• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

1.5 Educar com Matemática

Na perspectiva da Educação Infantil como processo em que a criança é um sujeito ativo, a partir daqui enfatizaremos a linguagem Matemática como foco deste trabalho, uma vez que é fundamental valorizar todas as áreas do conhecimento sem priorizar uma em detrimento de outra. Por isso, este item busca um olhar mais atento acerca da educação Matemática na Educação Infantil.

A Matemática é produto da atividade humana e se constitui no desenvolvimento da solução de problemas criados nas interações que produzem o modo humano de viver socialmente. Nesse sentido, os saberes matemáticos têm significados culturais, constituindo-se historicamente em instrumentos simbólicos. Este instrumento determina um modo de uso social que requer uma aprendizagem.

O conteúdo do que chamamos de Matemática, desta forma, é produto da solução de problemas que as relações humanas criam e é o desenvolvimento de saberes sobre o modo de resolver problemas que se constitui no processo humano de generalizar conhecimento. (MOURA, 2006, p. 489).

Os conhecimentos matemáticos tornam-se o modo de satisfação das necessidades humanas e com isso torna-se necessário a criação de um modo de compreender esse conhecimento.

O conteúdo matemático da Educação Infantil, portanto, é o saber específico de um produto social que sendo relevante torna-se objeto passível de ser aprendido e “humanizador quando desenvolve a capacidade de projetar, de criar instrumentos, modos de ação e avaliação dos resultados do que realiza” (MOURA, 2006, p.492).

13 No próximo capítulo discutiremos quais são esses saberes segundo Tardif (2002), Zeichner (1992; 1993),

Criando um ambiente que aguce a necessidade de conhecer da criança, que satisfaça suas curiosidades, ela perceberá que os conhecimentos matemáticos diminuirão esforços e mobilizarão o ato de criar e, com isso, ela notará que quanto mais ela conhece, mais ela supera suas necessidades que não são puramente internas, são sociais e por isso podem ser incentivadas.

É comum encontrar pessoas que dizem que não gostam de Matemática, embora usufruam permanentemente dos bens gerados a partir do desenvolvimento do conhecimento matemático. Há um determinado saber matemático que parece ser necessário a todos os sujeitos que convivem socialmente.

A razão de se defender que as crianças sejam alfabetizadas matematicamente está na complexidade das relações sociais regidas por signos que imprimem no sujeito a necessidade de medir, contar, calcular, jogar, localizar e explicar.

A Instituição de Educação Infantil e a escola posteriormente, funcionarão para dar condições ao seres humanos recém-chegados, de aprenderem a usufruir de bens culturais já produzidos. “Combinar as razões de aprender Matemática para o sujeito com as necessidades do desenvolvimento social deve ser o grande motivo da existência da escola” (MOURA, 2006, p.469). Nesse sentido, a escola se torna um lugar privilegiado de produção do motivo de aprender.

As crianças vivem num mundo “numeralizado”, com isso elas vão se apropriando da linguagem Matemática que está presente nas suas brincadeiras do dia-a-dia, nas cantigas e, no geral, em todas suas atividades. No entanto, se pensarmos que a criança aprende no seu meio, é possível perguntar: para que a Instituição de Educação Infantil? “A grande diferença é que no cotidiano não há sistematização” (TANCREDI, 2004, p. 45, grifos nossos), a instituição tem o papel de ajudar as crianças a se desenvolverem, ultrapassando o senso comum e adquirindo conhecimentos que podem ser usados em diferentes situações e épocas da vida que permitem continuar a aprender vida afora.

Charlot (2000), citado por Moura (2006), assinala que “a educação só tem sentido por que nascem outras pessoas” (p.501).

Os professores precisam estar conscientes de seu papel, que é de proporcionar às crianças condições para que aprendam significativamente as noções matemáticas, com o fazer matemático para que aprecie novos conhecimentos e se beneficie das descobertas desses conhecimentos no cotidiano. Cabe ao professor, oferecer oportunidades para que as crianças realizem experiências e descobertas com sua observação e orientação para desenvolverem assim a habilidade de resolver problemas.

Segundo Lorenzato (2006), a exploração matemática pode ser um bom caminho para favorecer o desenvolvimento intelectual, social e emocional da criança. Do ponto de vista do conteúdo matemático, a exploração Matemática nada mais é do que uma primeira aproximação das crianças, intencional e direcionada, ao mundo das formas e das quantidades. (LORENZATO, 2006, p.01).

Pesquisas mostram que as experiências dos primeiros anos de vida das crianças exercem forte influência em todos os anos seguintes (MUKHINA, 1995). A criança pequena apresenta competência para desempenhar várias atividades, com água, areia, na montagem de estruturas com blocos, os jogos e em outras situações. Nesse contexto, é preciso desmistificar que a Matemática existe só num certo horário da rotina da Educação Infantil. Ela está na merenda, na arte, no brincar, durante o transporte casa-escola-casa, nas atividades que se dão dentro e fora de casa, etc. Portanto, “podemos fazer e fazemos Matemática no viver” (LORENZATO, 2006, p.12).

Toda ação educacional-pedagógica deve se basear na vida e na escuta sobre como as crianças se expressam. Por intermédio delas se revelam percepções, concepções, estados ou raciocínios, por isso deve-se motivar a criança a pensar e falar sobre o que ela faz. Segundo Barros e Palhares (1997), a instituição de Educação Infantil é lugar de “falar com intenção, não falar apenas por falar, falar com rigor, não com sentido vago; e ouvir com atenção” (p. 17).

O registro e a documentação têm papel importante nesse processo, pois, “para muitas crianças a fase do registro com desenhos pode ser extremamente necessária para chegar à representação da linguagem Matemática” (LORENZATO, 2006, p. 13).

Nacarato (1995) enriquece essa afirmação e explica:

Quando a própria criança faz o seu registro, ela se utilizará de desenhos, esquemas ou qualquer outro tipo de representação gráfica (significantes). No momento em que o professor faz uma socialização e discussão dos vários registros, na tentativa de buscar um registro que seja consensual, há uma mediação da linguagem natural para a construção da linguagem formal. (p.63).

A percepção Matemática inicia-se com uma estratégia freqüente nas atividades infantis: a (de) composição. Ela se manifesta pelas ações de montar e desmontar, de separar e juntar, de pôr e tirar, entre outras semelhanças. É preciso ficar claro que não é possível “dar aula” de decomposição para as crianças, esta é uma ação inerente à atividade infantil, só basta buscar oportunidades para isso.

É a realização coletiva e cooperativa das atividades que vai favorecer a socialização das crianças e o conflito cognitivo. É preciso esclarecer que favorecer o desenvolvimento não é incluir atividades, no geral, em papéis que têm numerais e, por vezes, até continhas; é favorecer o desenvolvimento do senso matemático (LORENZATO, 2006) a partir das situações vividas nos diversos espaços da Instituição de Educação Infantil.

O autor sugere que o trabalho com a educação Matemática na Educação Infantil deve começar pelas noções. Mediante as diversas situações que ocorrem na vida da criança dentro e fora da instituição, com materiais manipuláveis, com seus desenhos sobre sua visão de mundo, histórias que ouve e conta e pelas pessoas que conhece, é que o professor pode chamar a atenção da criança para as noções (por exemplo, alto/baixo, mais/menos) que terão relação direta com os conceitos (exemplo, tempo, massa, distância, quantidade, capacidade, posição, entre outros). Temos clareza que esses conceitos não se formarão somente nessa etapa da Educação Infantil, mas as noções indicarão os conceitos nos seus primórdios que se formaram no decorrer da vida da criança.

“É importante que o professor compreenda claramente tais conceitos, para que ele possa ter segurança na condução das atividades com as crianças” (LORENZATO, 2006, p.25). Segundo o autor, para o professor ter sucesso na exploração de situações que propiciem a aprendizagem Matemática pelas crianças, é fundamental que ele conheça os sete processos mentais básicos para aprendizagem da Matemática que são correspondência, comparação, classificação, seqüenciação, seriação, inclusão e conservação.

Embora as noções e os conceitos tenham sua especificidade, eles devem estar presentes no planejamento do professor de forma integrada, pois os conceitos só ganham significados numa rede conceitual. De uma situação vivida com as crianças, o professor explorará tais noções e conceitos, assim ele não dará aulas, ele não dirá assim, por exemplo, peguem essas formas para compararem e assim vocês compreenderão o que é comparar usando a geometria; se isso ocorrer é possível que as crianças não se envolvam, pois não saberão para quê e por quê estão fazendo tal ação.

Somente vivenciando diversas situações é que as crianças compreenderão que as noções e os conceitos são usados de diversas formas, dependendo da variação do contexto. Isso indica que não é para forçar a aprendizagem de conceitos e sim despertar nas crianças a curiosidade, a motivação e a necessidade de aprendê-los.