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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 2 Empreendedorismo

1. Empreendedorismo: Enquadramento e Definição

As primeiras referências aos conceitos de empreendedor e empreendedorismo remontam ao século XVII (Parker, 2004; Sorensen & Chang, 2006). A título de exemplo, em 1775, Cantillon (citado por Parker, 2004), definiu um empreendedor como a pessoa que realiza trocas e assume riscos ao comprar determinado produto a um preço para o vender a outro, muitas vezes por um valor incerto, assumindo-o como um revendedor. Posteriormente Jean Baptiste Say (1828; citado por Parker, 2004) defende que um empreendedor se localiza no centro do sistema económico, dirigindo e coordenando os recursos produtivos com o objetivo de obter valor e lucro, ou seja, um empresário. Mais recentemente, Josef Schumpeter (1934, 1939; citado por Parker, 2004) caracterizou o empreendedor como alguém que trabalha fora das restrições tecnológicas convencionais, procurando desenvolver novas tecnologias ou produtos, por outras palavras, um inovador. Segundo Sorensen e Chang (2006) embora estas definições se reportem a particularidades diferentes, encontram-se interligadas, sendo progressivamente mais abrangentes. Estes autores defendem ainda que expressam as características centrais de um empreendedor: assunção de risco, gestão e inovação.

Cunningham e Lischeron (1991) referem que nos últimos 50 anos o interesse pela temática do empreendedorismo tem vindo a ganhar importância, sendo atualmente alvo de estudo de várias disciplinas científicas, o que dificulta a existência de uma definição única e geral para este conceito. Todavia, a sua conceptualização está sobretudo focada numa perspetiva económica que se baseia na criação e gestão de empresas (por exemplo Gaspar, 2006; Kuratko, 2005; Mendes, 2007; Ribeiro, 2013) e que desempenha um papel fundamental ao nível do desenvolvimento socioeconómico dos indivíduos e das nações (Kerr, 2009). Já Gaspar (2006) após analisar um conjunto de definições deste

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conceito concluiu que o empreendedorismo remete para a identificação de oportunidades de negócio que leva à criação da própria empresa através da obtenção dos recursos necessários, tendo como objetivo inovar, imitar ou acrescentar valor a determinado produto ou serviço.

Segundo esta perspetiva, Portela (2008) sistematiza ainda os principais conceitos deste constructo: empreender, empreendedor e empreendimento. De acordo com o autor empreender remete-se para a criação, neste caso uma empresa; o empreendedor, por seu lado, é o sujeito que empreende, uma pessoa ativa e arrojada; por último, o empreendimento refere-se ao ato de empreender, por outras palavras, de planear, pretender criar e levar a cabo os objetivos definidos.

Não obstante esta importante perspetiva, importa sublinhar que o empreendedorismo é mais do que a criação de empresas (Kuratko, 2005; Mendes, 2007) e que nem todas as pessoas que constituem uma empresa são empreendedores, em contrapartida, todos os empresários são proprietários de uma empresa (Filion, 1999). Assim, o empreendedorismo pode ser encarado como uma forma de pensar e agir relativamente à sociedade e à economia que vai para além das competências de trabalho e da criação de novas empresas (NESTA, 2008).

Com base nestes pressupostos, para compreender o fenómeno do empreendedorismo é necessário analisar outros aspetos, nomeadamente as questões comportamentais que são o foco de ciências como a Psicologia e a Sociologia. A título de exemplo Raposo e Silva (2000) referem que ao nível da economia as definições de empreendedorismo referem-se à inovação e ao desenvolvimento; as ciências comportamentais focam-se nas características do empreendedor; a engenharia centra-se nas questões dos distribuidores e coordenadores de recursos; as finanças salientam a assunção de risco; a gestão destaca a organização, o planeamento e a utilização dos recursos; e o marketing debruça-se sobre a identificação de oportunidades, a diferenciação da oferta e a adaptação aos mercados. Neste sentido, a Comissão Europeia alertou, em 2002, para o papel que as atitudes empreendedoras têm no desenvolvimento de um país, defendendo que a sua promoção deveria ser considerada como uma prioridade para os países europeus e em 2006 fortaleceu esta posição afirmando que os governos devem apostar no desenvolvimento de escolas e instituições empreendedoras de modo a incutir nos estudantes competências como criatividade, inovação e procura ativa de resolução de problemas.

Com esta conceção multifacetada do empreendedorismo procura-se dar respostas às limitações da adoção de uma perspetiva exclusivamente económica na explicação deste fenómeno, começando a surgir conceptualizações mais abrangentes. A este nível, a Comissão Europeia definiu, em 2006, o empreendedorismo como a capacidade que o indivíduo tem para converter ideias em

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atos, o que requer criatividade, inovação e assunção de risco, e é útil na vida quotidiana, independentemente do contexto.

Por outro lado, observa-se ainda o surgimento de novos conceitos associados ao empreendedorismo, assim como a conceptualização de tipos de empreendedorismo (Sarkar, 2007). Bruin e Dupuis (2003; citado por Sarkar, 2007) falam em empreendedorismo por necessidade, ético, de capital, eletrónico, familiar, comunitário, municipal, estatal, local, académico, jovem e na terceira idade, todos associados à questão da criação da própria empresa. Na literatura é ainda possível identificar outros tipos de empreendedorismo que não se prendem com esta vertente económica, nomeadamente o empreendedorismo social, intra-empreendedorismo (Naia, 2009) e o endo- empreendedorismo (Ribeiro, 2013) ou empreendedorismo corporativo (Gaspar, 2006). O empreendedorismo social consiste na implementação de soluções inovadoras para dar resposta a problemas sociais com o objetivo de gerar mudanças sociais de grande escala (Portela, 2008; Sarkar, 2007). Parente, Santos, Marcos, Costa e Veloso (2012) referem que estas ações podem ser levadas a cabo por indivíduos e/ou instituições com ou sem fins lucrativos, do sector público ou privado. Já o intra-empreendedorismo refere-se aos profissionais, que não possuindo o seu próprio negócio, assumem atitudes empreendedoras no seu local de trabalho (Mendes, 2007; Naia, 2009). Segundo Kanter (1990; citado por Sarkar, 2007), esta forma de empreendedorismo é fundamental para a sobrevivência de uma empresa. Definição semelhante é atribuída ao endo-empreendedorismo, todavia, estes constructos diferem porque no último caso o colaborador é incentivado a construir a sua própria empresa, no seio da organização para a qual trabalha, com o intuito de desenvolver a sua ideia de negócio.

Raposo e Silva (2000) sistematizam a avaliação do conceito de empreendedorismo em quatro vertentes, nomeadamente características do empresário e da organização empresarial, assim como influência do meio envolvente e da sociedade no favorecimento ou condicionamento da atividade empresarial. Ao nível das características do empresário encontra-se referência a estudos focados nas características do empreendedor, pessoais e de gestão, e na avaliação de minorias na função empresarial, por exemplo, mulheres. Relativamente às características da organização empresarial é frequente a identificação de investigações focadas no estudo da criação de novas empresas, no capital de risco, incluindo as suas características e papel na criação de empresas, nas empresas familiares, nas empresas de base tecnológica, em start-ups e financiamento das novas empresas, nas características económicas e demográficas das pequenas e médias empresas, nas estratégias competitivas e de crescimento das empresas, no desenvolvimento e no ciclo de vida da empresa, e no franchising. Já nos fatores que favorecem o empreendedorismo a investigação foca-se nos aspetos públicos e privados do contexto em que se insere, nas incubadoras e outros sistemas de

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apoio, nas redes de cooperação, nas alianças estratégicas e no autoemprego. Finalmente, nos fatores que condicionam a criação de empresas são analisadas as políticas públicas de incentivo, a educação empresarial, a relação do empreendedorismo com a sociedade, os casos de insucesso e as questões culturais.

2. O Indivíduo Empreendedor e as Influências ao Desenvolvimento das Competências