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3. INSERÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS NO BRASIL

3.2 CONCEITO DE PRECEDENTE JUDICIAL

3.2.3 Eficácia Horizontal e Eficácia Vertical dos Precedentes

A eficácia dos precedentes judiciais pode ser classificada a partir de dois critérios distintos: 1) no que diz respeito ao seu grau de vinculatividade e eficácia, os precedentes se classificam em precedentes de eficácia vinculante e precedentes de eficácia persuasiva; 2) quanto à sua origem, a eficácia vinculante se classifica em eficácia vinculante horizontal e eficácia vinculante vertical.

169 ZANETI, Hermes. Ob. cit. Pág 377.

170 SOUZA. Marcelo Alves dias de. Tradução livre. The Brazilian model of precedentes: a New Hybrid between Civil and Common law? Tese de doutorado apresentada ao King´s College of Law, Londres, 2012.

171 ZANETI, Hermes. Ob. cit. pág. 374.

172HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo II. Trad. Márcia Sá Cavalcante Schuback. 11ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004, pág. 183. “O que tem a história encontra-se inserido num devir. O seu desenvolvimento pode ser ora

ascensão, ora queda. O que, desse modo, tem uma história pode, ao mesmo tempo, fazer história. É fazendo época que no presente se determina um futuro. História significa, aqui, um conjunto de acontecimentos e influências que atravessa o passado, presente e futuro.”

Aqui, importa falar da classificação fundada na origem, eficácia horizontal e vertical dos precedentes. A adoção de um sistema de precedentes judiciais implica em transformar os tribunais hierarquicamente superiores em tribunais de vértice, nesse sentido, adotamos a posição de Mitidiero173 segundo a qual a expressão Corte de Vértice refere-se à postura dos Tribunais de Ápice no sistema processual brasileiro, deixam de ser Cortes de controle para serem Cortes de interpretação. É elucidativa a seguinte passagem “(...) uma corte reativa e de controle tende a fixar-se na decisão recorrido, deixando de lado os aspectos gerais que envolvem a interpretação do Direito e tudo aquilo que avança para além do caso examinado, notadamente o tratamento dado a outros casos idênticos ou semelhantes (...) É justamente para evitar esse particularismo e essa inconstância que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça devem ser vistos como cortes proativas e de adequada interpretação da Constituição e da legislação infraconstitucional federal – cortes, portanto, que tomam a decisão recorrida como ponto de partida para o desenvolvimento da sua função de outorga de unidade ao Direito, isto é, de tutela do direito em uma dimensão geral”.

Os precedentes judiciais com eficácia vertical são fixados a partir dos Tribunais de vértice, responsáveis pela uniformização da interpretação. Nesse sentido, os seus julgados funcionam como verdadeiras enunciados normativos vinculativos aos demais Tribunais localizados nas instâncias inferiores da organização judiciária.

Os precedentes judiciais com eficácia horizontal, por sua vez, estabelecem o dever judicial de observação dos próprios julgados, como exigência de coerência em relação às próprias interpretações que não podem sofrer alterações ao líbito do momento, ou em razão das partes, o que significaria indisfarçável afronta aos princípios da igualdade e da proteção da confiança legítima.

O precedente vertical produzido pelo Tribunais Superiores, Tribunais de vértice, denomina-se, assim, em razão de sua aplicação ocorrer no sentido de cima para baixo. São considerados os mais relevantes nos sistemas jurídicos, já que prolatados pelas Cortes com mais alto grau hierárquico e tendem a conformar/obrigar os demais órgãos vinculando a interpretação sobre determinada matéria. No caso do ordenamento jurídico brasileiro, os precedentes judiciais com eficácia vertical são aqueles provenientes do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal Superior Eleitoral e do Superior Tribunal Militar, aos quais compete a definição do sentido e alcance, com caráter vinculante,

173 MITIDIERO, Daniel. In Cortes Superiores e Cortes Supremas: do controle à interpretação, da jurisprudência ao precedente, 3ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. Pag. 110.

dos enunciados normativos, constitucionais, da legislação federal, da legislação atinente à matéria eleitoral e militar, respectivamente. Como tribunais de vértice tem a função da harmonização da interpretação do ordenamento jurídico em todo o território nacional.

Nesse contexto, os tribunais e juízes inferiores não podem se esconder por detrás de julgados dos tribunais superiores para se furtarem do dever constitucional de julgar os casos mediante análise contraditória do que foi efetivamente produzido. Se o precedente é suficiente, não basta citá-lo, há que demonstrar adicionalmente, essa suficiência174, o dever de motivação não pode ser arredado diante à obediência de precedente judicial.

Os precedentes horizontais possuem apenas uma vinculação interna, linear, aplicando- se somente no mesmo tribunal que o criou. Mas destaque-se que a lógica de serem respeitados dentro do órgão que o proferiu parte da mesma premissa que a observância dos precedentes verticais. Ou seja, a ideia de coerência e de segurança jurídica de uma ordem jurídica. Caso os Tribunais inferiores não observassem as suas próprias decisões, que partem de órgãos de mesma hierarquia, não haveria sentido falar da eficácia vertical, do respeito às decisões de órgãos de hierarquia superior. Pois, se não houvesse esse respeito dentro do próprio órgão, que gera uma uniformização interna da interpretação do ordenamento jurídico, como poderia se exigir essa obediência perante à Corte Superior para gerar a coerência no sistema jurídico com um todo? Se uma das atribuições do Supremo Tribunal Federal é ser o guardião da Constituição, sendo o responsável por atribuir sentido à lei, o mínimo que se espera dos tribunais inferiores é preservar a interpretação daquilo que foi decido e via de consequência, unificar essa interpretação em todo o território nacional. Para, assim, poder se falar em integridade de um sistema jurídico, com uma atribuição uniforme de sentido à lei.

3.2.4 Precedentes de Eficácia Normativa e Precedentes de eficácia Persuasiva