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5 REGISTRO HISTÓRICO DA ESCOLA ITINERANTE CAMINHOS DO SABER

5.13 Educadoras e educadores da Escola Itinerante

Na Escola Itinerante Caminhos do Saber, o processo de escolha dos educadores iniciou-se com a chegada do professor Eldilvani Marcelito, designado pelo Setor de Educação do MST-PR, para organizar a escola em Ortigueira-PR no acampamento Maila Sabrina. Diz que começou a mapear as pessoas com Ensino Médio completo e que tivessem interesse em ser educador. Como dissemos, as pessoas escolhidas tinham maior nível de escolaridade, facilidade no trato, habilidade de relacionamento com crianças e adolescentes e identificação com o trabalho educacional. Exige-se que tenham Ensino Médio ou que o estejam cursando e que tenham interesse em continuar estudando. O professor mora no barraco vizinho ao do aluno. Ele também veio para o acampamento atrás de um emprego permanente na terra, de conseguir um lote na reforma agrária e também não pensava em ser educador de acampamento. Os educadores escolhidos pela comunidade pertencerão ao Setor de Educação e serão responsáveis pela escolarização das crianças do acampamento e pelo funcionamento da escola.

Na sociedade capitalista para se conseguir realizar uma prática solidária, como a que se necessita na Escola Itinerante que tem carência de tudo,

onde o educador, além do trabalho voluntário na comunidade, enfrenta problemas que exige elevado grau de sacrifício, para manter funcionando o projeto da Escola, porque ela exige mais do que educadoras e educadores bem intencionados ou bem pagos. É necessário força de vontade, amor e perseverança para organizar e manter funcionando a Escola Itinerante, fundamental para a educação e a formação política ideológica dos filhos dos trabalhadores sem terra nos acampamentos.

Percebe-se que não é pela remuneração dos professores que é garantido o sucesso escolar dos educandos, mas pela perseverança, dedicação e vontade que o trabalho dê certo, por parte das educadoras e educadores da Escola Itinerante, a remuneração, que acaba ficando com os educadores contemplados pelo convênio com a ACAP, é metade do salário mínimo nacional, isso quando se tem salário, pois o trabalho na Escola Itinerante é voluntário. Juntando-se a isso, as péssimas condições de trabalho e de ensino nas escolas de acampamentos, o recebimento de material didático-pedagógico está longe do ideal, mesmo se comparado às escolas públicas municipais das periferias pobres das cidades.

Como diz Eldilvani, os educadores/as precisam ser pessoas dedicadas ao estudo, que se interessem em aprender, conhecer, ser professor, porque vão trabalhar com a escolarização e a formação dos educandos. Por isso, precisam estudar a pedagogia do Movimento Sem Terra, seus documentos políticos, a história da luta do povo, os livros dos pensadores brasileiros e estrangeiros, conhecerem a realidade local e nacional para poderem intervir e transformá-la no interesse da classe trabalhadora.

Segundo Maria Luiza (2007), o coletivo da Escola Itinerante em outubro de 2007, era de 14 educadores. Eldilvani acabara o curso de Pedagogia em 2007, o educador Gilberto formou-se em Geografia na UNESP. Quatro educadoras estão cursando Magistério. Marilda e a Cleuza cursam Pedagogia. Uma das educadoras faz Magistério no “Instituto de Educação Josué de Castro”. Os outros estão terminando o Ensino Médio em Faxinal. Os educadores, às vezes, são deslocados para acampamentos em formação, para iniciar novas Escolas Itinerantes, sendo que no Paraná, depois que entrou o governador Requião, 11 Escolas Itinerantes estão em funcionamento no Estado, sendo que duas possuem de Educação Infantil ao Ensino Médio e duas se tornaram escolas estaduais em assentamentos da reforma agrária.

Essa escola fundada nos ensinamentos do educador Paulo Freire, está preocupada com a humanização do trabalhador sem terra, em lhe proporcionar condições para entender e desvelar o mundo no qual vive e a importância da reforma agrária para o desenvolvimento e a inclusão dos trabalhadores excluídos do mercado de trabalho. O educador/a tem um outro papel, além de escolarizar a criança e alfabetizar o analfabeto, ele tem que trabalhar com o educando num processo dialógico, onde educador e educando aprendem a conhecer, a compreender a sociedade de classe, sua situação de sem terra, a entender a realidade histórica em que está inserido e trabalhar para transformá-la. É preciso continuar estudando, lendo e aprendendo a desvelar o mundo das palavras, dos sonhos, dos números, desses sujeitos formados na luta pela reforma agrária e atrás da transformação socialista.

“O processo de formação e valorização dos educadores/as é permanente, porque estão presentes no conjunto das atividades desenvolvidas nos diversos espaços do acampamento, contribuindo na conscientização dos sem terra”, Eldilvani (2008). Formados politicamente na pedagogia do Movimento, ocorrida na prática da ocupação da terra para onde vai toda a família, essa conquista do espaço público lhes proporcionam cidadania ao participarem dos embates pela execução da reforma agrária e valorização do ser humano. Tornam-se sujeitos críticos e atuantes na sociedade no sentido de transformá-la, ao mesmo tempo em que se transformam a si mesmos, tornando-se cidadãos críticos e engajados na luta política pela transformação socialista da sociedade.

A Escola Itinerante Caminhos do Saber, no acampamento Maila Sabrina, é de grande valor à luta política dos sem terra e resolveu um problema de importância fundamental, para a luta e a permanência das famílias com filhos em idade escolar no acampamento, porque as crianças estudam ali dentro até o Ensino Médio, parando de correr perigo no translado na carroceria de caminhões e, ao mesmo tempo fogem do preconceito das escolas da cidade. O “Sem Terrinha”, além de ser escolarizado, sua formação é voltada para o conhecimento da luta pela terra, sua auto-organização, aprende teatro, música, a fazer horta entre outras oficinas. O MST se fortalece, criando novos sujeitos para a luta da reforma agrária e a Escola Itinerante Caminhos do Saber, cumpre seu papel na sociedade o de ajudar na emersão da consciência de classe, crítica e política do educador/a, do educando/a e da comunidade, reforçada na militância no Movimento Sem Terra.