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Educação Financeira tem sido tema recorrente em momentos, os mais diversos, de conversas dentro de grupos sociais distintos. Não se trata de preocupação recente, mas, ao que se observa, há, por assim dizer, um adensamento dessa apreensão diante do recrudescimento da crise econômica por que passam as grandes economias mundiais, com reflexos inevitáveis nas economias de países em desenvolvimento, situação em que se encontra o Brasil.

Pais, professores, psicólogos, terapeutas de diversas áreas e escolas, se debruçam sobre as várias teorias de como, em momento tão conturbado da vida humana, orientar crianças e jovens não apenas no que diz respeito às suas vocações profissionais e comportamentos interpessoais no trato social, mas também – e com muita ênfase – em como conduzi-los pelos caminhos da estabilidade econômico-financeira de modo a lhes garantir tranquilidade no futuro. Essa condução perpassa, naturalmente, pela educação financeira através da aplicação de métodos adequados às faixas etárias e aos graus de escolaridade das crianças e dos jovens.

A Educação Financeira, contudo, argumenta Frankenberg (apud DETONI; LIMA, 2011), é ainda pouco difundida no Brasil. Situação que o referido texto atribui a longo período de forte inflação, desinformação popular e erros cometidos pelos governos que redundaram em conceitos financeiros equivocados que a população absorveu sem contestação.

Anuindo ao argumento de Frankenberg, o texto Detoni e Lima (2011) defende que são poucos os métodos ou procedimentos de Educação Financeira vistos no Brasil e que preparar a geração atual e as futuras para enfrentar os novos tempos demanda a reformulação de muitos conceitos obsoletos e a aplicação de métodos que motivem essas gerações a buscarem a capacitação para enfrentarem tempos difíceis e alcançar a independência financeira.

Nessa mesma direção, o texto Silva e Powell (2013) aponta, como um dos pontos relativos aos alunos, sugerido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a necessidade desses alunos conhecerem a

existência do crescente número de consumidores, particularmente jovens, estão endividados devido à forma como lidam, por exemplo, com cartões de crédito e contas de telefonia móvel.

Dessas leituras, passamos então a entender o quão importante é discutirmos métodos e procedimentos voltados à Educação Financeira, considerando a característica eminentemente consumista da sociedade brasileira contemporânea, cuja população é submetida o dia todo, todos os dias, a permanente indução ao consumo, principalmente no que se refere aos jovens, conforme apresentado em Silva e Powell (2013).

Crianças e jovens recebem de todos os lados, através das propagandas nas diversas mídias a que têm acesso – emissoras de televisão (TVs) e Rádios, Internet (e suas redes) – o convite a adquirirem produtos “extraordinários”, “miraculosos” que os levarão à mais completa felicidade e que estão ali, ao seu alcance, basta querer e

“acreditar no sonho” conforme apregoam propagandas muito bem embasadas nos princípios da propaganda e da publicidade. A esse respeito, Ferreira (acesso em 12 maio 2019) afirma:

Esse consumismo exacerbado associado à desigualdade social em nosso país e à falta de Educação Financeira leva muitas famílias ao endividamento, o que vai privá-las de bens de consumo essenciais a uma vida digna.

Entendemos que as mídias, principalmente as TVs, têm grande influência sobre a população e especialmente sobre o comportamento de crianças e jovens. Podemos constatar a intensidade dessa influência observando as preferências de vestuário, de adereços e até de itens de decoração doméstica, que se tornam verdadeiras

“febres” durante a apresentação de novelas ou de programas de sucesso em que aparecem destacadamente tais produtos.

Diante desse quadro de influência midiática sobre a formação das personalidades infanto-juvenis, em que a realidade é substituída pelo sonho e a ética cede lugar à necessidade de remuneração do capital, ou seja, ao lucro, é imprescindível a intervenção consciente do educador, principalmente do professor de Matemática, de

forma a orientar seus pupilos fazendo o contraponto entre o mundo fantasioso apresentado pelos comerciais para seduzir e cativar imediatos e potenciais consumidores e o mundo real, em que é necessário pensar e planejar o futuro de modo a passar com menos dificuldade pelas situações imprevistas e imprevisíveis.

A orientação de crianças e jovens não é responsabilidade exclusiva da escola. Aliás, a Educação, na sua expressão mais ampla, é transmitida primeiramente no âmbito familiar. No entanto, assevera Araújo (2010): “À escola contemporânea foi incumbido o papel de formadora integral dos sujeitos, cabe à escola formar para a cidadania e a ética”. Essa afirmativa conduz ao entendimento de que embora a Educação Financeira esteja teoricamente vinculada a conceitos matemáticos e a cálculos que envolvem recursos monetários, ela não se restringe a esse aspecto e envolve conhecimentos interdisciplinares, a exemplo de: Administração, Ciências Contábeis, Geografia, História, Direito, Estatística, Matemática, Engenharias, Meio Ambiente, Sociologia, Filosofia, Política, Turismo, Finanças Públicas, Educação, Urbanismo, entre outras que, somados, possibilitam o desenvolvimento e a sedimentação da consciência de cidadania.

Silva e Powell (2013) aponta que, na mesma perspectiva da OCDE, por decreto presidencial de 2010, institui-se no Brasil a Estratégia Nacional de Educação Financeira (Enef), “com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, a eficiência da solidez do sistema financeiro nacional e a tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores”. (BRASIL, 2010) e, no que se refere a práticas escolares, “O objetivo é educar as crianças e adolescentes para lidar com o uso do dinheiro de maneira consciente de modo a desenvolver hábitos e comportamentos desejáveis” (SILVA;

POWELL, 2013, p. 10). Para tal, foi produzido o documento intitulado Orientações para Educação Financeira nas Escolas que apresenta um conjunto de princípios norteadores ao ensino da Educação Financeira. (BRASIL, 2011b, p. 56-85).

Essa política contempla apenas ações de interesse público, ainda que fomentada pela iniciativa privada, desde que tenham caráter não comercial e que não se dediquem a recomendar determinados produtos ou serviços financeiros. O conteúdo deve ser imparcial e técnico, sem viés ideológico, religiosos ou de outra natureza (BRASIL, 2011, p. 21).

Imprescindível para tanto, discutirmos, avaliarmos, planejarmos e repensarmos métodos que motivem os alunos a refletirem a respeito da importância de fazerem uso consciente dos seus próprios recursos financeiros, incorporando hábitos de poupança às suas ações e que os levem, ao mesmo tempo, a perceber que economia não significa apenas guardar dinheiro com vistas ao futuro, mas inclui outros importantes conhecimentos da vida, tais como: utilização consciente dos recursos naturais (água, madeira, solo, alimentos etc.); reaproveitamento de recursos e de materiais; reciclagem de materiais; produção e conservação de de lixo e impacto ambiental; salários, classes sociais e desigualdade social;

necessidade versus desejo; ética e dinheiro. (SILVA; POWELL, 2013, p. 14, grifos do texto).

Além dos pontos destacados nos parágrafos anteriores há outro elemento de suma importância que nem sempre é lembrado com a devida atenção e, não raras vezes, é até mesmo negligenciado por educadores, qual seja: desenvolver nos educandos a capacidade de analisar criticamente de forma a filtrar as informações veiculadas nas diversas mídias facilmente acessadas por esse público ainda tão vulnerável às influências externas e, em consonância ao que é apresentado em Chaves (2004), ao vislumbrar que, um aluno em contato com a realidade de seu ambiente, além de, poder ser incentivado à aprendizagem, também passa a desenvolver atitudes criativas em relação ao mundo à sua volta, cabendo ao professor o papel de incentivador de uma educação que passe a incorporar uma análise socioambiental, opondo-se assim àquela educação onde o aluno é levado a ignorar as consequências de seus atos. (CHAVES, 2004, p. 84).

Com esse escopo elaboramos o trabalho seguindo a seguinte estrutura: No Capítulo 1 apresentamos a Introdução/Problematização; no Capítulo 2 redigimos a justificativa e estabelecemos os objetivos; a Metodologia foco do Capítulo 3 e no

Capítulo 4 comentamos sobre Economia, Escolas Econômicas e seus representantes, Macro e Microeconomia, Economia de Mercado, Mercado Financeiro e seus produtos, Mercado de Câmbio e de Consumo, Marketing, Consumo e Consumismo; no Capítulo 5 versamos sobre Educação Financeira, conceitos e sua relação com a cidadania, meio ambiente e sustentabilidade e enfatizamos a importância do ensino da Matemática e a transversalidade do ensino da Educação Financeira; aborda-se a pedagogia preconizada pela Enef, apresentando o material desenvolvido e sugerimos outras atividades com materiais diversos, no Capítulo 6. As Considerações Finais e sugestões para pesquisas futuras são tecidas no Capítulo 7. Em seguida apresentamos as Referências das diversas obras e documentos oficiais consultados e, para finalizar, disponibilizamos os anexos.