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O Papel do Professor na Educação para o Empreendedorismo

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 2 Empreendedorismo

3. Educação para o Empreendedorismo

3.1. O Papel do Professor na Educação para o Empreendedorismo

É notório que os programas de educação para o empreendedorismo procuram uma aproximação às situações reais que pretendem trabalhar (Comissão Europeia, 2002) e adotam uma abordagem por competências (Chaves & Parente, 2011), pelo que pressupõem um envolvimento ativo e constante por parte dos professores e de toda comunidade educativa (Alencar, 2002; Craft, 2005; Cropley, 2009; Otaviano, Alencar, & Fukuda, 2012; Redford, 2013). Por outro lado, o papel do professor adquire ainda mais importância quando se percebe que as suas atitudes e a estratégia letivas influenciam a aprendizagem dos alunos e o desenvolvimento das suas competências (Chong, Lai, Ong, Tan, & Lan, 2008; Graevenitz, Harhoff, & Weber, 2010; Martin, McNally, & Kay, 2013; Ruskovaara & Pihkala, 2013).

Na maior parte dos programas de educação para o empreendedorismo são os professores que assumem a liderança das atividades a desenvolver, adoptando assim um papel de promotor (Seikkula-Leino, Ruskovaara, Ikavalko, Mattila, & Rytkola, 2010). Segundo estes autores, o professor promotor do empreendedorismo deve: ter conhecimentos sobre a área do empreendedorismo e, se possível, formação contínua ao longo da sua carreira profissional; identificar os objetivos que pretende obter com as atividades que desenvolve e reconhecer os resultados esperados para cada uma delas; ser capaz de refletir continuamente sobre os ensinamentos e competências que pretende transmitir; conseguir integrar o empreendedorismo com o curriculo académico da disciplina que leciona; e estar motivado para promover as competências empreendedoras dos seus estudantes.

Deakins, Glancey, Menter e Wyper (2005) referem que o professor deve assumir também um papel de líder, devendo motivar os alunos para atinguir os objetivos definidos, ajudando-os a ultrapassar os problemas com que se deparam. Estes autores defendem ainda que na implementação de um programa de educação para o empreendedorismo os professores devem procurar estabelecer uma boa relação interpessoal com os alunos, sendo essa a base para gerir a implementação do projeto em questão.

Atendendo ao papel que o professor desempenha na promoção do empreendedorismo é possível caracterizá-lo de acordo com a pedagogia empreendedora que utilizam na sala de aula, ou seja, postura cética, seguidora ou inovadora (Lepistö & Ronkko, 2013). De acordo com estes autores, um professor cético não compreende a importância da educação para o empreendedorismo nem as mais-valias que oferece aos alunos e à comunidade, adotando uma atitude extremamente crítica face ao empreendedorismo. O professor seguidor, por seu lado, vê a educação para o empreendedorismo de uma maneira muito positiva, encarando-a como uma ideologia com valores baseados nas empresas, na excelência e no pensamento independente. Porém, este tipo de professores, não se define como educador de empreendedores, mas sim como alguém que cultiva o

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espírito empresarial e empreendedor nos estudantes, incentivando-os a contactar com a comunidade empresarial local. Por último, o professor inovador tem uma visão construtiva da educação, encarando o empreendedorismo como uma das suas partes constituintes, estando igualmente presente no aluno, no currículo académico e no professor. Assim sendo, considera a educação para o empreendedorismo como um método de ensino, um modo de pensamento e uma maneira de agir, passando essa visão para os alunos. Além disso, importa sublinhar que a postura adotada pelo professor poderá garantir, ou comprometer, o sucesso dos objetivos do programa em desenvolvimento, pelo que lhe deve ser dada uma atenção especial (Arasti, Falavarjani, & Imanipour, 2012).

Já Ruskovaara e Pihkala (2015) num estudo sobre a influência que as práticas pedagógicas exercem na educação para o empreendedorismo concluiu que o género do professor desempenha um papel importante, uma vez que os homens tendem a adotar métodos de ensino mais focados na sala de aula e no ensino tradicional, enquanto as mulheres procuram adotar estratégias mais inovadoras. Ademais, os resultados obtidos demonstram que a sua área de formação condiciona as práticas docentes utilizadas, pelo que professores formados em áreas relacionadas com a economia demonstram uma maior facilidade para o ensino do empreendedorismo. Com base nesta conclusão, os autores defendem que a formação em empreendedorismo é fundamental para assegurar o sucesso das iniciativas implementadas. Por último, esta investigação demonstrou que o tipo de ensino frequentado condiciona a educação para o empreendedorismo, assim sendo, verifica-se que os cursos tecnológicos e profissionais oferecem mais abertura para o desenvolvimento de iniciativas de educação para o empreendedorismo do que os cursos de ensino geral pois estes últimos estão mais focados em preparar os alunos para a progressão académica do que para a entrada no mundo de trabalho.

Por outro lado, os professores devem ainda estar atentos à relação que o aluno desenvolve com o empreendedorismo, pois a educação para o empreendedorismo pode ter diferentes efeitos em cada um dos estudantes (Levie, 2005). De uma forma geral, a educação para o empreendedorismo pode ter três efeitos nos alunos: podem descobrir que o empreendedorismo é o caminho que pretendem seguir, demonstrando intenção de criar a sua própria empresa; pelo contrário, muitos chegarão à conclusão que o processo de criação da própria empresa é bastante complicado pelo que desistem desse objetivo; e um último grupo irá concluir à partida que não pretende enveredar por esse caminho (Graevenitz, Harhoff, & Weber, 2010; Levie, 2005).

Todavia, existem poucos estudos que analisem o papel que o professor assume na implementação de um programa de educação para o empreendedorismo, sendo praticamente nula a existência de investigações que avaliem a influência que o professor exerce no desenvolvimento das

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competências empreendedoras dos alunos (por exemplo Lepistö & Ronkko, 2013; Ruskovaara & Pihkala, 2013). A maioria dos trabalhos realizados sobre esta temática foca-se nos conteúdos ou metodologias adotadas (Ruskovaara & Pihkala, 2013, 2015) ou na descrição da atitude que o professor deve adotar para fomentar o desenvolvimento das competências empreendedoras nos alunos e transpô-las para a vida quotidiana (Lepistö & Ronkko, 2013; Ribeiro, 2013).