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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 2 Empreendedorismo

3. Educação para o Empreendedorismo

3.2. Educação para o Empreendedorismo em Portugal

Embora a expansão do desenvolvimento e implementação de programas de treino de competências empreendedoras tenha acontecido na década de 90 (Araújo, et al., 2005; Volkmann, 2004), as iniciativas de educação para o empreendedorismo no nosso país são relativamente recentes. Aliás, em 2002, no Final Report of the Expert Group “Best Procedure” Project on Education and Training for Entrepreneurship (Comissão Europeia, 2002), Portugal foi apontado como o único país europeu onde eram desenvolvidas ações que tinham como objetivo fomentar o espírito empresarial (seminários, conferências e visitas), mas cujas iniciativas não estavam contempladas no quadro do sistema nacional de educação.

O ensino do empreendedorismo em Portugal foi introduzido inicialmente no Ensino Superior, tendo a Universidade Católica sido, em 1992, a primeira instituição a oferecer Educação para o Empreendedorismo (Redford, 2006). Todavia, a maioria das disciplinas de empreendedorismo oferecidas no ensino superior no ano letivo de 2004/2005 tiveram o seu início entre 2003 e 2004 (Redford, 2013).

Em 2006, surge o primeiro programa de educação para o empreendedorismo, concebido e implementado sob a responsabilidade da Direção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação, o Plano Nacional de Educação para o Empreendedorismo (PNEE), destinado a alunos do ensino básico e secundário (Teixeira, 2012). O PNEE tinha como objetivo promover ações empreendedoras na escola, nomeadamente “projetos de investigação e de intervenção desenvolvidos por alunos dos ensinos básicos e secundário no âmbito das áreas curriculares que originem produtos sociais concretos, motivantes, capazes de responder aos seus próprios problemas e necessidades e com um impacto (observável, qualificável ou quantificável) no grupo-turma, na comunidade escolar, local ou regional, orientados para fins sociais, de investigação ou científico-tecnológicos” (Ministério da Educação, 2007, p. 10). A implementação deste projeto passou por duas fases. A fase piloto foi implementada no ano letivo de 2006/2007 e contou com a participação de 23 estabelecimentos de ensino do segundo e terceiro ciclos e do ensino secundário. Devido aos bons resultados obtidos nesta fase de implementação, foi aprovada a sua prossecução durante mais três anos letivos (2007/2010), integrando também escolas do primeiro ciclo e escolas profissionais (Teixeira, 2012). No Relatório Síntese do projeto (Direção-Geral de Inovação e

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Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação, 2009) verifica-se que os alunos

desenvolveram as suas competências empreendedoras-chave, nomeadamente

autoconfiança/assunção de risco, iniciativa/energia, planeamento/organização, resistência à frustração/resistência, criatividade/inovação e relações interpessoais/comunicação.

Através de uma revisão da literatura é possível identificar boas práticas de programas de educação para o empreendedorismo desenvolvidos no nosso país, essencialmente ao nível do Ensino Básico e Secundário, e conhecer as suas metodologias e resultados. Por exemplo, no levantamento feito por Teixeira (2012) verificou-se que a maior parte dos projetos implementados foram levados a cabo por instituições privadas e tiveram o seu início no ano de 2005, mas não se encontram em vigor atualmente.

O projeto ENE - Empreender na Escola (CPINAL, 2002), foi implementado entre os anos letivos de 2002 e 2004, em 10 escolas do ensino secundário da região do Algarve. Este programa tinha como objetivo combater a fraca motivação dos alunos e as suas baixas qualificações através da elaboração de um plano de negócios.

Já no ano letivo de 2007, foi implementado o Projeto Empresários na Escola – Percursos de Acompanhamento à Criação de Novas Empresas de Base Tecnológica visou o desenvolvimento de competências empreendedoras dos jovens que frequentassem o 3º ciclo do ensino básico na região de Coimbra (Parkurbis, 2007). Este projeto consistiu na adaptação para Portugal do projeto EJE – Empresa Joven Europea, desenvolvido e implementado na região das Astúrias desde o ano letivo de 1999/2000, sendo parte integrante do seu currículo académico. Todavia, os resultados obtidos neste programa não se revelaram favoráveis, não refletindo a existência de um impacto positivo da participação no programa na intenção empreendedora dos estudantes, assim como não demonstraram um resultado favorável ao desenvolvimento de uma atitude empreendedora, tendo sido apenas observadas diferenças estatisticamente significativas ao nível da assunção de risco, que diminuiu com a participação (Rodrigues, Dinis, Paço, Ferreira, & Raposo, 2012).

Por outro lado, o Programa Empreendedorismo na Escola foi implementado no ano letivo de 2011/2012 e compilava uma série de atividades de promoção do empreendedorismo que culminavam com o desenvolvimento de um concurso de ideias para jovens do ensino secundário. A análise dos resultados obtidos permitiu concluir que o incentivo dado pelos agentes escolares fomentou o desenvolvimento dos comportamentos empreendedores dos estudantes, assim como a participação em atividades extracurriculares desempenhou um efeito positivo nas intenções empreendedoras dos participantes. Além disso, os dados obtidos permitem verificar que os estudantes que têm uma maior capacidade de criação e concretização de projetos empreendedores

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e maior vontade de vencer evidenciam uma maior probabilidade de criarem o próprio negócio (Rocha, Silva, & Simões, 2012).

A este nível, importa destacar o papel desempenhado pela Fundação Júnior Achievement Portugal. Uma associação sem fins lucrativos, que opera no nosso país desde 2005, essencialmente nas regiões de Lisboa e Porto, e oferece dez programas de educação para o empreendedorismo distintos e adaptados aos diferentes níveis de ensino (Fundação Junior Achievement Portugal, 2005). Um dos projetos que oferece é “A Empresa” (Chaves & Parente, 2011), um programa destinado a estudantes do ensino secundário que visa gerar oportunidades para os alunos criarem e conduzirem uma empresa no decurso de um ano letivo com a ajuda de um voluntário e de um professor responsável, numa abordagem interdisciplinar que complementa o currículo académico e é desenvolvida na disciplina da Área de Projeto.

Naia (2009) chama ainda a atenção para a realização de outras iniciativas dirigidas à população no geral, nomeadamente seminários, workshops, concursos e cursos de empreendedorismo. Estas atividades são realizadas em diversos âmbitos e promovidos por uma variedade de entidades, tais como COTEC, AUDAX, OTIC e Fundação Luso-Americana.

Porém, de acordo com a avaliação da eficácia das atividades desenvolvidas ao nível da educação para o empreendedorismo em Portugal, desenvolvida pelo Entrepreneurship Monitor em 2011 (Thompson, Gonçalves, Medina, & Amaral, 2013), torna-se evidente que é necessário fazer mais. Os resultados descritos neste relatório demonstram que os programas implementados ao nível do ensino básico e secundário não aparentam promover e estimular a criatividade dos jovens, competência considerada como chave para o comportamento empreendedor. Por outro lado, em termos culturais e sociais, os autores determinaram que a nossa sociedade não encoraja a assunção de risco, a criatividade e a inovação, o que demonstra que as atividades de sensibilização para o empreendedorismo desenvolvidas não evidenciam eficácia.

Aliás, em 2012, a própria Assembleia da República Portuguesa chamou a atenção para a necessidade de desenvolver as competências empreendedoras dos jovens emitindo uma recomendação ao Governo para promover incentivos ao empreendedorismo jovem (Resolução da Assembleia da Republica nº58/2012). Dentro das 21 medidas recomendadas, importa sublinhar a solicitação de sensibilização para o empreendedorismo jovem em contexto escolar adaptado a todos os níveis de ensino, incluindo o superior (Assembleia da República , 2012).

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