• Nenhum resultado encontrado

4.1. As competências parentais percebidas

4.1.1. Eficácia Parental

No final dos anos 70, Bandura introduziu o conceito de autoeficácia, como um componente da teoria cognitiva social, que definiu como as crenças do próprio relativas à capacidade individual para organizar e executar o curso das ações necessárias para produzir determinadas realizações (Bandura,1997). O constructo de eficácia parental surgiu com base na teoria da autoeficácia proposta por Bandura (1977, 1993), e pode ser definido pelas perceções dos pais sobre as suas competências para lidar com situações problemáticas relacionadas com o exercício da sua parentalidade (Johnston & Mash, 1989; Jones & Prinz, 2005).

A eficácia parental percebida pode ser definida como as perceções ou julgamentos que os pais dispõem sobre as suas capacidades para organizar e executar um conjunto de tarefas relacionadas com a parentalidade e cuidados necessários e indispensáveis a prestar aos filhos (Montigny & Lacharité, 2005), que remete para as expectativas dos progenitores sobre o grau em que se consideram e sentem capazes para desempenhar e exercer o seu papel parental de forma competente e eficaz (Coleman & Karraker, 2000; Raikes & Thompson, 2005; Teti e Gefland, 1991). Diversos estudos têm sublinhado a importância da perceção de eficácia parental a nível pessoal, conjugal e familiar (Montigny & Lacharité, 2005; Sevigny & Loutzenhiser, 2009), na medida em que constitui um constructo complexo com relações multidirecionais e determinado por múltiplas variáveis (Ardelt & Eccles, 2001; Porter & Hsu, 2003; Teti & Gelfand, 1991), motivo pelo qual a investigação científica deve centrar-se e adotar uma perspetiva sistémica, tendo em consideração os diversos fatores pessoais, relacionais e contextuais dos indivíduos (Montigny & Lacharité, 2005).

Em consonância com os princípios definidos pela teoria da autoeficácia, as crenças de eficácia parental devem integrar o nível de conhecimentos dos pais relacionados com os comportamentos envolvidos na educação dos filhos, bem como o grau de confiança na capacidade dos mesmos para desempenhar as suas funções parentais (Coleman & Karraker, 1998), que se revelam fundamentais para a compreensão das interações do indivíduo com o meio envolvente e como constructo que medeia as relações entre o conhecimento e o comportamento (Bandura, 1982, 1989).

87

Diversos estudos empíricos têm centrado as suas investigações nos processos interpessoais que ocorrem no subsistema paterno-filial, entre os quais se destacam aqueles que analisam a relação entre as perceções dos progenitores sobre si mesmos e diferentes aspetos que remetem para o desenvolvimento da parentalidade e dos respetivos menores.

A eficácia parental percebida constitui um constructo cognitivo que tem vindo a ser relacionado com o funcionamento da família e dos menores (Jones & Prinz, 2005), considerado como um importante determinante na adaptação do papel parental, parentalidade positiva e comportamentos parentais competentes (Bryanton et al., 2008; Coleman & Karraker, 2003; Montigny, Lacharité, & Amyot, 2006; Sanders & Woolley, 2005; Sevigny & Loutzenhiser, 2009), associado a resultados de desenvolvimento das crianças (Coleman & Karraker 1998; Jones & Prinz 2005; Sevigny & Loutzenhiser, 2009; Shumow & Lomax, 2002).

Os resultados das investigações demonstram que a eficácia parental pode influenciar o desenvolvimento dos estilos parentais ao relacionar-se com a presença de elevados níveis de afeto, apoio, sensibilidade (Deković & Gerris, 1992), responsividade (Coleman & Karraker, 2000; Stifter & Bono, 1998), um melhor e adequado funcionamento familiar (Sevigny & Loutzenhiser, 2009), ao constituir um moderador dos efeitos do mal-estar psicológico nas práticas parentais (Gondoli & Silverberg, 1997), sintomatologia dos progenitores e dos seus filhos (Ardelt & Eccles, 2001; Hastings & Brown, 2002; Porter & Hsu, 2003; Sahu & Rath, 2003), com repercussões na realização e sucesso escolar dos menores (Coleman & Karraker, 2003; Shumow & Lomax, 2002). De acordo com Bandura (1982,1989), a autoeficácia não deve ser considerada um traço de personalidade global e fixo, mas específico a uma determinada situação, constituindo um componente de um processo dinâmico, suscetível de modificações em presença de novas exigências de uma tarefa, contexto e processos individuais de desenvolvimento, suscetíveis de alterar (i.e., aumentar ou diminuir) ao longo do ciclo de vida (Cowan et al., 1985; Erdwins, Buffardi, Casper, & O`Brien, 2001; Pittman, Wright, & Lloyd, 1989), em função das experiências de sucesso ou de fracasso (Sevigny & Loutzenhiser, 2009; Strecher, McEvoy-De, Becker, & Rosenstock, 1986), sendo os níveis de eficácia parental sensíveis aos efeitos das intervenções junto dos progenitores (Pisterman et al., 1992).

4.1.2. Satisfação Parental

De acordo com a concetualização proposta por Johnston e Mash (1989), a satisfação parental constitui uma dimensão afetiva da parentalidade, que pode ser definida pelo grau de satisfação com o desempenho do papel dos pais ou pela qualidade do afeto associado à

88

parentalidade, em virtude de refletir o grau de frustração, ansiedade e motivação associadas ao papel parental. Ohan e colaboradores (2000) definem a satisfação parental como o prazer que os progenitores sentem relativamente ao seu papel enquanto figuras parentais, que inclui a satisfação obtida pelo facto de atender às expectativas sobre o papel enquanto figura parental, realização das tarefas parentais, conhecer e aceitar os filhos.

A satisfação parental pressupõe a perceção de uma relação positiva entre as expectativas iniciais dos pais e os resultados obtidos no exercício da parentalidade (Sabatelli & Waldron, 1995), referindo-se a um sentimento de gratificação associado a tarefas parentais, que surge pela concordância entre as expectativas referentes ao papel parental e a realidade experimentada pelos pais (Carpenter & Donohue, 2006).

Nesta conformidade, a satisfação parental surge como reação inerente a uma perceção positiva que os indivíduos possuem sobre a sua eficácia enquanto figura parental (Cruz, 2005), e encontra-se relacionada com sentimentos de competência, considerando-se que a satisfação surge quando os pais enfrentam tarefas, nas quais se sentem eficazes no desempenho das mesmas (Bandura, 1997; Coleman e Karraker, 2003).

A satisfação parental constitui uma dimensão fortemente relacionada com as dimensões, competência parental percebida (Coleman e Karraker, 2003) e eficácia parental, na medida em que pode conduzir a uma resposta adaptativa à tensão percebida pelos pais (Carpenter & Donohue, 2006), com evidência de fortes associações com medidas que avaliam o bem-estar parental, o comportamento da criança e os estilos parentais (Rogers & Matthews, 2004).

Algumas investigações têm demonstrado a importância da satisfação parental enquanto dimensão psicológica com efeitos nos adultos e crianças, cujos resultados colocam em evidência que a elevada satisfação parental encontra-se relacionada com uma baixa experiência de stresse parental (Hill & Rose, 2009; Pérez et al., 2010), maior satisfação conjugal e entendimento com o parceiro nas tarefas parentais (Ohan et al., 2000), níveis mais baixos de sintomatologia depressiva nos adultos (Rogers & Matthews, 2004; Sanders & Wooley, 2005), e menos problemas de adaptação nos menores (Ohan, et al., 2000).

Por outro lado, as investigações indicam que os sentimentos negativos em relação ao papel parental são menores nos pais do que nas mães (Gilmore & Cuskelly, 2008), associados a mais problemas de comportamento infantil (Johnston & Mash, 1989; Lovejoy et al., 1997; Ohan et al., 2000; Pisterman et al., 1992; Rogers & Matthews, 2004) e presença de disciplina punitiva e negligência (Carpenter & Donohue, 2006).

Importa salientar, que a satisfação parental constitui uma dimensão identificada como um importante fator de proteção (Thornberry et al., 2013), que tende a ser estável ao longo do tempo

89

(Rogers & White, 1998). Porém, alguns autores têm sublinhado que a satisfação parental, à semelhança da eficácia parental, varia ao longo do ciclo de vida, tendo em conta a necessária adaptação às tarefas associadas à parentalidade, (Cowan et al., 1985; Erdwins et al., 2001; Pittman et al., 1989), mostrando-se suscetível de mudança, motivo pelo qual deve ser objeto de consideração nas intervenções psicoeducativas a promover e desenvolver junto dos pais (Pérez, et al., 2012).

4.2. Competências Parentais Percebidas e Implicações no Desenvolvimento, Adaptação e