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PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 1 Criatividade

3. Educação para a Criatividade

3.1. O Papel do Professor na Educação para a Criatividade

Embora a escola seja o palco privilegiado para a educação para a criatividade, é importante sublinhar a importância que o professor assume na formação das crianças e jovens (por exemplo Alencar, 2002; Craft, 2005; Otaviano, Alencar, & Fukuda, 2012). Os professores, enquanto agentes de mudança, devem ser consciencializados para a importância da estimulação da criatividade nos alunos tornando as suas aulas prazerosas e estimuladoras. Todavia, esta não é a realidade vivida na maior parte das salas de aulas, seja por limitações ao nível da sua formação, por desconhecimento de técnicas/metodologias ou pela extensão do currículo académico a cumprir (Oliveira, 2010), fatores aos quais acrescem questões relacionadas com as alterações do estatuto da carreira docente, com a avaliação do desempenho docente (Herdeiro & Silva, 2010) e com a falta de reconhecimento do seu trabalho (Alencar & Fleith, 2008). Outros estudos indicam ainda que os professores apresentam pouca variedade nas metodologias de ensino, colocam a ênfase do ensino no conteúdo e na sua reprodução, não permitem a expressão ou o desenvolvimento de novas ideias (Almeida & Alencar, 2010) e não pedem aos alunos que resolvam problemas (Gralewski & Karwowski, 2013), chegando mesmo a ignorar as contribuições dos alunos, colocando-os em situações constrangedoras (Alencar, 2000). Segundo as palavras de Miranda e Almeida (2008, p. 285) “com demasiada frequência a escola contraria a criatividade ao não dar espaço à curiosidade, à livre exploração e à diversidade de respostas, antes incentivando o conformismo”. Ao nível dos alunos/turmas, os autores identificam ainda aspetos como o tamanho das turmas, geralmente numerosas, ou a existência de alunos com dificuldades de aprendizagem (Alencar & Fleith, 2008).

Não colocando de parte estas limitações, os professores consideram que as suas atitudes, a estratégia letiva que utilizam e as atividades que desenvolvem influenciam a aprendizagem dos

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alunos (Liporace, 2004; Otaviano, Alencar, & Fukuda, 2012) e o desenvolvimento das suas competências criativas (Fleith, 2000; Herdeiro & Silva, 2010; Martinez, 2006; Santeiro, Santeiro, & Andrade, 2004). Como se pode ver, na investigação de Otaviano, Alencar e Fukuda (2012), o incentivo a novas ideias e a criação de um clima positivo para a expressão de ideias por parte dos professores de matemática aumenta a motivação dos alunos, o que melhora o seu rendimento académico. Em contrapartida, quando estes professores utilizavam métodos de ensino tradicionais a motivação para a matemática dos alunos diminuía. Relativamente ao trabalho pedagógico os autores concluíram que a avaliação do incentivo a novas ideias, do clima para expressão de ideias e do interesse pela aprendizagem do aluno aumenta quando os alunos consideram que as metodologias de ensino adotadas são mais dinâmicas e criativas. Já Larrain, Howe e Cerda (2014) observaram que permitir que os alunos discutam ideias contraditórias, justifiquem a sua posição e contra- argumentem, desde que moderado pelo professor, permite o desenvolvimento do processo de raciocínio. Assim sendo, podemos concluir que na implementação de qualquer projeto que pretenda estimular o desenvolvimento das competências criativas dos jovens, a escola deve ser vista como palco principal e os professores como maestros.

A este nível Lima e Alencar (2014) identificam algumas práticas pedagógicas que devem ser implementadas pelos professores para fomentar o desenvolvimento da criatividade dos alunos, nomeadamente, ter em conta os seus conhecimentos prévios nas suas práticas educativas, desenvolver atividades que se constituam como desafios para os alunos, definir tempos para a discussão com os alunos, valorizar a expressão de novas ideias dos alunos, criar uma boa relação com os alunos e manter um ambiente psicológico seguro. Em termos de atitudes, Oliveira e Alencar (2008) ou Müller-Using (2012) sublinham que um professor criativo deve estar aberto a novas experiências, ser ousado e curioso, ter confiança em si próprio e gostar do seu trabalho. Alencar (2002) acrescenta ainda que o professor deve ter intuição e flexibilidade, assim como ser tolerante e cooperante. Por outro lado, Runco (2007) defende ainda que muitos alunos procuram imitar as atitudes e ações dos seus professores, pelo que estes devem pensar de forma divergente, resolver problemas de forma original e demonstrar flexibilidade de pensamento.

O professor deve ainda criar um ambiente na sala de aula que seja facilitador da expressão da criatividade do aluno, ou seja, um ambiente que lhe transmita segurança e a sensação de que pode errar (Cramond, 2008; Fleith & Alencar, 2005; Oliveira & Alencar, 2008; Romo, 2012; Sternberg, 2004). Segundo Fleith e Alencar (2005), o ambiente propício para o desenvolvimento da criatividade na sala de aula é caracterizado pelo apoio que o professor dá à expressão das ideias dos alunos, perceção que o aluno tem sobre a sua criatividade, interesse do aluno pela sua aprendizagem, autonomia do aluno na realização do trabalho académico e estimulo do professor para o aluno

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produzir ideias. Martínez (1997; citado por Oliveira & Alencar, 2008) refere ainda que a criação de um ambiente facilitador da criatividade requer o envolvimento ativo de professores, alunos e direção da escola. No que diz respeito ao papel do professor, a autora defende que este deve: centrar o processo de ensino no aluno (adotando uma postura de facilitador do processo ensino-aprendizagem e estimulando o desenvolvimento de interesses, motivos, pensamento critico e potencialidades); respeitar a individualidade dos alunos, procurando a individualização do ensino-aprendizagem; promover a liberdade, a disciplina, a responsabilidade, a segurança psicológica e a tolerância; reconhecer e valorizar o trabalho desenvolvido por cada aluno; transmitir vivências emocionais positivas em relação ao grupo, à disciplina e ao processo de aprendizagem; e mobilizar recursos do grupo para criação de um clima emocional positivo entre os seus membros.

Os próprios alunos demonstram que preferem professores criativos e são capazes de identificar e caracterizar aqueles que adotam práticas docentes mais dinâmicas (Oliveira, Silva, & Cavalcante, 2015). A este nível, consideram que o professor deve permitir que exprimam as suas ideias e desenvolvam os seus projetos, estimulando-os a procurar soluções para os seus problemas e criando um ambiente sem pressões e críticas (Oliveira & Alencar, 2008).

Uma educação focada na criatividade pressupõe assim que o professor proporcione ao aluno a possibilidade de praticar o pensamento criativo, valorize e aprecie os seus esforços e adote ele próprio uma atitude criativa, pressupondo a utilização de um pensamento pouco convencional e de uma atitude autónoma por parte dos alunos (Runco, 2007). Porém, os jovens mais criativos chegam mesmo a ser descritos na literatura como estudantes conflituosos, não conformistas, questionadores, transgressores de regras, estranhos, persistentes nas tarefas que desempenham (Richards, 1999), impulsivos, excêntricos e sonhadores (Wechsler, 1998). Este comportamento adotado pelos alunos vai contra as características que, muitas vezes, os professores atribuem ao estudante ideal, ou seja um aluno educado, pontual, convencional e conformista, até porque uma turma é composta por muitos alunos, sendo mais fácil de geri-la se todos agirem de forma idêntica (Runco, 2007).