• Nenhum resultado encontrado

Impacte do projeto no desenvolvimento profissional da professora-investigadora

Capítulo 5. Análise dos dados e apresentação dos resultados

5.2. Impacte do projeto no desenvolvimento profissional da professora-investigadora

sequência didática no desenvolvimento profissional da professora-investigadora que a concebeu, planificou, implementou e avaliou. Dado o carácter pessoal desta reflexão, esta será redigida na primeira pessoa do singular.

Todo o trabalho que desenvolvi foi feito com muito empenho, esforço e dedicação. Exigiu muitas pesquisas, muito envolvimento, mas valeu a pena, na medida em que as

descobertas que fiz e os frutos que colhi foram imensos e muito proveitosos na profissão que quero abraçar. Foi todo ele, um processo de forte aprendizagem!

Para esta reflexão guiar-me-ei pelos domínios de referência e competências, segundo Sá e Paixão (n.d.) mencionadas no capítulo 2, relacionando-as com as dimensões do conhecimento do professor definidas por Sá-Chaves (2000), com base em Shulman (1986, 1987) e Elbaz (1988).

Quanto ao domínio “Epistemologia da Ciência”, ao longo de toda esta viagem pude estar na primeira fila experienciado e vendo com os meus próprios olhos como são importantes os conhecimentos e exploração de recursos tecnológicos, como por exemplo, a importância do trabalho científico desde tenra idade e o quadro interativo.

Relativamente ao domínio “Orientações de Educação em Ciência”, constatei que é extremamente importante uma educação em ciências de base, desde as primeiras idades, pois para além de todas as leituras que fiz para esta temática, também o pude comprovar na prática, pois no decorrer do Pii, apesar da sua curta duração, vi crianças progressivamente mais seguras, mais argumentativas, mais cidadãs, conscientes e responsáveis. Certamente que, se continuarem a usufruir desta educação de qualidade, onde há um ensino integrado das ciências, no futuro poderão ter melhores condições de vida (Sá e Paixão, n.d.).

Agora, sinto-me mais “por dentro” do processo da educação, com uma bagagem muito maior, com mais ferramentas para me atualizar constantemente, acerca de estratégias, recursos, de forma a conseguir ponderar melhor as minhas opções didáticas. No fundo desenvolvi-me nas pesquisas que efetuei para planificar as atividades e nas buscas incessantes em melhorar cada vez mais. A abordagem metodológica da investigação-ação foi um dos ex-líbris, em termos de formação. Sinto que assumi um papel de investigadora, pois esta sequência didática, apoiada na investigação, fez-me procurar soluções para os problemas decorrentes da PPS, permitindo-me a “melhoria da ação pedagógica, num processo de adaptação e desenvolvimento profissional contínuo” (Cardoso, 2014, p. 14). Uma das coisas que vou levar comigo será, sem dúvida, as competências investigacionais que empregarei no futuro numa ótica de melhoramento do processo de ensino e de aprendizagem.

É importante ainda mencionar que fiquei a conhecer as orientações nacionais e internacionais para o ensino das ciências, o currículo, bem como as formas de o operacionalizar de forma crítica, criando oportunidades de aprendizagens significativas. Este

modo inovador de operacionalizar foi crucial na estruturação deste projeto e será, sem dúvida, uma aprendizagem que me ajudará no futuro. Progredi bastante neste sentido, aprendi a gerir e a encontrar estratégias para trabalhar de forma aberta e flexível, tendo por base o currículo, mas por vezes ir mais além, reconstruindo-o, isto foi o que fiz para a realização da sequência didática (Leite, 2010). A respeito do conhecimento do curriculum (Sá-Chaves, 2000), destaco o seguinte excerto:

“Para dar aula tenho de ter domínio sobre os conteúdos, sobretudo do currículo, pelo que tento dominar e conhecer os programas e ferramentas de trabalho” (Reflexão Intermédia, 24 de novembro de 2014, anexo 15).

No que diz respeito ao domínio “Gestão dos Processos do Ensino e Aprendizagem das Ciências” (Sá & Paixão, n.d., p. 7), desenvolvi diversas competências, sendo o domínio onde notei um crescimento pessoal e profissional muito grande. Com este projeto, desenvolvi diversos conhecimentos científicos, conteúdos, relacionei-os com outras áreas, ajustando-os ao nível de escolaridade das crianças (Sá & Paixão, 2000), desenvolvendo o meu conhecimento de conteúdo (Sá-Chaves, 2000), pois como afirmei na reflexão intermédia de PPS A2 (anexo 15):

“Assim, antes de ir lecionar, estudo o que será trabalhado e aprofundo os meus conhecimentos sobre o tema”.

Para além disso, motivei e impliquei as crianças na escolha dos conteúdos que iriam ser trabalhados. Nas atividades, disponibilizei às crianças todos os recursos necessários, planifiquei as mesmas, definindo sempre as aprendizagens esperadas e todos os passos necessários ao desenvolvimento destas, contextualizando-as, “elaborando questões orientadoras da(s) atividade(s), recorrendo e/ou concebendo recursos didáticos adequados à atividade e ao desenvolvimento do aluno, contemplando a avaliação das aprendizagens pré- definidas e recorrendo a bibliografia atual e pertinente para a temática a trabalhar” (Sá & Paixão, n.d., p. 7), tal como ilustra o seguinte exemplo (retirado da meta-reflexão de PPS A2):

Saliento o balanço positivo do contributo da formação académica na Universidade Aveiro. Esta foi um auxílio importante na planificação, seleção e preparação das atividades a que me propus. A didática curricular serviu de alicerce à minha tomada de decisão, recorri a bibliografia falada muitas vezes nas aulas, a materiais didático-pedagógicos da Universidade (Meta-reflexão, 19 de dezembro de 2014, anexo 15).

De facto, a planificação é um elemento essencial a um bom desempenho e melhor profissionalismo, pois só assim é possível estruturar o dia-a-dia, munir-se de conhecimentos, estratégias, recursos, atividades que facilitem as aprendizagens das crianças. Planear é algo que exige muita reflexão, é arriscar-se, experimentar, projetar estratégias8, mobilizar

diversos conteúdos e experiências, que sustentem as decisões que se tomam, é definir um propósito e estratégias que o conduzam e que levem à concretização dos objetivos delineados, pensado em mecanismos para as operacionalizar, tais como, técnicas e procedimentos, sequências de atividades organizadas e formas de avaliação (Leite, 2010). Como refere Alarcão (1996), a reflexão baseia-se em atitudes de questionamento e curiosidade na busca da verdade e da justiça que integra a racionalidade a intuição e a paixão do sujeito pensante, ou seja, une cognição e afetividade. No excerto seguinte é visível o meu desenvolvimento ao nível destas competências, (retirado da reflexão intermédia de PPS A2):

“Antes da ação (…) questiono-me: Será que faço isto? Faço isto em vez de aquilo? O que é que capta mais a atenção das crianças? Como devo lecionar este conteúdo? Que recursos uso para os motivar? Que estratégias mobilizo para potenciar a sua aprendizagem? Que aprendizagens é que eu quero que as crianças desenvolvam? Como é que controlo o grupo? Como é que as levo para um caminho em que elas aprendam? Esta reflexão antes da ação, a planificação, ajuda-me muito ao nível da intervenção, pois só assim consigo prever algumas situações” (Reflexão intermédia, 24 de novembro de 2014)

Assim, “o planeamento é o momento indicado para analisar as situações e escolher consciente e deliberadamente a forma de agir sobre elas, fundamentando as escolhas que se fazem identificando as suas possíveis consequências” (Leite, 2010, p. 6). Contudo, aprendi também que a planificação é apenas um guião orientador no teatro da vida e por isso adaptei-

8 Uma estratégia pode ser entendida como “a conceção e planeamento de um conjunto de ações com, vista à obtenção ou maximização de um resultado pretendido e sua qualidade” (Roldão, 2009, p. 60).

a constantemente face ao que o contexto, as situações e as crianças exigiam, pelo que desenvolvi a minha capacidade de refletir sobre a minha prática, antes, durante e depois da realização das atividades, “identificando obstáculos epistemológicos, pedagógicos e didáticos, de modo a definir novas estratégias de ensino e aprendizagem que se mostrem mais eficazes do que as anteriores” (Sá & Paixão, n.d., p. 9). Abaixo, exemplifica-se uma evidência do desenvolvimento da minha capacidade de refletir:

“Foram as reflexões sucessivas, aula após aula, que contribuíram/influenciaram a planificação das aulas seguintes, em selecionar o tipo de atividades/estratégias que melhor resultavam com aqueles alunos, as dificuldades/necessidades que sentiam e que era necessário combater. Foram pois uma grande ajuda ao nível da intervenção dia após dia. Toda a reflexão que fiz antes, durante, após a ação e reflexão sobre a reflexão na ação (Shön, 1983, 1988, 1990, 1992, referenciado por Cunha, 2008; Nunes, 2000) fez-me evoluir profissionalmente, pois estudei o que corre menos bem e analiso outras possibilidades/estratégias maneiras de conseguir atingir os objetivos que pretendo, o que exige de mim, enquanto professora “um conhecimento científico, técnico, rigoroso, profundo e uma capacidade de questionamento, de análise, de reflexão e de resolução de problemas” (Cunha, 2008, p. 74). Ser professor é ser reflexivo, é ser resiliente, ir à luta não desistir dos seus objetivos, se por quele «caminho», se aquela atividade não resultou há que procurar outras que resultem, tornando a reflexão para a ação (Shön, 1983, 1988, 1990, 1992, referenciado por Cunha, 2008; Nunes, 2000) (Meta- reflexão, anexo 15)”.

Neste domínio, da “Gestão dos Processos do Ensino e Aprendizagem das Ciências”, uma das dimensões do conhecimento que mais desenvolvi foi o conhecimento pedagógico

de conteúdo (Sá-Chaves, 2000), como espelha o excerto seguinte:

“Relativamente ao conhecimento pedagógico de conteúdo (…) já me sinto mais capaz de me fazer entender (Paiva, 2007), tornar os conteúdos mais compreensíveis para as crianças, através dos mesmos, controlando as variáveis do processo de ensino e de aprendizagem (Sá-Chaves, 2000)” (Meta-reflexão, 19 de dezembro de 2014, anexo 15).

Assim, sinto-me capaz de implementar “metodologias e estratégias de ensino das ciências nos primeiros anos de escolaridade” (Sá & Paixão, n.d., p. 7), como foi o caso do trabalho de tipo investigativo e o IBSE/EPP/Q.

Durante este projeto, constatei como é importante o trabalho prático, em especial o de tipo investigativo, no desenvolvimento de conhecimentos, capacidades, atitudes e valores.

Gostaria ainda de referir que promovi a aprendizagem das ciências em contextos não formais, formais e informais, trabalhando com a minha colega de díade e a professora cooperante na planificação das atividades, no seu desenrolar e na articulação das mesmas, recorrendo, por essa razão, a infraestruturas e recursos (Sá & Paixão, n.d., p. 7), pelo que saliento a realização de visitas de estudo, uma ao Museu Marítimo de Ílhavo e outra ao hipermercado Continente. Para além disso, rentabilizei na minha prática as TIC sempre que possível, levando as crianças a utilizarem-na em pesquisas, interpretação de informação (Sá & Paixão, n.d.), utilizando o quadro interativo, os computadores, tornando as aulas mais dinâmicas, inovadoras, interativas e interessantes.

Ao mesmo tempo e tendo em conta as aprendizagens que pretendia que as crianças alcançassem, orientei-as sempre nas atividades, tendo em conta os seus interesses e os conteúdos a trabalhar, recorrendo a situações-problema de forma contextualizada, emergindo do meio, dando feedback às crianças, questionando-as, recolhendo as suas ideias antes e depois das temáticas a trabalhar, promovendo o confronto entre estas e a comunicação oral dos resultados obtidos, para cada questão-problema (Sá & Paixão, n.d.).

No fundo, este projeto contribuiu muito para o meu saber estar na sala de aula, enquanto futura professora, pelo que destaco o meu enorme crescimento em guiar as crianças nas etapas das atividades (Sá & Paixão, n.d.). Assim, considero que desenvolvi o meu

conhecimento pedagógico geral, respeitante à organização e gestão da sala de aula (Sá-

Chaves, 2000), como mostra o exemplo seguinte:

“Na relação que construí com as crianças, relação esta que afeta a gestão da sala de aula e a forma como os alunos olham para o professor, considero, tal como refere Paiva (2007), que “o mesmo professor que faz o «pino» ou conta uma anedota deve manter o silêncio na sala quando necessário”; que passa trabalhos de casa todos os dias, mas que ri e chora com os alunos; que anula um teste copiado, mas compreende profundamente cada aluno” (p. 14). Destaco este aspeto como positivo, pois gosto muito da relação que construí com as crianças, e no futuro quero continuar a ser assim ou ainda melhor, acho que é algo que faz muito parte da minha personalidade, gosto de brincar, quando é para brincar, e trabalhar quando é para trabalhar, porque numa aula há momentos para tudo. Gosto de dar a aula a sorrir, pois e citando Paiva (2007), considero que “o professor fascinado, entretanto, usa com peso, conta e medida a razão e os afetos e concorre com ambos para promover a aprendizagens dos seus alunos” (p. 17)” (Meta-reflexão, 19 de dezembro de 2014, anexo 15).

Quanto ao domínio “Avaliação das Aprendizagens dos Alunos” (Sá & Paixão, n.d.), avaliei o progresso das crianças nas aprendizagens alcançadas, construindo para o efeito instrumentos de avaliação, neste caso grelhas de avaliação, juntamente com a minha colega de díade. De facto, avaliar é bastante difícil, mas quando é suportada por instrumentos, torna- se mais objetiva e “fácil”. É de destacar a importância da utilização deste instrumento na recolha de dados para este projeto, uma vez que me permitiu (no registo durante as atividades, recorrendo aos trabalhos e registos efetuados pelas crianças), avaliá-las segundo os diversos parâmetros e que correspondiam às aprendizagens que eram esperadas alcançar. Para além disso criei estratégias de análise das ideias prévias das crianças (Sá & Paixão, n.d.).

Este processo de avaliação contínuo foi muito importante, pois permitiu-me reunir “informação à medida que os alunos estão envolvidos nas atividades de aprendizagem de modo a identificar as suas dificuldades, potencialidades, e deste modo, regular todo o processo” (Sá & Paixão, n.d., p. 9). Sou fã deste tipo de avaliação e continuarei a utilizá-lo no futuro.

Este foi um projeto em que me pude conhecer a mim própria (Sá-Chaves, 2000), as minhas limitações, potencialidades e permitiu-me construir os alicerces da profissional que quero ser.