• Nenhum resultado encontrado

1. CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA RECURSAL NOS TRIBUNAIS

2.4 Efeitos

O recurso extraordinário tem efeito meramente devolutivo, viabilizando- se a execução provisória do acórdão recorrido, cabendo, porém, com base no artigo 558, Código de Processo Civil, ajuizar-se medida cautelar ante o relator do recurso, com pedido de atribuição de efeito suspensivo.

Com relação à repercussão geral, caso seja negada, tal decisão é irrecorrível (RISTF art. 326).

3. A REPERCUSSÃO GERAL COMO FILTRO LEGÍTIMO A PERMITIR O FUNCIONAMENTO E A FUNCIONALIDADE DO STF

Desde a criação do recurso extraordinário, seus requisitos de admissibilidade sofreram diversas alterações, sempre buscando reduzir o cabimento do recurso, e assim os ministros do Supremo Tribunal Federal puderam apreciar cada recurso, dedicando mais atenção, saber e energia a cada caso.

Com a promulgação da atual Constituição em 1988, havia grande expectativa de que, criado o Superior Tribunal de Justiça, o Supremo pudesse desincumbir-se com maior celeridade da tarefa de julgar as ações originárias e os recursos de sua competência. No entanto, o projeto restou frustrado, visto que hoje existem dois tribunais superiores abarrotados de processos.

Procurando solucionar esse problema, a Emenda Constitucional nº 45/2004 instituiu a exigência da repercussão geral da questão constitucional, criando um mecanismo de filtragem, para permitir que apenas alcançassem o Supremo Tribunal Federal teses que vulnerassem a Constituição Federal e veiculassem interesse geral, reconduzindo o Supremo à tarefa de zelar apenas pelo direito objetivo, quando da apreciação do recurso extraordinário.

A edição da Lei 11.418/2006, que regulamentou o art. 102, parágrafo 3º da Constituição Federal, introduzindo os Art. 543-A e 543-B ao Código de Processo Civil, foi sem dúvida marco fundamental na tentativa de trazer o Supremo Tribunal Federal ao seu papel fundamental de guardião da Constituição Federal, aliada a outros mecanismos que contribuíram para suas atribuições, permitindo que as causas repetitivas fossem decididas a partir do paradigma, refletindo seus efeitos por todo o Poder Judiciário.

Mas, particularmente, o instituto da repercussão geral que permite que a Corte defina quais as questões, que por veicularem interesse geral, devam merecer a sua atenção, corresponde à garantia de funcionamento e funcionalidade para o Supremo Tribunal Federal, hoje ainda sobrecarregado (pelo estoque acumulado ao longo dos anos) com questões que não têm qualquer reflexo ofensivo ao texto constitucional, e que, portanto, não precisam de sua chancela. Tratam-se, na maioria das vezes, de demandas que apenas a insistência de litigantes

recalcitrantes impulsiona, através de toda a extensa cadeia de possibilidades recursais, reiterando, inúmeras vezes, a mesma argumentação.

Tais alterações legislativas, embora digam respeito mais de perto ao Supremo Tribunal Federal, repercutem sobre a toda a estrutura judiciária, atingindo, dessa forma, o objetivo não só ampliar o acesso à Justiça, na perspectiva antes demonstrada, mas também reduzindo o tempo de tramitação das ações.

Os Poderes Legislativo e Executivo assistiram por muito tempo inertes a situação de estrangulamento pela qual passava o Judiciário, e finalmente agiram, expedindo leis para o aperfeiçoamento do sistema. O próprio Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal, já vinha se preparando para dar sequência imediata às inovações, visto que além de serem esperadas, eram necessárias, senão vitais para impedir a completa falência da mais alta Corte do país.

Com a entrada em vigor da Lei nº 11.418/2006, a partir de 03 de maio de 2007, data da publicação da Emenda Regimental nº 21, de 30 de abril de 2007, que alterou o Capítulo V, para dispor sobre as peculiaridades do procedimento pertinente à repercussão geral no recurso extraordinário. Estabelecendo inicialmente, ser fundamental que o recorrente demonstre em preliminar do recurso extraordinário a existência da repercussão geral, que será analisada exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal (art. 543-A, parágrafo 2º), sob pena de ter negado seu seguimento. Permanecendo a aferição dos demais requisitos de interposição do recurso (cabimento, interesse recursal, legitimidade para recorrer, inexistência de fato extintivo e impeditivo do direito de recorrer, regularidade formal, tempestividade, preparo e questão constitucional violada) sob a responsabilidade do Tribunal de origem.

Embora ainda seja recente a exigência do requisito, o Supremo já formou entendimento de que se faz necessária a existência de preliminar expressa, indicando os fundamentos da repercussão geral, como requisito formal à sua admissibilidade.

É ônus do recorrente demonstrar a repercussão geral da matéria discutida, sob pena de inadmissibilidade do recurso extraordinário. Contudo, a fundamentação não vincula o julgamento pelo Supremo Tribunal, ocorrendo a

transcendência dos motivos determinantes, como traço de objetivação do controle difuso de constitucionalidade, entendimento consolidado na jurisprudência da própria Corte, nas Ações Diretas de Constitucionalidade e Inconstitucionalidade.

Quanto à decisão acerca da existência ou não de repercussão geral, deverão ser respeitados os princípios constitucionais de publicidade e motivação, impostos pelo Art. 93, IX, da CF.

Com a decisão do Supremo Tribunal Federal de não conhecer o recurso extraordinário, quando a questão discutida não contiver repercussão geral, é irrecorrível (art. 543-A, caput do CPC), exceto por meio de embargos de declaração, quando cabível e necessário à integração do ato decisório. Tal decisão tem efeito “erga omnes”, e todos os recursos de matéria idêntica serão indeferidos liminarmente, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (Art. 543-A, parágrafo 5º do CPC). Trata-se de efeito pan-processual, eis que a decisão reflete em causas diversas da qual foi proferida, desde que versem sobre a mesma controvérsia (MANCUSO, 2007a, p. 208).

Haverá repercussão geral, quando a Turma decidir por sua existência, desde que haja, no mínimo, quatro votos favoráveis (Art. 543-A, parágrafo 4º do CPC). Por outro norte, somente por oito votos (2/3) o Supremo poderá negar repercussão geral a um caso, o que deverá ser decidido pelo Plenário. De acordo com o RISTF, Art. 343 caput, é possível a discussão sobre a existência de repercussão geral por meio eletrônico, a fim de que não haja necessidade de se reunir todos os ministros no Tribunal Pleno, dando maior celeridade às decisões. Nesta hipótese, ultrapassado o exame de admissibilidade, terá o Supremo que decidir acerca do mérito do recurso.

Quanto aos demais recursos que versem sobre o mesmo assunto, prescreve o Art. 543-B do CPC, que caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo (§ 1º), sobrestando os demais, para aguardar o julgamento definitivo. Tal decisão é irrecorrível e não enseja direito da parte à escolha de seu recurso extraordinário para remessa à Suprema Corte, ou seja, o exame da repercussão geral se dará por amostragem, com a escolha de um ou mais recursos representativos da controvérsia.

Teresa Arruda Alvim Wambier (2008, p. 304) destaca que havendo sobrestamento indevido, cabe agravo ao STF (Art. 544 CPC), demonstrando-se que aquele recurso contém controvérsia diversa da que está sendo apreciada, e, portanto, deve seguir para o STF e não ser sobrestado.

Acolhida a repercussão geral, os recursos sobrestados serão apreciados pelo juízo “a quo”, que poderá declará-los prejudicados ou retratar-se (par.3º). Se mantida a decisão originária, o recurso extraordinário será remetido para apreciação no Supremo Tribunal Federal. Negada a repercussão, os recursos sobrestados serão automaticamente não admitidos (§ 2º).

Documentos relacionados