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Capítulo 2. Pilares teóricos de suporte à sequência didática “O peixe é fish: do mar ao prato”

2.6. O peixe – A viagem desde o mar até chegar ao prato

2.6.2. Enquadramento Conceptual

Toda esta sequência didática, “O peixe é fish: do mar ao prato”, pretende a promoção de grandes aprendizagens, desenvolvendo/aprofundando conceitos, conhecimentos nas crianças.

Figura 1: Percurso do peixe do mar ao prato adaptado da ACOPE (n.d.).

Em primeiro lugar, o peixe tem de ser pescado, existindo para o efeito diversas artes de pesca. As mais usadas em Portugal (LPN, 2012), incluindo na zona de Ílhavo são: aparelhos de anzol, arrasto, redes de emalhar, cerco, armadilhas, arte xávega, pesca à linha e pesca submarina. As principais características destas artes encontram-se no anexo 7 e as fontes consultadas para obter essa informação constam no mesmo anexo. No Museu Marítimo de Ílhavo, estão em exposição outras artes de pesca, tais como: o chinchorro (arte arrastante para a praia em forma de um saco central com asas de pano de rede, utilizada principalmente para a pesca da enguia); a tarrafa (arte que utiliza uma rede de arremesso circular e que se fecha por cima do peixe, aprisionando-o), a zagaia (arte que utiliza uma linha de pesca simples, disposta na vertical, com isto natural ou artificial e com uma peça de chumbo afuselada) e o trol (arte que utiliza um aparelho com diversas linhas unidas por um

nó de pescador), estas 3 últimas eram muito utilizadas no passado na pesca do bacalhau (Lopes, 1991; Rodrigues, 2008).

Nas artes de pesca são usados diversos utensílios para capturar os peixes: redes com diferentes tamanhos e malhas, sediela, anzóis, iscos, amostras, boias, chumbeiras, canas de pesca, entre outros. Quanto aos tamanhos e malhas das redes é necessário refletir-se sobre os riscos que podem acarretar malhas demasiado pequenas na sustentabilidade de algumas espécies, devendo ser adequadas a cada tipo de peixe (Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Recursos Marítimos, 2013). Para além destes utensílios, na pesca utilizam-se também diversos tipos de embarcações, importando aqui as mais usadas/tradicionais de Ílhavo: bateira de pesca e caça, bateira de chincha, ílhava, lugres, traineiras, navios-fábrica (Leite, Gil, Metelo & Ferraz, 1988; Rodrigues, 2008).

Tendo em conta informações de pescadores locais, peixeiras do Mercado do Peixe da Costa Nova e espécies mencionadas na literatura, como sendo as mais pescadas na região e/ou as mais consumidas em Portugal (LPN, 2012; Soueiro & Lourido, 1999), os peixes mais pescados e/ou tradicionais da região de Ílhavo são: rodovalho (Scophthalmus rhombus), carapau (Trachurus trachurus), cavala (Scomber colias), dourada (Sparus aurata), enguia (Anguilla anguilla), faneca (Trisopterus luscus), linguado (Solea solea), robalo (Dicentrarchus labrax), sardinha (Sardina pilchardus), raia (Raja clavata), safio (Conger

conger), peixe-espada-preto (Aphanopus carbo), cantarilho (Helicolenus dactylopterus),

sargo (Diplodus sargus), pescada (Merluccius merluccius), corvina (Argyrosomus regius), bacalhau (Gadus morhua) e tainha (Mugil spp). As características de cada um destes peixes quanto ao nome comum, nome científico, morfologia, alimentação, habitat, tamanho mínimo de captura e curiosidades, encontram-se no anexo 6 e as fontes de onde foi retirada a informação constam no mesmo anexo.

De todos os peixes mencionados, destaca-se o bacalhau, por ser o peixe mais típico e fazer parte da história desta região. Fazendo uma retrospetiva, a pesca do bacalhau por portugueses, incluindo ilhavenses, teve início no século XV, nos mares da Terra Nova e da Gronelândia (Carvalho, 2011). Mais tarde, por fatores políticos, esta pesca ficou comprometida, tendo sido mesmo interrompida (Fonseca, 2005; Varela, 2001). Posteriormente, em finais do século XIX, reiniciou-se esta pesca (Garrido, 2010), os pescadores faziam viagens longas, com a duração de duas semanas e permaneciam fora de Portugal durante aproximadamente seis meses (Carvalho, 2011). Estas viagens, em direção

à Terra Nova e/ou Gronelândia, costumavam ser em maio (altura em que as condições climatéricas eram mais favoráveis) e tinham como ponto de partida Lisboa (Carvalho, 2011). Na Terra Nova, os pescadores iam para o mar nos navios-mãe e de seguida eram distribuídos por dóris (ficando sujeitos aos perigos e às intempéries que o mar lhes poderia reservar) e nos quais pescavam o bacalhau à linha (Teiga, 1982). Depois da pescaria, o trabalho continuava no navio mãe, aí procediam-se às tarefas de conservação e transformação do peixe: a escala, a salga e o armazenamento (Garrido, 2010). Este era um trabalho duro, difícil e com más condições de vida a bordo (Carvalho, 2011).

Após a captura do peixe, este tem como destino a lota, indústrias de conserva, entre outros. Em algumas embarcações, o peixe capturado é conservado no frio (gelo), noutras é alvo de processos de transformação, procedendo-se à separação por espécie, pesagem, evisceração, filetagem, ultracongelação, salga ou processamento deste para conservas enlatadas (Leite et al., 1988). Na lota, os peixes são vendidos a estabelecimentos comerciais (peixarias, restaurantes, hipermercados…) ou ao consumidor final.

O consumidor final pode adquirir peixe fresco ou em conserva (congelado; ultracongelado; seco; salgado; fumado; enlatado em azeite, óleo, polpa de tomate, ao natural…). Na compra do peixe é necessário ter em consideração determinados aspetos que todas as pessoas devem conhecer incluindo as crianças, no sentido de virem a ser futuros consumidores mais responsáveis e atentos. No caso do peixe fresco este deve emanar: cheiro agradável a mar; pele com uma cor viva e brilhante; olhos salientes, a córnea transparente e a pupila negra brilhante; guelras vermelhas, brilhantes e sem muco; corpo duro (Fileira do Pescado, 2009). Relativamente às conservas, estas não devem estar dilatadas, com ferrugem, amolgadas, com cheiro, cor ou textura desagradável e deve-se ter em atenção a data de validade (Fileira do Pescado, 2009). Na compra de peixe congelado e ultra congelado, a embalagem deve estar hermeticamente fechada, não ter gelo solto, o peixe deve estar envolvido numa camada de gelo fina e homogénea, a sua cor não deve apresentar-se adulterada, as extremidades não devem estar secas, nem amareladas, deve ainda ter-se em atenção a informação dos rótulos (Fileira do Pescado, 2009).

Depois da aquisição do peixe, segue-se finalmente o seu consumo, chegando o peixe ao prato. São imensas as formas de o confecionar, umas mais saudáveis do que outras. Entre elas destaca-se: grelhado, cozido, estufado, assado, em caldeiradas, cozido ao vapor, cru (mais saudáveis), gratinado e frito (Associação dos Comerciantes de Pescado, n.d.;

Fernandes, n.d.). Para consumir peixe de forma saudável é também necessário conhecer algumas dicas, por exemplo: não utilizar natas, evitar os fritos, sal, optar pela gordura azeite e utilizar especiarias e ervas aromáticas (Direção Geral de Saúde, n.d.; Fundação Portuguesa de Cardiologia, 2014).

O peixe é essencial para uma alimentação saudável. Alguns dos conceitos aqui mencionados enquadram-se no âmbito da educação alimentar2, numa perspetiva de educação para a saúde e para o consumo. A educação alimentar pode ter resultados muito positivos quando se trabalha com crianças desde os primeiros anos, pois, no futuro, estas poderão ser capazes de efetuar escolhas alimentares mais saudáveis, no entanto, não basta que as crianças estejam motivadas, é necessário que no meio físico, económico, social e cultural haja condições que ajudem a esses comportamentos saudáveis (Nunes & Breda, 2001). Também a Organização Mundial de Saúde [OMS] (1988) refere que os hábitos de uma vida saudável se consolidam na infância. Apostando no conhecimento das crianças sobre o peixe (elemento significativo de Ílhavo), os processos que atravessa desde o mar até ao prato, pretende-se esta educação alimentar, preconizando-se a adoção de comportamentos mais saudáveis/adequados, (educação para a saúde) e para o consumo (contribuindo para a formação de cidadãos civicamente mais responsáveis e atentos a nível de consumo e ao nível da sustentabilidade das espécies e da vida no Planeta).

Segundo a OMS (1985), é importante propor melhorias para a saúde de todos, conferindo aos indivíduos ferramentas para utilizarem as suas capacidades na promoção da sua saúde e prevenirem doenças. Assim, para se conseguir uma saúde para todos deve-se apostar numa comunidade participativa, “bem informada e bem motivada” (OMS, 1985, p. 6).

Todos estes conhecimentos desenvolvidos decorrentes do enquadramento curricular e conceptual contribuíram para o desenvolvimento profissional docente.

2

A educação alimentar é um “processo contínuo que passa pelo acesso à informação, pela motivação e interiorização dessa informação, pela motivação, pela capacidade e possibilidade de escolha e por estratégias de manutenção da mudança” (Nunes & Breda, 2001, p. 10), com o objetivo de prevenir problemas de saúde ligados à alimentação como a anemia, atrasos de crescimento, malnutrição, obesidade (Nunes & Breda, 2001).