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Educação popular: fundamentos e princípios

2. Educação popular em foco: evidências históricas

2.1. Educação popular: fundamentos e princípios

Com o propósito de apontar indicadores à interpretação e análise de produções científicas apresentadas nas reuniões anuais da ANPEd/GT-06 sobre os limites semântico e teóricos de criatividade inseridos em educação popular, optou-se, aqui, pela elaboração desta temática.

As páginas que se seguem são um convite à leitura histórica conceitual sobre educação popular. Da Antiguidade ao Contemporâneo, o termo popular vai condicionar e ser condicionado por aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais que, juntos, vão delimitar o trânsito da educação. No caso desta pesquisa, de uma educação orientada pela dimensão popular. Procurando responder às questões formuladas, o que é educação popular e quais os fundamentos e princípios que lhes foram atribuídos ao longo da história, optou-se por abordá- las em um só tempo, de uma só vez.

Esta opção decorre do entendimento de que os limites epistemológicos associados à educação popular expressam-se em semântica cuja lógica conceitual encontra-se sedimentada em fundamentos e princípios diferenciadores de qualquer uma outra maneira de se pensar e agir em educação. Fundamentos e princípios vão se constituir síntese à orientação de novas elaborações, ao exemplo da relação que se pretende descortinar: criatividade em educação

popular.

Sob uma abordagem histórica a educação encontra-se atrelada ao processo pelo qual a civilização humana estruturou sua formação. Perpassa pelo Mundo Antigo greco-romano assinalando contradições dinâmicas das sociedades em formação (aristoi e demos, dominantes e dominados; trabalho manual e trabalho intelectual, conquistadores e conquistados; liberdade e escravidão) e desabrocha com o Homo faber no Mundo Moderno.

Sua trajetória é expressão temporal e espacial das grandes transformações culturais. A educação, que antes se encontrava restrita à oralidade, transcende com a escrita; a religião ganha novo sentido e o humano, vivendo em polis, redimensiona suas relações motivadas pelo comércio e mercado/capital. Ao passar dos anos, décadas, séculos, a civilização ocidental vai redirecionar seu modo de vida. Se antes predominavam ações centradas nos deuses, será o ser humano que passará a assumir a centralidade das ações. De criações artesanais passa a humanidade a desempenhar produção em massa. Do plano individual ao coletivo, do campo para a cidade, do rural ao industrial, avança a nova civilização, rumo às mais complexas tecnologias. Caminha criando e recriando modos de relações.

Como herança acumulada da civilização no mundo ocidental, a contemporaneidade da educação encontra-se influenciada pelas profundas marcas da construção da identidade humana elaborada a partir da família, Estado, escola, semelhantemente àquelas decorrentes da cultura, mito, religião, política e ética. Tanto pelo ideal da paidéia grega, como pela sua versão romana de humanitas, mas, sobretudo, através das influências das antigas poesias, dos cantos gregos delimitando contrastes às pedagogias do Mundo Antigo ao Novo.

Educação na Antiguidade

Referindo-se à Grécia Antiga, à formação do homem grego, sua formação cultural (paidéia) de projeção universal da individualidade humana, Jaeger (1986) descreve a diversidade de características atitudinais abordadas nas poesias, cantos, diálogos com os quais se estabeleceu divisões de classes e modelo de educação. Para Jaeger (1986), educação implica no “resultado da consciência viva de uma norma que rege uma comunidade humana, quer se trate da família, de uma classe ou de uma profissão, quer se trate de um agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado” (Op.cit., p. 3). Com Werner Jaeger a perspectiva grega de educação exprimia a idéia de processo de construção consciente, de modo peculiar ao que descrevem as normas definidoras à formação do homem grego. Uma educação fundamentada tanto pela dimensão ética quanto técnica.

Sobre isto, Melo Neto (2003) destaca, nas poesias de Homero e Hesíodo, características que vão delimitar a dimensão de educação do homem grego. Com Homero (séc. IX a.C.), homem de existência duvidosa, entre historiadores, possivelmente viveu no séc. VIII a.C.. Cego, perambulava pelas cidades recitando poesias aos que lhes conferiam abrigo. Para muitos a poesia homérica destacava um modelo de educação da nobreza. Centrado na valorização da beleza e heroísmo, Homero destaca a dimensão ética e moral da educação com princípios extraídos da nobreza. Com Homero “a sociedade é composta dos cidadãos livres que lutam e falam e dos escravos que servem”, escreve Nosella (2005, p. 244).

Hesíodo, por outro lado, de origem camponesa, canta em poesia uma outra maneira de educação. Toma a dimensão techne grega para posicionar a força do trabalho humano. Será com Hesíodo que a educação volta-se para o ‘povo’ sob a expressão valorativa do trabalho. Volta-se, com sua poesia, aos problemas do cotidiano abordando a realidade, que é realidade ponto de partida para o desenvolvimento. Trabalho e direito, trabalho e justiça se tornam, com Hesíodo, inspirações à vida. Em seu contrário, o ócio apresenta-se como motivo de desonra, de negação da própria vida. Trabalho, direito e justiça tomam outra proporção. Com Hesíodo “se revela uma esfera social totalmente diversa do mundo e cultura dos nobres” (JAEGER, 1986, p. 59), abandona a centralidade individualizada na nobreza e sedimenta-se como expressão coletiva. O direito não apenas reservado à nobreza. A educação não apenas aos nobres, mas direito e educação para todos – “uma educação que busca a afirmação daquele que se educa”, lembra-nos Melo Neto (2003, p. 38). Uma educação em que o ato educativo está orientado pela descoberta que se faz na “procura por justiça e por afirmação de um povo, de uma comunidade ou de uma maioria, ou mesmo de um tipo comunitário” (Op.cit., p. 39).

Esta abordagem também é tema de investigação de Cambi (1999), em História da

Pedagogia. Na ocasião referindo-se a ‘educação do povo’ vai afirmá-la “essencialmente, pelo

trabalho [...] sob a direção do mestre e reproduzindo seu saber técnico, aceitando sua autoridade, recopiando seu estilo relativo às relações sociais” (Op.cit., p. 166/ênfase do autor), o homem comum irá formar sua dinamicidade cultural. Enraíza-se pelo trabalho, como individuo cultural, na vida social. Em acordo com Melo Neto (2003), estas são algumas das bases para identificar a ‘dimensão do ser justo’ na antiga cultura grega. Na verdade, este aspecto encontra-se nos alicerces do pensamento político e ético da cultura grega, fundamentais à compreensão da organização do Estado Grego “fundamentado na noção de

direito para todos” na criação da “figura do cidadão” (MELO NETO, 2003, p.38/ênfase do

autor).

irá influenciar a formação cultural da vida social, política e pedagógica de outros povos. Trata-se do reconhecimento histórico sobre a formação cultural humana na Antigüidade grega em que a educação retém fundamentos explicativos às semânticas em educação.

Pode-se, assim, articular os elementos homéricos e os provenientes de Hesíodo às bases epistemológicas de culturas educativas com as quais a educação vai fundamentar sua essência no transcorrer da história. Neste contexto formam-se pares dialéticos (trabalho/ócio, nobreza/povo, teoria/prática, privado/popular, polis/campo) que vão diferenciar a maneira de pensar e estar em educação. De um lado, elementos condicionadores de uma educação estática, orientada à manutenção da centralidade política de poder, de outro, aqueles que direcionam a dinamicidade da educação como instrumento de resistência.

Educação na Idade Média

A Idade Média, comenta Melo Neto (2003) referindo-se ao historiador Eduardo Hoonaert, vai constituir-se, a partir de movimentos de resistência às cobranças obrigatória do dízimo e o acúmulo de terras por parte da Igreja Católica, como expressão de movimento social, como “um grande movimento popular” (Op.cit., p. 39/ênfase do autor) de resistência/acomodação à cobrança, já com a presença da educação popular no seio dessas organizações de luta no enfrentamento com as elites de então. Esses movimentos não se formam com as características básicas de um movimento comunitário, dos tempos de hoje, mas já estava presente a luta pela construção de uma sociedade mais igualitária. Movimentos sociais diversos mas expressivos, inclusive, quantitativamente, mesmo que pouco conhecidos. Mesmo assim, foram determinantes na reconfiguração de novas relações não só entre seus participantes mas em relação às instituições da época, particularmente a Igreja.

A Idade Média, marcada pelo obscurantismo da inquisição, do feudalismo, será “o tempo do cristianismo e da Igreja, mas [será] também a época dos povos e dos ideais comuns da Europa: ideais-mitos, ideais-tradições, ideais-legendas que constituíram o arcabouço fundamental dos povos europeus”, afirma Cambi (1999, p. 142/ênfase nossa). Uma época em que a educação passou a expressar-se sob os ideais de um novo homem caracterizado como filho de Deus. Com isto mudam os comportamentos na família, no trabalho, na política, na sociedade. O novo imaginário de mundo e homem encontra-se associado a

uma imagem de mundo como ordem, desejada por Deus e estabelecida de uma vez por todas, invariável, definitiva, sempre justa; qualquer rebelião contra esta ordem dá lugar ao pecado, a um desvio culpado que deve ser expiado e a Igreja é a

depositária do poder de expiação, de perdoar e impor sanções, até a sanção suprema de excomunhão que, pondo o indivíduo fora da comunidade cristã, priva-o de todo direito e de todo o poder (CAMBI, 1999, p. 146-147).

Numa sociedade como esta, disciplinada pelo controle social de Igreja e Império, evidenciou-se a divisão de classes distinguindo o homem aristocrático do homem popular. Neste sentido, um e outro serão conduzidos por instrumentos de educação diferentes. Ao primeiro, a escrita e acesso aos livros, ao segundo a palavra, a simplicidade religiosa, os ritos e festas. A educação do povo, do homem popular, semelhante ao que sucedera na Antigüidade grega, encontra-se associada ao modo de trabalho em oficinas ou campo, sob orientação do mestre reproduzindo técnicas e respeito à autoridade. Uma educação que se estendia pela tradição familiar e vida social. Nas palavras de Cambi (1999, p. 166), “a educação que se realizava no local de trabalho era uma educação da reprodução, das capacidades técnicas, das classes e das relações sociais, sem valorizar realmente a inovação”.

Fora do contexto do trabalho, o povo era envolvido pelas festas de orientação religiosa e controle da Igreja. O conhecimento aprendido, assim formado, manteve o povo na condição de analfabetos delimitado pelas crenças e ritos, saberes do senso comum. As aprendizagens se constituíam através da palavra e imagem, elementos alternativos em substituição à escrita. Com isto, a educação do povo assumia característica emotiva, influenciada pela pregação em “linguagem explícita e consciente, invocando os princípios cristãos, ativando uma obra de reeducação interior” (Op.cit., p. 179), com a qual floresce o sentimento de resistência e transformação social.

Aos nobres a educação esteve associada à orientação matemática, lógica e retórica. Uma educação dominante, marcada pelo poder e acesso aos textos, sob a forma de leitura e escrita. Uma educação caracterizada pela racionalidade, pelo estilo de vida religioso, de castelos e palácios. Mas, sobretudo, uma educação que permitia a divulgação de culturas, a bem da criação de uma cultura comum à Europa medieval, tanto religiosa como laica.

Aos religiosos, uma educação diferenciada pela meditação e acesso aos manuais de formação espiritual, aos exercícios espirituais cristãos constituídos pelo princípio de ‘imitação de Cristo’.

Neste contraste, em que a divisão de classes expressa desigualdades, disputa política entre Igreja e Império, ascendem os movimentos que Eduardo Hoonaert, nas palavras de Melo Neto (2003), identificou como ‘popular’ e que para Alder Júlio Calado “expressaram a própria afirmação e resistência aos ditames e mecanismos de controle social da época, sobretudo à inquisição” (Apud, op.cit., p. 40).

Por volta do ano mil uma outra classe social começa a se formar, a burguesia. De origem urbana, empreendedora, vai implantar um projeto sociopolítico de base transformadora do modelo até então vigente à época. Com a burguesia “novos valores e novos ideais: o indivíduo, a liberdade, a produtividade” (CAMBI, 1999, p. 172) vão emergir. Valores e ideais que serão desenvolvidos na Modernidade.

Lentamente as sociedades anteriormente controladas pela Igreja Católica e Império começam a sofrer transformações na cultura, política, educação assumindo uma dimensão laica, com a qual dará sustentação ao modo de sociedade comercial, constituída pela força do trabalho especializado, em que se mudam

as técnicas e transforma-se o trabalho, que implica cada vez mais competências especializadas e envolve cada vez mais indivíduos ligados por conhecimentos e interesses comuns [...]. Renova-se a ideologia, que vê o povo cada vez mais protagonista ativo de movimentos ideais e de lutas sociais (Op.cit., p. 173/ênfase do autor).

Se de um lado o mundo era influenciado por modelo de sociedade aristocrático, fundamentalmente religioso e de governo centrado na figura de monarcas ou imperadores, de outro se via surgir rupturas diversificadas no campo das ideologias, da cultura, da política, da economia entre outras, as quais desencadearam expressivas e duradouras transformações em todas as sociedades da época.

A maior, senão a mais significativa mudança social pode ser identificada no processo de laicização das sociedades. Laicização esta que trará repercussões na economia (passando a ser orientada pelos cânones do comércio e mercantilização), na política (que fará emergir uma sociedade plural e Estatal), na cultura (radicando-se no homem e nas cidades/no individual e no social), “mas também ideologicamente, separando o mundano do religioso e afirmando sua autonomia e centralidade na própria vida do homem” (Op.cit., p. 196). Estes aspectos estão inseridos numa transição filosófica em que centram-se no humanismo iluminista, assim como faz surgir, pela quebra da hegemonia da religião, predominantemente católica, “o valor autônomo do pensamento e da arte, ou então se dirige para um novo âmbito do saber – científico-técnico – que quer interpretar o mundo iuxta propria principia e transformá-la em proveito do homem” (Loc.cit./ênfase do autor).

Educação na Modernidade

diversificada conjuntura: geográfica, econômica, política, educacional, cultural, social, etc.. Sob a característica geográfica as expedições marítimas farão com que os povos naveguem por mares até então desconhecidos, saindo da rota do Oriente para o Ocidente. Do Mediterrâneo para o Atlântico. Desta feita, emergem os diversos formatos de colonização e descobertas das Américas, definindo modelos sociais de exploração de gente e terras. Explorações estas que integram os primeiros contornos do capitalismo.

Sob a perspectiva econômica a modernidade representa a transição de uma economia fundamentalmente agrícola e rural para uma outra que se fará pelo desenvolvimento da indústria, provocando migração do campo para a cidade. A economia torna-se dinâmica pelo emprego do capital, uma economia capitalista – “que implica na racionalização dos recursos (financeiros e humanos) e um cálculo do lucro como regra do crescimento econômico” (CAMBI, 1999, p. 197). No campo político, a modernidade definirá a participação dos homens numa estrutura diferente daquela estabelecida pelo feudalismo, com a criação do Estado.

Um Estado centralizado, controlado pelo soberano em todas as suas funções, atendo à própria prosperidade econômica, organizado segundo critérios racionais de eficiência; [...] muda a concepção de poder: o exercício efetivo do poder se distribui capilarmente pela sociedade, através de um sistema de controle, de instituições delegadas à elaboração do consenso e à penetração de uma lógica estatal (Ibid.).

Com isto emergirá o conceito de classe social, distinguindo a burguesia da aristocracia. Desta dicotomia, se fará, pela burguesia, a confirmação econômica do modelo capitalista, que terá na divisão de classes a sua forma de exploração da força de trabalho, inicialmente escravo e, posteriormente oprimindo pela dominação econômica e política.

Conseqüentemente, a modernidade irá demarcar

uma revolução na educação e na pedagogia. A formação do homem segue novos itinerários sociais, orienta-se segundo novos valores, estabelece novos modelos [...]. Opera-se uma radical virada pedagógica que segue caminhos muito distantes daqueles empreendidos pela era cristã [...]. Segue-se o modelo do Homo faber e do sujeito como indivíduo, embora ligando-o à cidade e depois ao Estado, potencializando a sua capacidade de transformar a realidade e de impor a ela uma direção e uma proteção, até mesmo a da utopia” (Op.cit., p. 198).

Neste cenário de revoluções, a instituição família não passará imune aos problemas e conflitos impostos por este mesmo processo. Antes, na Idade Média, a organização familiar encontrava-se centrada no pai, contudo articulada pelo controle da estrutura feudal.

Com a Modernidade, através dos burgos que se firmaram como cidades, a família passa a ser estruturada sob o eixo de parentesco, a partir de uma unidade que se monta pelas

figuras de pai, mãe e filho. As transformações desencadeadas pelas várias instituições sociais do início da modernidade irão interferir no contexto da família. Se antes estava centrada no pai, agora, passará a desenvolver-se sob um forte argumento afetivo e de bem querer, constituindo esta mesma relação, agora sob uma formação nuclear, entre pai, mãe e filho.

A infância e o sentimento de maternidade que dela decorre, dará movimento a nova estrutura de família. A criança passa a ser compreendida através de seus comportamentos indicando espontaneidade e inocência. Este aspecto não vai negar os fatos historicamente observados que registram atitudes de adultos sob o comportamento infantil, com crueldade e violência física. Nas escolas do início do século XX, referente aos castigos aplicados às crianças, são inúmeros os exemplos que falam de uso da ‘palmatória’, da ‘permanência de joelhos ao solo áspero por longo tempo’, além de ‘tapas na face’. Contudo, ao longo da modernidade, pouco a pouco o trato infantil irá encontrar maior aproximação com atitudes de valorização e acompanhamento afetuoso com a criança, indicando novo cenário à organização familiar. A instituição família irá associar-se a outras instituições exercendo o papel da instrução como meio de valorização cultural e educativa das crianças.

A escola em parceria com a família se junta neste processo educativo e igualmente revolucionário. Aos poucos tomará forma articulando-se ao princípio da racionalidade e da laicização. A escola passa a assumir a função de ensino como a de instrução. Irá ser influenciada pelos avanços acerca do debate em didática, articulando rotinas que impõem comportamentos estrategicamente planejados, conteúdos e objetivos orientados tanto para o ensino regular (formal) quanto para o técnico e profissionalizante. A escola vai impor disciplina, mas também, irá

delegar um papel cada vez mais definido e mais incisivo, de tal modo que ela se carrega cada vez mais de uma identidade educativa, de uma função não só ligada ao cuidado e ao crescimento do sujeito em idade evolutiva ou à instrução formal, mas também à formação pessoal e social ao mesmo tempo (CAMBI, 1999, p. 203).

Neste sentido, a educação escolar será dotada de valor social e orientação psicológica. Uma escola que

instrui e que forma, que ensina conhecimentos mas também comportamentos, que se articula em torno da didática, da racionalidade da aprendizagem dos diversos saberes, e em torno da disciplina, da conformação programada e das práticas repressivas. Mas, sobretudo, uma escola que reorganiza – racionalizando-a – suas próprias finalidades e seus meios específicos. Uma escola não mais sem graduação... (Op.cit., p. 205).

sociedade moderna. Ambas irão centralizar suas ações na criança formando valores, valorizando a espontaneidade da infância. Tanto o saber ensinado quanto o saber produzido na formação dos formadores serão influenciados pelos conhecimentos científicos extraídos da psicologia e medicina. Saberes que irão contribuir com a formação de professores articulados ao processo de desenvolvimento da criança à adolescência, e que irão os assessorar no trato com a higiene e os cuidados com o corpo. Na família como na escola o processo de higienização social será, na Modernidade, vinculado ao contexto do prazer como instrumento de educação e facilitação da aprendizagem. O Jogo, como instrumento de estratégia, será estimulado nestas instituições educativas, com o propósito de articular a aprendizagem aos valores sociais, normas disciplinares e de convivência.

Semelhante ao cenário das sociedades européias e as que padeceram numa estagnação social escravocrata (colonização), a educação também será envolvida por grandes reformas.

Neste contexto o século XVI pode ser identificado como período de grandes mudanças. Até então, na história da civilização, as características que condicionaram as transformações de desenvolvimento do ser humano, relevantes à compreensão do homem moderno foram, contudo, lentas, ao exemplo da Idade Média. De certa maneira, pode-se