• Nenhum resultado encontrado

EDUCAÇÃO FINANCEIRA, SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE

5 EDUCAÇÃO FINANCEIRA

5.3 EDUCAÇÃO FINANCEIRA, SUSTENTABILIDADE E MEIO AMBIENTE

Embora distintos em suas abordagens específicas, os temas que intitulam este item se interligam diretamente, tendo em vista a sua relevância na vida das pessoas.

Sustentabilidade e preservação ambiental são irmãs siamesas e, de acordo com Domingos (2014b), se constituem temas intrinsecamente relacionados.

Martins; Sanches (2012) alertam:

Levando em consideração o sistema econômico em que vivemos e a atual conjuntura, infere-se que não existe outra medida a ser tomada que não a compreensão da sustentabilidade como algo imprescindível para manutenção da raça humana, dessa maneira, elevando o rigor da fiscalização, da punição, mas principalmente aumentando o incentivo a um comportamento sustentável, por meio de ações educacionais.

(MARTINS; SANCHES 2012, grifo nosso).

Domingos (2014b) corrobora com o pensamento de Martins; Sanches (2012), principalmente no que tange ao trecho grifado, ao enfatizar a necessidade de se ensinar à criança e ao jovem, desde pequenos, a “poupar antes de gastar” e a reaproveitar produtos visando a conservação do meio ambiente através de atitudes simples e ações práticas, como as recomendadas pela política dos 5Rs (Figura 20) que, se adotadas cotidianamente, poderão contribuir para considerável redução do impacto ambiental. Os 5Rs são:

Figura 20 – Ações recomendadas pela política dos 5Rs

Fonte: Pena (2019)

– Reduzir o consumo desnecessário – primeiro passo para redução da geração de lixo e contra o desperdício. Avaliar os danos que o produto pode causar ao meio ambiente ou à saúde.

– Reciclar materiais – A reciclagem propicia a economia de energia e de recursos naturais, contribuindo para a redução da poluição e diminuindo a necessidade da criação de novos aterros sanitários. Uma das fases da reciclagem é a coleta seletiva que facilita a transformação de resíduos em outros produtos.

– Reutilizar e recuperar ao máximo antes de descartar – criar nova utilização para materiais já utilizados, consertar peças de vestuário ou doá-las, recuperar móveis e eletrodomésticos. Resíduos de plásticos, papéis, metal, madeira, retalhos de couro ou de tecido se prestam para confecção de artesanato que podem ser, inclusive, fonte de renda.

- Recusar – recusar produtos que degradem o meio ambiente. A indústria se mantém através do consumo. Deixando de consumir e trabalhando ações informativas para que outros não consumam determinado produto que causam danos ambientais, por degradação ou poluição, o fabricante será forçado a melhorar o processo de produção.

- Repensar o consumo – Refletir se o objeto em vista é realmente necessário ou se a aquisição é ditada apenas por impulso. Avaliar os impactos que poderão ser gerados pela excessiva geração de lixo, procurando optar por materiais reutilizáveis ou recicláveis. (PENA, s.d b).

Imprescindível mudar os padrões de consumo, adverte o Instituto de Defesa do Consumidor – Idec, citado por De Araújo (2009), sob pena de se esgotarem os recursos naturais e os de outra natureza levando as sociedades a não poder garantir o direito das pessoas a uma vida sustentável e sequer garantir o direito universal de acesso aos bens comuns. Todavia, Chaves (2004) chama atenção para o aspecto de chancela de legalidade de discursos sobre tais questões, visto que,

Ao ser institucionalizado o discurso sobre questões socioambientais, ao receber a chancela de legalidade de se falar sobre tais questões procurou-se produzir efeitos específicos sobre as mesmas; efeitos que objetivam colocar tais questões integralmente dentro do discurso, segundo o regime de verdade que interessa a quem exerce um tipo de poder que o propague de forma que as ações desestabilizadoras desses regimes sejam enfraquecidas ou que percam seu efeito desestabilizador (...)

Não há mais uma lei de interdição ou censura; pelo contrário, a ampliação dos discursos sobre tais questões interessa agora ao consumo e discutir tais problemas deixa de ser da ordem da produção de conhecimentos que visem a intervenções para desestabilizar os quadros geradores do problema, ou bem mais que isso, que visem a intervir em busca de solução, e passa a ser da ordem econômica, pois a circulação de capital que se dá a partir da produção de livros e outros materiais que focam tais questões passa a gerar renda. Desta forma o problema em si passa a ter um papel secundário diante do papel econômico. A formulação de tais discursos balizados pela ordem econômica passa então a defender uma moral não necessariamente pacifista, mas inibidora de ações de cunho político (CHAVES, 2004, p. 202).

Entretanto, importante esclarecer aos educandos em Educação Financeira que sustentabilidade não diz respeito apenas ao meio ambiente ou a discursos de questões socioambientais. O discurso precisa tornar-se ação e, para tal, Chaves (2004) propõe uma política de ações socioambientais, que denominou de Práticas Educativas Investigativas (PEI), onde a mesma

não pode ser institucionalizada ou centralizada como os projetos educacionais de Górki e Makarenko. A PEI para desestabilizar a ordem vigente deve ser balizada pelo princípio da liberdade; liberdade de experimentar e expressar. A partir do instante em que ela passe a ser tomada segundo interesses econômicos ou quaisquer outros segundo o

crivo da pedagogia panóptica, ela deixa de ser desestabilizadora, e os efeitos específicos sobre ela passam a ser de controle. (CHAVES, 2004, p.

203).

Contudo, voltando à política dos 5Rs, Teixeira (2018) se reporta ao conceito dos três pilares da sustentabilidade, criado por John Elkington na década de 1990, que atende aos aspectos ambientais, econômicos e sociais e devem se inter-relacionar de forma abrangente objetivando atender ao conceito de sustentabilidade que, por sua vez, está relacionado à conservação ou “à manutenção de um cenário, longo prazo, de modo a lidar bem com possíveis ameaças”. (TEIXEIRA, 2018).

No tocante ao aspecto socioambiental, a sustentabilidade visa a manter o planeta sadio de forma a garantir as condições necessárias à sobrevivência de gerações e para tanto é preciso desenvolver ações que possibilitem a regeneração de ecossistemas, seja pela degradação provocada pelo homem ou por eventos naturais; em relação à economia, a sustentabilidade se insere na questão do padrão de produção e consumo com vistas ao desenvolvimento; no âmbito social a sustentabilidade está afeta à promoção e garantia da qualidade de vida, explica Teixeira (2018).

Importante também ressaltar que todas as ações preconizadas na política dos 5Rs, sejam as que visam não só a preservação ambiental, mas socioambiental, como preconiza Chaves (2004), que vem a interferir e transformar a qualidade de vida ou desenvolvimento sustentável, envolvem o exercício de um padrão de vida que privilegie mais a colaboração do que a competição e que, por sua vez, é também objetivo da Educação Financeira, estabelecendo-se, dessa forma, o que se pode denominar de ciclo virtuoso do ensino relativo à Educação Financeira.

Percebemos, ainda, que as demandas relativas ao desenvolvimento sustentável requerem leituras que podem ser efetuadas a partir de cálculos, medidas, quantitativos e mensurações, o que torna imprescindível assim, o ensino da Matemática, principalmente nas classes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, visando à construção de um mundo mais colaborativo, menos competitivo, menos predador, menos egoísta, menos líquido – como posto por Bauman (2008) – e menos fugaz, portanto transitório e efêmero, pois como defendia a educadora,

médica e pedagoga Maria Tecla Artemisia Montessori: “As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educamos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz.” (BUONOCORE, 2019). Por esse mesmo espectro, o filósofo e pensador Pietro de Alleori Ubaldi, considera que o próximo grande salto evolutivo da humanidade será a descoberta de que cooperar é mais produtivo do que competir.

(UBALDI, 1997).

Daí, é vital reconhecer a urgência de se inserir a Educação Financeira sem perder o foco na sustentabilidade e nas dimensões sociais, econômicas, políticas, culturais e psicológicas – como posta em Silva e Powell (2013, p. 14) e apresentada anteriormente – que a envolvem, desde o Ensino Fundamental, com vistas à formação de pessoas, sobretudo crianças, que mantenham contato com a realidade de seu ambiente, mas que sejam capazes de o defender e preservar e que possam desenvolver atitudes criativas em relação ao mesmo, deixando assim de ignorar as consequências de seus atos em relação ao (meio)ambiente, como apresentado em Chaves (2004, p. 84).

Por uma questão de preservação planetária, urge que trabalhemos para que esses alunos sejam críticos, que se importem com o meio em vivem, com as pessoas, que ajam de forma sustentável, preservacionista e colaborativa, em relação a si mesmos e ao coletivo. Mas isso não é suficiente: não basta às escolas e aos sistemas de ensino simplesmente inserir Educação Financeira na grade curricular apenas para atender o estabelecido pelo Decreto Nº 7.397 de 22 de dezembro de 2010 (ANEXO 1, Brasil (2010)) que implantou a Enef. É fundamental que se estabeleçam caminhos, diretrizes para que a perspectiva se transforme em ação, assim como a proposta de PEI, supracitada e apresentada em Chaves (2004). Nessa altura entram em cena, além das PEIs, as práticas pedagógicas e transversais entre as diversas disciplinas para se estabelecer possíveis temas, conteúdos e práticas, ações e operações apropriadas às demandas de cada grupo, etos, escola etc.

Considerando que questões econômicas envolvem formas de leitura a partir de cálculos, por esse prisma, torna-se importante que a Matemática, e também a

Matemática Financeira, interaja com outras disciplinas e outras áreas do conhecimento.