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Educação em enfermagem como instrumento transformador da prática clínica

SUMÁRIO

2.6. Educação em enfermagem como instrumento transformador da prática clínica

A educação representa tudo aquilo que pode ser feito para desenvolver o ser humano (VIANNA, 2008). Em sua dimensão mais restrita, pode ser entendida como o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

No âmbito da saúde, a educação aparece como instrumento de mudanças na sociedade, com influência direta sobre a organização do trabalho e sobre a maneira de produzir conhecimentos e tecnologias para atender as necessidades de saúde da população (DAVINI; ROSCHKE, 1994).

O estabelecimento de processos educativos pautados nos princípios da universalidade, equidade, integralidade e atendimento às necessidades de

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assistência à saúde ganhou força após a regulamentação do Sistema Único de Saúde (SUS), dada a necessidade de readequar a formação profissional previamente baseada no modelo biomédico, hospitalocêntrico, centrado na doença e sem nenhuma valorização da promoção da saúde e da prevenção de doenças (BRASIL, 1990; FARAH, 2003).

A partir da necessidade de aumentar a qualidade da assistência e a capacidade resolutiva dos serviços de saúde, os conceitos de educação continuada e educação permanente passaram a ser considerados nas áreas de formação e de capacitação profissional. A primeira refere-se ao processo educativo que se inicia após a formação básica e está destinado a atualizar e melhorar a capacidade de uma pessoa ou grupo, frente às mudanças técnico-científicas e às necessidades sociais (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 1978). Já a educação permanente prevê que a formação dos trabalhadores seja pautada no enfrentamento dos problemas da realidade e nas necessidades de saúde das pessoas e populações, com vistas à aprendizagem significativa e à transformação da prática profissional (BRASIL, 2009a).

A educação permanente aparece então como uma oportunidade de ensino aos profissionais da área da saúde, visto a necessidade de desenvolver a responsabilização pessoal e institucional, a autonomia profissional, o aprendizado constante e a capacidade de relacionar a teoria e a prática aos processos de trabalho e às ações cotidianas (DOMINGUES; CHAVES, 2005; ANASTASIOU; ALVES, 2009). Em outras palavras, busca alternativas para os problemas concretos, privilegiando o processo de trabalho como eixo central da aprendizagem e enfatizando a capacidade humana na criação de um conhecimento novo (HADDAD et al., 1990).

A educação permanente na perspectiva de uma práxis transformadora apresenta-se como alternativa de superação do tecnicismo e da rotinização do trabalho, principalmente, quando discutida sobre o campo da formação profissional em enfermagem que, muitas vezes, limita-se ao saber fazer, em detrimento do aprendizado crítico e reflexivo (SILVA et al., 2010).

Embora a abordagem da educação permanente venha se ampliando nas áreas acadêmicas e nas instituições de saúde, muitas das necessidades profissionais ainda se enquadram na realização de atividades cotidianas básicas, as quais demandam o desenvolvimento de ações educativas voltadas aos

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procedimentos técnicos de enfermagem e remetem à reiteração do modelo de cuidado biomédico e à concepção dominante da educação continuada (MONTANHA; PEDUZZI, 2010).

A superioridade do modelo assistencial hegemônico, tanto na formação profissional quanto na organização do trabalho, vem sendo objeto de críticas na produção científica brasileira, uma vez que denota a lógica da sociedade capitalista, com predomínio das políticas neoliberais de mercado e a visão do trabalhador como objeto de produtividade (SILVA et al., 2010; LEITE et al., 2014). Além disso, a construção de metodologias de ensino utilizadas no processo de educação em saúde vem sendo descrita como fragmentada e voltada, apenas, à atualização técnico-científica do profissional de enfermagem, o que fortalece a pedagogia da transmissão e a memorização de conhecimentos, tal como determina o método de ensino tradicional (MANCIA et al., 2004; RICALDONI; DE SENA, 2006; LAZZARI et al., 2011; CRUZ et al., 2017).

Tendo em vista a fragilidade da formação profissional, tanto na área técnica quanto na acadêmica, instituições e empresas que prestam serviços em saúde têm investido na promoção do conhecimento, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de competências e habilidades essenciais à prática de enfermagem (DA CUNHA; MIZOI, 2010; MIRA et al., 2011; SILVA et al., 2013; MOREIRA et al., 2017).

Tais investimentos têm se voltado para a utilização de estratégias educativas inovadoras, tais como discussões em grupo, utilização de ambientes de simulação, desenvolvimento de conteúdos multimídias e aplicação de atividades lúdicas, as quais têm demostrado resultados satisfatórios em relação à melhora do conhecimento em diferentes perfis profissionais (ALAVARCE, 2014; ABEID et al., 2016; COOPER et al., 2016).

No âmbito da HA e das abordagens terapêuticas e diagnósticas para o controle dos valores pressóricos, destaca-se a aplicação de intervenções direcionadas à promoção do conhecimento teórico-prático sobre a medida indireta da PA e a utilização de estratégias educativas voltadas à execução do procedimento propriamente dito (DICKSON; HAJJAR, 2007; ALAVARCE; PIERIN, 2011; ANDRADE et al., 2012; TOGNOLI, 2012; MACHADO, 2014).

Até o presente momento, não foram encontrados, na literatura, estudos de intervenção que abordassem o conhecimento do profissional de enfermagem acerca

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dos registros da PA e sua importância no cuidado ao paciente crítico ou sua relação com a qualidade da assistência à saúde. Tal fato, por si só, justifica o desenvolvimento desse estudo e demonstra a debilidade das pesquisas brasileiras sobre registro de enfermagem, bem como sobre a elaboração e implementação de estratégias que atendam as necessidades profissionais.

O conhecimento desse profissional sobre registro da PA é competência essencial para o cuidado ao paciente admitido em unidades de emergência, uma vez que está relacionado à troca de informações entre equipe multiprofissional, ao reconhecimento precoce de alterações hemodinâmicas, à definição de diagnósticos, ao planejamento de intervenções de enfermagem, ao estabelecimento de condutas clínicas e à obtenção de resultados terapêuticos satisfatórios. Neste contexto, admite-se que o desenvolvimento de estratégias educativas inovadoras e a aplicação de intervenções no ambiente profissional podem contribuir com a prática baseada em evidências e com a promoção do conhecimento de profissionais de enfermagem sobre a medida, a monitorização e o registro da PA. No sentido mais amplo, podem favorecer a qualificação para o trabalho e o incremento da educação permanente nas organizações de saúde.

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3.1. Desafios à formação profissional e o papel das organizações de