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CAPÍTULO II – DA FECUNDIDADE DO EU AO PARTO DO NÓS: FAMÍLIAS

2. Novo paradigma educativo: inteligência ou inteligências?

2.3. Educar para a inteligência espiritual segundo Danah Zohar e Ian

2.3.1. Educar a inteligência espiritual potenciar a possibilidade de ser

todos os seres. Para um ser humano cultivado espiritualmente, nada do que ocorre no mundo lhe é alheio e sente-se parte de um Todo orgânico e, num constante dinamismo frente a si mesmo, aos outros, à natureza e ao Outro. Neste sentido, diz Torralba:

“A inteligência espiritual gera a consciência cósmica ou relacional, que consiste em sentir-se parte de uma unidade com todos os demais, com todos os seres, humanos e não humanos. Capacita a tomada de consciência da fraternidade entre tudo quanto existe. Isto significa que o cultivo da mesma liberta da prisão do ego, rompe as fronteiras entre o que eu sou e o que me separa do mundo, num movimento de perdão, de abnegação e amor”143

.

A inteligência espiritual é a capacidade de reconhecer que somos mais que a mente, é a capacidade de transcender o ego. “O QEs é a inteligência que reside na parte profunda do Eu que está ligada à sabedoria para lá do ego, ou mente consciente, é a inteligência com a qual não só reconhecemos os valores existentes, mas ainda descobrimos criativamente novos valores”144

.

Assim, esta inteligência está em potência em todo o ser humano e requer um cultivo e uma educação para que se articule e desenvolva em plenitude. Mas que tipo de educação privilegiar?

O objetivo da educação do novo milénio não pode centrar-se exclusivamente na transmissão de informações e conhecimentos. Vemos, como nas atuais práticas educativas, está tão enraizada a ideia de transmissão de informações e conhecimentos. A avaliação interna e externa da escola obedece a critérios numéricos e rankings percentuais do saber saber e não tanto do saber ser e ser com os outros. É aqui que reside a beleza do lugar cimeiro, oásis, da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, no sistema educativo da escola pública. Mas disto falaremos quando abordarmos a importância desta disciplina no desenvolvimento da inteligência espiritual.

A autêntica finalidade da ação educativa é ajudar a criança, o adolescente e o jovem a descobrir e a desenvolver, de forma equilibrada e harmónica, todas as suas dimensões e capacidades, facultando-lhes os recursos necessários para o

143 Francesc TORRALBA, Inteligencia Espiritual, op. cit., 153. 144

desenvolvimento das suas inteligências e acompanhando-os no seu processo de maturação, que se desenvolve num contexto social, e que podem melhorar contribuindo com a sua originalidade e criatividade. Com isto estaremos a favorecer a construção da sua capacidade para ser feliz. Saber qual é o sentido de sua existência, para que vive e que sentido se dá à própria vida, é imprescindível para a realização de cada indivíduo. O ser humano é criado para a felicidade e aí está o grande objetivo de toda a pessoa, ser alguém, construir algo e realizar-se.

O termo felicidade está associado ao de inteligência porque, graças a esta, a pessoa tem a capacidade para compreender e resolver problemas e fazer escolhas com sentido. Assim, a inteligência espiritual abre-nos à questão do sentido, permite-nos perceber os pontos fortes e os mais débeis da nossa vida. Isto é essencial para concebermos, inteligentemente, um projeto de vida feliz e isto só é possível pelo recurso a todos os tipos de inteligência, incluindo, a espiritual.

Qual é o sentido da vida? Esta é uma inquietação constante que perpassa o interior de todas as pessoas. Consciente ou inconscientemente, todos sem exceção, buscam a felicidade.

Muitos de nós, educadores, pensamos que a felicidade dos nossos alunos só vai acontecer no futuro, na medida em que sejam capazes de assimilar todas as competências, conhecimentos, destrezas e atitudes, que no futuro darão os seus frutos e lhes abrirão a porta à realização de um projeto de vida, e que, assim, consigam ser felizes, etc. Mas estaremos realmente a ajudar os nossos alunos a aprender a serem felizes, no aqui e no agora?

Um dos princípios básicos é de que não existe uma educação neutral, porque é o encontro, antes de mais, entre duas subjetividades, entre dois seres humanos distintos: educador e educando.

Mas o que é educar? Na educação, é essencial ter-se em conta que ela é um processo contínuo e harmonioso. A expressão educação vem do latim e compõe-se de duas palavras: ex e ducere. Ambas querem dizer que, de dentro, se faz sair algo para fora com a ajuda de outro.

A primeira tarefa do educador é acompanhar os educandos no caminho em direção à sua interioridade, um caminho que está longe de ser fácil de percorrer. O educador sábio é aquele que inspira e ajuda a desabrochar o que já existe no interior do

educando e ajuda a gerar condições interiores que possibilitem a experiência de Deus, objetivo último da educação para a interioridade.

Esta perspetiva assenta na convicção de que a pessoa é o sujeito da sua história e do seu processo de vida, que se reconhece para além de si: original, único e individual, mesmo que relacionado com o outro. O educador, para tanto, apenas conduz, impulsiona, dá estímulos e ajuda a desdobrar o que está no mais íntimo e que é o anseio da pessoa para descobrir o seu potencial e realizar-se. A educação assim pensada ajuda a afirmar a autovalorização e a consciência da própria dignidade; capacita para a vida e fomenta uma sã autonomia pessoal.

Qual é a tarefa educativa? Acompanhar no caminho do conhecimento pessoal e fazer emergir as potencialidades interiores. Esta dupla tarefa representa, acompanha e educa o movimento e a respiração vital de todo o ser que consiste em reconcentrar-se para irradiar. Lançar o olhar sobre a interioridade é descobrir que temos um tesouro, um potencial e uma força interior que nos permite gerir positivamente as situações da vida.

Este conhecimento permite-nos ouvir, para integrar as nossas luzes e as nossas sombras; para escutar a natureza, usufruindo dela, mas respeitando-a; para escutar os outros, acolhendo-os em nosso ser; e para desenvolver através deste caminho de três dimensões, a nossa sensibilidade para o Mistério, entendida como elemento fundamental com esse Todo de que somos parte.

A educação resulta de um determinado lugar, contexto, expressa um conjunto de crenças e valores. O olhar humano nunca é neutral. A subjetividade é própria da condição humana que se encontra encarnada num determinado tempo e espaço, condicionada por múltiplos fatores psicológicos, sociais, religiosos, etc.

Passamos a apresentar alguns caminhos, não os únicos, para podermos educar para a inteligência espiritual.

2.3.2. Seis caminhos para uma maior inteligência espiritual (dever, cuidar,