pessoal do contexto não formal, definindo os temas que se pretendem trabalhar, a duração da visita, o propósito e documentos sobre a visita (Monteiro, 2002; Rodrigues, 2011).

Durante a visita, o professor deve assegurar que as crianças coloquem questões e se preocupem em obter a informação pretendida (Morentin & Guisasola, 2008), registando-a, realizando as atividades previstas e chamando a atenção das crianças quando são focados aspetos relacionados com as aprendizagens a desenvolver (Monteiro, 2002). No fundo, o professor deve fazer uma gestão do tempo eficaz, orientando a visita juntamente com os monitores, dando, no final, algum tempo às crianças para explorar aspetos que não foram programados (Rodrigues, 2011). Esta autora (2011) refere ainda que, no início da visita, o

professor deve estipular com as crianças o período de duração da mesma, as atitudes e comportamentos a ter e confirmar se está tudo pronto para o início da visita.

Após a visita, é importante realizar atividades que impulsionem a reflexão sobre a mesma (Morentin & Guisasola, 2008). O professor e as crianças devem começar por refletir sobre o que aprenderam, os seus comportamentos no local, o que mais gostaram, quais as dúvidas que ficaram, que curiosidades e interesses emergiram e os que poderão ser trabalhados… (Rodrigues, 2011). Depois devem sistematizar a informação que recolheram, organizando-a em reportagens, posters, cartazes, distribuindo tarefas na realização desses trabalhos, para que nas aulas seguintes, os apresentem a membros da comunidade e se idealizem atividades a realizar com base nos assuntos que foram abordados na visita (Monteiro, 2002; Rodrigues, 2011).

Sintetizando, a aprendizagem em geral e em particular a das ciências é cumulativa, e efetiva-se em espaços formais (escolas), não formais (museus, centros de ciências…) e informais (televisão, convívio com as família, amigos…). A aprendizagem não ocorre apenas com uma experiência, é a multiplicidade destas que consolida e reforça as aprendizagens (Dierking et al., 2003).