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5 REGISTRO HISTÓRICO DA ESCOLA ITINERANTE CAMINHOS DO SABER

5.5 Projeto pedagógico

Como dissemos, a Escola Itinerante inicia com a discussão nos núcleos de base, com a proposta de ser uma escola no e do campo, com calendário

diferenciado, seguindo a legislação pertinente às escolas do campo que possibilita a utilização de outro calendário, que são as épocas de plantio, capina, colheita, próprios da produção agrícola. As crianças e os jovens desenvolvem pequenas tarefas na lida do campo e, inclusive, de cuidar dos irmãos menores que ficam em casa, enquanto os pais trabalham na lavoura.

A Escola Caminhos do Saber, que inicia suas atividades educacionais na Educação Infantil, com crianças de quatro anos de idade e vai até o Ensino Médio no próprio acampamento, define em seu projeto político pedagógico que é uma escola que “assume, do ponto de vista estrutural e organizativo, a condição de uma escola em movimento e do Movimento”, como pode ser constatado nos seus objetivos:

1- Garantir o direito à educação de qualidade às crianças, jovens e adultos das comunidades acampadas... 2- Articular ações conjuntas com os órgãos e instituições envolvidas com as questões educacionais dos acampamentos, através da Coordenação de Educação do Campo, da SEED e do MST. 3- Desenvolver ações pedagógicas diversificadas e prazerosas a partir dos interesses e níveis de conhecimento das crianças, jovens e adultos. 4- Proporcionar ao educando oportunidades para construir-se como ser humano, capaz de compreender e interpretar o processo histórico, analisando, comparando, interpretando e transformando a realidade. 5- Fazer a formação em processo dos educadores/as em nível de Magistério articulada à prática pedagógica da Escola Itinerante. 6- Possibilitar aos educandos/as e educadores/as da Escola a compreensão da cultura, da identidade e da realidade do campo, partindo dos saberes de “experiências feitas”, buscando a relação com os conhecimentos universais. 7- Despertar a consciência organizativa e espírito de liderança dos educandos/as, educadores/as e comunidade acampada. (PPP/MST-SEED, s/d, p. 09/10).

O processo político de discussão e elaboração da proposta pedagógica da Escola Itinerante Caminhos do Saber, com Educação Infantil a partir dos quatro (04) anos de idade e de 1ª a 4ª série, teve início em 13 de outubro de

2005, mas as aulas começaram oficialmente em 12 de março de 2006, quando

chegaram às carteiras. Ligada já à Escola Base Centrão, no Pontal do Tigre, em Querência do Norte, em 2008, prosseguiu seu processo de ampliação para 5ª a 9ª série e 1º ano do Ensino Médio, que segundo Eldilvani (2008) “é um desafio muito grande, pois tem muitas cidades pequenas que não têm escola de 2º Grau”. No ano de 2008, se matricularam e estudaram de 1ª a 4ª série: 102 alunos; de 5ª a 8ª série:

84 e no 2º Grau: 20 alunos, além de 25 alunos em uma turma de Educação de Jovens e Adultos.

Eldilvani diz que esse processo de ampliação de 5ª a 9ª série e Ensino Médio, está sendo complicado, “mas precisa ser implantado, porque conseguimos liberação da Secretaria de Educação para sua implementação aqui no acampamento Maila Sabrina”. Existem pessoas no acampamento que abandonaram os estudos quando terminaram a 8ª série do Ensino Fundamental e deveriam cursar o Ensino Médio, mas se encontram fora da escola. Além disso, existem alguns acampados que não acreditam que o Setor de Educação do acampamento Maila Sabrina, seja capaz de construir e gerir uma Escola de Ensino Fundamental e Médio ali dentro. Na entrevista, Eldilvani diz que será implantada a partir de 2008, o Ensino Fundamental e Médio, na Escola Itinerante Caminhos do Saber, no acampamento.

As aulas são ministradas dentro do acampamento do MST, mas a escola é pública e os professores pertencem à Rede Estadual de Ensino “burguesa”, aí as diferenças entre as concepções de escola se chocam e se influenciam mutuamente, porque o currículo utilizado nessa escola do MST é o mesmo para toda a rede estadual. Aqui há uma dificuldade grande a ser enfrentada: se a escola é pública, pertence ao sistema de ensino estatal do país e obedece às suas normas e critérios, dessa forma, como realizar uma escola diferente, fundada nos princípios do trabalho educativo ou socialista, se a hegemonia é capitalista e, a escola que forma o professor é ideológica e politicamente reprodutora do sistema capitalista? (Bourdieu e Passeron, 1975).

Sobre a instalação da escola no acampamento, Eldilvani (2008) não tem nenhuma dúvida de que: “a única forma dos sem terra estudarem é abrindo dentro do acampamento a escola de 5ª e 9ª série e 1ª ano do Ensino Médio. No começo as pessoas ficam em dúvida, mas depois voltam a estudar e a dar valor à escola que têm dentro do acampamento”. Como diz dona Sueli (2008): com a escola perto de casa e construída pela gente, fica mais fácil de freqüentar de novo os bancos escolares e aprender um pouco mais para ajudar na luta e, a escola dentro do acampamento, é fundamental. A este respeito assim se expressa o Pedagogo em defesa da escola pública no e do Campo de 5ª a 9ª Séries e Ensino Médio dentro do acampamento Maila Sabrina.

Quando colocamos um ônibus para puxar o pessoal por 50 quilômetros para estudar, aí esbarramos noutra dificuldade, pois todo mundo que está aqui quer trabalhar na roça, quer estudar aqui e não querem perder esse tempo disponível para o trabalho, para ir lá fora estudar. Avaliamos também que é mais fácil transportar 10, 12 professores para garantir a escolarização aqui dentro, do que transportar 150, 160 pessoas em ônibus para fora do acampamento. Temos de lutar pelo nosso espaço e temos o direito de ter educação aqui no campo e do campo, mas vamos espernear muito para garantir a organicidade desta escola, tanto física quanto pedagogicamente. Porque uma coisa é trazer a escola, outra é acompanhar esses professores, assisti-los, aprender com eles, fazer com que aprendam conosco. Para abrir o 2º Grau amadurecemos bem à idéia com o pessoal do acampamento e com o Setor Estadual de Educação. Têm críticas, algumas pessoas não acreditam que teremos capacidade de implantar o Ensino Médio no acampamento, dizem que tem município pequeno que não tem escola de Ensino Médio. Se tivermos capacidade de nos organizarmos para refletir, para amadurecer essa idéia da escola, é possível tê-la aqui dentro sim e vamos tê-la. (ELDILVANI, 2008)

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