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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 1 Criatividade

3. Educação para a Criatividade

3.3. Educação para a Criatividade em Portugal

Em Portugal a importância da criatividade nas escolas está explícita nos objetivos e nas orientações do Ministério da Educação (1986). Nos princípios gerais desta lei pode-se ler que a educação deve promover “o desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva” (Lei nº 46/86, artigo 2º, nº 5). No entanto, os resultados obtidos nas investigações realizadas no nosso país demonstram que os professores consideram que a criatividade não está presente na escola (Morais & Azevedo, 2011), embora alunos valorizem a imaginação, a inovação e a criatividade dos professores (Morais, Almeida, Azevedo, Alencar, & Fleith, 2014). Além

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disso, estudos demonstram que os nossos estudantes apresentam um desempenho modesto ou fraco ao nível da resolução de problemas, da aplicação e utilização de conhecimentos a situações novas e da análise e interpretação da informação, demonstrando, em contrapartida, um bom desempenho na reprodução de informação e de procedimentos algorítmicos, no trabalho de textos narrativos e nas tarefas rotineiras (Fernandes, 2007)

Ainda assim é possível encontrar na literatura referência a programas de educação para a criatividade que, nos últimos anos, têm vindo a ser implementados com sucesso no nosso país, tais como o MORCEGOS (Nogueira, 2006), o Programa de Aceleramento Escolar (Oliveira, 2007), o Odisseia (Miranda, 2008; Miranda & Almeida, 2008), o MAIS (Antunes, 2008), o Vamos (Re)criar a Escola (Manteigueiro, 2011), o Future Problem Solving (Alves, 2013) e o SuperCriativos (Oliveira, 2012). De seguida iremos apresentar um breve resumo de cada um dos programas identificados.

O programa MORCEGOS, Motivação, Originalidade, Raciocínio, Curiosidade, Elaboração, Generalização, Observação e Sensibilidade aos Problemas (Nogueira, 2006), procura completar o currículo académico de alunos sobredotados visando o desenvolvimento das suas competências criativas e interpessoais, tendo posteriormente sido implementado numa turma de adolescentes com dificuldades de aprendizagem. Este projeto foi implementado no ano letivo de 2001/2002 em dois grupos de alunos distintos: crianças sobredotadas entre os 6 e os 14 anos e crianças com dificuldades de aprendizagem entre os 12 e os 16 anos. Nos alunos do primeiro grupo verificou-se um aumento das competências criativas, principalmente ao nível da fluência e originalidade. Todavia, estas diferenças não foram estatisticamente significativas. Já no segundo grupo, observou-se também um aumento da fluência e da originalidade, sendo as diferenças obtidas estatisticamente significativas.

Já no Programa de Aceleração Escolar (Oliveira, 2007) implementado junto de alunos do 5º e 6º ano de escolas dos distritos de Braga, Viana do Castelo e Porto, os autores focaram-se na avaliação da evolução das competências cognitivas e criativas dos participantes, no seu autoconceito e no seu rendimento escolar. A avaliação deste projeto decorreu nos anos letivos de 2002/2003 e 2003/2004 e comparou 107 crianças que foram alvo de medidas de aceleração escolar, ou seja, entraram aos 5 anos para a escola ou avançaram um ano de escolaridade ao longo do 1º Ciclo do Ensino Básico, com 120 colegas de turma que não beneficiaram deste tipo de medidas. Os resultados obtidos apontam para a existência de diferenças estatisticamente significativas a favor dos alunos acelerados ao nível das suas competências cognitivas (provas de conteúdo verbal) e criativas (pensamento convergente). Além disso, estes alunos apresentam rendimento académico superior em todas as disciplinas, exceto Educação Visual e Tecnológica e a Educação Física.

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Por sua vez, o programa de enriquecimento escolar ODISSEIA (Miranda, 2008; Miranda & Almeida, 2008) tinha como objetivo promover experiências diversificadas para alunos do 2º ciclo visando a manifestação e desenvolvimento dos seus talentos. Este projeto foi implementado em três fases durante os anos letivos de 2004/2005 e 2005/2006. A primeira fase contou com 37 sessões integradas no currículo académico realizadas durante o primeiro ano letivo e foi implementado junto de 257 alunos distribuídos por grupo experimental e grupo de controlo. A segunda fase, por sua vez, foi desenvolvida no ano letivo de 2005/2006 junto de 69 alunos que se destacaram no ano letivo anterior durante 15 sessões que visavam estimular os processos de fluência, flexibilidade, elaboração e originalidade, além de resolução criativa de problemas realizadas em regime extracurricular. Por fim, a terceira fase destinou-se aos 9 alunos que mais se destacaram na segunda fase e focou-se na procura de resolução de problemas ou assuntos complexos que a sociedade enfrenta. Os resultados obtidos, embora não tenham sido significativos, demonstraram que o grupo experimental evidenciou melhorias significativas ao nível do raciocínio abstrato, da fluência e elaboração verbal, elaboração e da originalidade figurativa, assim como melhorias no rendimento escolar.

O programa de enriquecimento MAIS - Motivação, Aptidão, Inovação e Socialização (Antunes, 2008) privilegiou a resolução criativa de problemas e a capacidade de autorregulação procurando melhorar os resultados de alunos com realizações superiores ao nível da cognição/inteligência, criatividade, desempenho escolar e autoconceito, assim como aumentar a sua motivação para as atividades propostas e para o investimento no conhecimento. Este projeto, constituído por 11 sessões, foi implementado no ano letivo de 2005/2006 junto de 69 alunos do ensino básico, distribuídos por grupo de controlo e grupo experimental. Os resultados da análise de eficácia do MAIS não foram conclusivos, uma vez que os dados não foram consistentes em todas as variáveis.

Bahia (2008) desenvolveu o programa Ethos que visava fomentar a fluência de ideias e a flexibilidade do pensamento dos participantes, assim como dar espaço à diferença, possibilitar a comunicação de ideias e incentivar a colaboração. Este projeto foi implementado no ano letivo de 2006/2007 junto de duas populações distintas: a primeira população foi constituída por 14 jovens entre os 18 e 21 anos que frequentavam em regime ambulatório um centro de atividades ocupacionais para cidadãos portadores de deficiência mental; enquanto os segundos destinatários foram 16 alunos sobredotados com idades compreendidas entre os 6 e os 13 anos. Os resultados obtidos apontam para a existência de ganhos em ambos os grupos em termos quantitativos e qualitativos; todavia, esta investigação não contou com a participação de um grupo de controlo.

Já o Programa Vamos (Re)Criar a Escola (Manteigueiro, 2011) visava desenvolver o pensamento divergente em alunos do 1º ciclo focando-se no desenvolvimento da fluência,

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flexibilidade, originalidade e elaboração dos participantes. Este projeto constituído por 12 sessões de 45 minutos foi implementado no ano letivo de 2010/2011 junto de 13 alunos do 1º ao 4º ano de escolaridade, tendo contado com a participação de 24 estudantes como grupo de controlo. Os resultados obtidos na sua avaliação demonstram uma melhoria significativa nas dimensões de fluência e elaboração do grupo de intervenção.

Alves (2013) realizou uma análise exploratória do impacto do programa “Future Problem Solving”, um programa de treino de competências criativas (nomeadamente abstração de títulos, fluência, resistência fechamento, elaboração, originalidade e vigor criativo), assim como da motivação para a aprendizagem e da inteligência emocional. Este projeto foi implementado no ano letivo de 2011/2012 junto de 40 estudantes do ensino secundário profissional. Os resultados obtidos demonstram uma melhoria na fluência, originalidade e motivação para a aprendizagem escolar dos alunos participantes. Porém, esta investigação não contou com um grupo de controlo.

Finalmente o programa SuperCriativos (Oliveira, 2012), implementado no ano letivo de 2011/2012, consistia num programa de escrita criativa destinado a alunos do 1º ciclo do ensino básico que visava motivar as crianças para atividades criativas, desenvolver as suas competências criativas, promover a sua autoestima e desenvolver as suas competências de expressão oral e escrita. Este projeto foi implementado junto de 36 alunos do 3.º e 4.º anos de escolaridade e contou com a participação de 40 alunos constituintes do grupo de controlo. Os resultados obtidos demonstram que a participação teve um efeito positivo significativo no desenvolvimento da criatividade dos alunos.

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