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Medida indireta da pressão arterial e uso de aparelhos oscilométricos

SUMÁRIO

2.3. Medida indireta da pressão arterial e uso de aparelhos oscilométricos

A medida indireta da PA foi proposta incialmente por Stephen Hales ao cateterizar a artéria de um mamífero em 1733. Mais adiante, em 1856, Faivre utilizou um manômetro de mercúrio para identificar a pressão do sangue na artéria femoral de um paciente submetido a um procedimento cirúrgico (INTROCASO, 1996; SANTELLO et al., 1997; PIERIN; MION JÚNIOR, 2001).

O esfigmomanômetro, tal como é conhecido atualmente, foi idealizado pelo médico italiano Scipione Riva-Rocci na década de 1890, o qual concedeu ao meio científico publicações que relataram a importância das repercussões circulatórias da pressão sanguínea no organismo e os detalhes sobre a técnica de medida da PA (INTROCASO, 1996; ZANCHETTI; MANCIA, 1996).

A medida direta da PA, por meio de um cateter intra-arterial é considerada padrão ouro no diagnóstico e tratamento da HA; no entanto, é pouco utilizada em unidades com recursos limitados por se tratar de um procedimento altamente invasivo e associado ao maior risco de infeção, de hemorragias e de isquemias (PERLOFF et al., 1993; COUSINS; O'DONNELL, 2004; ARORA et al., 2014).

Usualmente, os valores da PA são obtidos pelo método indireto, com três tipos de sistemas de registros: coluna de mercúrio, aneróide e automático. A obtenção dos valores da PA por meio da técnica auscultatória, com a utilização de aparelhos de coluna de mercúrio ou aneróides, acontece por meio da oclusão da artéria braquial com um manguito de borracha e posterior ausculta dos sons de Korotkoff, que se caracterizam por sinais acústicos produzidos pela rápida passagem de sangue na artéria estenosada. Já a técnica oscilométrica requer a utilização de aparelhos automáticos com sensores eletrônicos capazes de identificar as oscilações da PA no interior do vaso sanguíneo (NORTH OF ENGLAND HYPERTENSION GUIDELINE DEVELOPMENT GROUP, 2004; CORDELLA et al., 2005).

O método auscultatório utilizando manômetros de mercúrio ou aparelhos aneróides é considerado um procedimento de difícil execução em pacientes atendidos em salas de emergência, principalmente devido à dificuldade da ausculta e da interpretação dos sons de Korotkoff (KARNATH, 2002; WARD; LANGTON, 2007).

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A medida oscilométrica da PA pode ser realizada com aparelhos automáticos ou semi-automáticos, os quais utilizam o próprio manguito pressurizado como meio de determinação dos valores pressóricos. O aparelho realiza a insuflação automática do manguito até um nível superior ao valor da PAS. Posteriormente, a pressão do manguito é reduzida gradativamente até a aparição de pequenas oscilações que variam em amplitude. Essas oscilações são detectadas por um sensor interno, sendo que o ponto de oscilação máxima corresponde à pressão arterial média (PAM). Os valores da PAS e da PAD são calculados por um algoritmo integrado à programação do aparelho (CERULLI, 2000).

Diretrizes nacionais e internacionais de hipertensão arterial recomendam que tanto os aparelhos automáticos quanto os semi-automáticos sejam validados de acordo com protocolos padronizados e sua precisão seja verificada, periodicamente, por meio de métodos corretos de calibração (MANCIA et al., 2013; LEUNG et al., 2016; MALACHIAS et al., 2016; NATIONAL HEART FOUNDATION OF AUSTRALIA, 2016).

Estudos conduzidos nas décadas de 1990 e 2000 contra-indicaram o uso rotineiro de aparelhos automáticos em instituições de saúde, pois os pesquisadores da época acreditavam que diferenças anatômicas, fisiológicas ou patológicas pudessem alterar a amplitude das oscilações de pulso e, consequentemente, causar erros na leitura dos valores de PA. Em contrapartida, reconheceram que tal tecnologia poderia contribuir com a diminuição dos erros relacionados à influência do observador com a técnica auscultatória (MION JÚNIOR et al., 1996; CERULLI, 2000; PICKERING et al., 2005; GELEILETE et al., 2009).

Outras vantagens relacionadas ao uso de aparelhos oscilométricos têm sido relatadas por especialistas e remetem à simplicidade de manuseio, baixo risco ao paciente, padronização das taxas de deflação do manguito, determinação dos valores de PA em intervalo de tempo pré-determinado, registro dos valores de PA sem arredondamentos e utilização da técnica por pessoas com dificuldades auditivas (IMBELLONI et al., 2004; CAMPBELL et al., 2014).

Atualmente, uma ampla discussão tem sido divulgada no meio científico a respeito da escolha do equipamento adequado para a medida da PA. A Word Hypertension League (WHL) e o Canadian Hypertension Education Program (CHEP) preconizam o uso de aparelhos oscilométricos para a medida casual, ambulatorial e residencial da PA (CAMPBELL et al., 2014; LEUNG et al., 2016). No Brasil e na

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Europa, tanto os aparelhos aneróides quanto os automáticos e semiautomáticos podem ser utilizados, desde que devidamente validados e calibrados, conforme recomendações da 7º Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, da European Society of Hypertension (ESH) e da European Society of Cardiology (ESC) (MANCIA et al., 2013; MALACHIAS et al., 2016).

Embora a medida da PA com técnica auscultatória seja considerada fácil e acessível aos profissionais de saúde capacitados, o método oscilométrico é desejável, principalmente em unidades de cuidados críticos, onde são necessárias verificações repetidas em curtos intervalos de tempo.

A realização da técnica auscultatória de maneira correta e confiável exige conhecimento e capacitação profissional, bem como o desenvolvimento de competências e habilidades específicas, as quais têm sido pouco valorizadas na prática clínica e nem sempre exploradas como deveriam, nos cursos de formação acadêmica. A utilização de aparelhos oscilométricos surge, então, como método alternativo de medida indireta da PA, de forma a suprir as lacunas do conhecimento científico e as dificuldades quanto à realização do procedimento, propriamente dito. Embora a equipe de enfermagem seja responsável pela maior parte das medidas de PA realizadas em unidades de emergência, a experiência no cotidiano profissional tem demonstrado a existência da mecanização dos procedimentos e a falta de conhecimentos necessários à tomada de decisão segura ao paciente. Tal fato aponta para a real necessidade de serem desenvolvidas estratégias educativas que permeiem o aperfeiçoamento da técnica de medida da PA com o uso de aparelhos oscilométricos e a promoção do conhecimento no cuidado ao paciente crítico.